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BOLSAS DE PRODUTIVIDADE EM PESQUISA DO CNPq COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA
 
 
Coordenação: Profa. Dra. Eneida de Sousa (UFMG)
Relatoria: Prof. Dr. Alckmar Luiz dos Santos (UFSC)
Convidada: Profa. Dra. Leda Bisol (PUC/RS)
 
 As bolsas de produtividade em pesquisa (BPP) do CNPq envolvem uma série de questões que dizem respeito não apenas ao produto final do trabalho do pesquisador. Há uma série de questões institucionais e acadêmicas que devem ser levadas em consideração, para dizer o mínimo, quando se trata de discuti-las como “instru-mentos de política científica”, como propõe o título deste grupo de trabalho.

    Em linhas gerais, cinco pontos parecem ser mais relevantes e capazes de fundamentar uma discussão consistente sobre as BPP. Sem pretender esgotar o assunto, eles servirão, ao menos, para dar um lineamento aos diferentes aspectos que foram abordados pelos participantes desse grupo de trabalho. São eles:
 
        1) a definição de uma política específica da área Letras/Lingüística para as BPP;
        2) os critérios utilizados na concessão das bolsas e na classificação dos pesquisadores;
        3) os critérios de escolha dos consultores ad hoc, chamados a dar parecer;
        4) a classificação dos projetos dentro das diferentes subáreas de Letras/Lingüística;
        5) a necessidade de dar visibilidade aos resultados dos trabalhos financiados através das BPP.
 

        1. A definição de uma política específica da área Letras/Lingüística para as BPP

            Embora, na prática, as BPP estejam sendo usadas, em vários casos, como complemento
            salarial, não é o que se espera efetivamente de sua implementação. É necessário que se
            enfatize que elas devem servir à promoção e à melhoria constante do trabalho do
            pesquisador, enriquecendo, inclusive, sua atividade de docência. Por outro lado, não se pode
            esquecer que elas estão vinculadas a uma estrutura de pós-graduação que inclui também as
            formações de mestrado e de doutorado. No caso, nunca é demais salientar a especificidade
            da área de Letras/Lingüística (e de toda as ciências humanas) diante das demais, o que
            implica a necessidade de se manter um mestrado minimamente fortalecido, condição sine
            qua non de um bom doutorado. Reafirme-se também que várias regiões do país ainda se
            ressentem bastante da falta de mestres, o que coloca na ordem-do-dia a necessidade de um
            mestrado com a profundidade e o tempo de maturação que nossa área exige.
 
            Além disso, se faz necessário que, também por meio das BPP, o CNPq atue de forma
            localizada e consistente, de modo a incentivar e apoiar áreas de formação historicamente
            importantes na Universidade Brasileira mas que, contingencialmente, estão sofrendo sério
            risco de esvaziamento: as áreas de Estudos Clássicos e de Literaturas Estrangeiras.
 

        2. Os critérios utilizados na concessão das bolsas e na classificação dos pesquisadores

            Atualmente, nas concessões das BPP, a avaliação concentra-se na análise do projeto, assim
            como no currículo do pesquisador. De todo modo, como forma de obter transparência nos
            critérios e nos resultados das avaliações por parte dos consultores ad hoc, deve-se reafirmar
            que os pareceres precisam avançar o mais possível na análise dos detalhes dos projetos e na
            apreciação da produtividade do pesquisador, aprofundando as questões teóricas e práticas
            envolvidas a partir de uma descrição inicial das propostas apresentadas. Em resumo, o que
            se esperar é que os consultores entreguem pareceres mais qualificados (descritivos e
            aprofundados, seria melhor dizer). Na eventual reprovação do projeto, é fundamental que se
            preserve o elementar direito do recurso por parte do pesquisador que se sentir prejudicado.
            Deve, então, o CNPq, facultar a ele um diálogo acadêmico com o consultor, como forma de
            dirimir as dúvidas e, se necessário, modificar o parecer inicial. É importante destacar que
            esse mecanismo de réplicas e tréplicas deve ser ágil o suficiente para permitir a
            implementação da bolsa no caso de mudança do parecer.
 
