DO ÓRFICO E MAIS COGITAÇÕES
O conjunto de textos, boa parte inédita, apresentado neste volume, é mais abrangente que a coletânea Ponta de Lança, organizada pelo escritor em 1945, espelhando com precisão a sua atividade crítica nos anos 40. Aqui, a faixa temática e cronológica alarga-se, trazendo à tona também uma boa quantidade de trabalhos daquela época sobre assuntos variados.
A incansável birra de Oswald em relação à artificialidade da retórica, não arrefeceu a sua paixão pela oratória, onde se exercitava com muita eloqüência. Portanto, não é de estranhar que neste livro predominem as conferências ou palestras feitas para o grande público, montadas numa linguagem simples, em tom didático, às vezes sem muito aprofundamento, mas cheia de humor. Apesar do aspecto dispersivo no campo dos conceitos e exemplos emitidos, permanecem nos textos escolhidos o brilhantismo das opiniões e o gosto pelo polêmico.
As diferentes incursões de Oswald como político, como agitador cultural, como crítico de arte e como literato revelam visão de mundo particular, originalidade de pontos de vista e compromisso com o seu tempo. Na montagem desta antologia, o critério não foi rígido. Procurei exemplos na riquíssima atuação oswaldiana, na certeza de que muitos dos textos dispersos ou inéditos interessassem ao leitor comum e ao estudioso do Modernismo ou revelassem mais uma faceta
de seu lado intelectual. Muita coisa não foi considerada propositalmente, sobretudo alguns estudos de cunho político-partidário, concebidos durante a fase de militância, por serem enfadonhos e completamente desinteressantes. Hoje sobrevivem exclusivamente como curiosidade e do meu modo de ver, mesmo em se tratando de um volume da obra completa, não valeria a pena publicar qualquer coisa somente pelo seu ineditismo.
Dispus cronologicamente o material, considerando o assunto, em quatro grandes eixos: artes, literatura, filosofia e projetos. No âmbito das artes, recuperei o citadíssmo e muito pouco lido "Em Prol de uma Pintura Nacional", de 1915, em que Oswald questionou a obcessão dos nossos artistas com a paisagem estrangeira. "Elogio da Pintura Infeliz" é um passeio através de séculos de pintura pinçando as respostas dos pintores às mudanças do mundo enfatizando as diferentes propostas, na maioria das vezes interpretadas como marcos precursores e até transformadores do cenário plástico ocidental. E numa postura adequada ao momento político propôs o alinhamento das artes plásticas no projeto de renovação do mundo, em pauta na ocasião. Na mesma linha, "O Burguês Infeliz Criador de Pintura" comentou o isolamento social do artista para manter sua independência, na medida em que considerou a história da pintura do Ocidente intimamente ligada ao desenvolvimento da pequena burguesia.
No eixo literário visualizam-se algumas áreas de preferência: poesia, Modernismo e a produção do escritor. Sobre poesia, especificamente, abordou o assunto na saudação a Pablo Neruda, em visita ao Brasil. Era 1945, Oswald permanecia ligado ao Partido Comunista, mas andava desapontado com a politicagem. Lembrou a natureza da poesia ao longo dos tempos - "instrumento de revolta, de oposição e de queixa". Segundo ele idéia semelhante à definição tradicional de comunismo. O discurso foi curto, cheio de afirmações equivocadas, ingenuamente utópicas, marcadas pela emoção. Ainda acreditava que o poeta, aliado ao trabalhador, deveria ser o guia da humanidade. Nessa época sustentava posições dogmáticas - "A cultura só tem um destino: unificar-se como expressão do homem que trabalha" - mais tarde revistas, assim que procedeu seu desligamento da militância partidária.
"Novas Dimensões da Poesia" possivelmente foi uma palestra proferida dentro de um ciclo de programações do Clube de Poesia. Oswald rastreou a evolução da lírica e as mudanças pelas quais passou; insistiu na defesa da poesia moderna, depois de uma rápida retrospectiva histórica através de pronunciamentos de grandes poetas críticos: Eliot, Mallarmé, Baudelaire, etc. E deu um aviso aos novos poetas: "O retorno à forma não extingue os fogaréus do acaso histórico que vivemos". Não via motivos para se descartar as conquistas da poesia do Modernismo, que a chamada geração de 45 insistia em desmerecer. Foi uma posição isolada, considerada conservadora e ultrapassada por Péricles Eugenio da Silva Ramos, Geraldo Vidigal, Domingos Carvalho da Silva, dentre outros, que propunham a recuperação da seriedade temática e do esmero formal no artesanato poético.
