JC010 – Filosofia da Cincia – 1o semestre de 2020

Prof. Silvio S. Chibeni

 

Tarefa 5 – Compilao de algumas das respostas dos alunos (foram selecionados trechos ou a resposta inteira)

 

Questo 1

 

Student A (vivendo em tempos de pandemia ...):

Meu pai me visita todos os dias s 7h30 da manh. Ontem ele no me visitou. Supus que ele estivesse morto. Testei a hiptese ligando para sua casa. Se ele atender o telefone, ele no estar morto. Se ele no atender o telefone, ele estar morto.

 

Modus tollens

 

Meu pai morreu (H) → Ele no atender o telefone (I)

I (Como ele atendeu o telefone)

––––––––

H (Ele no morreu)

Falcia da afirmao do consequente

Meu pai morreu (H) → Ele no atender o telefone (I)

I  (Como ele no atendeu o telefone)

––––––––

H (Ele morreu)

 

 

Questo 2

 

Professor:

Definio dada nas Notas sobre tipos de argumentos, disponveis no site do professor: Em um argumento indutivo, a concluso representa uma extenso dos fatos enunciados nas premissas para um novo caso, ou para todos os casos (generalizao).

Exemplo (o mesmo das Notas). Voc acha uma caixa com muitos gros de feijo. Vai tirando um por um, para examinar sua cor. Depois de um certo nmero de vezes em que, at ento, todos foram brancos, voc conclui que o prximo que voc tirar (mesmo sendo um catado do fundo da caixa, que ainda no viu) tambm ser branco. Essa inferncia indutiva. Pode tambm, eventualmente, tirar, indutivamente, a concluso de que todos os feijes da caixa so brancos (mesmo sem examin-los todos). Em ambos os casos a concluso extrapola a evidncia registrada nas premissas para um ou mais casos semelhantes. Tais argumentos no so logicamente vlidos, pois as concluses (em qualquer dos dois casos) podem ser falsas, mesmo quando as premissas (ou seja, a enumerao de feijes brancos j examinados) so todas verdadeiras; por exemplo, l no meio da caixa pode haver um feijo preto, ou marrom, ou roxo, etc.

 

Student B

Argumentos indutivos so argumentos nos quais, a partir de sentenas ou proposies que descrevem eventos ou objetos particulares, se infere uma proposio ou sentena geral ou um novo caso particular dos objetos ou eventos descritos nas premissas. Seguem abaixo dois exemplos de argumentos indutivos:

 

Exemplo 1:                                     Exemplo 2:                           

P1) O Tigre 1  carnvoro                           P1) A galinha 1 no voa  

P2) O Tigre 2 carnvoro                           P2) A galinha 2 no voa           

P3) O Tigre n  carnvoro                           P3) A galinha n no voa.

_______________________              ____________________

C) Todos os tigres so carnvoros.     C) A galinha 345 no voa.

 

         Todos os argumentos indutivos so logicamente invlidos. Um argumento logicamente vlido um argumento em que, se as suas premissas forem verdadeiras, a sua concluso tambm ser verdadeira ou, dito de outro modo, se as suas premissas forem verdadeiras, ento a sua concluso necessariamente ser verdadeira. No caso dos argumentos indutivos, as suas concluses podem ser falsas, mesmo que todas as suas premissas sejam verdadeiras. No exemplo 1 acima, mesmo que as premissas do argumento sejam verdadeiras, ainda assim, possvel que a concluso do argumento seja falsa. Isso ocorre, pois a concluso do argumento uma proposio universal que se refere no s aos casos particulares de tigres descritos nas premissas, mas a todos os tigres (os que existiram no passado, os que existem agora e os que existiro no futuro). Por esse motivo, a concluso do argumento poderia ser falsa, mesmo que todas as suas premissas fossem verdadeiras, pois completamente possvel que, a despeito do fato de todos os tigres descritos nas premissas serem carnvoros (e portanto, as premissas serem verdadeiras), seja encontrado no futuro um tigre que, devido a algum tipo de mutao gentica, no seja carnvoro (sendo a concluso, nesse caso, falsa). No caso do exemplo 2, o argumento invlido, pois mesmo que todas as galinhas descritas nas premissas do argumento no voem (sendo as premissas, neste caso, verdadeiras), ainda assim, esse fato no garante que a galinha345, necessariamente, no ser capaz de voar ( completamente possvel que essa galinha tenha sofrido, por exemplo, algum tipo de mutao gentica que conferisse a ela essa capacidade).

