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Criminalidade
de massa
JOÃO
MAURÍCIO DA ROSA
A
Segundo o juiz José Henrique Rodrigues Torres, não
existem fórmulas para aferir a real incidência
da criminalidade, porque é inimaginável o número
de subnotificações de delitos que passam ao largo
das estatísticas. O aumento de punições
e repressões, acrescenta, tem como objetivo chamar a
atenção para o que ele chama de atrativo
fenômeno da criminalidade de massa, em detrimento
dos crimes sem penalidades praticados apenas pela classe dominante
e muito em voga nos tempos atuais: os econômico-financeiros.
Esta
subnotificação acaba gerando a falsa idéia
de que a violência e a insegurança estão
ligadas à criminalidade, e oculta o caráter violento
de outros fatos não criminalizados qualitativa e qualitativamente,
muito mais danosos, que levam à miséria e excluem
pessoas do acesso básico à educação,
trabalho, moradia, saúde. E nós ficamos preocupados
com homicídios, sequestros e até mesmo com o terrorismo
islâmico.
O
que fazer para conter a chamada violência? Torres admite
não possuir todas as respostas certas, mas sabe apontar
as erradas: não é o recrudescimento do sistema
penal, não é a elevação das penas,
não é a redução das garantias individuais,
não é acabar com os direitos humanos. A
solução é romper com este ciclo de miséria,
de desigualdade, de injustiça social e implementar rapidamente
políticas sociais transformadoras.
Com
ironia, o juiz sugere, como alternativa para conter a criminalidade
explícita que apavora a classe privilegiada, a criação
nas prisões de uma universidade do crime dourado.
Quem sabe se, ensinando aos presidiários noções
de direito, direito financeiro, economia, bolsa de valores,
mercado financeiro, enfim, dando-lhes um chá de sabedoria,
eles continuariam praticando crimes, mas não esta violência
que nos incomoda?, questiona. E acrescenta uma máxima:
A fraude é um apêndice de Deus, porque fez
escorrer ouro onde antes escorria sangue.
Mas,
ao lembrar o regime ditatorial que predominou no Brasil por
21 anos, Torres não brinca. Vivíamos sob
o império da injustiça, do terror do estado, da
tirania. E o preso político era tratado como traidor
da pátria, sob o argumento de que estávamos numa
guerra e isso justificaria o sacrifício da liberdade.
Foi uma época em que o cidadão e seus direitos
ficaram em segundo plano, em nome da segurança nacional.
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