| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição Especial 382 - 3 a 9 de dezembro de 2007
Leia nesta edição
Capa
Opinião: José Tadeu Jorge
Rede da elite acadêmica
Espectro do ranking
Berço da pesquisa
Celeiro de cérebros
Impacto social
O papel da universidade pública
A Unicamp de fora
Inovação internacional
Cidadãos de todas as latitudes
 


8

Conhecimento que
gera impacto social

LUIZ SUGIMOTO

Saguão de atendimento do Hospital das Clínicas da Unicamp: qualificação do corpo docente é prioridade na FCM (Fotos: Antônio Scarpinetti)As universidades que ocupam a ponta do ranking publicado pelo The Times têm como característica a estreita interação com as economias e sociedades de seus países. Colhendo relatos de diretores de unidades da Unicamp sobre pesquisas de impacto social e econômico nelas desenvolvidas, a sensação é clara: muito se faz com os meios disponíveis, mas muito mais o país ganharia se o Estado e os setores produtivos viabilizassem novos recursos para as instituições geradoras de novas tecnologias e de idéias, de forma estratégica, conforme as demandas essenciais. Apesar dos problemas de agenda, o Jornal da Unicamp pôde ouvir 17 dos 20 diretores de unidades.

CIÊNCIAS BIOMÉDICAS

As pesquisas na área da saúde têm conseqüências sociais relevantes, pois estão associadas à assistência prestada nas diversas unidades de atendimento da Unicamp. Estudos como de doenças hematológicas, cardiovasculares, diabetes, genéticas e hereditárias, imunológicas, microbiológicas e das neurociências têm importante papel no atendimento à população feito através do Hospital de Clínicas (HC), Caism, Hemocentro, Gastrocentro e Hospital Estadual de Sumaré (HES).

Contudo, o diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), José Antonio Rocha Gontijo, atenta que é enganoso supor que a função social da sua unidade ou da Universidade seja apenas a de beneficiar aqueles que as freqüentam. “A formação de pessoal qualificado e a geração de conhecimento novo resultam em um matriciamento que promove a expansão e disseminação quase exponencial do que aqui é produzido”.

Assim, um profissional formado na FCM vai se apropriar deste conhecimento e atuar na sociedade. “Também é um engano, portanto, cobrar da FCM ou de outra unidade acadêmica a atenção direta às demandas sociais. O importante é fazer bem feito o que nos cabe: produção de conhecimento e formação de recursos humanos qualificados”.

Gontijo observa, porém, que a geração de conhecimento exige recursos financeiros. “A desigualdade em pesquisa no Brasil está muito mais relacionada com o desequilíbrio econômico regional e não com a capacidade nacional de formar pesquisadores e produzir conhecimento. Por isso, a FCM tem se preocupado com a qualificação do seu corpo docente para a pesquisa e para obter os recursos que a viabilizem”.

Segundo o diretor, a sua unidade tem desenvolvido pesquisas relevantes em clínica médica (hematologia, oncologia, doenças metabólicas e genéticas, nefrologia, cardiologia), neurologia clínica, anatomia patológica, fisiologia e bioquímica, cirurgia pediátrica e fetal e reprodução humana.

Além disso, a área de saúde coletiva tem dado contribuição importante em gestão e epidemiologia, inclusive na implementação do SUS. “Desde sua origem, a proposta do SUS foi gestada em vários aspectos dentro do Departamento de Medicina Preventiva, bem como a proposta de saúde da família”.

Odontologia

A Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) é um símbolo de interação com a sociedade. “A preocupação social da FOP é uma tradição demonstrada no currículo de graduação adequado para aproximar os alunos das práticas do SUS, nas características das linhas de pesquisa e nos diversos tipos de prestação de serviços”, afirma o diretor Francisco Haiter Neto.

A lista de serviços prestados pela FOP, dentro de suas clínicas ou em parcerias com os setores público e privado, é igualmente extensa. Na esfera municipal, os pesquisadores ajudam, por exemplo, no controle da fluoretação da água de abastecimento público e da qualidade dos produtos de higiene bucal oferecidos à população.

A Clínica de Graduação atende a 24 mil pacientes por ano. Centros da FOP oferecem tratamento de alterações funcionais à comunidade carente, prevenção precoce de doenças bucais, capacitação de profissionais de odontologia e da saúde, atendimento a pacientes especiais e todos os tipos de radiografia convencionais.

