Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística |
Campinas, novembro de 1996 nº 15 |
1. A Política da Área de LETRAS E LINGÜÍSTICA
A Pós-graduação
tem no Brasil a função de formar pessoal qualificado para
a pesquisa e para a docência de nível
universitário.
Não há
dúvida de que o Brasil não dispõe de pessoal qualificado
suficiente nestas duas áreas de atividade, ao
lado de apresentar
uma concentração significativa, em uma região brasileira,
da maior parte do pessoal qualificado
para o ensino
superior e a pesquisa.
É necessário,
portanto, investir na formação de pessoal qualificado e na
melhor distribuição do conhecimento. Em
razão
disso, a ANPOLL considera relevante a atuação da CAPES
e demais agências de fomento no
financiamento
dos projetos de pesquisa e programas de Pós-graduação.
O ensino público não pode prescindir do
financiamento
público, sob pena de perder a qualidade e independência do
trabalho científico que vem
produzindo.
Qualquer política
que busque resolver os graves problemas atuais da vida brasileira exige
conhecimento específico
e de qualidade
que seja capaz de indicar soluções a serem implantadas.
Nesse sentido,
cabe à ANPOLL manifestar-se sobre as políticas de
Pós-graduação, ensino e pesquisa em Letras
e Lingüística,
participando da sua formulação e avaliação
junto aos órgãos administrativos e de promoção
de
política
científica.
Neste quadro
tem decisiva importância a política para o campo da filosofia,
das ciências humanas e das letras.
Por um lado
porque a formação de pesquisadores e docentes de nível
superior neste campo é indispensável para
a formação
efetiva do que se pode chamar hoje de cidadania. Por outro lado porque
é uma política da área de
humanas, em
que se inclui Letras e Lingüística, que poderá construir
um espaço de reflexão capaz de levar o
Brasil a decidir
sobre qualquer outro tipo de política necessária para o futuro
do país. Incluem-se aqui, até as
políticas
sobre as ciências de modo geral e a tecnologia. Não há
como produzir uma política tecnológica a não ser
a partir de
uma tomada de posição que só as ciências humanas
podem fornecer.
2. Prioridades
Uma política
de Pós-graduação deve estabelecer, como primeira
prioridade, manter os bons programas
existentes,
com o objetivo de fazê-los avançar. Neste sentido tem sido
de grande e fundamental importância a
política
de bolsas e de verbas de bancada que a CAPES destina aos programas segundo
critérios de qualidade.
Estes critérios
podem e devem ser aperfeiçoados. E este aperfeiçoamento deve
incluir como critério permanente,
no lado do fluxo
de teses e dissertações dos programas, uma avaliação
do impacto de um programa na realidade
brasileira.
Seria preciso estabelecer os índices para medir a natureza e qualidade
deste impacto. Por exemplo, que
contribuição
faz um programa de Pós-graduação para a qualificação
de docentes e pesquisadores de outras
regiões?
Qual a quantidade e qualidade de conhecimento produzido no programa e posto
em circulação?
Como segunda
prioridade, uma política de Pós-graduação
deve estabelecer projetos novos de qualificação de
pessoal de nível
superior com critérios bem definidos, de médio e longo prazo,
capazes de melhorar o ensino e
produzir conhecimento
novo. Estes projetos, bem fundamentados e explícitos em seus objetivos
devem ser
acompanhados
de modo contínuo e regular.
Como terceira
prioridade, serão avaliadas as propostas de abertura de novos
programas de Pós-graduação.
Este aspecto
se coloca como terceira prioridade porque uma boa proposta de abertura
de programa de
Pós-graduação
depende da existência de um corpo docente altamente qualificado,
o que se prevê pelo
ordenamento
das duas primeiras prioridades.
3 A Qualificação dos Programas e dos Quadros das Universidades
O dilema "regionalização
para desconcentrar versus manutenção do apoio aos programas
já bem qualificados” é
mal colocado.
