Pesquisadores da FEQ desenvolvem destilador 
                            molecular de alto desempenho
                          PAULO 
                            CÉSAR NASCIMENTO
                          
                             
                              |  | 
                             
                              | O pós-doutorando César Benedito 
                                Batistella: aperfeiçoa-mento de componentes 
                                dos sistemas disponíveis | 
                          
                          Pesquisadores da Faculdade de Engenharia 
                            Química (FEQ) da Unicamp desenvolveram projeto 
                            para a construção de um destilador molecular 
                            centrífugo de alto desempenho nacional. O equipamento 
                            permite a obtenção de produtos de alto 
                            valor agregado, a partir de fontes naturais, geralmente 
                            termossensíveis, para a fabricação 
                            de medicamentos, cosméticos e produtos alimentícios. 
                            As empresas que o utilizam precisam importá-lo 
                            da Alemanha ou dos Estados Unidos. Um equipamento 
                            para processamento da ordem de 150 a 300 kg/h custa 
                            em torno de 600 mil dólares, preço que 
                            poderá cair pela metade com a nacionalização. 
                            
                          
                          Frutas, sementes, raízes 
                            ou outras partes de plantas contêm componentes 
                            bioativos que podem ser utilizados para diferentes 
                            aplicações comerciais. Conforme a destinação, 
                            tornam-se necessários processos industriais 
                            sofisticados para extração das matérias-primas 
                            naturais.
                          
                          O óleo extraído do 
                            dendê, tradicional ingrediente da cozinha regional 
                            brasileira, contém alta concentração 
                            de betacaroteno (pró-vitamina A), empregado 
                            na formulação de cosméticos, 
                            medicamentos homeopáticos e filtros solares. 
                            Os tocoferóis (vitamina E e antioxidante natural) 
                            e os fitoesteróis (capazes de inibir a absorção 
                            e acúmulo de colesterol no organismo) são 
                            encontrados em subprodutos do refino de óleos 
                            comestíveis, como o de soja, e são amplamente 
                            utilizados em margarinas ou como antioxidantes em 
                            produtos de beleza. O óleo de algodão, 
                            por exemplo, pode ser utilizado para a produção 
                            de monoglicerídios, usados pela indústria 
                            alimentícia como emulsificante.
                          
                          Os vegetais não são, 
                            contudo, as únicas fontes dessas ricas substâncias: 
                            da gordura gerada no beneficio da lã de ovelha 
                            pode-se obter álcoois de lanolina, matéria-prima 
                            para a indústria de cosméticos.
                          
                          Processo  A extração 
                            desses componentes bioativos pode ser realizada pelo 
                            processo de destilação molecular. O 
                            equipamento, quer pela ação da força 
                            centrífuga, quer pela ação da 
                            gravidade (processo denominado filme descendente), 
                            separa moléculas complexas, como as vitaminas, 
                            de misturas obtidas a partir de fontes naturais.
                          
                          O processo, que envolve, basicamente, 
                            as etapas de evaporação e condensação 
                            do material destilado, ocorre em câmaras a vácuo, 
                            que permitem às moléculas se desprenderem 
                            da mistura e se movimentarem de um extremo ao outro 
                            do destilador para formar o concentrado ou o destilado 
                            vitamínico final.
                          
                          Há situações 
                            em que se pode destilar, simultaneamente, até 
                            duas frações de interesse comercial 
                            distintas, observa a professora e fundadora do Laboratório 
                            de Desenvolvimento de Processos de Separação 
                            (LDPS) da FEQ, Dra. Maria Regina Wolf Maciel, coordenadora 
                            da equipe de 12 pesquisadores envolvidos nessa linha 
                            de pesquisa, entre alunos de graduação, 
                            de pós-graduação e de pós-doutorado.
                            Exemplo: além do betacaroteno, extrai-se do 
                            óleo de dendê o biodiesel, um substituto 
                            potencial do óleo diesel tradicional, e já 
                            há estudos em andamento no LDPS para obtenção 
                            do combustível a partir do óleo de mamona.
                          
                          A grande vantagem é 
                            poder extrair, com o destilador molecular, produtos 
                            de alto valor agregado de substâncias que, normalmente, 
                            são descartadas ou exportadas como produtos 
                            de baixo valor, enfatiza a pesquisadora, que 
                            há treze anos dedica-se ao desenvolvimento 
                            de know-how na área.
                          
                          
                             
                              |  | 
                             
                              | A professora Maria Regina Wolf Maciel, coordenadora 
                                do projeto: extraindo produtos de alto valor agregado 
                                que iriam para o lixo | 
                          
                          Nos casos em que o Brasil exporta 
                            matéria-prima para a produção 
                            desses insumos, há um cruel desequilíbrio 
                            comercial, lembra ela, visto que o produto retorna 
                            ao país já processado e custando muito 
                            mais caro devido ao alto valor tecnológico 
                            embutido no preço.
                          
                          Baixas temperaturas  
                            O projeto do destilador made in Brazil já recebeu 
                            financiamento da ordem de R$ 200 mil da Fapesp (Fundação 
                            de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo). 
                            Envolveu estudos exaustivos, desde o funcionamento 
                            dos equipamentos existentes no mercado aplicados a 
                            produtos naturais, modelagem do processo até 
                            o desenvolvimento do modelo virtual Dismol, 
                            capaz de simular, em computador, a operação 
                            do aparelho.
                          