 

Student C:

O argumento indutivo, oposto ao dedutivo, um conjunto de proposies concebido como um mtodo de investigativo que, por meio de regras mecanicamente aplicadas, conduz fatos observados princpios ou leis gerais (1966: 14). Trata-se de uma generalizao que parte de premissas particulares. Por exemplo, ao observar que at hoje todos os dias o sol nasceu e se ps, conclui-se que igualmente o sol nascer e se por todos os dias at o fim dos tempos. No entanto, a impossibilidade de aferir a infinita extenso do objeto em questo e das variveis que lhe condicionam (suas premissas), ou seja, sua complexidade, faz com que um argumento indutivo no seja logicamente vlido. As concluses de um argumento indutivo so probabilidades mais ou menos precisas, mas nunca uma confirmao absoluta, como o caso de inferncias dedutivas.

 

Student D

Um argumento logicamente vlido se e somente se, se todas as premissas forem verdadeiras, ento a concluso tambm o ser. Um argumento vlido pode ter premissas falsas com concluso verdadeira, e premissas falsas com concluso falsa. O que importa que em um argumento vlido, se as premissas forem verdadeiras, ento a concluso invariavelmente tambm ser verdadeira. Um argumento vlido que por sua vez tenha todas as suas premissas verdadeiras chamado de argumento correto, ou slido [ou relevante].

Um argumento indutivo generaliza casos particulares [ou estende os casos observados para mais um caso novo do mesmo tipo, ainda no observado]. Dito de outro modo, em um argumento indutivo, a partir de casos particulares (anteontem o sol nasceu no leste; ontem o sol nasceu no leste; hoje o sol nasceu no leste), conclumos uma regra geral (o sol sempre nasce no leste). Este tipo de argumento, contudo, no logicamente vlido, porque a verdade das premissas no garante logicamente a verdade da concluso. perfeitamente possvel, do ponto de vista lgico, que o sol deixe de nascer no leste. [Esse exemplo no bom porque o leste definido como a direo em que o sol nasce, aproximadamente; no um fato emprico. Nota do prof.] No h contradio lgica em dizer que o sol nasceu no leste todos os dias anteriormente, mas que agora no mais nascer.

 

 

Questo 3

Student E

a) As duas primeiras etapas de uma investigao cientfica de concepo indutivista estreita (narrow inductivist conception) esto imbudas, segundo Hempel (1966: 11), do pressuposto de que ideias preconcebidas introduziriam preconceitos que colocariam em ameaa a objetividade da investigao cientfica.

b) Em contestao concepo indutivista estreita, ilustrada com o mtodo cientfico sumarizado pelo economista A. B. Wolfe, d dcada de 1920, Hempel substitui a infinita amplitude do objeto a ser investigado (a totalidade dos fatos) por um problema. Ademais, na considerao da soluo de um problema por meio de uma hiptese que Hempel circunscreve o objeto. Assim, deste, os dados relevantes a serem aferidos esto condicionados queles, e somente queles, que possam contribuir [para a avaliao da] hiptese. Dentre as informaes de um objeto em investigao (quais), so relevantes aquelas que operam transversalmente entre si (como) para confirmarem ou refutarem uma hiptese. Segundo Hempel:

 

(...) for what particular sorts of data it is reasonable to collect is not determined by the problem under study, but by a tentative answer to it that the investigator entertains in the form of a conjecture or hypothesis. () Empirical facts or findings, therefore, can be qualified as logically relevant or irrelevant only in reference to a given hypothesis, but not in reference to a given problem. (1966: 12)

 

Ao contrrio do que sistematizam os indutivistas, Hempel critica a pretensa objetividade do mtodo cientfico e lana luz s beneficies da intimidade que um cientista tem com sua rea de estudo, ou seja, seu conhecimento prvio investigao. apenas diante da afetao do sujeito pelo objeto que a prtica cientfica se faz. Na formulao de hipteses, ou palpites felizes (happy guesses), como nomeia Hempel, para alm do observador controlador, entram em jogo tanto o acaso quanto a perspiccia da mente especulativa. Embora hipteses possam ser concebidas por argumentos indutivos, estas tm suas limitaes. Sobretudo quando tratamos de reas da cincia cujos fenmenos em questo no podem ser vistos e dependem de construtos conceituais para serem manipulados (fsica quntica, por exemplo). Entra em relevncia aqui o sujeito pensante e imaginativo de uma investigao cientfica. Como afirma Hempel, the transition from data to theory requires creative imagination. E segue: Scientific hypotheses and theories are not derived or inferred from observed facts, but invented in order to account for them (1966: 15).

