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Fotografia
 


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Tese resgata a história da primeira curadoria
de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York

E a fotografia virou arte

MANUEL ALVES FILHO

Diana de Abreu Dobranszky, autora do estudo: "Fiz uma espécie de escavação arqueológica" (Foto: Antoninho Perri)Durante muito tempo, e por motivos variados, a fotografia não mereceu o mesmo status da pintura ou da escultura dentro do mundo da arte. Tal situação perdurou até o final da década de 30, quando alguns museus dos Estados Unidos e Europa finalmente abriram suas portas para a exibição de mostras fotográficas. O pioneiro desse processo de aceitação foi o Museu de Arte Moderna de Nova York, mais conhecido por MoMA, na sigla em inglês. Em 1937, oito anos após ser criado, o MoMA promoveu um evento germinal nesse sentido, a exposição denominada Photography: 1839-1937. “Essa exposição deu origem a um catálogo, que por sua vez gerou um livro no qual o fotógrafo foi elevado, pela primeira vez, à categoria de autor”, destaca Diana de Abreu Dobranszky, que investigou o tema em sua tese de doutorado.

Orientado pelo professor Fernando de Tacca, do Departamento de Multimeios do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, o trabalho de Diana traz dados inéditos relacionados à primeira curadoria de fotografia do MoMA, que durou de 1940 a 1946. Durante um ano, entre 2005 e 2006, a pesquisadora analisou documentos do próprio museu, bem como de outras instituições do gênero, bibliotecas e acervos de artes. Lá, ela foi co-orientada por Geoffrey Batchen, professor da City University of New York. “Fiz uma espécie de escavação arqueológica para levantar informações que me permitissem resgatar essa história. O aspecto curioso é que antes de mim ninguém havia se interessado pelo assunto, nem mesmo os norte-americanos”, relata. De acordo com ela, desde a sua fundação, em 1929, o MoMA já previa em sua estrutura a criação de um Departamento de Fotografia, a exemplo dos de Pintura e Escultura.

Ocorre, porém, que naquela época alguns segmentos ainda resistiam em aceitar a fotografia como obra de arte. Dizia-se, por exemplo, que o fato de a imagem poder ser reproduzida incontáveis vezes tirava dela características relativas à originalidade e raridade. “De alguma forma, ainda hoje esse argumento persiste, embora em menor proporção. Penso que isso ocorre pelo fato de a reprodução de uma pintura ser considerada um pôster e a reprodução de uma fotografia ser comumente confundida com a obra original”, infere Diana. Em sua pesquisa, ela apurou que a despeito de o Departamento de Fotografia do MoMA ter sido criado em 1940, ele começou a ser gestado anos antes, graças principalmente ao trabalho do historiador Beaumont Newhall, que fora convidado para atuar inicialmente como bibliotecário no museu.

Amante da fotografia, Newhall promoveu algumas pequenas mostras no MoMA, mas sem grande repercussão. “Até então, a fotografia entrava no museu pelas portas laterais”, afirma Diana. A situação viria a mudar com a exposição de 1937, que reuniu cerca de 500 artistas e 800 peças, entre imagens e equipamentos. Estavam representados, nessa ocasião, desde fotógrafos consagrados até iniciantes. Um dos expositores era o jovem e até então desconhecido Henri Cartier-Bresson. “A partir dessa exposição, que durou dois meses e atraiu um grande público, a direção do MoMA entendeu que Newhall era o nome indicado para criar e dirigir o Departamento de Fotografia. Foi aí que a fotografia passou a entrar no MoMA pela porta da frente”, acrescenta a autora da tese.

Por conta desse reconhecimento, outros museus também passaram a expor fotografias, conferindo-lhes igualmente a condição de obras de arte. “Essa aceitação ocorreu por vários caminhos, mas a via institucional foi sem dúvida muito significativa”, analisa Diana. Ela ressalta, ainda, que tão importante quanto o trabalho realizado pelo curador foi a atuação da mulher dele, Nancy Newhall. “Como Newhall foi convocado para lutar na Segunda Guerra, a esposa dele assumiu a curadoria do Departamento de Fotografia do MoMA em seu lugar. A rigor, ela ficou até mais tempo do que ele no cargo, e cumpriu uma grande gestão. Até a minha pesquisa, entretanto, ninguém havia dado o devido crédito ao trabalho executado por Nancy”, sustenta a autora da tese.

As exposições fotográficas promovidas pelo MoMA, conforme Diana, chamaram a atenção do meio artístico em várias partes do mundo. A pesquisadora explica que os eventos não simulavam propriamente as mostras de pintura, mas valiam-se de recursos similares, como o uso de displays. “Além disso, as fotos deixaram de ser exibidas de forma amontoada, como ocorria anteriormente, para serem expostas de maneira espaçada e na linha do olhar. Esse cuidado foi repetido por outras instituições, o que facilitou o contato do público leigo com esses objetos de arte”. Ademais, prossegue a autora da tese, esse “boom” também facilitou o trabalho dos críticos, que passaram a ter acesso à produção dos novos fotógrafos.

Children, foto de Helen Levitt, em exposição que teve curadoria do historiador Beaumont NewhallAtualmente, na opinião de Diana, o reconhecimento institucional da fotografia como obra de arte está consolidado. No entanto, os fotógrafos tiveram que superar vários obstáculos para alcançar tal condição. Até meados do século passado, lembra a pesquisadora, as fotos eram muito baratas. A situação começou a mudar a partir dos anos 1970. “O que se diz é que uma das razões para que a fotografia passasse a ser valorizada foi uma decisão de mercado. Como as pinturas estavam muito caras naquele período, buscou-se uma nova alternativa de investimento. Ou seja, o valor da fotografia elevou-se não apenas no campo simbólico, mas também no financeiro”.

Fotografia do MoMA feita pela pesquisadora Diana de Abreu Dobranszky: estudo inédito Embora o assunto não esteja no escopo da sua pesquisa, Diana informa que, no Brasil, o reconhecimento da fotografia como arte teve um grande impulso na década de 50, em razão do trabalho dos fotógrafos modernistas. “Não saberia dizer como está o mercado no país atualmente, mas tenho visto cada vez mais exposições e percebido uma maior valorização dos fotógrafos”.  Retornando ao MoMA, a pesquisadora informa que o Departamento de Fotografia do museu está gigantesco hoje em dia. O seu acervo de imagens é um dos maiores do mundo. “Muito por influência do MoMA, Nova York respira fotografia. No período em que permanecei por lá, vi coisas incríveis tanto nos museus quanto nas inúmeras galerias espalhadas pela cidade”, relata a autora da tese, que contou com bolsa de estudo fornecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação.

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