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Teste
de surdez é primeiro colocado
O
método de teste para diagnóstico de surdez
de origem genética, adaptado pela doutora Edi Lúcia
Sartorato já abordado em edições
anteriores do Jornal da Unicamp foi classificado
em primeiro lugar no Prêmio Governador do Estado
em 2001. E está prestes a se tornar obrigatório
em hospitais e maternidades, o que depende da aprovação
na Assembléia Legislativa paulista de um projeto
de lei de autoria do deputado Vitor Sapienza (PPS).
O
mérito do teste, que foi patenteado por uma questão
de segurança (para que seja aplicado corretamente),
é a facilidade do diagnóstico. Ele
era feito de outra maneira, mais sofisticada, e conseguimos
um método mais rápido, prático e
barato, explica Edi, pesquisadora do Centro de Biologia
Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp.
A
partir de um pedaço de papel absorvente
que pode ser o usual em testes de sangue ou até
mesmo um filtro para café , coleta-se o sangue
e realiza-se o teste com resultado preciso. O projeto
financiado pela Fapesp teve início em 1999, a partir
da constatação de que uma em mil crianças
nasce ou fica surda nos países desenvolvidos, sendo
60% dos casos de origem genética. Com o avanço
das pesquisas nessa área, ficou evidente a importância
dos estudos de mutações no gene da conexina
26, especificamente uma mutação chamada
35delG (herdada de pai ou mãe), a mais freqüente
observada até hoje em caucasóides. Estima-se
que ela acometa uma em cada 5.000 crianças brasileiras.
O
sangue coletado em papel é examinado por uma reação
e usando um aparelho chamado termociclador, que possibilita
43 testes simultâneos. Pode ser feito juntamente
com o teste do pezinho, que atualmente permite apontar
até 80 patologias em recém-nascidos. A importância
maior está na detecção precoce da
mutação. A criança pode nascer
ouvinte, mas fatalmente ficará surda. Existem casos
em que a deficiência se manifesta somente na fase
adulta, mas não se conhecem pessoas que têm
a mutação e não fiquem surdas,
afirma Edi.
Planejamento
Na surdez de origem genética, não
há cura. Mas podemos trabalhar para que a
criança aprenda a falar antes de perder totalmente
a audição. Detectando o problema na principal
época de desenvolvimento cerebral, temos como atuar
para sua inclusão no meio social, ressalta
a pesquisadora. No Brasil, percebe-se a deficiência
aos três anos de idade, em média. É
quando a mãe começa a se preocupar porque
o filho não fala. Nesse período, o casal
pode ter tido outro bebê, e com o mesmo problema
genético, pois a chance de recorrência de
outro filho surdo na família é de 25%. Com
a detecção precoce os pais teriam a chance
de um planejamento familiar em função dos
riscos, pondera Edi.
A
criança surda pode perfeitamente freqüentar
uma escola de ouvintes, se estiver preparada para isso
e puder falar. O ideal é que o diagnóstico
se dê até os três meses de idade e
a intervenção para reabilitação
até os seis meses. O exame serve como alívio
para a mãe, que ao conhecer a causa da deficiência
do filho, livra-se de culpas, explica. Qualquer
pessoa pode verificar, por esse método, se é
portadora da mutação: tanto portadores de
surdez que desconhecem a causa, como indivíduos
com este histórico na família.
A
mutação é mais comum na Europa, onde
está presente em um entre 51 indivíduos;
na Itália, a proporção é de
um para 32. A surdez ocorre em 25% dos descendentes de
pais e mães que possuem a mutação,
pela combinação dos pares de genes. Como
boa parte da população brasileira é
descendente de europeus, está sendo realizado um
levantamento para detectar a incidência exata de
portadores da mutação 35delG no país.
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