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De um discurso sem palavras

X Jornada Corpolinguagem e III Encontro Outrarte
reúnem intelectuais entre os dias 3 e 5 no IEL


NINA VIRGINIA DE ARAÚJO LEITE*
Especial para o JU

O grupo de pesquisa SEMASOMa, atualmente vinculado ao centro de pesquisa Outrarte – estudos entre arte e psicanálise do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, promoverá nos próximos dias 3, 4 e 5 de novembro mais um encontro em que estarão reunidos pesquisadores, professores, alunos de graduação e de pós-graduação de diversas instituições de ensino superior do Brasil para discutir o tema “De um discurso sem palavras”. O tema é especialmente caro aos estudiosos da linguagem e de suas articulações com campos variados do saber, como é o caso da psicanálise, sociologia, antropologia, linguística, filosofia, artes e literatura. O evento, que ocorre no IEL, está organizado de modo a oferecer amplas oportunidades para debate e discussão do complexo tema escolhido, em mesas-redondas, oficinas, comunicações e conferências e está aberto a todos os
interessados.

Além de constituir-se em um encontro a mais na série iniciada em 2000, o evento deste ano retoma, por vias singulares, temas de algum modo debatidos em anos anteriores, especialmente “Gestos e Afetos” e “entreAto”, configurando nova oportunidade para avançar na discussão das questões de interesse para os membros do Outrarte. A continuidade dos encontros e o forte interesse que tem despertado entre os alunos de graduação e de pós-graduação vêm testemunhar um modo de presença da psicanálise na universidade que convoca a todos os interessados no campo aberto por Freud a refletir criticamente sobre a não exterioridade constitutiva dos estudos na área.

A seguir, J. Guillermo Milán-Ramos entrevista os professores, Luis Behares (Universidad de la República, Montevidéu), Paulo Endo (USP) e Cláudia de Lemos (IEL-Unicamp), que será protagonista no dia 4 do “encontro marcado”, no qual será debatido seu percurso na ciência e na psicanálise. Os docentes falam sobre sua participação no evento e analisam a importância da psicanálise nos dias de hoje.

*Nina V. de Araújo Leite é psicanalista, linguista e professora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. É membro da Escola de Psicanálise de Campinas e autora do livro Psicanálise e análise de discurso: o acontecimento na estrutura (Campo Matêmico, 1994). Coordena o grupo SEMASOMa e é fundadora do Centro de Pesquisa OUTRARTE (IEL-Unicamp).


'Como não escutar o que vinha da psicanálise?'

J. GUILHERMO MILÁN-RAMOS**
CLAUDIA LEMOS
Especial para o JU

Jornal  da Unicamp  – Na  condição de  coordenadora do Centro de  Pesquisa Outrarte,  organizador  deste  evento,  como  a  senhora  o  contextualiza  no  quadro  de uma  reflexão  abrangente  sobre a  sociedade  contemporânea?
Cláudia de Lemos –
A X Jornada Corpolinguagem  e  o  III  Encontro Outrarte  têm  sua  relevância  indicada tanto pelo neologismo Outrarte que dá nome ao centro quanto pelo  tema do evento “De um discurso sem palavras”. Psicanálise  e  arte,  entendidas  como estando em conjunção e em disjunção na palavra Outrarte,  são  campos que interrogam o conhecimento científico, a  tecnologia  que  dele  decorre  e,  em particular, suas consequências na sociedade contemporânea. Uma  sociedade que, por não querer saber do que Freud chamou de  “O mal-estar na  civilização”, se deixa consumir pela lógica do mercado de consumo. Essa interrogação se atualiza no tema do evento: em “discurso”  ressoa  tudo o que Jacques Lacan pensou e formalizou sobre como o discurso do psicanalista põe radicalmente em questão o discurso da ciência e  o  discurso  da  universidade. “Um discurso  sem palavras”  aponta,  entre outras  coisas,  para  o  discurso  como estrutura independente da signifcação que  aparentemente  lhe dá  conteúdo.

