| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 383 - 10 a 16 de dezembro de 2007
Leia nesta edição
Capa
Homenagem: Raul do Valle
Cartas
Empreendedorismo
Desenvolvimento na infância
Doença endêmica
Lançamento: Roberto Goto
Lançamento: Eliézer Rizzo
Lançamento: Armando Boito
Patrimônio
Ensino musical
Banana-passa
Fragilidade do idoso
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Destaques do Portal
Sementes de canola
Álvaro de Bautista
 


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Unidades da Unicamp oferecem disciplinas que
orientam aluno sobre atividade empreendedora

Ensino de noções do empreendedorismo
ganha novos contornos na Universidade

VANESSA SENSATO

Paulo Lemos, da Inova: noções de empreendedorismo no âmbito da vocação histórica da Unicamp (Fotos: Antoninho Perri/Antônio Scarpinetti)O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), estudo sobre a atividade empreendedora mundial, coloca o Brasil como um dos dez países onde se criam mais negócios no mundo. Entretanto, o mesmo estudo aponta que a maioria dos empreendedores brasileiros não recebe orientação profissional para abrir seu negócio. Este fator, aponta o levantamento, resulta na alta taxa de mortalidade de empresas no Brasil, que, segundo dados do Sebrae, é de 60%.

Aumenta procura por disciplina optativa

Contudo, dados do GEM sobre a educação para o empreendedorismo revelam que nesta área a academia brasileira ainda tem um longo caminho a percorrer. Dos 18.644 cursos de graduação cadastrados no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2004, apenas 16 são de habilitações em empreendedorismo, a maioria ofertada na Região Sudeste, sobretudo nos estados de Minas Gerais e São Paulo.

O cálculo do GEM não inclui, entretanto, as disciplinas que são ofertadas no escopo de outros cursos. É justamente aí que está a maior parte da oferta de ensino em empreendedorismo no Brasil – e na qual a Unicamp tem investido. Atualmente, algumas escolas oferecem disciplinas de empreendedorismo para seus alunos da graduação como uma forma de orientá-los sobre a atividade empreendedora, e incentivá-los para o empreendedorismo tecnológico em especial.

A Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), por exemplo, oferece há um ano e meio a disciplina de empreendedorismo tecnológico como parte de sua grade curricular. O professor José Mário de Martino, da FEEC, convidou Paulo Lemos, responsável pelas atividades de Empreendedorismo Tecnológico e Pré-Incubação de Projetos da Inova Unicamp, para ministrar o curso. Segundo Lemos, o curso dá aos alunos noções de empreendedorismo no contexto do perfil da Unicamp, que é uma universidade de pesquisa, com grande destaque para a formação em engenharias e ciências. “A disciplina é optativa, mas a procura cresce a cada semestre”, afirma. Lemos também mantém um projeto de ensino em cooperação com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), escola que tem destaque no Brasil no setor de negócios. Para ele, a cooperação é interessante para O professor Miguel Juan Bacic: “A interação das redes de  relacionamentos é fundamental”ambos, pois cada centro de ensino entra com sua expertise.

André Saito, vice-coordenador acadêmico do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV, explica que o empreendedorismo de base tecnológica é um tipo especial de empreendedorismo, voltado à oportunidade, com foco em alto retorno para o investimento e em crescimento acelerado, e que requer um investimento inicial significativo. “Existe toda uma dinâmica nesse tipo de empreendedorismo em que a pesquisa básica alimenta a criação de tecnologia, que por sua vez alimenta a geração de inovações em produtos e processos.”

Integração – Paulo Lemos explica que, em decorrência dessas características, outra especificidade do empreendedorismo de base tecnológica é a necessidade de maior integração com a universidade e redes de colaboração mais maduras que visam minimizar as dificuldades. Ele comenta que esteve recentemente em um curso para professores de empreendedorismo ministrado na Universidade de Berkeley, localizada no Vale do Silício, região internacionalmente conhecida pela intensa atividade empreendedora. De acordo com Lemos, os fatores de promoção para o que ele chama de “ecossistema empreendedor” da região são a força da educação empreendedora local e as sólidas redes de relações entre a universidade e empreendedores, que promovem a interação entre alunos e executivos. “Há mais de 150 centros de empreendedorismo nas universidades americanas e a âncora para essas atividades é a educação”, descreve.

O professor do Instituto de Economia da Unicamp (IE) Miguel Juan Bacic também destaca a importância das relações entre a universidade e empreendedores para desenvolver ações necessárias para a inovação, ou seja, para que os novos conhecimentos cheguem ao mercado. “A interação no âmbito de redes de relacionamentos é fundamental para o acesso aos recursos necessários para o empreendimento, como informações e tecnologias-chave”, afirma. Entretanto, segundo Bacic, esta interação não é muito fácil de ser implementada dentro da universidade, pois a academia tende a rejeitá-la como algo “impuro”.

O professor Marcelo Menossi: curso mostra como é possível levar a ciência até o setor empresarial Para o docente, a geração de novos conhecimentos e de novas tecnologias precisa dos empreendedores. “O empreendedor é um elemento-chave para que os novos conhecimentos cheguem à sociedade na forma de produtos, serviços e processos novos. Para haver inovação é necessária a presença de empreendedores”, confirma.

