II
COLÓQUIO ROUSSEAU
"ORIGENS"
IFCH-UNICAMP
24-27/10/2005
Resumos das Comunicações
O discurso autobiográfico nos Devaneios do Caminhante
Solitário
Os Devaneios do Caminhante Solitário foram escritos entre 1776 e 1778, ano da morte de Rousseau. Se comparados aos outros textos autobiográficos, os Devaneios revelam o momento em que Rousseau sente necessidade de procurar uma saída para as tensões internas que o inquietam e para o caráter obsessivo que a idéia de complô assume em seu espírito. A obra é apresentada pelo autor como “a seqüência do exame severo e sincero que chamei outrora minhas Confissões”. No entanto, certos elementos composicionais importantes, alguns deles apontados claramente pelo próprio autor, marcam a diferença entre os Devaneios e os demais textos de caráter autobiográfico. Além disso, em seu último texto confessional, Rousseau trata de modo particular a relação eu (narrador) / eles (os homens) / leitor e busca revisitar certos acontecimentos de sua vida e certas características de seu temperamento por meio de um discurso cuja retórica acirra a presença de um ethos sensível. Nesta comunicação, pretendemos analisar algumas características composicionais e retóricas dos Devaneios do Caminhante Solitário a fim de entender as particularidades do discurso autobiográfico aí presentes.
ADRIANO EURÍPEDES M. MARTINS (Doutorando em Filosofia, UFMG)
História: a questão em Rousseau
O primeiro problema que Rousseau considera no Contrato Social é formulado do seguinte modo: “O homem nasce livre e por toda parte encontra sob grilhões.” Uma vez que, nascendo todos os homens livres, eles só alienam a liberdade para obter algo mais útil; mas, uma vez que nenhum homem tem autoridade natural sobre os demais homens e a força não gera direito algum, toda autoridade justificável entre os homens deve fundamentar-se no seu consentimento. Deste modo, os obstáculos que existem para o gozo da liberdade individual requererá o entendimento da idéia de história. A história é o meio no qual age a liberdade humana e ela não pode ser substituída pela Providência, pois ela constitui-se um espaço aberto para a liberdade natural do homem. Rousseau constrói uma filosofia da história sem se ocupar do estudo histórico propriamente dito. A história é um meio para ensinar a moral e não possui sua própria finalidade enquanto ciência. A história deforma a verdade sobre o homem, e o leitor corre o risco de se deixar guiar pelo julgamento do historiador e de não ver senão pelos olhos de outro, de não aprender a julgar por ele mesmo o passado, mas o presente; ou seja, deveríamos aprender a tratar, nós mesmos, os princípios constantes da natureza humana que se manifestam na história. Por isso, falamos em “idéia de história” e não em “História”. A idéia de história tem o seu valor, na medida em que ela permite aos fatos falarem pelo homem, pois a retórica humana não é capaz de expressar com exatidão e isenção sua situação e seu determinado contexto histórico. Com a história devemos aprender a distinguir a verdade da aparência, os homens tais como eles são do que eles querem parecer. Nesse sentido, as contradições e os conflitos do mundo contemporâneo são a expressão culminante da antinomia que atinge a humanidade, não em sua “natureza”, mas em sua “história”. A história é a testemunha não apenas da grandeza do homem e de sua razão, mas também de sua decadência. Rousseau não associa a realização de valores morais com o curso da história, como se fazia no caso das teorias do progresso, a marcha das coisas, não aporta nenhuma sanção moral ao estado de fato que ela produziu e não a justifica.
ALEXSANDRA SOMBRA LOURENÇO (Mestranda em Filosofia, Universidade Estadual do Ceará)
A relevância da piedade na sedimentação da
responsabilidade moral do homem
O texto proposto versa sobre a relevância da piedade na sedimentação da responsabilidade moral. A piedade ou bondade natural foi pensada por Jean-Jacques Rousseau, um filósofo que viveu no período marcadamente racional, o Iluminismo, mas que não encontrou na razão condições necessárias o suficiente para explicar a problemática que permeava as possibilidades de liberdade e igualdade do homem. Rousseau imaginou um estado hipotético, anterior ao estado social, no qual o homem vivia de forma simples, inteiramente entregue à natureza. Ele traçou o perfil do homem, concluindo que este era bom e capaz de ser justo por trazer em seu coração o amor de si e a bondade natural, atributos escritos como lei em seu coração, anteriores à razão e capazes de moderar as atitudes decorrentes dos sentimentos e dos sentidos. Esses sentimentos garantiam a conservação do homem enquanto indivíduo e de outros homens enquanto espécie. Apesar de não normativos ou racionais, esses sentimentos formavam a base moral do homem no estado de natureza, o que lhe garantia o título de bom selvagem. A responsabilidade moral do homem não apresentava, nesse cenário, conotação reflexiva, mas prática. A piedade ou bondade natural era a mantenedora da ordem e da vida, não só do homem, mas de todos os animais a sua volta. A questão que nos propomos é: “haveria resquícios no homem desses sentimentos primitivos e naturais que tornam a responsabilidade moral uma possibilidade real e não uma utopia?”. Toda racionalidade que permeia o homem seria capaz de tornar obscuros esses sentimentos de valorização da vida? A reflexão terá como referência essas questões.