Francisco Haiter observa que esta produção poderá aumentar com maior financiamento. “Outros pontos a serem considerados são a elevação da capacitação científica dos docentes e a constante ampliação do parque de equipamentos. A infra-estrutura da FOP é praticamente a mesma desde a inauguração do campus em Piracicaba, em 1977”.

Biologia

Paulo Mazzafera, diretor do Instituto de Biologia (IB), observa que toda pesquisa possui seu impacto social, mas que algumas estão mais perto dos resultados que outras, diferenciando-se entre as aplicadas e as básicas. No IB, pesquisas são feitas em decorrência da ação humana, a exemplo do levantamento de animais de uma área manipulada direta ou indiretamente pelo homem.

No campo da saúde, os pesquisadores verificam o efeito de determinadas drogas em parasitas no ser humano, como o da malária. Ocupam-se ainda da nutrição, do esforço físico, da interação com diabetes, de plantas medicinais e alimentícias, e assim vai.

“As pesquisas do IB estão em bom grau relacionadas com a sociedade. Esta interação pode aumentar, à medida que se promovam ações orientadas de financiamentos para determinadas áreas. Seria um estímulo para que os pesquisadores alarguem suas linhas de pesquisa, estímulo maior, acredito eu, que uma procura pela iniciativa privada”, afirma Mazzafera.

Segundo o diretor, o aumento da produção no IB está condicionado a vários aspectos, como a estrutura física, os inúmeros encargos burocráticos (em todos os níveis, a exemplo da Anvisa), maior apoio administrativo e financiamentos. “Coloco os financiamentos por último porque eles têm existido, tanto do governo federal como do estadual via Fapesp”.

Educação Física

A Faculdade de Educação Física (FEF), quando criada em 1984, foi idealizada para influir nos rumos da educação física brasileira. “Posso dizer com convicção que a FEF foi uma das mais influentes escolas do país nos últimos 20 anos e a que mais formou mestres e doutores”, assegura o diretor Paulo Cesar Montagner.

As pesquisas da unidade envolvem as áreas de educação física escolar, para portadores de necessidades especiais e idosos, extrapolando para o campo da atividade física e da saúde dentro da Ciência do Esporte. “É forte a nossa intervenção na pesquisa e na formação de quadros qualificados para o lazer, o que motivou várias ações na gestão de políticas públicas em nível federal, em estados e municípios”, diz o diretor.

CIÊNCIAS EXATAS

O Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) ganhou reconhecimento da comunidade científica nacional e internacional por trabalhos teóricos e experimentais que culminaram, por exemplo, no desenvolvimento de fibras ópticas, lasers, células solares, plasma e hidrogênio. São pesquisas que tiveram seu peso para o desenvolvimento do país.

Ainda assim, Francisco das Chagas Marques, diretor associado do IFGW, não considera fácil promover a interação da universidade com a sociedade. “Primeiramente, é preciso que a própria sociedade se desfaça de preconceito e passe a dar mais credibilidade às nossas universidades. Há inovações que só são adotadas no Brasil quando validadas nos Estados Unidos e na Europa, mesmo que as propostas nacionais sejam melhores”.

Em relação ao ranking do The Times, Marques considera que as medidas para aumentar as atividades de pesquisa na Unicamp, diminuindo a distância das grandes universidades americanas e européias, devem começar pela contratação e valorização de professores por critérios acadêmicos. “A procura e captação de cérebros é um aspecto fundamental, mas dificultado pelos mecanismos da universidade pública brasileira”.

Um grande entrave apontado por Francisco Marques é a burocracia, que obriga o docente ativo em pesquisa e ensino a gastar cerca de 30% do seu tempo na confecção e atualização de currículos ou em funções administrativas. A burocracia também torna a compra de equipamentos e insumos uma tarefa incômoda e demorada, especialmente no caso da importação.

Computação

Jorge Stolfi, diretor do Instituto de Computação (IC), explica que a unidade apresenta cunho francamente tecnológico e, como tal, suas pesquisas têm impacto relativamente direto e imediato na sociedade. “A contribuição se dá principalmente através do desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos de software e técnicas para processamento de informação, que podem ser aproveitados pela indústria de informática, por entidades governamentais ou pela população em geral”.

Para ficar em poucos dos exemplos recentes, o IC desenvolveu o software Teleduc para ensino assistido por computador, um sistema para reconhecimento automático de parasitas em humanos, algoritmos que apontam fraudes em guias de importação e técnicas para reconhecimento de impressões digitais. Esta pesquisa com digitais ajudou a Griaule, empresa nacional incubada na Unicamp, a tornar-se líder mundial no setor.