JU  – Como  a  senhora  compreende a presença da psicanálise na universidade?
Cláudia de Lemos –
A importância da presença da psicanálise na universidade tem a ver com essa interrogação, ou melhor,  com  a  função que Lacan definiu como a de “suspender as certezas, consumir as miragens” que um saber que visa à totalização almeja. A noção  de  inconsciente,  desde Freud, implica  e  faz  valer  essa  suspensão. O interesse que muitos dos alunos do IEL  e  de  outros  institutos mostram pela psicanálise diz algo sobre como o que escapa ao conhecimento e tende a fcar encoberto pelo discurso científico incomoda  e  pede  para  ser  escutado.

JU – No IEL/ Unicamp, a senhora desenvolveu  seu  trabalho na  área de aquisição da  linguagem. Como a sra. qualifica a sua experiência de produzir o contato, o entrechoque, digamos assim, entre essa área e a psicanálise?
Cláudia de Lemos –
Meu encontro com a fala da criança, que foi um impulso para o doutorado,  foi, na verdade, um choque, um encontrão. O que a área da Aquisição de Linguagem, no domínio da Linguística, me oferecia era uma visão da criança como sujeito do conhecimento diante da língua/linguagem como objeto a  ser  apreendido,  aprendizagem  e/ou desenvolvimento vistos como regulados pela complexidade atribuída por teorias linguísticas  às  estruturas da  língua. O que encontrei na fala da criança foram fragmentos  –  restos?  –  do  discurso materno  a  ela  dirigido,  ou melhor, uma  fala que opunha  total  resistência à sua descrição por teorias linguísticas. Enfm, insisto em dizer que foi com uma criança  falada pelo Outro que me deparei. Com uma criança que, para se tomar  como  falante,  tinha que  recalcar  tanto a voz da mãe quanto a cena instaurada pelo discurso materno. Não se tratava, para a criança, de adquirir a linguagem, mas de  ser  capturada por ela. Contudo, foi minha análise pessoal que me colocou diante do  fracasso de minhas várias  tentativas de  interpretar falas de crianças a partir da Linguística e a Psicologia. Mais ainda: diante do não-saber e, particularmente, do não-saber sobre a origem que solapa as tentativas de surpreender na criança o que explicaria o humano, mas que está na origem do próprio desejo de saber.  Diante desse fracasso e desse sujeito-efeito de linguagem que essas falas deixavam entrever, como não escutar o que vinha da Psicanálise?

** J. Guillermo Milán-Ramos é pós-doutorando em linguística no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp) e membro do centro de pesquisa Outrarte.

 

‘Por uma relação de saber
sujeita à deriva do simbólico’

LUIS BEHARES

JU – Nesta jornada, ao longo de dois dias, o  senhor  vai oferecer  a ofcina “Discurso ensinante, verdade  e  ‘consequências obscuras’ ”. Qual é a direção da refexão que o senhor vai propor? Qual é a importância  de  formular  essa  questão, hoje,  para  o  campo  do  ensino?
Luis Behares  – A  nossa  oficina é  o  produto  de  diversas  indagações, minhas  e  de Adrian Villalba, Ana María Fernández, Gabriela Costardi e Marianella Lorenzo. Essas  indagações provêm de trabalhos de pesquisa e  reflexão  bastantes  presentes  hoje nos  âmbitos  da  teoria  do  ensino. Trata-se da questão referida ao ensino, principalmente o chamado “ensino superior”, que não é identificável imediatamente com todo e qualquer ensino feito na universidade. O ensino superior supõe o encontro com o conhecimento sob  a  forma que  este  tem na  ciência ou em outros campos de pensamento, e  traz  para  a  universidade  a  questão do saber, no que este  tem de possibilidade ou impossibilidade de verdade. O  ensino  universitário  o  inclui  junto com outras variedades de transmissão de  conhecimentos, geralmente  caracterizadas pela propensão ao utilitário, à  formação  profissionalista,  à  venda de  objetos-ensinos “oportunos”,  vale dizer,  as  várias  confusões  que  circulam  nos  territórios mais  aplicados  e “extensionistas”,  e  assim  por diante. Entre o saber que se apresenta “furado” perante a apreensão do real – em jargão lacaniano, um saber “não-todo” – e o conhecimento que se sustenta e ganha  consistência  a  partir  de  nosso campo  representativo  há,  por  assim dizer, uma tensão, um conflito, e isto é uma questão própria da teoria do ensino. É nela que é possível dizer alguma coisa que nos  afaste da  tendência  ao psicologismo, que tem substituído essa
discussão pela teoria dos aprendizados. Em tanto “discurso”, o ensino só pode produzir  “consequências  obscuras”...

