Sensacionalismo
gera mais audiência, mas também mais violência
JOÃO
MAURÍCIO DA ROSA
O
veículo de comunicação é o responsável
e o jornalista co-autor das violações e discriminações
que se perpetram contra acusados de práticas anti-sociais.
A imprensa, particularmente a TV, atua com um olho na câmera
e outro no monitor que expressa o índice de audiência.
A exploração de notícias sensacionalistas
em geral resulta em audiência, mas também pode
gerar mais violência.
A
crítica é do jornalista Heródoto Barbeiro,
âncora do Jornal da CBN, um noticiário matutino
da rádio de mesmo nome e do Jornal da Cultura, programa
noturno da TV Cultura de São Paulo, emissora estatal
paulista. Ele lembra que o efeito da mídia na vida dos
seus alvos é devastador, quando divulga notícias
falsas em seus equívocos de apuração. Para
ilustrar, ele se recorda do clássico caso da Escola
Base, em São Paulo, onde uma notícia sensacionalista
denegriu irremediavelmente a reputação dos responsáveis
pela escola, acusados de exploração sexual contra
seus alunos.
Foi
uma trama de tais proporções que passou a ser
um verdadeiro divisor de águas na imprensa do país.
Fizemos contra os donos da escola uma denúncia
construída em cima da investigação de um
delegado, que os jornalistas simplesmente aceitaram como verdadeira,
sem qualquer confirmação. A transformamos em reportagem
caluniosa e usurpadora dos direitos humanos. Mais tarde
a própria TV Cultura iria apurar os fatos, desmentir
as investigações oficiais e corrigir o erro.
Barbeiro
lembra que mais tarde toda a mídia repetiria o erro,
desta vez no episódio que ficou conhecido como crime
do Bar Bodega. A polícia prendeu três
rapazes e mostrou-os à imprensa. O caso ganhou destaque
e, uma semana depois, um promotor veio a público dizer
que tudo era uma farsa e que os rapazes confessaram mediante
tortura.
Receituário
Jornais mais sensacionalistas, segundo Barbeiro, costumam
chamar suspeitos de ladrões ou assassinos, como se já
tivessem sido julgados. Este é o receituário
do jornalismo que exacerba emoções e transforma
alguns jornalistas em policiais, juízes e, às
vezes, executores da sentença.
A mídia
eletrônica noticiando os fatos no mesmo dia em que ele
acontece, e a impressa reproduzindo no dia seguinte com grandes
cartazes nas bancas de jornal, completam-se com força
para inspirar a indignação da população
diante de um crime; e, no imaginário popular, o criminoso
tem de pagar severamente, sem conforto. Tem de ser atirado
às masmorras, como aquelas mostradas em rebeliões.
Uma cela fétida com um monte de pessoas empilhadas. É
um bandido julgado pela mídia e que deve começar
a pagar imediatamente. É um estímulo à
vingança e não à Justiça. É
isto que a mídia incita, observa.
Heródoto
Barbeiro sugere que representantes da sociedade civil e de entidades
de defesa dos direitos humanos façam uma marcação
cerrada sobre a mídia, para que respeite os limites estabelecidos
pelo código de ética. A imprensa não
altera a legislação penal, mas tem forte dose
de influência sobre tudo isso. A sua contribuição
social não pode parar no sensacionalismo e na espetacularização
da notícia, argumenta o jornalista.
-----------------------------------------
|