Segundo Stolfi, o maior entrave para o aumento da produção de tecnologias e de conhecimento científico no IC é a carência de alunos de pós-graduação. “As bolsas são muito menores que os salários oferecidos pela indústria aos recém-formados. A medida mais eficaz seria um aumento substancial no valor das bolsas”.

Matemática

Jayme Vaz Júnior, diretor do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), afirma que a produção matemática brasileira está em sintonia com as médias internacionais. “Dentro da International Mathematical Union, o Brasil faz parte de um grupo com Coréia do Sul, Espanha, Suécia e Suíça, atrás apenas do grupo de notória tradição matemática com Alemanha, EUA, França, Inglaterra e Rússia”.

As pesquisas no Imecc estão bem distribuídas entre a ciência pura e a ciência aplicada. No âmbito da ciência pura, os estudos visam ao desenvolvimento da matemática, que é o principal instrumento da metodologia científica moderna. Na ciência aplicada, busca-se a aplicação direta da matemática no estudo de problemas de outras áreas do conhecimento, tais como física, biologia, geologia e medicina.

Para Vaz, o aumento da produção científica no Imecc depende principalmente de elevar a qualificação dos recursos humanos. No caso do corpo docente, isto se daria no momento da contratação, com o uso de critérios rigorosos, e também com maior participação dos professores atuais em intercâmbios no exterior. “Outra estratégia é o aumento do número de alunos na pós-graduação, assim como do valor das bolsas”.

Química

“O futuro da química no Brasil passa pelo Instituto de Química da Unicamp”, declarou recentemente o presidente da Sociedade Brasileira de Química. De fato, pelo IQ já passaram muitos ex-alunos que ocupam posições de destaque em empresas do setor, além dos pós-graduandos que hoje estão no corpo docente de quase todas as universidades públicas do país formando a geração de químicos do futuro.

“As pesquisas no IQ envolvem desde a simulação de propriedades de sistemas químicos para planejamento de experimentos, até pesquisas experimentais voltadas ao desenvolvimento e estudo das propriedades de novos materiais, como cerâmicas, polímeros e catalisadores”, informa o diretor Ronaldo Aloise Pilli.

As linhas de pesquisa da unidade incluem ainda a prospecção da biodiversidade, desenvolvimento de produtos e metodologias para a síntese de fármacos, desenvolvimento de métodos analíticos aplicáveis ao monitoramente do meio ambiente e análise de combustíveis, alimentos, bebidas e outros produtos.

Atualmente, o Instituto tem dois enfoques sociais relevantes: a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida da população. De um lado, os pesquisadores se dedicam à criação de métodos de síntese mais inteligentes, a materiais e métodos para remediação ambiental, à destruição ou isolamento de compostos poluidores e a dispositivos de células solares que minimizem os efeitos dos combustíveis fósseis.

O outro enfoque visa à criação das chamadas especialties dedicadas à elevação do nível de vida do brasileiro. De acordo com Ronaldo Pilli, isto envolve a criação de novas drogas, mais eficazes, mais específicas e mais acessíveis economicamente, além de novos testes bioquímicos e a automatização dos já existentes.

Geociências

No Instituto de Geociências (IG), as pesquisas em geologia, geografia, educação em geociências e política científica e tecnológica trazem impactos sociais diretos e indiretos significativos. “A interação com a sociedade vem na formação de recursos humanos de alto nível e pesquisas em parceria e assessoria junto aos setores público e privado”, informa o diretor Alvaro Penteado Crósta.

Na área de geologia e recursos minerais, as pesquisas contribuem para a compreensão da evolução do nosso planeta e fornecem as bases tanto para a busca de recursos minerais, hídricos e energéticos necessários ao desenvolvimento social, como também para o seu aproveitamento de forma sustentável.

O entendimento e dimensionamento dos impactos e transformações ambientais decorrentes das atividades humanas também são objetos das pesquisas, assim como a análise da organização e dinâmica territoriais. O IG é pioneiro no país no desenvolvimento de métodos de ensino de geociências.

Outra contribuição fundamental do IG visa ao desenvolvimento científico, tecnológico e a inovação, por meio da análise do processo de geração e difusão da inovação e de suas implicações para os países em desenvolvimento.

(Continua na página 9)

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