Criado em 1984, o Instituto de Economia (IE) originou-se do antigo Departamento de Economia e Planejamento Econômico (Depe), que fazia parte do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). É, com folga, o maior fornecedor de docentes da Unicamp para diferentes governos desde o início das atividades do Depe, no final da década de 1960. Passaram pelo IE - ou ainda estão lotados nele - nomes como os de José Serra, Paulo Renato Costa Souza, Barjas Negri, Luiz Gonzaga Belluzo, João Manuel Cardoso de Mello, Walter Barelli, José Graziano da Silva, Antonio Kandir, Carlos Américo Pacheco e Márcio Pochmann, entre outros. O diretor do IE, professor Paulo Baltar, credita essa participação expressiva de docentes na vida pública às suas respectivas atividades partidárias e ao fato de o Instituto manter uma linha analítica e propositiva sobre a economia brasileira. Na Unicamp desde 1977, Baltar destaca também as pesquisas desenvolvidas nos centros e núcleos do IE.
Jornal da Unicamp - A que o senhor atribui o grande número de docentes do Instituto de Economia que participam de sucessivos governos?
Paulo Baltar - Além de serem bons economistas, nossos docentes sempre tiveram participação muito intensa na vida nacional como cidadãos, sobretudo nos debates. É importante ressaltar também que muitos deles foram chamados porque são militantes de partidos políticos. O instituto sempre teve um espectro de participação político-partidária muito grande. São economistas notórios dentro de suas linhas partidárias
JU - A mídia freqüentemente fala em "escola Unicamp", referindo-se aos quadros oriundos do Instituto de Economia. O senhor acha que a classificação procede?
Paulo Baltar - Acho que sim. Existe no IE uma tradição forte de uma linha de pensamento analítica sobre a economia brasileira e um diagnóstico dos nossos problemas estruturais. Isso começou ainda quando o IE era departamento. Conseqüentemente, sempre foram apresentadas propostas com uma orientação diferente, numa linha mais adequada para o país. Essa sempre foi nossa marca nas atividades de pesquisa, da graduação e da pós-graduação. Reconhecemos que a economia é uma ciência social. Procuramos dar não apenas uma formação técnica aprimorada para os alunos, mas também uma formação mais ampla, interdisciplinar.
JU - Qual a linha predominante no IE?
Paulo Baltar - Não dá para dizer que exista uma linha única de pensamento, mas se você quiser classificar pode dizer que fazemos uma abordagem mais heterodoxa da economia. É difícil hoje querer classificar o economista numa coisa muito fina.
JU - São muitos os docentes que saíram do IE para o governo federal, mas poucos atuam diretamente na área econômica. Por quê?
Paulo Baltar - Não há ninguém da economia lotado na área econômica do governo federal. Pelo contrário, o posicionamento, mesmo de integrantes do governo, é de oposição à política adotada pela área econômica. O caso mais claro é o do professor José Serra, que deixou de ser ministro do Planejamento por conta de divergências. Tanto é assim que em seu programa de campanha, embora tenha sido o candidato da situação, nunca perdeu a oportunidade de marcar sua posição contrária às orientações econômicas gerais do governo.
JU - Essa opinião predomina no Instituto?
Paulo Baltar - Tenho a impressão de que a maioria dos docentes é contrária ao modelo neoliberal. Agora, as razões e as alternativas que se colocam variam bastante de um professor para outro e de uma linha política para outra. Temos aqui no Instituto várias linhas políticas. Acredito que a maioria não comunga plenamente com esse modelo adotado pela área econômica do governo federal.
JU - O fato de o IE ter um grande número de docentes no poder público traz algum tipo de ônus?
Paulo Baltar - Não. Ao contrário, a experiência vivenciada pelos professores nos cargos públicos possibilitou um enriquecimento da nossa visão sobre a realidade nacional.
JU - Qual seria a diferença entre as linhas adotadas pela PUC-Rio e pela Unicamp?
Paulo Baltar - A formação econômica dos docentes da PUC do Rio não tem a ênfase que nós damos a esses componentes mais sociais que estão estreitamente relacionados com os componentes econômicos. Eles vêem a coisa econômica de um modo mais isolado. Nós destacamos um pouco mais as conseqüências das linhas econômicas que o país segue com relação à sociedade brasileira, à maneira de conviver do cidadão.
JU - As pesquisas também seguem essa orientação?
Paulo Baltar - As atividades de pesquisa no Instituto de Economia se dão a partir de seus núcleos e centros. Nós temos quatro centros e seis núcleos, que abrangem as principais áreas de pesquisa - teórica e aplicada. E, das pesquisas que os professores fazem em torno desses núcleos, todas têm aplicabilidade. Elas cobrem um longo espectro e boa parte dos problemas principais. O resultado dessa política repercute diretamente no ensino.
JU - De que maneira?
Paulo Baltar - Os grupos de pesquisa se relacionam entre si. Os docentes não ficam isolados, mas mostram seus trabalhos para que cada um perceba que os temas específicos de seus estudos estão relacionados com outros temas que os demais professores estão pesquisando com seus alunos. O IE sempre promoveu essa interação.
No eixo das decisões>>
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