JU  –  Isso  nos  coloca  perante  a  questão  da  relevância  do lugar  da  teoria  psicanalítica  no pensamento  contemporâneo...
Luis Behares –
Sem dúvida, porque essa discussão só se faz evidente ao  reformular  as  noções  de  sujeito, de  saber  e de verdade,  tão  reduzidas durante o século passado pelo cognitivismo  e  a didática  instrumentalista. É nesse  espaço que  a  teoria psicanalítica,  principalmente  na  sua  configuração  lacaniana,  vem  a  produzir seus  efeitos. O  sujeito do  ensino  e o sujeito  da  ciência  não  podem mais ser  pensados  como  os  emissores  de representações  rematadas, que  incorporam o real como coisa da linguagem na plenitude do sentido. A  lógica e a epistemologia  já  pensaram  algumas alternativas de reconceitualização, mas estas  nos  levam  às  aporias  próprias do  saber  cognitivamente  definido.

O  importante  parece  ser  a  elaboração de uma relação de saber sujeita à deriva do  simbólico, que  faz desse sujeito um efeito do discurso da ciência, na  sua  tarefa  impossível de produzir sentido e verdade. A psicanálise encontra aqui a  teoria do ensino, principalmente – como já reconheceu Lacan – na dimensão do “desejo do ensinante” na linguagem, ponto que evoca a tradição estoico-agostinhana dessa  teoria. Porém, a sua questão visava “o pensamento contemporâneo”... Sem cair no relativismo frívolo que o apelo ao  tópico da “impossibilidade do saber” costuma potencializar, a nossa discussão tem a relevância das discussões que estão na base  desse  pensamento  contemporâneo,  referidas novamente  as possibilidades do saber e de sua transmissão.

JU – Como o senhor entende a presença da psicanálise na universidade?
Luis Behares –
Esta pergunta é confusa...Trata-se da relação da psicanálise, na sua possibilidade de se parecer com um “movimento”, com as instituições ou atores universitários? Trata-se da velha e corriqueira pergunta pela possibilidade de inclusão da transmissão ou do ensino da psicanálise nos âmbitos curriculares universitários? No que me diz respeito, eu não  acharia muito  interesse nessas questões. Eu acho que pode  ser muito mais  interessante pensar no que a psicanálise viria a ser capaz de dizer sobre a  discussão  essencial  à  universidade contemporânea. Ela está neste momento travessando diversas crises, porém a que toca na sua essencialidade é a que põe em interdito a sua relação com o saber. E é por aí que a teoria psicanalítica tem bastante a lhe dizer e a lhe interrogar.

'A desburocratização do saber
passa por uma desobediência intelectual'

PAULO ENDO

JU – Qual é a direção da reflexão que o senhor vai propor na oficina “Freud e Agamben: tiranias, soberanias e confins da memória”? Qual é a importância de formular essa questão, hoje, para o campo psicanalítico?
Paulo Endo –
Na verdade, a ambição da psicanálise em posicionar-se como intérprete da cultura, da política e  da  sociedade  esteve  presente  desde muito cedo, como sabemos. Freud, como sempre, foi o maior exemplo. A criação da revista Imago, os primeiro exercícios,  um  tanto  estapafúrdios, em  torno  da  psicanálise  aplicada,  o interesse  extemporâneo  de  “colonizar”  outras  áreas  do  saber foram  os  primeiros  passos rudimentares nessa direção.