No agradecimento pela homenagem recebida ao completar 60 anos, reconstruiu as peculiaridades estéticas dos poetas de 22: "Nosso problema central foi a tensão entre o coloquial e a voragem. Entre o prosaico e o lírico, o polido e o arlequinal. Éramos a tradução da cidade. E por isso, como ela, fazíamos a escalada e o recorde, limpando as janelas da vida." Na realidade Oswald também sutilmente mandava um recado aos companheiros de Modernismo que não embarcaram na sua fúria renovadora, no tempo do Pau Brasil. Sérgio Milliet, na saudação ao homenageado, fez o mea culpa em nome dos colegas por não ter dado o real valor ao trabalho de Oswald: "Confessemos que era difícil ao letrado brasileiro, que se abeberava na sub-literatura do neo-parnasianismo, entender essa poesia, toda de extremo requinte, de muito pudor e emoção, tudo escondido sob a caricatura da piada, porque não era propriamente a piada que você usava, mas a caricatura dela."
Alguns textos importantes, anteriores à Semana, ajudam a mapear a evolução do pensamento crítico oswaldiano. O artigo sobre Anita Malfatti, o discurso do Trianon e "O Meu Poeta Futurista", que já entrou para a história pelo fato de ter lançado Mário de Andrade poeta, publicados por Mário da Silva Brito, na sua sempre atual História do Modernismo merecem ser incluídos numa obra completa. Entre nós, as reflexões mais interessantes sobre o movimento da vanguarda italiana aparecem tardiamente em 1921 e 1922, embora a grande imprensa, já em 1909, comentasse o teor radical de suas propostas e em 1911 tenha surgido na Bahia uma edição com a tradução dos manifestos futuristas. O artigo "O futurismo tem tendências clássicas" mostrou em que medida essa renovação européia servia de modelo aos jovens escritores paulistas.
O restante dos artigos fazem a história e ressaltam a importância do movimento de renovação estética do qual foi líder. "Modernismo" e "Notas para o Meu Diário Confessional" contam o surgimento e a consolidação das idéias de 22. Ao mesmo tempo, sem parcialismos, definem o papel desempenhado por cada uma das figuras modernistas mais representativas, como foi o caso de Graça Aranha e nomeiam os financiadores da festa: "Num paradoxo muito peculiar a São Paulo, quem prestigiou a Semana revolucionária foi um grupo conservador. Dele faziam parte Samuel Ribeiro e René Thiolier... Como se vê, todos os movimentos se processam da mesma maneira, confusos, heteróclitos, desiguais. O que importa é o impulso e a meta." Curiosamente Oswald constatou a existência de uma unidade política no movimento mesmo após o surgimento da devastadora Antropofagia: "Só com o vendaval político-econômico de 30 se definiram posições ideológicas." Esqueceu a grande dissidência havida na segunda fase da Revista de Antropofagia, justamente por divergências na condução política do movimento. A "Carta para Afrânio Zuccoloto" e "Informe sobre o Modernismo" traçam os princípios que nortearam a nossa vanguarda. Oswald, familiarizado com a irreverência peculiar dos novos, sente-se à vontade para advertí-los uma vez que não admitia, sob qualquer pretexto, o desconhecimento da contribuição oferecida pela tradição (onde agora os modernistas estavam incluídos): "Nós fizemos paralelamente às gerações mais avançadas da Europa, todas as tarefas intelectuais que nos competiam." Reviu o clima cultural do pré-Modernismo e recuperou a participação de seu velho amigo e editor, Monteiro Lobato, na afirmação da nossa modernidade, contribuindo com Jeca Tatu para a inserção de tema e expressão novos. Lamentava apenas que Lobato não tivesse adquirido a técnica e a crítica.
Uma conferência muito pouco conhecida representa as primeiras preocupações com o nacional que, a partir de 24, iria alicerçar o projeto modernista. "Esforço Intelectual do Brasil Contemporâneo", panoramicamente montada com a intenção de divulgar para estrangeiros o processo de modernização pelo qual o Brasil vinha gradativamente passando, foi lida na Sorbonne, em maio de 1923. Esse texto, ao lado dos Manifestos "Pau Brasil" e Antropófago" bem como do antológico artigo "Em Prol de uma Pintura Nacional", participaram da construção do ideal estético nacionalista de toda uma geração.
