Transparência
na apuração Filósofo Roberto Romano reclama
de uso político-partidário do caso das ossadas
MANUEL
ALVES FILHO e
acordo com Roberto Romano, a Unicamp sempre adotou uma atitude de máxima
transparência com as famílias das vítimas da repressão.
Todas as críticas apresentadas por elas foram anotadas e investigadas,
como o caso da denúncia de que a Unicamp teria se apropriado de recursos
destinados à análise das ossadas e usado o dinheiro para a construção
de um prédio no campus. Diante disso, foi promovida uma apuração
rigorosa. Um dossiê elaborado à época demonstrou que Universidade
não só não se beneficiou irregularmente das verbas, como
investiu recursos orçamentários ao longo do processo. O
documento em questão foi encaminhado aos familiares dos desaparecidos políticos.
O que nós esperávamos é que essas pessoas viessem até
a Universidade para verificar a veracidade das informações. Elas
não apenas não vieram, como retomaram esse assunto em várias
ocasiões, como se não tivesse ocorrido apuração,
queixa-se o filósofo. O elemento mais grave que permeou todo o processo
de negociação para a transferência das ossadas foi a perigosa
vizinhança e solidariedade [dos familiares] com programas e alvos políticos
e partidários. O
filósofo diz que não condena a filiação partidária,
mas considera que o assunto merecia ser tratado num plano mais amplo. Mas
foi perfeitamente visível o compromisso de familiares com determinadas
siglas e com alguns políticos dentro delas. Eu insisto, porém, que
nem todos os políticos agiram de forma dolosa ou antiética. Contudo,
houve quem tentasse desacreditar a Universidade para atingir seus objetivos. Isso,
no meu entender, mesmo que eu não tivesse nada a ver com essa questão,
é inaceitável. Atitude
de ataque O intelectual diz que um político em especial, o deputado
estadual Renato Simões (PT), teria agido de forma muito errônea
do ponto de vista da vida pública em relação à Unicamp.
Conforme Roberto Romano, o parlamentar, apesar de ter sido procurado por ele e
de ter conhecimento do interesse da Universidade em resolver a questão,
manteve sempre uma atitude de ataque. Nada, nenhum elemento feito pela Universidade
foi reconhecido como bom ou razoável por ele. O deputado chegou a convocar
uma audiência pública para discutir o processo de identificação
das ossadas e não convidou a Unicamp, afirma. Nesse
episódio, no entender de Roberto Romano, o deputado Simões teria
demonstrado pouco desejo de fazer uma troca transparente e democrática.
Ele falou muito mais como partidário do que como representante do
povo. O parlamentar se declarou um inimigo da Unicamp. A experiência que
eu tive foi essa, infelizmente. Tudo isso ajudou a conturbar muito o processo,
analisa o professor. Ele também aponta erros de segmentos da imprensa no
acompanhamento do caso. A imprensa, ágil em divulgar os escândalos,
não teve a mesma agilidade para noticiar as correções dos
erros. Roberto
Romano afirma que saiu desse episódio compreendendo melhor a integração
e a luta na vida social e democrática. A Comissão não
só impôs regras, como se impôs normas. Nós procuramos,
o tempo todo, manter a Universidade informada das suas atividades. Não
houve nada secreto, sustenta. O filósofo destaca que o trabalho recebeu
apoio expressivo de professores, funcionários, estudantes e da Administração
da Universidade. Sem isso, não teríamos conseguido ir adiante,
reconhece. Muitos
erros Para o presidente da Comissão de Perícias, a ciência
é uma atividade humana e não divina. Sendo assim, o primeiro obstáculo
e também o primeiro incentivo é o erro. Conforme Roberto Romano,
existem erros que podem ser fatais. A Unicamp errou muito nesse processo,
mas os erros não foram fatais. Daqui a alguns anos, quando for feita a
análise da documentação e dos testemunhos, vão descobrir
que a Universidade cumpriu o seu papel. Oxalá as instituições
brasileiras tivessem a eficácia, a presteza e a transparência democrática
que a Unicamp teve nesse episódio, sobretudo nos últimos anos. Roberto
ressalta que o processo todo ainda precisa ser analisado, das suas premissas às
suas conclusões, para verificar como procedeu a instituição
e os indivíduos. Isso forneceria elementos para melhorar as relações
internas e com a vida pública. Eu sugiro, inclusive, que a Universidade
promova um seminário que conte com a participação de todas
as pessoas e entidades envolvidas com o processo de identificação
das ossadas. Considero necessária uma reflexão mais aprofundada
dos pontos de vista ético, antropológico, político e acadêmico,
propõe. (M. A. F.) Continua
... Deputado
contesta afirmações | O
deputado estadual Renato Simões (PT), presidente da Comissão de
Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, contesta
as afirmações do professor Roberto Romano, presidente da Comissão
de Perícias da Unicamp. Apesar de destacar o respeito que tem pela trajetória
do filósofo na luta em defesa dos direitos humanos, o parlamentar afirma
não ser verdade que tenha negado valor à Unicamp no processo de
identificação das ossadas. No ato público ocorrido
no Cemitério do Araçá, quando a primeira parte do acervo
foi transferida, eu usei a palavra para agradecer o que a Universidade foi capaz
de realizar, afirma Simões.
De
acordo com o deputado, desde que foi eleito pela primeira vez, em 1995, ele teve
a oportunidade de acompanhar de perto o trabalho desenvolvido pela Unicamp. Sempre
fui muito crítico em relação à postura antiética
e tecnicamente irresponsável do Badan Palhares. Por isso, fiz várias
denúncias sobre o comportamento desse professor, diz o parlamentar.
Na visão
de Simões, as sucessivas administrações da Universidade
foram omissas no que se refere às suas acusações. O
político afirma que a atual Administração da Unicamp teria
rompido com os programas que ajudaram a elegê-la. Eu me arrependo
de ter acreditado, desabafa. O
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia também
rebate a qualificação de inimigo da Unicamp, conferida
a ele por Roberto Romano. Não me considero um inimigo da Unicamp.
Minha atuação na Assembléia é reconhecida pelas três
universidades paulistas e pelo Centro Paula Souza, pois sempre esteve vinculada
à luta por mais recursos e à defesa da autonomia das instituições.
O fato de ser um crítico de um episódio que envolveu a Unicamp não
me torna inimigo dela. O
deputado petista reafirma que defende o professor Romano, mas discorda dele no
que diz respeito ao affair Badan Palhares. E conclui: O momento, agora,
é de cobrar do Estado o mesmo que cobramos da Unicamp enquanto ela esteve
com a responsabilidade de tentar identificar os desaparecidos políticos.
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