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A cidade fragilizada
Secretário afirma que camelôs, perueiros e especuladores
de terras formam base para agravamento da violência’

JOÃO MAURÍCIO DA ROSA

Hoje secretário de Estado de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes lembra-se de que o trânsito já foi a principal causa de mortes violentas em Campinas. Naquela época em que o poder de fogo dos criminosos ainda não tinha chegado ao patamar atual, os acidentes nas vias provocavam 53% das mortes por causas externas; depois vinham os homicídios, afogamentos, queimaduras, etc., somando 47%. Em 1993, quando assumiu a pasta municipal de Transportes, o secretário viu registrados 354 mortos no trânsito. No ano passado foram 102, frente a 666 homicídios.

Fernandes fez esta comparação durante o simpósio sobre Segurança Urbana na Unicamp, para apresentar um exemplo de que é possível reverter um quadro estatístico trágico, e para alertar que ainda há muito a ser feito contra todas as formas de violência. Recordou as ações de sua gestão para diminuir as mortes no trânsito em Campinas, às vezes consideradas radicais: a obrigatoriedade do cinto de segurança, a implantação de radares nas vias e de fiscalização eletrônica nos semáforos, além de ampla campanha educativa. Iniciativas que foram alvo de protestos iniciais, mas que resultaram em importante redução na quantidade de acidentes, notadamente aqueles com vítimas graves.

Na opinião do secretário, a cidade está fragilizada, graças à ação de uma elite que comandou a invasão de áreas urbanas para livrar-se dos encargos dos loteamentos convencionais. “Não estou falando os despossuídos do MST, mas de grandes proprietários”.

Além das invasões de áreas para moradia nas regiões periférica, Fernandes define o centro de Campinas como uma área totalmente tomada por ambulantes, carrioleiros, camelôs e flanelinhas, entre outros. “Um problema que não é só de Campinas, mas de 67 municípios de três regiões metropolitanas onde tenho discutido muito a questão”.

Novo olhar – Para ele, esse esquema de trabalho propicia a distribuição de produtos de origem duvidosa, contrabandeados, e até mesmo o furto de roubos de carga, uma modalidade que faz centenas de vítimas nas estradas que cruzam a região. O secretário avisa que é hora de estender um olhar diferente aos camelôs e parar de achar que são somente pessoas vitimadas pelo desemprego. “Tem coisa bem mais forte por trás dos camelôs, há grandes fornecedores, gente que possui muito capital”, denuncia.

O outro fenômeno que preocupa Fernandes é o dos perueiros, que surgiram em 1997, depois de sua gestão na Setransp. Ele foi contra a entrada de perueiros na cidade, acreditando já na época que o desemprego não era a causa de tantas lotações. Atualmente, segundo ele, é possível ver que estava certo, pois existem perueiros comprando micro-ônibus de R$ 80 mil, enquanto a imprensa começa a associar um famoso assaltante com frotas do transporte alternativo. “Camelôs, perueiros, invasões, pensões, bares e hotéis clandestinos são uma mistura que oferece base para grande parte da violência que vivemos hoje em Campinas”, resume.

 

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