Elegeu algumas figuras representativas da literatura brasileira - Paulo Prado, Inglês de Sousa, Gregório de Mattos, Emílio de Menezes, Menotti del Picchia, Tristão de Athayde, etc. O texto sobre Paulo Prado, semelhante ao que foi publicado no Jornal do Comércio, por ocasião do lançamento do Retrato do Brasil em 1928, elogiou o estilo do ensaista - o único que gostaria de imitar - e atacou violentamente a tese principal do livro: "a repetição de todas as monstruosidades de julgamento do mundo ocidental sobre a América descoberta." Alceu Amoroso Lima foi o crítico mais sério e impiedoso de Oswald no período da Antropofagia. As resenhas favoráveis ao autor de Miramar se limitaram a Os Condenados (1922), obra muito apreciada pelo líder católico. Em 1925, Oswald manteve uma polêmica com Tristão justificando não apenas a poesia Pau Brasil, mas todo um arsenal de idéias radicais de renovação inspiradas evidentemente na vanguarda artística européia, retrabalhadas com muita inventividade. A polêmica continuou em 1928 na Revista de Antropofagia com "Esquema ao Tristão." "Imprecação a Tristão de Athayde" respondeu especificamente às possíveis influências européias detectadas pelo jornalista na Antropofagia de 1929. Na realidade o que preocupava o futuro líder católico era a ameaça da ilogicidade surrealista invadir os palcos tupiniquins, via primitivismo oswaldiano.
Oswald debruçou-se especificamente sobre as peculiaridades do seu estilo e da construção da sua obra. O prefácio Serafim, escrito em 1926, é muito mais apropriado ao espírito da narrativa do que aquele conhecido pelo público em 1933, quando foi obrigado a renegar o passado literário por imposição de compromissos partidários. Oswald explicou os postulados que surgiram para planejar o livro: "endossamos o mau gosto e recuperamos para a época o que os retardatários não tinham compreendido e difamavam." "Bilhetinho a Paulo Emílio" deveria servir como prefácio às reedições da peça O Homem e o Cavalo. Revidou apaixonada e bem humoradamente o livro recém-publicado em vista das restrições à linguagem debochada feitas por Paulo Emílio. Em "Análise de dois Tipos de Ficcão" a partir dos personagens do romance cíclico "Marco Zero" - Xavier e Veva - Oswald estudou a obra à luz das conquistas da psicologia contemporânea, numa conferência dirigida a uma platéia específica de participantes de um congresso de psiquiatria.
No terreno político-filosófico, os textos cobrem um período que vai de 1930 a 1954. E a abrangência dos problemas tratados é sintoma da inquietação do escritor diante das mais variadas questões do seu país e dos percalços da vida moderna de um modo geral.
Até 1930, o Partido Republicano Paulista reinava como senhor absoluto da política nacional. Oswald esteve naturalmente envolvido ainda que não participasse ativamente da militância. Era ligado a muito de seus líderes: Washington Luís, Carlos de Campos, Júlio Prestes, Menotti del Picchia, etc. Defendeu veemente a atuação desse partido que desenvolveu em São Paulo "obra de liberdade, de progresso, de desenvolvimento maravilhoso, de ordem."
Intrometeu-se em seara alheia, quando se fez crítico severo do modelo econômico - "País de Sobremesa": "Não achamos ainda a estrutura nacional". Arriscou a condenar os rumos do marxismo em confronto com as idéias libertárias de Proudhon, de quem tomou partido em "Velhos e Novos Livros": "E´ no renascimento das idéias de Proudhon que procuram solução os muitos que se desiludiram da dogmática marxista." Transformou-se em antropólogo ao elaborar o perfil dos imigrantes bem sucedidos na América (Vespúcio e Matarazzo), "os usurpadores" e para explicar a ameaça da destruição da cultura em países como o nosso em processo de civilização. O escritor revelou-se entusiasmado com o desbravamento do Estado, nas impressões da viagem ao noroeste de São Paulo. Acreditava que o Modernismo tenha sido o responsável pela contribuição do interior, aflorada na literatura a partir das transformações de 30. As ponderações do escritor sobre a importância do desenvolvimento do campo e seu papel na estabilidade social dos povos estão em voga e se revelam cada vez mais necessárias: "Por mais sombrio que seja o momento público que atravessamos - é no trabalho ligado à terra e criando uma consciência, que iremos encontrar as reservas do futuro."
