A Ficção Anarquista Classe Média
" O pendor socialista mais humanitario do que politico era freqüente entre os íntelectuais do tempo, assim como um certo anarquismo, e geralmente não levava a nada". "Antonio Cândido - Terezína, p. 86).
O
Simbolismo em algumas literaturas latinas tradicionalmente assumiu posições
avançadas. Escritores famosos (Mallarmée, Unamuno) viram com entusiasmo
certas manifestações anarquistas das últimas décadas
do século passado; outros se converteram ao Anarquismo (Kahn, Verhaeren).
As revistas literárias mais importantes do simbolismo francês testemunharam
a preocupação dos seus colaboradores com o advento de uma revolução
social: La Vogue e Entretiens Politiques et Líttérares. Esta simpatia
e interesses mútuos harmonizavam-se com o espírito de revolta
que caracterizava os movimentos políticos e a reação simbolista
ao vestigio da prosódia clássica, ao Realismo/Naturalismo e ao
espírito otimista do positivismo. Outro elemento de peso nessa união
foi a repercussão do movimento unanimista, reivindicando a participação
do intelectual nos problemas da humanidade, coordenado sobretudo pelo poeta
Jules Romains. Da mesma forma que os intelectuais partidários da renovação
estética eram atraídos pelos aspectos destrutivos do movimento
anarquista conhecida a importância atribuída pelo anarquismo educação
e à cultura. Isto porque, de um modo geral, o trabalho dos artistas contribuía
para a formação e enriquecimento cultural dos trabalhadores, podendo
até representar as injustiças e desigualdades sociais.
No Brasil, o
Simbolismo conviveu com a poesia parnasiana e com uma narrativa marcada por
traços naturalistas e realistas produzindo também obras representativas
da escola: Broquéis e Missal (Cruz e Souza). Na sua reta final começaram
a despontar as primeiras preocupações-sociais. Marcando a modernidade
da literatura brasileira, Graça Aranha aponta pioneiramente a decrepitude
da nossa civilização em Canaã (1902), no auge da literatura
de salão animada pelas revistas mundanas como a Kosmos e a Renascença.
Convivendo com estas duas fazes do Simbolismo, a chamada produção
libertaria apresentou seus primeiros rebentos sem acompanhar o roteiro da moderna
literatura traçada por Graça Aranha. Esta produção
anarquista constitui claramente dois grandes conjuntos: a literatura simples
e ingênua dos operários revelando desdém completo pelo refinamento
formal, geralmente parodiando vulgarmente estilos e autores consagrados ou recorrendo
aos modelos populares tradicionais; (esse tipo de literatura ficou quase que
restrito à produção esparsa em periódicos e boletins
de sindicatos e associações); o anarquismo literário, intelectual
e culto que por sua vez apresenta duas vertentes: os artistas comprometidos
na luta por uma sociedade nova, mais humana, livre de todas as arbitrariedades
e desigualdades, e ao mesmo tempo reivindicando uma estética inovadora,
onde a liberdade artística fosse condição primordial; e
os intelectuais conservadores do ponto de vista estético, lutando pela
destruição . de convenções ditadas por uma sociedade
esclerosada, preocupados em difundir através de suas obras os projetos
de mudanças sociais. . Um dos aspectos intrigantes deste último
filão da produção anarquista consistiu na peculiaridade
da sua divulgação: particularmente a obra de certos autores das
primeiras décadas deste século oriundos da camada mais progressista
da classe média, simpatizantes com a causa operária anarquista:
profissão mais liberais com algum pendor artístico, produzindo
versos parnasianos e uma prosa comportadas pregavam a transformação
da sociedade. É . o caso de Fábio Luz (médico , professor,
candidato em várias ocasiões à Academia de Letras), de
Domingos Ribeiro Filho,(funcionário do Exército), Manuel Curvelo
de Mendonça (bacharel em Direito e jornalista). Escritores que se ligaram
ao Anarquismo por se identificarem com suas reivindicações e protestos.