Podemos  lembrar  inclusive de alguns membros do grupo freudiano  em  torno de Otto Fenichel que  já  pensavam  em  constituir  um grupo  de  psicanalistas  políticos  em busca  de  um  certo  engajamento da psicanálise, coerente com os interesses do  próprio Fenichel. É  uma  história um  tanto  irregular  essa, mas  ainda está para  ser  feita, ou  seja  a história da presença, no  cenário psicanalítico desde Freud,  em  diversos  países,  de psicanalistas com uma posição e reflexão políticas inequívocas e o impacto disso  na  teoria  e  no movimento  psicanalítico em seus respectivos países.

Voltando  a  Freud,  creio  que  o turning point freudiano foi, em minha opinião, o trabalho realizado no artigo Totem e Tabu (1913).  Nesse trabalho extraordinário  estão  condensadas algumas  das  discussões  e  problemas fundamentais  em  relação  ao  debate sempre  tenso  entre  psicanálise  e  política. Aliás, o próprio Freud afrmou que  os  dois  textos mais  importantes de sua obra eram A interpretação dos sonhos e Totem e Tabu. As hipóteses e problemas levantados em Totem e Tabu atravessam trabalhos centrais da obra freudiana e posteriores a ele – como  O Futuro de uma ilusão (1927), O Mal-estar na cultura (1930), Psicologia das massas e análise do eu (1921), chegando até Moisés e o Monoteísmo (1939) – e chegam até nossos dias nos trabalhos de teóricos sociais como Zigmunt Bauman, René Girard,  Judith Butler, Ernesto Laclau, Žižek, Norbert Elias, de certo modo, e Agamben, por exemplo.

Alguns teóricos sociais e políticos contemporâneos  têm refletido com a psicanálise e particularmente com esse texto. Agamben é um deles. Procurarei examinar brevemente alguns dos desdobramentos desse pensar político com a psicanálise em pontos específcos da obra de Giorgio Agamben; procurarei fazer isso em torno de alguns conceitos liminares como soberania e memória. O objetivo,  portanto,  é  bem modesto.

JU –  Isso nos coloca diante da questão da  relevância da psicanálise na  sociedade  contemporânea.
Paulo  Endo  –
A  relevância  é inconteste. Além da  consolidação da clínica psicanalítica como instrumento potente, radical e único de compreensão psíquica e a apropriação pelo sujeito psíquico dessa compreensão, que supõe  seu  próprio  descentramento, a  psicanálise  é  hoje  parte  do  conhecimento  fundamental  se  quisermos compreender  fenômenos  extremos engendrados  social  e  politicamente.

Em  alguns  círculos  de  pesquisadores  sociais  e  teóricos  políticos, Freud e Lacan são autores do mesmo calibre  de Marx, Weber, Benjamin. Claro que quando digo  consolidação não  estou  falando  de  predominância ou  hegemonia  da  psicanálise  onde quer que seja. O que, do meu ponto de vista,  evidencia o  caráter estrangeiro da psicanálise, desde Freud, ele próprio um  estrangeiro. Não  creio  que  faria bem  à  psicanálise  ocupar  um  lugar hegemônico, seja em que sentido for.

JU – Como o senhor vê a presença da psicanálise na universidade?
Paulo Endo –
Eu penso,  e posso atestar  isso,  que  a  universidade  no Brasil –  e  em  alguns outros países – t ornou-se um lugar muito potente para o pensamento psicanalítico de maneira geral. É nela que acontecem alguns formidáveis debates transdisciplinares, inflexões teóricas fundadas em profundo e largo estudo dos saberes envolvidos, o que supõe reconhecer uma tradição de pensamento diversa da psicanálise, e um  reconhecimento da  tradição do pensamento psicanalítico por  saberes diversos  dela. A  realização  de  determinados diálogos  entre  saberes  seria impensável  fora da universidade,  talvez o próprio Outrarte seja uma prova disso. No que  tange à minha área de pesquisa especificamente, que envolve o diálogo entre a teoria psicanalítica e a teoria social e política contemporânea diante de certos problemas  liminares, não  vejo  lugar mais  adequado  para desenvolvê-lo senão na universidade.

