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As
meninas e seus corpos confinados
Outro
enfoque remete à linguagem corporal. Como os professores
influenciam na linguagem corporal para uma diferenciação
de gênero, sem terem consciência disso? A
questão embute um currículo oculto,
onde crianças que inicialmente apresentam movimentos
corporais similares são transformadas em garotos
e garotas.
O
currículo oculto dá seqüência
ao processo iniciado na família, criando as diferenças
de gênero através das práticas do
corpo e fazendo com que essas diferenças floresçam
e sejam encaradas como naturais. Geralmente, o corpo das
mulheres é confinado, seus movimentos restritos.
Elas dão passos menores que os homens, se sentam
em posições fechadas, ocupam menos espaço
físico.
Corpos
manejados, enfeitados, modelados, apropriadamente comportados,
que estabelecem o gênero e as relações
de gênero. O gênero é incorporado física
e psiquicamente, por meio de posturas, musculaturas e
tensões. A falta de confiança e de ação
das mulheres se corporifica e origina a incapacidade de
se mover com confiança no espaço, de aproveitar
o espaço e usar o corpo em sua mais plena extensão.
Tais
diferenças podem ser observadas desde a primeira
infância, mas com elas se confundem elementos de
raça, classe social, idade, sexualidade. As crianças
costumam trocar de roupa na escola, fantasiando-se para
as brincadeiras. Aquelas de três anos de idade demonstram
maior tendência a experimentar roupas, em comparação
com as de cinco anos, que estariam mais conscientes dos
padrões sociais. Para este grupo de mais idade,
vestir adornos significa identificar o corpo como masculino
ou feminino. Adornos dificultam o movimento das meninas,
frente à postura relaxada e espontânea dos
meninos.
No
grito Levantar a mão para falar, um comportamento
formal, vira procedimento feminino; chamar em voz alta
é masculino. Quando os garotos chamam, a resposta
é imediata; quando as meninas chamam, são
lembradas que devem levantar a mão. Enquanto a
leitura e a pintura são atividades compartilhadas
por ambos os gêneros, outras que aproveitam mais
o espaço físico e o movimento dos corpos,
como as realizadas no chão, são encorajadas
para os meninos. As meninas, sentadas em suas cadeiras,
cortam papel, desenham ou lêem, tudo com a intermediação
das professoras. Homens e mulheres, desde a infância,
aprendem a utilizar de maneira diferente os seus corpos.
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Professores
se unem contra o preconceito
A
proposta do Núcleo Temático Escola,
Diversidade e Educação é promover
discussões teóricas sobre esse universo
temático. Os trabalhos são norteados
por textos de autores brasileiros e estrangeiros num amplo
espectro, na prática profissional dos professores
envolvidos e na experiência de pessoas e grupos
que vêm atuando efetivamente para a diminuição
da discriminação e do preconceito contra
as diferenças físicas, psíquicas,
ideológicas, culturais e sócio-econômicas
que permeiam a sociedade brasileira, explica a bolsista
Elizabete Franco, que integra o núcleo.
Também
é proposta do grupo possibilitar aos estudantes
o contato direto com a realidade estudada, solicitando
trabalhos de campo. Cada um dos professores do núcleo
atua dentro de uma especialidade. A professora Regina
Maria de Souza lida com a questão da pessoa e da
linguagem; Ulisses Ferreira de Araújo com temas
relacionados aos direitos humanos; Angela Fátima
Soligo com a questão racial; Maria Tereza Eglér
Mantoan com os processos de inclusão social; Ana
Maria Faccioli de Camargo trabalha num enfoque mais amplo.
No ano letivo de 2001, o Núcleo Temático
teve como tema central de suas atividades a acessibilidade,
entendida em seu sentido amplo: o direito que todas as
pessoas têm à língua que lhe seja
própria, a instituições sociais como
a escola, aos recursos tecnológicos e humanos necessários
para o seu desenvolvimento e exercício da cidadania.
Em outros termos, a acessibilidade é compreendida
como o direito inalienável do ser humano de ocupar
espaços efetivos de participação
na sociedade, sem que para isso precise negar a si mesmo
o ser negro, branco, homo/heterossexual, surdo,
cego, mulher, criança, velho.
O
Núcleo Temático Escola, Diversidade
e Educação oferece aulas teóricas
às segundas-feiras; simpósios, seminários,
mesas-redondas, conferências e oficinas às
quartas; e trabalhos de campo às sextas-feiras.
Esse tipo de organização das atividades
visa a interdisciplinaridade e a não-fragmentação
dos conteúdos abordados.
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