“Na área de Engenharia de Software, o maior problema acaba sendo o trabalho em escala”, explica a professora Cecília Mary Fischer Rubira, responsável pela disciplina no IC. Segundo ela, em geral os alunos de graduação têm um contato maior com a parte teórica. “Mesmo os projetos de pequeno porte desenvolvidos durante o curso não permitem aos estudantes uma visão completa sobre a importância da engenharia de software”, observa. “A vivência, de fato, quase sempre acontece nos projetos de grande escala, desenvolvidos nas empresas e não nos projetos de cursos”, completa.
A iniciativa adotada pelo IC tem como propósito preencher essa lacuna. O objetivo é trabalhar na formação do aluno, promovendo uma melhor qualidade na disciplina. “Isso também influi diretamente na motivação do estudante”, constata a professora. Ela destaca, ainda, que existe, por parte da Unicamp, uma forte tendência para o incremento da inovação tecnológica. “Seguindo essa linha, o Instituto de Computação sempre procura parcerias e, particularmente na área de engenharia de software, é imprescindível a comprovação da parte prática, sem a qual é impossível atingir a inovação tecnológica”, explica.
De acordo com Cecília, existem algumas áreas dentro da computação que são capazes de “sobreviver” sozinhas, mas no caso da engenharia de software isso não é possível. “Existe um movimento natural de aproximação da universidade com as empresas que geralmente resulta em inovação tecnológica para a iniciativa privada”, afirma. Em geral, diz Cecília, um processo de desenvolvimento de software inclui as fases de formulação de requisitos, análise, projeto e implementação. Na parte de aquisição de requisitos a presença do cliente é constante. “Quando a visão do aluno se restringe à implementação há uma tendência de que as fases anteriores sejam consideradas apenas como burocracia, o que é uma falha”, explica. A implementação, segundo a professora, representa apenas 30% do trabalho. “O resultado final é muito dependente das fases iniciais de análise e projeto”, alerta.
Na parceria estabelecida, a Software Design desempenha o papel de cliente. O problema sugerido pela empresa foi o desenvolvimento de um Internet Banking, via web. Os alunos realizaram a simulação de atendimento ao cliente e também de especialistas financeiros. “A empresa nem sempre sabe como funciona a CPMF e, em um caso real, é preciso auxílio de um especialista para dar informação e suporte a respeito do funcionamento da CPMF”, explica a professora. Esse tipo de problema apresenta algumas características próprias que necessitam de alguns conhecimentos mais específicos”, completa.
Segundo Cecília, como a empresa já presta esse tipo de serviço ao mercado e conhece bem o comportamento do cliente, é capaz de simular o processo de uma forma real. Outro resultado interessante, de acordo com a professora, é a vivência da atuação gerencial e de gestão de pessoas, com plano de projeto definido. “Dentro de uma empresa há um gerente que distribui tarefas, faz acompanhamento do desenvolvimento, sabe quanto tempo leva para se desenvolver as atividades, ou seja, funciona como um elemento regulador”, explica a professora. “Essa atividade de gerência é realizada dentro de cada equipe de alunos. Além disso, há um suporte na gerência de projeto e na especialização do negócio”, completa.
Eduardo Jacob Oliveira, diretor de engenharia da empresa e ex-aluno da Unicamp, considera bastante interessante a iniciativa de aproximação com as empresas do setor. Segundo ele, vários cargos gerenciais na Software Design são exercidos também por ex-alunos. Oliveira salienta que discutir a questão de atualização e modernização do quadro de pessoal, ajustando o mercado ao currículo, é um fator importante. “As empresas serão as maiores beneficiadas, pois empregarão profissionais mais qualificados e preparados para atuar no mercado”, afirma.
A reação dos alunos, de acordo com a professora Cecília, foi bastante positiva. A empresa contribuiu de forma significativa, trazendo, por exemplo, o modelo de plano de projeto, através do qual foi possível visualizar como se inicia o trabalho antes de partir paras as fases posteriores. Oliveira explica que esse plano não é específico da Software Design. “É um plano normalmente usado no mercado; outras empresas certamente terão um plano bastante parecido”, garante. “Dessa maneira, os alunos têm uma visão abrangente”, completa.
A classe do terceiro ano de Engenharia de Computação possui oito equipes compostas de cinco a seis membros, estruturadas com um líder que controla o projeto, suas especificidades, a atuação e o desempenho de cada aluno, através de um acompanhamento constante. A equipes são formadas por engenheiros de requisitos, arquitetos de software e programadores. “É um trabalho colaborativo onde cada um descobre o seu perfil e se aloca dentro da equipe”, diz a professora Cecília.
Nessa primeira fase, segundo ela, houve um contato direto com o cliente. Várias entrevistas foram realizadas com o objetivo de capturar o maior número de informações possíveis e, a partir daí, gerar um primeiro conjunto de modelos de software. A metodologia foi desenvolvida de acordo com a visão do cliente. Segundo o diretor da Software Design, ter um cliente final faz toda a diferença. “Trabalhar e solucionar um problema e as dificuldades inerentes a ele é o fator de diferenciação do profissional no mercado”, revela.
O diretor de engenharia da Software Design afirma, também, que existem duas grandes motivações para estar participando do projeto. A primeira é a satisfação pessoal de voltar à universidade demonstrada pelos profissionais envolvidos. “Todos estão atuando de forma voluntária”, diz. A segunda motivação é o investimento no futuro, uma vez que muitos desses alunos poderão fazer parte do quadro de pessoal da Software Design.