Na releitura dessa produção, hoje em dia escondi . da em sebos
e seções de livros raros de algumas bibliotecas, observamos que:
as obras foram lançadas geralmente por editoras de prestígio como
a Garnier, a Luso-brasileira, a Leite Ribeiro, a Monteiro Lobato, etc. - casas
publicadoras dos "clássicos" da época; foi uma produção
sem grande repercussão nos meios literários conforme depoimento
de historiadores; no Brasil esse tipo de literatura chegou com atraso de décadas
em relação por exemplo ao grande impulso das manifestações
libertárias na Espanha, na segunda metade do século passado. O
lançamento do Ideólogo (l9O3) de Fábio Luz foi talvez o
marco inicial dessa literatura florescido num quadro histórico movimentado
por obras importantes do ponto de vista da renovação da literatura
brasileira (Canaã e Os sertões).
Atualmente, os
estudos sobre a produção cultural anarquista no Brasil estão
em fase de grande florescimento. De um lado, a preocupação de
desencavar documentos que espelham a participação da classe operaria
no processo cultural brasileiro. Dentro desta perspectiva destacam-se a pesquisa
de Edgard Carone (Movimento operário no Brasil), os trabalhos realizados
no Arquivo Edgard Leuenroth, sobretudo aqueles dirigidos por Paulo Sérgio
Pinheiro e Michael Hall e a . pesquisa sobre a imprensa operária no Brasil
1880-1920 de Maria Nazareth Ferreira. Numa outra linha encontramos as análises
penetrantes e bem fundadas de Antônio Cândido em Terezina e a recuperação
da Colônia Cecília de Newton Stadler. Recentemente Nem pátria
nem pão de Francisco H. Foot forneceu um panorama apaixonante sobre a
cultura anarquista do ponto de vista dos operários. O livro de Foot esforçou-se
para fazer justiça a essa produção, denunciando o seu esquecimento
e a falta de atenção por parte dos historiadores. Responsabilizando
o sistema cultural dominante pelo isolamento das manifestações
operarias, Foot concluiu que, embora a literatura libertaria estivesse inteiramente
inscrita na historia nacional, o discurso dominante teimava em' marginaliza-la
do processo cultural. É interessante observar que quase toda a analise
da ficção e poesia anarquista realizadas por este pesquisador
foi ilustrada por trabalhos da classe dominante (Avelino Fóscolo, Rocha
Pombo, Domingos Ribeiro Filho, Fábio Luz, etc.). O ensaio "Impasse
da celebração" sobre o conto "Primeiro de Maio",
no meu modo de ver, desenvolve uma análise bem interessante, e este conto
bem como as outras narrativas estudadas são realizações
consagradas e exaltadas por aquele discurso dominante a que Foot alude. A estória
da tentativa de um operário em comemorar o dia do trabalhador é
de Mário de Andrade: um dos autores mais glorificados pela historiografia
do nosso Modernismo, escritor tipicamente classe média e conservador
do ponto de vista político-partidário. Este conto é provavelmente
o texto mais interessante e de leitura mais agradável dentre as narrativas
analisadas. Portanto, mesmo pensado em alguns poemas de caráter humorístico
e satírico, e no teatro também, pode-se ponderar a razão
do esquecimento da produção anarquista levantada por Foot enquanto
verdadeira obra de arte.
Neste texto vamos procurar
sistematizar as características de três romances freqüentemente
citados como representativos das letras ácratas no Brasil, dando ênfase
sobretudo à defasagem existente entre estas narrativas e a novidade trazida
pela prosa contemporânea de um Graça Aranha, por exemplo.