 

Student F

Nos dois primeiros passos descritos por Wolfe, se pressupe que a coleta, anlise e classificao dos dados empricos sero feitas pelo cientista sem que haja qualquer interferncia de hipteses prvias do cientista sobre como os fatos em questo esto conectados e devem ser analisados ou classificados. Tendo isso em vista, Hempel argumenta que os dois primeiros passos da investigao cientfica assim concebidos seriam impraticveis, pois, sem pressupor uma hiptese de soluo para um problema em anlise, haveria uma infinidade de dados que poderiam ser coletados e um nmero to grande quanto de formas de analisar e classificar esses dados. Na viso de Hempel, dado que, na prtica, uma variedade muito grande de dados pode ser requerida para a soluo de um mesmo problema cientfico, o que determina quais dados devem ser coletados e como eles devem ser classificados no o problema que se pretende investigar, mas sim a hiptese que se pressupe como resposta a esse problema.

 

Student G:

A pressuposio em questo de que os procedimentos de observao e registro e de anlise e classificao dos fatos prescindem de hipteses, crenas ou conjecturas por parte do cientista que trata dos referidos fatos. Ela incompatvel com a prtica cientfica porque h um nmero potencialmente infinito de dados empricos registrveis e de formas de classific-los, o que compele o cientista seleo e classificao de fatos especficos. Os dados registrados, bem como o mtodo classificatrio adotado sero definidos com base em sua relevncia para a corroborao ou refutao de hipteses particulares, ou seja, luz de sua capacidade de favorecer a verificao da ocorrncia ou no ocorrncia das implicaes especficas das conjecturas em questo.

 

 

Student H.

A pressuposio de que nas etapas de observao e registro de todos os fatos, e anlise e classificao dos fatos seriam realizados sem seleo prvia ou estimativa e seriam analisados sem hipteses ou postulados. Totalmente s cegas. No acontece na prtica, pois necessrio que haja hipteses para direcionar quais fatos fazem sentido serem coletados e analisados, para guiar a investigao e correlacionar os fenmenos

 

Student I

A pressuposio em comum nos dois passos diz respeito ao cientista no desenvolver nenhuma teoria ou hiptese tanto no momento da coleta de todos os dados, como no momento de sua classificao. Como mostra Hempel, seguir essa pressuposio no algo vivel na atividade cientfica, em suas palavras uma pesquisa cientfica como apresentada [por Wolfe] jamais teria incio. Primeiro por ser impossvel coletar todos os dados disponveis sobre um determinado assunto. Hempel defende a necessidade de um recorte, para que o cientista possa delimitar quais informaes sero necessrias para seu trabalho e quais podero ser ignoradas. Para isso, naturalmente, o pesquisador deve, ao contrrio do defendido por Wolfe, partir de uma hiptese ou teoria inicial, para assim, poder observar com mais ateno aquilo que relevante para sua pesquisa. Em segundo lugar, os dados coletados podem ser classificados em uma infinidade de formas. Para tornar este passo produtivo e permitir que a pesquisa progrida, tambm necessrio que o cientista parta de uma hiptese para, assim, conseguir definir quais sero os melhores tipos, conjuntos e quantidades de classificaes, de maneira direcionada ao seu problema.

 

Student J

a) Na chamada concepo indutivista estreita da investigao cientfica h a pressuposio de que na observao, registro, anlise e classificao dos fatos no deve operar qualquer hiptese auxiliar ou secundria que oriente o cientista. Isso supostamente preveniria a contaminao da investigao por vieses e ideias preconcebidas que colocariam em xeque a objetividade da investigao cientfica. 3.b) Nas condies reais da prtica cientfica, um cientista simplesmente no tem como observar, registrar, analisar, etc. todos os fatos. Por isso, ele precisa, de sada, de alguma hiptese (ou hipteses) auxiliar que o oriente nesse trabalho inicial de coleta e estudo de fatos.