Os pesquisas em inovação tecnológica implementadas nos últimos anos, nas culturas de cana-de-açúcar e laranja do estado de São Paulo, tiveram de forma geral impactos positivos em termos econômicos, sociais, ambientais e de capacitação. Esta foi a conclusão da aplicação, no universo das duas principais culturas agrícolas paulistas, da metodologia ESAC, desenvolvida no IG-Unicamp em conjunto com uma rede de instituições de pesquisa e fomento.
Os dois programas de pesquisa avaliados pela metodologia ESAC são coordenados pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Os pesquisadores fizeram mais de 90 viagens aos municípios produtores de cana e laranja objeto da avaliação.
Na área da cana-de-açúcar foi avaliado o Programa de Melhoramento Genético (Procana). Foram visitados Municípios nas regiões de Ribeirão Preto e Piracicaba, as principais produtoras do Estado.
Em termos econômicos, a introdução de novas variedades de cana-de-açúcar associadas ao Procana não representou importantes modificações. O instrumental metodológico apontou, contudo, tendências positivas em razão da maior qualidade das novas variedades, por exemplo pelo maior teor de fibras e a possível utilização do bagaço em co-geração de energia, uma forte tendência no setor canavieiro, diante do desafio de ampliação da matriz energética brasileira e da inquietação global com as mudanças climáticas.
Não foram observadas, igualmente, mudanças significativas em termos ambientais decorrentes da introdução das variedades Procana, nas duas principais regiões produtoras, o mesmo ocorrendo no caso da dimensão social. As mudanças em capacitação foram positivas.
Variações mais expressivas foram verificadas em termos da nova tecnologia introduzida no setor citrícola, no caso com a substituição dos viveiros de mudas a céu aberto para viveiros telados, fechados, como forma de prevenção de problemas fitossanitários. A produção de mudas de laranja em ambiente fechado transformou-se inclusive em uma exigência legal, a partir do início de 2003. Uma portaria da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo proíbe, a partir de 1o de janeiro deste ano, a comercialização e transporte de mudas cítricas produzidas em viveiros abertos. A motivação para a portaria foi a constatação de que a propagação da clorose variegada dos citros (CVC) nos laranjais paulista estava relacionada às mudas.
Para permitir uma avaliação completa dos impactos das inovações tecnológicas no setor citrícola, os pesquisadores visitaram propriedades de pequeno, médio e grande porte em diversos municípios produtores. A preocupação com as condições fitossanitárias é fundamental para o setor, considerando as ameaças que cercam os laranjais paulistas, de enorme importância atual para a economia brasileira.
De modo específico, foram avaliados os impactos das mudanças tecnológicas associadas ao Programa de Produção de Borbulhas e Mudas Sadias de Citros, coordenado pelo IAC. O instrumental metodológico ESAC detectou importantes impactos decorrentes das inovações tecnológicas introduzidas no setor, sobretudo em termos da capacitação do pessoal envolvido com a produção de mudas.
A disseminação dos viveiros telados aumentou as exigências de capacitação dos trabalhadores para lidar com os novos equipamentos e processos produtivos. Atualmente o estado de São Paulo é considerado um dos locais de maior eficiência em produção de mudas cítricas no planeta, contando com uma área de produção telada de mais de 500 mil metros quadrados. Em 1997, São Paulo contava com somente seis viveiros telados.
Na dimensão ambiental os impactos foram considerados positivos, pois os viveiros telados demandam menor quantidade de insumos como agroquímicos, além de reduzir os impactos no solo decorrentes de fatores erosivos. Modificações expressivas em termos sociais não foram constatadas, mas a metodologia ESAC apontou, por outro lado, importantes modificações em termos econômicos com a multiplicação dos viveiros telados.
Ganhos econômicos foram identificados em função dos menores riscos de problemas fitossanitários nos laranjais, mas a metodologia de avaliação revelou, em contrapartida, impactos como a concentração de mercado, com a redução do número de viveiros. Do mesmo modo, aumentou a exigência de capital e a dependência dos viveiristas de alguns insumos, o que em conjunto elevou a taxa de risco com o negócio.
A nova metodologia de avaliação de impactos, desenvolvida no IG-Unicamp e no marco de uma rede interativa de pesquisa, apontou em resumo aspectos que outros instrumentais eventualmente não detectariam no âmbito das inovações tecnológicas introduzidas em duas culturas agrícolas que exercem papel estratégico atualmente para a economia estadual e brasileira.
Desenvolver a nova metodologia de avaliação e aplicá-la em programas concretos de inovação tecnológica somente foi possível, de fato, em função da montagem da rede de instituições envolvidas, o que por si só é apontado pelos responsáveis como um grande salto para a Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo e do Brasil. "Sem essa integração de esforços o resultado alcançado não seria possível", ressalta o professor André Furtado, sinalizando que a rede deve ser mantida e eventualmente ampliada com a extensão da metodologia para avaliação dos impactos de pesquisas na produção industrial e na área de serviços.
Tese de mestrado - Uma tese de mestrado, de autoria do sociólogo Marcelo Gonçalves do Valle e defendida no Instituto de Geociências da Unicamp, está relacionada ao processo de desenvolvimento da metodologia ESAC. A tese "Cadeias Inovativas, Redes de Inovação e a Dinâmica Tecnológica da Citricultura no Estado de São Paulo" analisou o processo de inovação tecnológica no setor citrícola, a partir da avaliação do Programa de Produção de Borbulhas e Mudas Sadias de Citros e do seqüenciamento da "Xylella fastidiosa", que integrou o Projeto Genoma e contou com a participação da Unicamp, entre outras instituições, alcançando uma significativa repercussão internacional. A tese de Marcelo Gonçalves do Valle foi orientada pela professora Maria Beatriz Machado Bonacelli.
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