Cesar Lattes recebe
homenagem no IFGW
10/10/2016 - 14:06
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Em uma cerimônia singela mas cheia de evocação e de reconhecimento, a comunidade do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp realizou, na manhã desta segunda-feira (10), uma homenagem póstuma a um dos físicos brasileiros de maior expressão científica de todos os tempos: Cesar Lattes. Em memória ao nome do ex-professor da Unicamp, foi inaugurado um painel na “Linha do tempo científica" do instituto, ao lado do auditório do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia (DRCC). Também foi colocado no espaço um quadro com a fotografia de Cesar Lattes.
Familiares e amigos estiveram no evento que prestou uma justa homenagem ao físico, falecido em 2005 no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, aos 80 anos de idade. Cesar Lattes, entre outras contribuições, foi um dos autores de uma pesquisa de fòlego que estabeleceu a existência da partícula "méson pi", um passo fundamental para a compreensão do mundo subatômico. Ele foi considerado um dos líderes da geração de ouro que revolucionou o estudo da física no Brasil.
O diretor do IFGW, Newton Frateschi, e o pró-reitor de Graduação da Unicamp, Luis Alberto Magna, abriram a solenidade juntamente com o professor do IFGW Edson Shibuya, que apresentou um histórico da vida de Lattes. Edson Shibuya foi o que colega que mais esteve próximo do cientista em seus últimos anos de vida. A professora Carola Dobrigkeit Chinellato também ajudou na organização do evento.
Cesar Lattes era casado com Marta e teve quatro filhas, todas "Marias". Elas descerraram o painel em homenagem ao pai. Para a sua segunda filha, a Maria Cristina, essa distinção foi muito bem-recebida por todos da família. “Na época, não tínhamos a noção exata dos feitos do nosso pai. Portanto, o que ouvimos aqui na Unicamp hoje nos trouxe um novo conhecimento sobre ele. Sabíamos falar apenas do nosso pai, uma pessoa dedicada e modesta, que nunca fez questão de nos contar o quanto contribuiu para a física contemporânea”, relatou. “Mas o papel do físico às vezes falou mais alto, tanto que não era possível separar meu pai do seu trabalho. A cabeça dele continuava focada em suas atividades intelectuais, mesmo quando voltava para casa”, contou.
Além do "méson pi", Lattes era o portador das técnicas desenvolvidas pelo grupo da Universidade de Bristol. Ele apostou que píons poderiam ser produzidos no acelerador da Universidade de Berkeley. Estava certo. O resultado foi publicado na revista Science. Mas Lattes foi além. Na década de 1960, descobriu fenômenos relacionados à produção múltipla de mésons. Estabeleceu laboratórios no Brasil e no exterior, e concretizou uma colaboração intensa e duradoura com o Japão, na área de raios cósmicos. Envolveu-se com estudos teóricos e fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), de grande prestígio.
Sete vezes Cesar Lattes foi cogitado para ganhar o Prêmio Nobel de Física, entre 1949 e 1954, mas isso não chegou a se concretizar. Nem Lattes sabia explicar o motivo. Na Universidade de Bristol, ele integra a Galeria dos Notáveis.
Quando Lattes detectou o méson pi, na Universidade de Berkeley, ele teve que fazer uma apresentação ao Senado. “Ele disse na ocasião que tinham observado o méson pi, mas não sabia muita coisa a respeito dele. Só sabia que precisava de dinheiro para descobrir mais”, relembrou Shibuya.
De acordo com Shibuya, Cesar Lattes foi reputado como um homem extremamente patriota e de grande brasilidade. “Ele fazia questão de levar o nome do Brasil para o exterior. Detestava falar em inglês, apesar de ter fluência”, salientou durante a apresentação sobre Lattes. O CD Quanta, do cantor Gilberto Gil, é uma homenagem ao físico. A Biblioteca Central da Unicamp também leva o seu nome.
Há pouco foram encontrados três cadernos de Lattes com mais de 500 páginas com anotações do próprio físico, além de caixas de registros com o primeiro exemplo concreto do méson pi, cujas contagens eram feitas de grãos por comprimento.