A produção artística dos professores do Departamento de Artes Plásticas do Instituto de Artes (IA) da Unicamp e uma reflexão da relação de suas pesquisas com o papel como instrumento de trabalho é tema da mostra “S/ PAPEL”, que entrou em cartaz nesta quarta-feira (31) na Galeria do Instituto de Artes - GAIA.

A exposição é parte das atividades do IA em comemoração a 50 anos da universidade e expõe trabalhos de diferentes linguagens das artes plásticas, como o desenho, pintura, colagem, gravura e fotografia. O próprio nome da exposição é oriundo da nomenclatura técnica utilizada nas artes visuais para preparar obras que usam o papel como sustentação de um trabalho.

A curadora da mostra e coordenadora da Galeria, professora Lúcia Fonseca, explica que produziu a exposição em pouco tempo com obras já realizadas pelos artistas em seus estudos na Unicamp partindo de um questionamento em comum: “Selecionei um grupo de professores e realizei duas perguntas: ‘Como o papel toca você? Há uma escolha, o que a norteia?’, e a partir das respostas conseguimos aferir a pesquisa artística que o professor desenvolve”, afirma Lúcia.

Ao receber as respostas, Lúcia Fonseca avalia que é possível perceber que usualmente o papel é entendido como suporte de diferentes linguagens visuais ao receber tratamentos gráficos e plásticos. Mas além de colaborar na materialidade dos trabalhos o papel pode ter outros empregos, como na colagem e modelagem, onde passa a ser um dos materiais principais da obra.

Artistas
A indagação feita aos professores sobre como usam o papel em conjunto com outros instrumentos em suas pesquisas artísticas revela o uso de cada um, se diferenciando no uso como suporte ou material de acordo com as técnicas desenvolvidas e objetivos finais.

Presente na inauguração da exposição, a professora Lygia Eluf acredita ser importante compreender o material que é usado como suporte se comporta em relação às atividades artísticas, sendo um pano de fundo para o trabalho desenvolvido. Ela trouxe para a exposição alguns desenhos feitos com pastel seco sobre papel que dialogam com a obra dos pintores espanhóis El Greco e Francisco Goya. “Essa série foi feita em Madri a partir da pintura tradicional espanhola em homenagens ao Greco e ao Goya. Eu fiz na minha última estadia em 2014, onde fui especialmente para entender a obra do El Greco. Depois que eu visitava o museu eu voltava ao ateliê e desenhava no papel um dialogo meu com a obra ele”.

Já o pintor Sérgio Niculitcheff observa um maior despojamento na execução de suas obras sobre papel, possibilitando uma maior espontaneidade na produção. Como ele faz uma preparação de fundo antes de realizar uma pintura, as características do papel acabam sendo ocultadas. "Esses trabalhos fazem parte da poética que desenvolvo com suporte da pintura em tela e em papel. A temática tratada nessas obras é diversificada, com objetos que a partir de efeitos de luz e sombra buscam uma tridimensionalidade e volumetria na forma". Para a exposição Sérgio levou pinturas acrílicas sobre papel.

Outro professor presente na exposição é Edson Pfutzenreuter, que eu sua resposta ao questionamento inicial afirma acreditar que o papel pode parecer passivo e disponível, mas ao realizar trabalhos sobre esse material é preciso cuidado com o seu manuseio para evitar danos como manchas e rasgos. Para a mostra o professor Edson trouxe diversos testes de usinagem e impressões sobre papel, relacionando uma reflexão sobre as retículas na indústria gráfica e o uso de tecnologia para impressão. "A ideia é mostrar as nuvens, que não tem formas definidas; em cada momento você vê uma coisa diferente e são um desafio para desenhar", explica. As suas obras são feitas através de uma máquina que vai desbastando o material do qual é feito a matriz. 

A mostra também conta com obras dos professores Ivanir Cozeniosque, Luise Weiss, Márcio Périgo, Marco do Valle e Antonio Carlos Rodrigues, o Tuneu.

Agenda
A exposição “S/PAPEL” ficará em cartaz entre os dias 31 de agosto e 14 de setembro na Galeria do IA, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h. A Galeria está localizada no térreo do prédio da Biblioteca Central “Cesar Lattes”, na Rua Sérgio Buarque de Hollanda e a entrada é franca. Já no dia 08 de setembro será realizada uma conversa aberta entre os professores artistas e o público, a partir das 13 horas, também na GAIA.

A Galeria irá receber entre os dias 21 e 30 de setembro a Mostra do Festival do Instituto de Artes 2016, com o tema “AQUELE QUE CONTESTA - a síntese de um posicionamento artístico, crítico e de busca: a arte se colocando como pergunta, não como solução”. E no mês de outubro será a vez da exposição “No silêncio tudo fala”, da artista Natalie Salazar, a partir do dia 13 até 11 de novembro.