                          O empenho do grupo da Unicamp permitiu 
                            não só o domínio da tecnologia 
                            necessária para a montagem e teste de um protótipo 
                            nacional como também possibilitou o aperfeiçoamento 
                            de componentes dos sistemas disponíveis, entre 
                            os quais o condensador, revela o Dr. César 
                            Benedito Batistella, membro da equipe.
                          
                          De acordo com ele, as elevadas temperaturas 
                            com que os destiladores convencionais operam podem 
                            decompor substâncias termicamente mais sensíveis, 
                            como álcoois de lanolina e essências 
                            derivadas da agroindústria, inviabilizando 
                            o processo produtivo.
                            O melhoramento introduzido pelo grupo do LDPS 
                            vai permitir operar em temperaturas do condensador 
                            ideais para cada produto e também do evaporador 
                            significativamente mais baixas, assegurando a preservação 
                            ao máximo do material, sem prejuízo 
                            do desempenho da destilação, esclarece 
                            o pesquisador.
                          
                          A pesquisa da Unicamp já 
                            atraiu o interesse de grupos nacionais e estrangeiros, 
                            e o assunto vem merecendo divulgação 
                            em papers internacionais. A montagem e teste do protótipo, 
                            próximas etapas do trabalho, aguardam, agora, 
                            a liberação de recursos da ordem de 
                            R$ 80 mil e o desenvolvimento de fornecedores nacionais 
                            para os componentes. Os pesquisadores esperam alcançar 
                            um índice de quase 100% na nacionalização 
                            do equipamento e baratear seu custo em cerca de 50%. 
                          
                          
                          
                          
                            
                              | Aplicação para petróleo Os desenvolvimentos do processo 
                                  introduzidos pelo LDPS acabaram resultando em 
                                  uma aplicação importante para 
                                  o equipamento: caracterizar resíduos 
                                  pesados de petróleo. O desafio surgiu 
                                  há três anos, durante o Congresso 
                                  Brasileiro de Engenharia Química, em 
                                  Águas de São Pedro, SP.
 Na ocasião, os professores 
                                  Maria Regina e Rubens Maciel Filho (coordenador 
                                  do Laboratório de Otimização, 
                                  Projeto e Controle Avançado da FEQ) apresentavam 
                                  os resultados de suas pesquisas na Unicamp, 
                                  quando representantes do CENPES/Petrobrás, 
                                  vislumbraram, no processo, a oportunidade de 
                                  caracterizar frações pesadas de 
                                  petróleo por meio da destilação 
                                  molecular e propuseram um projeto em conjunto.
 Para a Petrobrás, um 
                                  equipamento que conseguia separar moléculas 
                                  complexas, como as vitaminas, também 
                                  poderia ser capaz de destilar um petróleo 
                                  com as características daquele extraído 
                                  em território brasileiro: de águas 
                                  profundas, demasiadamente pesado e com alta 
                                  porcentagem de resíduos. Os estudos posteriores 
                                  do grupo da FEQ mostraram que, realmente, foi 
                                  possível separar frações 
                                  pesadas do petróleo, possibilitando sua 
                                  caracterização.
 Começamos a pesquisar 
                                  essa possibilidade em outubro de 2001 e hoje 
                                  os testes laboratoriais demonstram que o destilador 
                                  é uma poderosa ferramenta para a caracterização 
                                  do petróleo, observa Maria Regina.Derivados  Por caracterização, 
                                  entende-se a execução de processos 
                                  para identificar, no petróleo, a potencialidade 
                                  para gerar derivados que possam vir a ter elevado 
                                  valor comercial e boa qualidade, como o diesel, 
                                  a gasolina, o querosene e, até mesmo, 
                                  o asfalto. Dos cerca de dois milhões 
                                  de barris/dia produzidos pelo Brasil aproveitam-se, 
                                  aproximadamente, 70% no refino. Os outros 30% 
                                  constituem a fração pesada, atualmente 
                                  destinada ao craqueamento (decomposição 
                                  térmica), à produção 
                                  de massa asfáltica ou à produção 
                                  de óleo combustível.
 
 De maneira convencional, a 
                                  caracterização da fração 
                                  pesada envolveria procedimentos em temperaturas 
                                  tão elevadas (maiores que 600 graus centígrados) 
                                  que o material poderia facilmente se degradar 
                                  e impedir a real identificação 
                                  dos derivados, afirma a doutoranda Paula Sbaite, 
                                  integrante do grupo.
 Entretanto, os experimentos 
                                  em baixa temperatura no destilador do LDPS preservaram 
                                  a substância e revelaram ser possível 
                                  melhorar próximo a 5% o aproveitamento 
                                  comercial da parcela residual do petróleo 
                                  brasileiro, a partir da otimização 
                                  de processos de refino.As pesquisas prosseguem e os cientistas da FEQ 
                                  não descartam a possibilidade de melhorar 
                                  ainda mais o índice obtido até 
                                  aqui. Coordenado pelos professores Drs. Rubens 
                                  Maciel Filho e Maria Regina, o projeto conta 
                                  com recursos de aproximadamente R$ 400 mil financiados 
                                  pelo CENPES (Centro de Pesquisa da Petrobrás) 
                                  e pela FINEP (Financiadora de Estudos
 e Projetos).
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                              | Serviço Projeto: 
                                  Construção de um destilador molecular 
                                  centrífugo de alto desempenho.Unidade: Faculdade de Engenharia
 Química (FEQ).
 Coordenador: Dra. Maria Regina Wolf Maciel.
 Financiador: Fapesp.
 Valor: R$ 200 mil.
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