Bacic avalia que, caso a universidade considere isso importante, deve entender que é meritório desenvolver ações e programas relacionados com elementos que não estão dentro de seu núcleo, que ele aponta como pesquisa básica, e formação de alunos de graduação e pós-graduação. “Desenvolver ações necessárias para a inovação exige uma interação com empresários e pretendentes a empresários. Exige também ações que estimulem o aluno de graduação e de pós a se interessar por coisas que a academia considera que não é seu núcleo”, completa.

Uma das iniciativas neste sentido vem do Instituto de Biologia (IB), onde a disciplina de Biotecnologia Molecular promove a disseminação da cultura empreendedora entre os alunos da Biologia e de Farmácia. Marcelo Menossi, professor da disciplina, conta que o curso mostra como é possível levar a ciência até o setor empresarial e que, neste contexto, os alunos aprendem noções básicas de como O II Encontro Unicamp Ventures, ocorrido dia 5 em São Paulo: novas tendências do ambiente de empreendedorismomontar uma empresa e de propriedade intelectual, considerada fundamental para a área de biotecnologia. “A condição básica é uma busca no banco de patente, para saber se alguém já fez e quais as tecnologias precisarão ser usadas para a sua tecnologia”, coloca. O curso também promove a aproximação com ex-alunos que hoje estão no mercado e atuam na área de biotecnologia e propriedade intelectual através de palestras e seminários.

Do Centro de Empreendedorismo do IBMEC São Paulo, Marcos Hashimoto descreve que há um movimento crescente nas universidades brasileiras para incluir o ensino de empreendedorismo em seus cursos, mas segundo ele, a projeção ainda é muito tímida. Além disso, ele diz que no Brasil muitas escolas estão confundindo o ensino de empreendedorismo com o ensino de planos de negócios. “No mundo inteiro, plano de negócios é apenas parte dos programas de ensino de empreendedorismo. O que vejo lá fora é que os educadores de empreendedorismo estão mais interessados em desenvolver técnicas e metodologias que estimulem o comportamento empreendedor”, relata.

Para Hashimoto, é preciso que o aluno aprenda o que significa correr riscos, admitir o erro como processo do seu aprendizado, saiba argumentar e defender suas idéias, aprenda a ter determinação e perseverança diante das dificuldades, saiba pensar de forma holística e integrada nos contextos, tenha espírito crítico e desenvolva o senso de oportunidade e capacidade de gerar idéias inovadoras. “São muitos desafios que fogem dos atuais paradigmas de ensino nas instituições de ensino”, coloca.

Desafios que Bacic também aponta como um duro aprendizado para os alunos da graduação. “Os alunos tendem a valorizar unicamente os aspectos tecnológicos, refletindo o que aprendem em aula”, coloca. Segundo ele, isso reforça a necessidade de se criar um ambiente que possibilite a interação dentro da universidade entre empreendedores, alunos e professores. “As partes que participam desse ambiente devem perceber que ganham com a troca. Como fazer isto? Não é simples, mas há exemplos como o de Berkeley, em que todos ganham”, conclui.

Unicamp Ventures debate desafios do setor

O II Encontro Unicamp Ventures reuniu no último dia 5, em São Paulo, cerca de 120 empresários, professores, alunos e ex-alunos da Unicamp para discutir juntamente com investidores e empreendedores novas tendências e desafios do ambiente de empreendedorismo de base tecnológica no Brasil.

A reunião foi uma iniciativa do Unicamp Ventures, grupo que reúne cerca de 200 empresários que já foram alunos, professores ou pesquisadores da Universidade. Segundo Roberto Lotufo, diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, o objetivo do grupo Unicamp Ventures é formar uma rede de contatos e, a partir dela, criar um espaço de iniciativas, oportunidades e conhecimentos para empreendedores tendo a Inova Unicamp como interlocutora principal.

“Queremos aproximar agências de fomento de empresários e estudantes que ambicionam se tornar empreendedores, discutindo a perspectiva de cada um”, disse César Gon, presidente do Unicamp Ventures.

No primeiro painel do encontro, Pedro Passos, do BNDES; Janaina Prevot, da Finep; Maurício Lima, da InvestTech; e Luiz Eugênio Figueiredo, da Rio Bravo, responderam a perguntas do auditório e apresentaram linhas de investimento Venture Capital, Seed e Fundos, que têm o grande diferencial de não só aportar recursos, mas também incentivar redes de contato e aprimorar a governança corporativa.

Os investidores destacaram que atualmente há mais capital disponível para investimento no Brasil do que em qualquer outro momento. Entretanto, segundo eles, o empreendedor não sabe qual o investimento mais apropriado para adequá-lo ao estágio de desenvolvimento de seu negócio. Os especialistas também apontaram a falta de preparo e de conhecimento na área de negócios e de visão em longo prazo como dificuldades no momento da prospecção.

O segundo painel trouxe a perspectiva dos empreendedores Fabrício Bloisi, da Compera AnyTime; Jorge Steffens, da Datasul; Pablo Cavalcanti, da InMetrics; e Jorge Salomão, da Padtec. O painel foi moderado por Levindo Santos.

Os palestrantes concordaram que dois dos principais entraves para o empreendedor brasileiro são a falta de conhecimento em finanças e a carência de investidores. Segundo eles, por exemplo, falta a figura do investidor do tipo Angel, que viabiliza as primeiras formas de apoio financeiro a empresas de base tecnológica, auxilia na maturidade para a gestão do negócio, além de trazer sua rede de networking. “Sua principal contribuição é a de refletir sobre a empresa com críticas, sugestões e no acompanhamento do negócio, comparando o planejado com o realizado”, colocou Salomão.

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