O Ideólogo de
Fábio luz (1903) e O cravo vermelho de Domingos Ribeiro Filho (1907)curiosamente
não tratam do operário. São romances sobre a vida da classe
média brasileira na virada do século. Denunciam as frivolidades
e as corrupções daquele mundo sugerindo persuasivamente modos
alternativos de vida. O espaço narrativo privilegia o centro político
cultural do país: a cidade do Rio de Janeiro e seus habitantes vivenciando
os efeitos da urbanização a celerada. Por sinal, foi exatamente
em 1902 que começou a abertura da Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco,
inaugurada em 1906 com pavimentação de asfalto e luz elétrica
e toda documentada pelo famoso fotógrafo Marc Ferrez Os dois livros pintam
um perfil apocalíptico desta vida moderna "sem moral e sem dignidade"
e nesse quadro fazem desfilar a classe média, seus mexericos , suas traições
e infidelidade. Vivem-se dias de deslumbra mento com o inesperado desenvolvimento
da metrópole: uma luta tremenda de especuladores em busca de riqueza
fácil, de escândalos e intrigas da sociedade enluvada, onde a mulher
representa o lugar comum de eterna traidora e o homem a vitima fiel. No "jogo
desenfreado de " pequenos escândalos", exemplos de dignidade
e de "pura felicidade " são contrapostos aos modelos de perversão
e de leviandade numa dinâmica muito pobre, resultado da bipolaridade maniqueísta
entre o bem e o mal. A trama nas duas narrativas tem o mesmo ingrediente: o
adultério feminino provocado pela influência do meio mundano e
artificial. Aliás, a concepção da mulher nesses romances
anarquistas é conservadora e contraditória: as mulheres aparentemente
liberadas, fúteis e adulteras vivem as custas do trabalho dos maridos;
ou são o exemplo de acomodação no papel da dona de casa
submissa; a única personagem feminina ocupada com a profissão
traça sua conduta com base nos preconceitos e nas condenações
moralistas da sociedade que diz combater. O seu projeto de vida (um amor, filhos
"louros", lar, trabalho) embora diferente do mundo frenético
e nababesco almejado pelas mulheres classe média nem de longe corresponde
aos ideais libertarias.
No
romance de Fábio Luz, o enredo é construído através
da história do relacionamento dos dois casais amigos. No recheio dessa
trama as pregaç6es do ideólogo e modesto advogado dos pobres empalidecem.
A diferença de comportamento dos pares em O Ideólogo e em O cravo
vermelho é meramente de detalhes. O paralelo é idêntico.
O livro de Domingos Ribeiro Filho é uma tentativa de Vistoriar o nascimento
de um amor 'libertário', vivido por um jovem advogado e uma professora,
depois do fracassado casamento do primeiro com sua prima. O conflito corporifica-se
quando a relação entre os casais é bruscamente interrompida
pela indiferença da mulher: envolvida em um escândalo que chega
às paginas de jornal; por outro lado, o protagonista de O cravo vermelho
não consegue suportar a r e aproximação da mulher com o
antigo namorado e a expulsa de casa. De um modo geral as personagens não
vivem com convicção as idéias libertarias que dizem professar.
O jovem advogado, por exemplo, indaga muitas vezes sobre a sua ideologia como
que obrigada a se lembrar a cada instante dos seus compromissos (" ...
sabes tu que sou anarquista?"). A principio estava inclusive disposto a
sacrificar a "honra social" pela vitória das idéias,
defendendo com veemência teorias novas sobre o amor. Imaginava-se um espírito
livre, mas não conseguiu escapar dos conflitos entre o amor e a moral
tradicional Ao ser traído pela mulher fica indeciso em assumir a nova
situação, a fim de preservar a chamada honra social tenta contornar
a situação ("seremos casados para todo mundo e livre para
nós mesmos"). As leituras de Mirbeau dão um novo alento ao
personagem ("Não sou eu um anarquista, não estou fora de
toda essa comédia?"). Desfeito o casamento rompe com' a sociedade
e com todos os obstáculos que o impediam de pôr em prática
sua antigas teorias "sociedade, nome, família, honra, vida nada
eu deixaria esmagar para a felicidade de ficar puro ao seu lado") Uma libertação
que se efetiva também ao nível intelectual (sua produção
literária amadurece, adquire uma visão critica em relação
ao seu trabalho). A liberada professora contrariando toda a teoria anarquista,
titubeia em aceitar o amor socialmente proibido. Resiste às injunções
do meio e aceita-o apenas "dentro dos limites do lar". Com todas as
incongruências, O cravo vermelho é a narrativa da emancipação
moral e mental do Homem, representa tenuemente uma das linhas temáticas
da prosa libertária, um esforço para mostrar o outro lado da revolução:
aquele realizado através do amor. É pois um hino de exaltarão
vida e aos sentidos, de glorificação dos instintos.
O
Ideólogo manuseia um recheio ideológico mais consistente, transformando
a narrativa em pretexto para abordagem de problemas palpitantes da nossa realidade.
