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Violência
real ou apenas sensação de insegurança?
Pesquisa do Instituto São Paulo mostra
que os homicídios
permanecem concentrados nos bairros pobres
JOÃO
MAURÍCIO DA ROSA
A
violência tornou-se notícia principal da mídia
porque ousou deixar os limites periféricos para bater
na porta das casas mais abastadas, através de seqüestros
e latrocínios. É o que aponta uma minuciosa análise
feita por especialistas do Instituto São Paulo contra
a Violência. Mais do que violência real, a população
está sofrendo de sensação de insegurança,
pois os homicídios comuns continuam restritos aos bairros
mais pobres com esmagadora vantagem.
Em
São Paulo, por exemplo, no Jardim Ângela, favela
da zona sul, ocorrem 116, 23 homicídios para cada 100
mil habitantes. Já em Moema, bairro nobre da mesma região,
o índice é de 4,11 no mesmo universo. Pelo estudo,
referente ao ano de 2000, o índice de homicídios
por 100 mil habitantes foi de 53,22 na Capital; 50,18 na Região
Metropolitana de São Paulo; 20,36 no Interior e 34, 77
no Estado. As vítimas são predominantemente da
faixa etária de 18 a 21anos, com cerca de 74% do total
(1995).
Esses
resultados foram apresentados pelo presidente do Instituto São
Paulo, empresário Eduardo Capobianco, durante o Simpósio
sobre Segurança Urbana realizado na Unicamp. A
sensação de insegurança se instalou entre
a população a partir dos seqüestros e dos
latrocínios, que atingem a elite e por isso a mídia
dá maior relevância, argumenta, lembrando
que foram registrados 306 casos de seqüestros no ano passado.
Esta
sensação, segundo Capobianco, tornou-se mais intensa
com os assassinatos dos prefeitos de Campinas Antônio
Costa Santos, o Toninho, e Celso Daniel, de Santo André,
e o atentado contra o prefeito de Embu. Esses casos teriam sido
a gota d água para a população, que
em fevereiro de 2001 viu uma rebelião simultânea
em 29 prisões do Estado, envolvendo 27 mil detentos que
fizeram inúmeros reféns.
Vivemos uma sensação monstruosa de insegurança
quando trabalhamos com um patamar tão elevado de homicídios
por grupos de 100 mil habitantes. Em Campinas, o crescimento
dos homicídios era significativo, mas não considerado
grave, pois não afetava a elite local. Tanto que a Unicamp,
um centro de excelência, nunca esteve envolvida com o
problema de forma tão intensa, observou Capobianco.
Sistema
penal Para o empresário, qualquer projeto
de combate à violência em São Paulo não
deve deixar de considerar a população carcerária,
lembrando que o Estado tinha em 2001 mais de 94 mil presos
ou 256,82 para cada grupo de 100 mil habitantes. Pelas estatísticas
de 1996, São Paulo tinha 48 mil presos, dos quais 15
mil estavam recolhidos em delegacias, de onde é mais
fácil fugir.
Somado
a isso, 58% dos detentos estavam na faixa de 18 a 30 anos de
idade, e só 18% do universo de encarcerados tinham condenações
superiores a 20 anos. Isto significa que os presos, em
esmagadora maioria, logo estarão de volta ao nosso convívio,
despreparados para se reintegrar à comunidade e mais
aptos a cometer crimes maiores.
Custo
econômico Além de tirar vidas, a violência
tem um custo econômico significativo. Um estudo do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) calculou, em 1998,
que o Brasil perde US$ 80 bilhões com o custo da violência,
ou seja, 10,5% do PIB (Produto Interno Bruto). De acordo com
Capobianco, a Câmara Americana de Comércio, que
reúne as maiores multinacionais no Brasil, definiu que
este ano o tema prioritário de suas assembléias
será a violência, pois está havendo recusa
de muitos executivos em vir para o Brasil temendo os seqüestros.
Isso
representa muito em termos de fuga de capitais e impedimento
de um desenvolvimento econômico mais elevado. Conseqüentemente,
propicia condições econômicas favoráveis
para o crescimento da violência, provocando um círculo
vicioso interminável, analisa.
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O
que faz o Instituto São Paulo
O
Instituto São Paulo contra a Violência foi criado
em 1997, marco da chamada Epidemia da Violência.
São 17 entidades associadas, que representam grande parte
da produção econômica brasileira, como Fiesp,
Febrabam e Bolsa de Valores de São Paulo, e da produção
de conhecimento, como USP e Fundação Getúlio
Vargas.
Entre
os projetos prioritários do Instituto estão o
Disk Denúncia, o Fórum Metropolitano de Segurança
Pública e o Observatório de Direitos Humanos.
Na área de políticas públicas, a organização
participa do Conselho Interdisciplinar de Segurança Pública,
da Comissão Especial para Redução de Letalidade
em Ações Envolvendo Policiais; da Comissão
Estadual de Polícia Comunitária e do Conselho
de Acompanhamento das Estatísticas Policiais.
O
Observatório, em parceria com o Núcleo de Estudos
da Violência da USP, visa capacitar 27 grupos de jovens
para analisar as causas e apontar soluções para
o problema; fortalecer grupos e organizações comunitárias;
produzir relatórios da cidadania e formar uma rede nacional
de observatórios nas áreas de São Paulo,
Rio, Porto Alegre, Vitória, Salvador, Recife e Pesqueiro
(PE) e Belém.
O
Disk Denúncia, já bastante divulgado, bateu recorde
de chamadas. Implantado há pouco mais de um ano, saltou
da média de 2.254 ligações mensais no ano
passado, para 6.217 em janeiro, desvendando cinco casos de seqüestro.
Atualmente o serviço já está disponível
em Campinas, no Rio de Janeiro e em mais de mil cidades mundo
afora.
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