É preciso garantir a capacidade instalada, estabelecer amplamente
projetos para qualificar os
quadros docentes
das universidades, para se ter condições de pensar na abertura
de novos programas, cujos
níveis
de exigência sejam altos e cujos objetivos serão cada vez
diferentes. A questão é como qualificar todos os
programas e
projetos de modo contínuo e gradativo. Assim, é preciso,
de acordo com as prioridades acima:
A) estabelecer
critérios e condições de manutenção
dos bons programas;
B) estabelecer
planos para melhorar programas que já apresentam resultados aceitáveis;
C) criar projetos
de qualificação, com mestrado e doutorado, dos quadros das
universidades de todo o Brasil;
D) avaliar projetos
capazes de orientar a instalação de novos programas.
3 1. Qualificação
dos Quadros das Universidades
Programas como PICD e mestrados interinstitucionais devem ser considerados
a partir de projetos globais
propostos pelas universidades interessadas.
a) Nestes projetos as instituições se comprometeriam com
um plano de afastamento de docentes por
períodos determinados. Este plano deveria prever:
1- quem seria afastado, quando e em que ordem;
2- os prazos para a defesa das teses de cada docente;
3- as atividades de pesquisa e docência a serem desenvolvidas pelo
docente em sua instituição
de origem, após a titulação;
4- um projeto de utilização do conhecimento, alcançado
na Pós-graduação, em benefício da
graduação de sua universidade; este projeto - cuja duração
deve ser pelo menos equivalente
ao tempo despendido na titulação do docente - deve incluir
trabalho específico de iniciação
científica com alunos de graduação. O projeto deve
ter a aprovação da instituição, para
receber recursos e se tornar viável; com isso promove-se a efetiva
fixação do docente na
instituição de origem e qualifica-se a pesquisa e o ensino
de modo geral.
b) Estes aspectos devem ser sustentados por um conjunto de justificativas
que mostrem ser esta a melhor
organização global para a instituição.
Estes planos devem mostrar que nos períodos de licença a
carga de
trabalho do docente afastado será coberta pela instituição.
C) como auxílio para a absorção da carga de trabalho
de docentes afastados, a CAPES poderia, no caso das
universidades públicas, estabelecer programas de bolsa de recém-doutores
que deveriam trabalhar nas
instituições que participassem do projeto, de modo a cobrir
os afastamentos.
4. A Avaliação
O programa de
avaliação da CAPES deve ser uma avaliação dos
programas, ou seja, deve ser uma avaliação
institucional,
seguindo o princípio geral até aqui utilizado.
A passagem para
uma avaliação individual (docente a docente) pode abrir espaço,
inclusive, para uma
desresponsabilização
formal das instituições, o que pode levar ao seu desmantelamento.
A responsabilidade da
qualidade do
trabalho em uma sociedade é do plano social e político.
A questão
é afinar os critérios de avaliação, o que envolveria
um aumento do grau de exigência dos critérios. Este
refinamento
deve levar a diversas variáveis em questão. É preciso
ter condições de medir o volume de produção
e
seu desenvolvimento,
tendo-se em conta números não só tomados absolutamente,
mas também referidos ao
tempo em que
os pesquisadores estão envolvidos nos programas. Não é
possível considerar que um docente que
há dois
ou três anos esteja em um programa de Pós-graduação
seja avaliado institucionalmente com os mesmos
parâmetros
de outro que ali desenvolve trabalho há dez anos, por exemplo.
Esta consideração se aplica ainda
com mais razão
aos programas novos, ou recém criados, em relação
aos já consolidados. É preciso estabelecer
parâmetros
que projetem uma relação entre tempo e resultados.
Isto leva a pensar
em parâmetros que acompanhem periodicamente os resultados de modo
a medir a evolução e
corrigir percursos.
Um processo de avaliação
não é um procedimento de punição, mas sim um
procedimento que oriente a respeito
da utilização
dos recursos existentes para chegar a resultados relevantes.
5. Com esta manifestação
a ANPOLL reitera sua expectativa de participar das discussões
que envolvam a
elaboração
do documento final da CAPES relativo ao "IV Programa de Pós-graduação".