Discutem-se as experiências de reforma social sugeridas por Tolstoi, confrontando-as
com as do brasileiro Antônio Conselheiro. Fábio Luz reserva um
capitulo para debater a nova religião pregada pelo Conselheiro - o comunismo
cristão detectando no modelo de organização comunal semelhanças
com aquela desenvolvida pelo teórico russo. A queda de Canudos, assunto
palpitante do momento, um pretexto para denunciar a impropriedade do governo
brasileiro em destruir a sociedade livre. Outras críticas atravessam
a panorâmica do subúrbio favelado do Rio, enfocando a imundície
e as doenças que grassavam o Brasil na época: a estória
do advogado financeiramente mal sucedido porque não aceitava as regras
do jogo de interesses procurando defender as humildes vítimas da ignomínia
do sistema penitenciário e da corrupção da magistratura;
batalhava na criação junto às fábricas e estalagens
de núcleos de propagandas e doutrinação mais tarde transformados
em associações de auxílio mútuo. As atitudes de
solidariedade daquele personagem embora deslocados parecem menos paternalistas
e mitificadoras do que aquelas da personagem central de Regeneração.
Regeneração
de Curvelo de Mendonça (1904), como o romance de Fábio Luz, tem
o núcleo narrativo reduzidíssimo, privilegiando a exposição
ideológica com o objetivo de levar o leitor a aproveitar-se das liçoes
fornecidas. Muito dif'lrcil estabelecer nos dois romances o terreno ficcional
e a propaganda. Este é por sinal o aspecto peculiar de quase toda ficção
anarquista: obras executadas para propagar idéias. A sua estrutura está
a serviço da intenção didática de transmitir experiências.
A primeira parte - "Tentativa e luta" - historia os passos iniciais
da organização de uma comunidade rural em uma usina falida, onde
devia imperar a igualdade. A segunda - "Organização e triunfo"
- descreve os processos e etapas vencidas na construção daquela
comunidade e a vitória final. O livro exalta o sucesso das teorias libertarias
diante da oposição silenciosa da pequena burguesia. Uma estória
sobre camponeses, homens rústicos e de parca instrução
que se comunicam numa linguagem retórica e, artificial. A narração
de acontecimentos simples conflita a todo instante com a pomposidade do discurso
imprópria aos rudes camponeses. A argumentação não
ultrapassa o paralelo mecanicista entre os elementos bons - camponeses, trabalhadores
- e a perversidade, corporificada na classe média e na burguesia. As
contradições pululam na argumentação da doutrina
social.
A definição
de anarquismo (P 8) parece ser meramente teórica. Embora reivindique
"a liberdade no seu mais largo sentido" considera irrecuperáveis
aqueles que não sequem as suas idéias. A transmissão dos
projetos anti-autoritários consubstancía-se por um processo nada
dialético marcado pela falta de compreensão da liberdade de discordar:
"desertares obstinados"; de almas adormecidas pelo vento".
No plano intelectual evidencia-se
o mesmo contraponto, ou seja, a realização de uma arte decadente
e a alternativa da produção comprometida com a revolução
social. Para Curvelo de Mendonça a missão preponderante da arte
é moral e social e nesse particular a mensagem transmitida ganha importância
definitiva. No seu texto tem-se um esboço dos objetivos da estética
anarquista: refletir e produzir uma outra realidade, mesmo que seja inatingível,
impossível até de uma concretização; compor um retrato
do futuro ideal. E é pensando nesta meta que todo o trabalho é
super valorizado. Quase sempre com uma coloração moralista como
foi a caracterização de uma das personagens do Ideólogo
assoberbada de tarefas domésticas e na descrição da professora
(O cravo vermelho), mergulhada evasivamente no trabalho. De qualquer sorte,
o trabalho é encarado como uma arte, um objeto de prazer , cultuado em
certas passagens, como faz Curvelo de Mendonça tentando dignificá-lo
perante o Capitalismo "iníquo e explorador": "A nova terra
da promissão, onde o trabalho teria as doçuras da solidariedade,
era a atividade profícua e equitativamente remunerada, não por
um vil salário mas pela assistência, pelas comodidades igualitariamente
distribuídas aos seus agentes".