            Em linhas gerais, espera-se que os consultores ad hoc julguem os projetos segundo sua
            importância (originalidade e relevância para a área) e sua viabilidade (através de uma análise
            detida de sua adequação metodológica). Com isso, pretende-se apontar para uma prática de
            pareceres que sejam transparentes e saibam dar voz às preocupações éticas que nascem no
            próprio corpo dos pesquisadores da áres de Letras/Lingüística. Uma delas, por exemplo,
            deve facultar ao pesquisador a devolução do projeto, sem parecer, desde que ele não se
            sinta capacitado para julgá-lo (por estar distante da área teórica, ou por ter algum tipo de
            ligação com o solicitante etc.).

            Também deve ser destacado que não se espera do CNPq uma ênfase radical nos projetos
            integrados, em detrimento dos projetos individuais. Aqueles devem ser a seqüência natural
            destes últimos, e não se pode, à semelhança de outras áreas do conhecimento, pretender que
            nossos pesquisadores já partam de projetos integrados. A área de Letras/Lingüística deve ter
            suas especificidades respeitadas. Uma delas aponta justamente para o fato de que, entre nós,
            a grande maioria dos projetos nasce como individual e, paulatinamente, por força de uma
            maturação progressiva e desejável, se transforma em projeto integrado. Em outras palavras,
            o incentivo aos projetos integrados não deve significar restrição de qualquer espécie aos
            projetos individuais.

            Por último, os critérios para mudança de nível dos pesquisadores. Ao que tudo indica, é
            deles que se espera um pedido para que o CNPq dê início ao processo de mudança. De
            todo modo, tirando a diferença entre os níveis I e II (explicitada nos manuais do CNPq),
            não há qualquer clareza nas diferenças entre os subníveis a, b e c. Solicita-se, então, que a
            sistemática de mudança de nível seja revista, passando a ser realizada periodicamente pelo
            próprio comitê assessor do CNPq (sem depender de uma manifestação do próprio
            pesquisador), por meio de critérios claramente colocados para a comunidade acadêmica.
 

        3) Os critérios de escolha dos consultores ad hoc, chamados a dar parecer

            Em poucas linhas, podemos dizer que é urgente a ampliação do quadro de consultores,
            incorporando efetivamente ex-bolsistas do órgão e pesquisadores já cadastrados. Pode-se,
            inclusive, solicitar aos programas de pós-graduação que enviem listas de professores
            dispostos a assumirem a função de consultoria para o CNPq. Ademais, a partir de uma
            reclassificação das subáreas de Letras/Lingüística (proposta no item 4), deve-se atentar para
            a necessidade de enviar os projetos aos consultores efetivamente capacitados para entender
            as especificidades do projeto em questão. Há, ainda, uma clara posição da comunidade dos
            pesquisadores da área no sentido de que a indicação dos consultores ad hoc seja feita pelo
            próprio comitê assessor do CNPq e não por funcionários do órgão.
 
 
        4) A classificação dos projetos dentro das diferentes subáreas de Letras/Lingüística

            Para contemplar projetos que, atualmente, são classificados com dificuldade em uma ou
            outra subárea, faz-se necessário proceder a uma ampla discussão com a comunidade de
            pesquisadores em Letras/Lingüística, buscando justamente redefinir o atual quadro da área.
 
            Além do mais, isso ajudará na escolha de consultores mais próximos do campo de reflexão
            dos projetos de BPP, evitando que os consutores sejam chamados a dar parecer em áreas
            com que têm pouca convivência. Como ponto de partida, sugere-se que se adote como
            grande área Letras, estabelecendo uma primeira divisão nos campos Literatura e Lingüística.
            Através de uma ampla discussão, pode-se chegar, mais tarde, a um refinamento das
            diferentes subáreas que comporão estes dois  campos.

 
        5) A necessidade de dar visibilidade aos resultados dos trabalhos financiados através das BPP

            Como forma de prestar conta de seu trabalho à comunidade acadêmica, em geral, e aos
            pesquisadores da área de Letras/Lingüística, em particular, parece ser importante que os
            pesquisadores contemplados com BPP sejam chamados a expor os resultados de suas
            pesquisas. Isso poderia ser feito, por exemplo, nos encontros da ANPOLL que envolvem a
            apresentação de pesquisas. No caso, os pesquisadores poderiam propor seminários aos GT’s
            correspondentes. No caso das pesquisas que não se encaixam em nenhum GT existente,
            pode-se pensar em um seminário geral dos bolsistas do CNPq, correndo simultaneamente
            com as demais apresentações.


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