Oswald esteve sempre preocupado com o desenvolvimento do fascismo no Brasil, ainda quando o integralismo ensaiava seus passos nos primeiros anos da década de 30. "A Lição da Inconfidência" reforçou esse antigo temor, mesmo com o final do conflito do mundial em 1945.
Retomou a Antropofagia de 29, introduzindo na fermentação de seu pensamento filósofos dos mais diversos matizes: Heidegger, Kierkegaard, Marx, Nietzsche, Freud, etc. "O antropófago", o texto mais longo dessa antologia, é um manuscrito inédito, apresentando varias datas de realização: de 1952 a 1953. Com o sub-título "O antropófago - sua marcha para a técnica, revolução e o progresso", está estruturado em vários cap¡tulos que deveriam obedecer ao esquema traçado na folha 3 do caderno onde foi escrito: 1. Introdução e hipótese das latitudes; 2. A Gália de César e a Germânia de Tácito frente a Roma (pagã e a Roma convertida); 3 Cogitações sobre a miscigenação medieval; 4. Mundus novus; 5. Construção dialética do mundo moderno; 6. Ótica da humanidade presente; 7. Acertos e rumos. Sustenta a idéia de que o homem tende a esquematizar a sua propria natureza e a criar necessariamente um conflito entre o que ele é (natureza) e o que deseja ser (esquema idealista da própria natureza). Amplia as conclusões sobre a diferença de desenvolvimento técnico e histórico do homem nas diversas regiões do mundo. Na discussão da "teoria das latitudes", esboçada também no depoimento a Edgard Cavalheiro - "Meu Testamento" -, divide a terra em três zonas, a faixa A, do Trópico de Câncer para o Norte até 60º; a zona B, confinando-se entre os dois Trópicos; a faixa E do Trópico de Capricôrnio, para o sul também 60º. Toma por base clima, uniformidade da produção, fatores que provocam, as diferenças iniciais entre as várias zonas. Por exemplo, a faixa A - Europa, Egito, parte do Canadá, Judéia, Estados Unidos e na Ásia a Mongólia e o Japão - concentra todo o progresso e o avanço tecnológico e a B, por reflexo, realiza em segunda escala o processo de desenvolvimento. A terceira faixa, também chamada de zona equatorial, objeto de atenção demorada do escritor, é caracterizada pela existência de um ócio milenar determinado pelo clima, pela terra e pela vegetação excessiva. Nesta zona o escritor constata o florescimento do regime matriarcal, cujo ideal consiste justamente no ócio.
Traça o itinerário do homem na direção do conhecimento. Retorna à análise sobre o comportamento da classe sacerdotal aproveitando-se, manipulando e deformando o "sentimento órfico" da sociedade e resistindo a todas as revoluções clericais. Isto porque a dimensão religiosa do homem sempre o levou a procurar novos cultos, assim foi no fim da era antiga (com a exaltação dos totemismos e dos numes), com o cristianismo, a promessa da parúsia atraiu milhares de fiéis e apaixonou as vítimas do poderio romano como mostrou em "A marcha das utopias". Responsabiliza este sentimento órfico do homem pela transferência de cultos: a atitude das massas em torno de certas figuras teocráticas, Hitler, Mussolini, etc.
A partir do século XVIII marca o surgimento de uma nova era no Ocidente, livre dos preconceitos tradicionais da Igreja. Exatamente como Voltaire, que considerava a religião uma loucura ou uma "malandragem", Oswald acha que o sentimento órfico corresponde à dimensão louca do homem, apontada pelo filósofo francês. Com o marxismo o homem atinge a maioridade, libertado do conceito de Deus, cuja morte Nietzsche anunciou. E no plano econômico destaca a importância da filosofia marxista ao desmascarar a "economia do haver", expressão que considera mais apropriada para exprimir o sentido de transicão do comércio e da divisão arbitrária da sociedade em classes possuidoras e classes exploradas. Faz restrição ao projeto de Marx e Nietzsche por não ter valorizado o potencial primitivo, recalcado sob o domínio das elites burguesas, responsável pelo levante de massas que marca o início do século XX. Insiste na existência de uma fase de matriarcado vivida pela humanidade e estuda as características econômicas, o direito e a moral dos povos matriarcais: a economia do ser, o direito da guerra e a moral da liberdade.