Os
paralelos não se esgotam, extrapolam para o espaço da narrativa,
para o culto da província, do campo e a condenação em termos
contraditórios do progresso. Embora renegando o Capital e o sistema econômico
montado ao seu redor, admite o progresso e o aperfeiçoamento to tecnológico
a serviço da revolução social. Absorve o lado positivo
do Capitalismo, procurando arregimentar os instrumentos da indústria
moderna a fim de economizar o esforço humano e aumentar a produtividade.
Nos três romances em questão a visão da metrópole
é marcada pelo ceticismo. Regeneração mais radical, inspirado
em Tolstoi, rejeita a vida nas cidades considerando-a destruidora das belezas
naturais, nociva à saúde e como nos outros dois textos perniciosa
a moral. Por esse prisma não consegue aceitar o desenvolvimento urbano.
Transmite apenas uma visão pessimista (p. 4 - 7) da cidade em contraposição
visão do campo, onde sempre reina alegria e obtém-se um compensador
emprego da atividade. A exaltarão panteísta do Homem na natureza
e na vida coletiva deve ser reflexo das pregações estéticas
de Elisio de Carvalho. No manifesto lançado em 1901 reivindica o Estado
organizado sobre bases naturais, colocando o Homem em contato direto com a Terra,
como prega Curvelo de Mendonça.
Nos
tres romances predomina a tendência geral da prosa libertaria - o naturalismo
estético- Além da humanização da natureza, a narrativa
incorpora outros clichés românticos que marcarão a prosa
anarquista no Brasil: a beleza da paisagem é proporcional é idealização
de uma realidade mais perfeita; no livro de Domingos Ribeiro Filho, o cravo
vermelho é símbolo do amor verdadeiro malsinado e no texto de
Curvelo de Mendonça a natureza é sempre solidária com o
homem nos momentos decisivos de sua vida; a comunidade rural é sugestivamente
chamada Jerusalém, e não é por acaso que o título
do romance é Regeneração.
Apesar
da linguagem embolorada, da ênfase descritivista, estes textos têm
uma certa importância. Costuram ainda que defeituosamente uma crítica
contundente à sociedade da época: Regeneração inspirado
na convivência harmoniosa e solidária no campo, apresenta um modo
alternativo de vida, com muitas reminiscências da Colônia Cecília
e da Canudos de Antônio Conselheiro. Ideólogo e O cravo vermelho
mesmo insistindo em enfocar problemas da classe média e do espaço
da grande metrópole sugerem caminhos diferentes daquele trilhado na rua
do Ouvidor e no mundanismo fútil dos salões "belle époque",
onde "vicejavam as esquisitas flores da elegância e do mal".
Depois dessas
considerações permanece uma série de dúvidas a respeito
do papel e do alcance social dessa ficção. Ficou claro que o esquema
narrativo é banal e completamente ingênuo nas três obras
comentadas. A trama é urdida com todos os requisitos a fim de extrair
uma lição de moral a partir da vitória inevitável
dos bons e o castigo daqueles que não comungam a mesma visão de
mundo conservadora, moralista e até mesmo autoritária dos Autores.
Tudo isto explorado numa linguagem envelhecido, impregnada de clichês,
desgostada, mesmo levando-se em conta o padrão em voga na época.
Resta estudar esta produção anarquista enquanto fenômeno
sociológico e sob este prisma talvez se justifique essa manipulação
enfadonha e banal do código literário.
NOTA:
Este texto é parte de um projeto de pesquisa sobre a literatura Anarquista que vem sendo desenvolvido no IEL - UNICAMP.
BIBLIOGRAFIA:
1 Edgar
Carone. Movimento operário no Brasil. São Paulo, Difel, 1979.
Paulo Sérgio Pinheiro e Michael Hall - A Classe operária no Brasil;
1889-1930. Documento,. São Paulo, Alfa Omega, 1979.
Maria Nazaré Ferreira - A imprensa operária no Brasil. 1880-1920.
Petrópolis, Vozes, 1978.
Antônio Cândido - Terezina. R.Janeiro,Paz e Terra, 1980.
Newton Stadler Souza - O anarquismo da Colonía Cecilia". Rio de
Janeiro, Civ. Brasileira, 1970.
Francisco F. Foot - Nem pão nem patrão. São Paulo, Brasiliense,
1983.