DISCURSO DE POSSE


uando, há pouco mais de quatro anos, encerramos nossa gestão e fizemos neste mesmo local os agradecimentos à comunidade da Unicamp, jamais poderíamos imaginar o momento atual. A vida nos conduz e o desenrolar dos acontecimentos nos trouxe de volta. Não com as mesmas propostas, não para concluir o inacabado, nem mesmo para aperfeiçoar o já estabelecido. O dinamismo da nossa universidade nos coloca diante de novos e expressivos desafios. E a experiência adquirida nos permite constatar que importantes ações passaram despercebidas, algumas necessitavam de uma diferente configuração de apoio político para serem viabilizadas e outras eram ainda prematuras para serem implementadas no contexto existente.

Estamos, portanto, diante de um novo programa de gestão. Elaborado a partir da comunidade e pela comunidade. Reflete, por consequência, as necessidades e os anseios de professores, pesquisadores, funcionários e estudantes. “A Unicamp de todos os saberes” é sinônimo absoluto de pluralidade, diversidade, liberdade intelectual, respeito ao contraditório, diálogo, democracia, institucionalidade e humanismo. Refere-se aos saberes presentes no interior da universidade, em todos os seus segmentos, suas áreas, seus níveis hierárquicos e de formação. Mas, diz respeito, também, ao retrato social brasileiro e suas carências. Define o compromisso de uma universidade pública com quem a financia, a sociedade, e coloca, necessariamente, nossas atividades fim em sintonia com a produção do conhecimento e a sua disseminação em benefício da qualidade de vida e da justiça social.

Reafirmamos todos os pontos colocados em nosso programa. Todos serão cumpridos integralmente. Não há nenhum deles que seja inviável, nada foi colocado com intenções eleitoreiras e, tranquilizem-se, não vamos colocar a universidade em risco em momento algum.

Queremos enfatizar alguns dos compromissos assumidos em “A Unicamp de todos os saberes”. Nossa universidade foi pioneira em estabelecer o tema inclusão no acesso aos cursos de graduação. O Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) caminha para completar dez anos, criando condições melhores para que estudantes da escola pública de ensino médio e autodeclarados negros ou indígenas ingressem na Unicamp. Já comprovamos que os ingressantes pelo programa possuem excente aproveitamento acadêmico, demonstrando a manutenção da qualidade dos estudantes recebidos graças aos pontos concedidos. Mais recentemente o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) acrescentou nova sistemática com foco nos alunos da escola pública. São demonstrações inequívocas do interesse em aproximar a universidade das necessidades sociais. Devemos intensificar essas ações, aperfeiçoá-las e agregar novas sistemáticas, que viabilizem o crescimento da inclusão em nossos cursos de graduação.

Importante lembrar do conjunto de propostas voltadas à pós-graduação, à pesquisa e às relações com a sociedade (extensão, assistência e produção cultural), mantendo a Unicamp fiel ao modelo de universidade que a alçou ao patamar qualificado em que se encontra. Equilíbrio e planejamento serão, certamente, palavras fundamentais ao longo da gestão.

No âmbito interno é inadiável proceder à revisão dos nossos Estatutos. Ultrapassados, datam originalmente de 1966, trazem, ainda, resquícios da ditadura e do autoritarismo, há um bom tempo, felizmente, incompatíveis com a realidade brasileira. Dispositivos estatutários não podem permitir que a vontade do administrador imponha-se aos direitos estabelecidos e devem eliminar a existência de julgamentos por concessão da autoridade e não por demonstração de mérito e justiça. Os Estatutos estão longe de contemplar a realidade institucional da Unicamp, motivo pelo qual muitas vezes dificultam as decisões e criam situações de morosidade inaceitáveis em uma instituição onde a agilidade é essencial para o trabalho a ser desenvolvido.

Reiteramos nossa disposição de, ao lado do Conselho Universitário, atuar pelo aperfeiçoamento da representação institucional e, em seu âmbito, o respeito à divergência, à liberdade de expressão e à organização. Mesmos princípios e conceitos que nortearão nosso relacionamento com as entidades sindicais, Adunicamp e STU, e com o DCE. Almejamos dispositivos duradouros para que o diálogo, ainda que em meio a impasses, jamais se esgote e que a civilidade o presida em todas as circunstâncias.

Ressaltamos as propostas constantes em nosso programa para tornar a Unicamp plenamente acessível, tanto no que diz respeito à infraestrutura física, quanto na comunicação eficiente com surdos e cegos.

Merecem destaque as ações propostas para a questão ambiental nos diversos campi, para a melhoria da qualidade de vida da nossa comunidade e para a qualificação dos programas educativos da Unicamp.

Antes de concluir, não poderíamos deixar de compartilhar algumas reflexões sobre o processo de escolha do reitor. Há mais de 25 anos, a Unicamp estabeleceu uma definição de como verificar a vontade da sua comunidade. Desde então, a fórmula prevista é aplicada para se conhecer o que a comunidade quer. Evidentemente, a ponderação empregada e as condições de aplicação podem ser questionadas, como de fato ocorre, entretanto, verifica-se ao longo de todo esse tempo o irrestrito respeito ao resultado obtido. A vontade da comunidade da Unicamp é aquela obtida pela aplicação da fórmula de cálculo. Os resultados, por serem matemáticos, são indiscutíveis. “A Unicamp de todos os saberes” venceu o primeiro turno e, não obtendo a maioria necessária, houve necessidade de segundo turno, pois o objetivo é saber sem sombras de dúvidas qual é a vontade da comunidade. Nova vitória. A terceira etapa é a elaboração da lista tríplice pelo Conselho Universitário. Foi surpreendente verificar que alguns colegas não aceitaram a vontade da comunidade, expressa pela sistemática vigente, a mesma que foi utilizada em alguns casos para elegê-los em suas unidades e levá-los a estarem no Conselho Universitário. A quarta etapa é a escolha do governador, historicamente tranquila no que diz respeito à Unicamp, até porque aqui é tradição os candidatos a reitor perderem a consulta respeitarem o resultado e reconhecerem como soberana a vontade da comunidade.

Nossos agradecimentos pela confiança depositada em nosso programa de gestão. Estejam certos de que nós, eu, Alvaro e toda equipe nos dedicaremos intensamente para fazer com que nossa universidade tenha todas as condições necessárias para se tornar melhor a cada dia.