Entretanto,   a clínica psicanalítica sofre na universidade. Mesmo quando ela  existe,  não  podemos  dizer  que ela  responde  ao  que  garantiria  um trabalho  psicanalítico  stricto  sensu. Ela  sofre  adaptações,  algumas  lesivas  para  a  prática  psicanalítica  em função  das  injunções  burocrático-acadêmicas. Daí  a  tensão  necessária entre a psicanálise na universidade e a psicanálise das associações, escolas e institutos de psicanálise. Não acho de nenhum modo  salutar, uma oposição dicotômica  entre  os  psicanalistas  na universidade e os psicanalistas filiados à  instituições psicanalíticas. Porém  é preciso  reconhecer  que  a  psicanálise hoje  depende  do  que  acontece  e  se produz  em  cada  um  desses  lugares.

JU  –  No  início  de  outubro,  o senhor  participou  ativamente  da “Semana  contra  a  anistia  aos  torturadores”,  realizada  no  Instituto de Psicologia  da USP. Como  entender  a  articulação  entre  psicanálise  e  direitos  humanos? Qual é  o  lugar  que  ocupa  a  psicanálise  num  evento  dessa  natureza?
Paulo Endo –
Quando falamos em universalização do conhecimento, isso supõe uma formação mais erudita por parte dos pesquisadores e intelectuais ligados às humanidades. Essa  formação, necessariamente, passa pelo debate entre  áreas  distintas  a fm  de  checar sua  consistência  e  conduzir o debate transdisciplinar a um patamar elevado teoricamente, sem o que tudo não passa de um castelo de cartas. Há várias estratégias para isso. Eu particularmente prefiro  aquela  que  permite  agregar diversos pesquisadores em torno de um tema que seria incapturável não fosse numa atmosfera transdisciplinar. Essa captura  é,  como  sabemos,  fugidia  e dinâmica, mas a produção de conhecimento entre saberes também tem de ser.

A  desburocratização  do  saber, em minha  opinião,  passa  por  uma desobediência  intelectual,  necessária ao debate entre  saberes e disciplinas. Aprendi no Cebrap que o fundamental não  é  a migração  de  pesquisadores de  determinadas  áreas  para  outras,  a transformação de x em y, o que seria uma  tolice, mas a  formação  transdisciplinar. O aspecto formativo do intelectual é que é fundamental e frutífero.

De modo mais  específico  ainda procuro desenvolver esse diálogo formativo  e  erudito  entre pesquisadores ligados a uma temática comum que, no meu caso, são os sistemas violentos e as  experiências  liminares produzidas por  esses  sistemas,  o  que me move frequentemente  para  o  campo  dos direitos humanos, da antropologia urbana e da teoria e da filosofa política.Curiosamente esse debate surge de preocupações que envolvem ação política e estratégias de enfrentamento como é o caso dos extermínios de populações vulneráveis, torturas e violência urbana. Embora meu ponto de partida seja sempre a psicanálise, é natural que se torne visível determinadas  limitações da psicanálise, bem  como  a psicanálise  evidencia  limitações  em  certas interpretações e análises sobre tais fenômenos. Esse debate é perpetuamente formativo  e  são  poucos  os  lugares que podem sustentá-lo em bom nível.

O  campo  dos  direitos  humanos reúne  hoje  uma  imensidão  de  pesquisadores,  intelectuais,  ativistas  em todo  o mundo.  Sua  abrangência  é enorme e  seu  raio de ação extraordinariamente vasto. Porém,  o  que  tem despertado meu  interesse  tem  sido  a reunião,  regular  ou  eventual,  de  intelectuais  e  pesquisadores  em  torno de  alguns  temas  fundamentais  dos direitos  humanos  como  fundamento na  consolidação  das  democracias.

Não  raro  a  psicanálise  é  convocada  a  opinar  e mesmo  a  aderir organicamente  em  alguns  desses processos,  o  que  é  perfeitamente natural,  já  que  em  todos  os  países em  que  a  democracia  foi  aviltada  a psicanálise,  com  ela,  também  o  foi.

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Confra a programação da X Jornada Corpolinguagem e III Encontro Outrarte

 





 
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