Em "Construção dialética do mundo contemporâneo" reclama dos críticos um trabalho que coloque o cristianismo nas suas coordenadas históricas, geográficas e racistas. E alerta que a construção do mundo moderno depende do abandono de uma religião condicionada pela geografia ptolomaica, pela mística da escravatura e pelo confinamento.
O outro item, "Ótica panorâmica da humanidade presente", o sexto do primeiro roteiro, tem os seus principais tópicos ressaltados: "formação do mundo patriarcal; a economia patriarcal; o direito patriarcal; a psicologia patriarcal; a moral patriarcal; a descoberta de um novo mundo; a reação e revolução em termos dialéticos; a marcha técnica (de Aristótels a Friedman); a indústria como invenção do diabo". No final do caderno depara-se com outro esquema de trabalho, trazendo novo título - "Tratado de Antropofagia": "histórico do problema; uma sociologia da miscigenação; o problema; as deformações vigentes do patriarcado - a religião (o grande órfico do Ocidente), a economia, a moral, a estética, a política, a lei e o direito; construção dialética do novo mundo matriarcal; o antropófago - sua marcha para o progresso, a técnica a revolucão; conclusão e manifesto". Na última página um desabafo do poeta: "o homem não tem nada de herói corneliano, continua a trair, a mentir, a roubar, a ter medo, a amar e a matar. Como no primeiro dia da criação".
O ensaio "O antropófago", ao que parece, restou inacabado. Grande parte do texto foi ditada pelo escritor a sua mulher Maria Antonieta (Oswald estava convalescente), provavelmente não sofreu o retoque final. Faz parte do ambicioso projeto da fase de pós militância, com o objetivo de fornecer as diretrizes históricas e filosóficas da Antropofagia, e de revelar as fontes de inspiração da sua teoria. Entre o principal documento dos primeiros tempos - o "Manifesto Antropófago" - e os documentos pesquisados medeiam quase 25 anos. Da leitura de ambos, constata-se a permanência das idéias que impulsionaram o movimento de 1928.
"Do órfico e outras cogitações" encerrou melancolicamente este item, oferecendo agora as divagações de um escritor solitário e doente, ocupado somente com as reminiscências do passado a procura de consolo nas emoções, sustos e paixões dos dias infantis - "a idade de ouro de cada um."
Uma das características mais forte da personalidade de Oswald foi a incessante disposição para planejar, colocar idéias no papel e sonhar com uma eventual realização. Esses planos e projetos iam desde a necessidade de sistematização do uso da propaganda governamental até a proposta de criação de um museu de artes plásticas em São Paulo na década de 30. Oswald não tinha preconceitos em relação a qualquer corrente política que estivesse no governo. O que contava era a disposição do governante em apoiar na prática os seus planos. Neste sentido apelou apara os amigos, para os interventores e para os políticos eleitos, etc. quase sempre sem obter êxito.
No estabelecimento dos textos levamos em conta as idiossincrasias estilísticas do escritor e consideramos também as condições em que alguns textos foram escritos ou originalmente divulgados. Corrigimos apenas o indispensável: a grafia dos nomes próprios, a pontuação e a concordância (quando absolutamente incorretas); atualizamos a ortografia e o emprego das maiúsculas. Conservamos ainda os sinais de dúvida deixados pelo escritor no texto: o ponto de interrogação entre parênteses ou a abreviatura de conferir (cf.), depois de alguma data que ele estivesse bem certo no momento.
Colaboraram na revisão inicial de alguns dos textos selecionados: Eneida Marques, Luciane Vaughn e Betty Heidemann. Esta última também cuidou da datilografia juntamente com Zezé Barela. A pesquisa foi realizada no Arquivo Público do Estado de São Paulo, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, no Centro de Documentação do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP e no Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Agradeço a Irma Block e a Maria Itália Causin o auxílio bibliográfico; a Haroldo Maranhão a separata da ABDE, e a Waldemar Torres a saudação a Gilberto Freyre e "O divisor das águas modernistas".