ALINE SARMENTO COURA (Graduanda em Educação, Universidade Federal de Campina Grande)
Princípios gerais da educação em Rousseau
Rousseau, um dos mais bem conceituados pensadores do século XVIII, na sua obra Emílio ou da Educação, propõe um projeto para a formação de um novo homem e de uma nova sociedade, apresentando-nos os princípios gerais para uma educação de qualidade. Para isto, preconiza a importância da educação conforme a natureza, pois a sociedade corrompida torna o homem pervertido, enquanto as instituições sociais, reconhecidas como boas, transformam o homem e alteram a sua natureza, impondo uma existência que o levará à dependência dos homens e das coisas, não podendo mais agir por si só, ou seja, tornando-o subordinado. Faz necessário agora repensar a infância que, para Rousseau, é o período no qual acontece o desenvolvimento físico do ser humano. Por isso, a criança precisa usufruir da disponibilidade de espaço para atuar livremente em busca daquilo que lhe seja útil. Desse modo, dar-se-á mais ênfase a uma educação de acordo com a natureza e que valorize o presente e não uma educação bárbara voltada para um futuro incerto, pois o homem que se educa conforme a natureza vive o presente e será feliz em sua liberdade. Assim, quanto mais ele permanece perto de sua condição natural, mais se distancia dos desejos supérfluos, isto é, das necessidades imaginárias que o tornam infeliz, por causar um desequilíbrio entre a potência e a vontade. Pois a felicidade, que consiste no uso de sua liberdade, será tanto mais feliz quanto mais possa fazer o que necessita. Esta é a condição para chegar à sua adolescência, pondo em equilíbrio seus desejos e sua capacidade de realizá-los. Na adolescência, deve-se encontrar os meios para a aquisição da sua formação moral que o preparará para a vida adulta. Nesta, o indivíduo direcionará a vida afetivo-sexual, contraindo o matrimônio e se integrando à vida sócio-política do Estado.
ANA LUIZA S. CAMARANI (Letras Modernas, FCL-UNESP, Araraquara)
Rousseau e os mitos das origens: a “Idade de Ouro” e o “Bom Selvagem”
No Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, Jean-Jacques Rousseau propõe-se a examinar o primeiro embrião da espécie humana, retornando aos tempos primordiais. Por meio dessa volta ao passado, ao início da vida humana, o filósofo genebrino recupera o mito da Idade de Ouro, com o intuito de assinalar a degradação do homem, provocada pelo desejo de possuir, pelo solo demarcado, pela violência e a necessidade de leis. As causas primeiras dessa deterioração seriam, então, o fim da igualdade entre os homens e o surgimento da propriedade. Para fundamentar seu pensamento, que segue em direção oposta ao progresso louvado por grande parte dos filósofos, Rousseau, em seu Discurso, vale-se do mito como verdade universal. No Ocidente, a nostalgia de uma Idade de Ouro percorre a literatura desde Hesíodo, passando por Platão e Ovídio, até chegar ao Paraíso dos cristãos, ao maravilhoso jardim do Éden, criado por Deus, em que o homem vivia plenamente feliz junto à natureza, na perfeição dos “começos”, a que se refere Eliade ao propor uma definição de mito. Esse mito do Paraíso terrestre e de seus habitantes nos tempos fabulosos que precederam a História teria dado origem a um outro mito – o do Bom Selvagem –, decorrente da memória mitificada da imagem exemplar da humanidade da Idade de Ouro. Em seus textos literários, que prefiguram os temas maiores do Romantismo, entre eles o sentimento da natureza, Rousseau deixa entrever sua nostalgia pela Idade de Ouro, seu desejo utópico de recriar o Paraíso perdido. Assim, seu pensamento é transportado para suas obras literárias: a crítica à desigualdade entre os homens, o desgosto do convívio social, leva-o à busca da solidão e do repouso junto à natureza e ao sonho de um tempo passado e feliz, características que contribuem para torná-lo, na França, o grande precursor do Romantismo.
ANDRÉ CHRISTIAN DALPICOLO (Mestre em Filosofia pela PUC-SP)
ANGÉLICA APARECIDA FERREIRA (Mestranda em Filosofia, Universidade São Judas Tadeu)
O papel da educação na formação do indivíduo: origem do
Estado em Rousseau
A finalidade desta comunicação é passar em revista um dos pontos mais centrais da filosofia de Jean-Jacques Rousseau: o papel do indivíduo na constituição do Estado e sua formação a partir do sistema educacional proposto por ele. Sabe-se que Rousseau funda um modelo político tendo por base a tripartição: estado natural, sociedade iniciada (fundada na desigualdade) e sociedade civil (fundada pelo Contrato Social). À diferença dos demais contratualistas (Hobbes e Locke), Rousseau considera o estado natural, de isolamento, como o melhor estado do indivíduo, aquele no qual não há a corrupção moral provocada pelo progresso da razão. Em meio ao Século das Luzes, Rousseau promove a idéia do “bom selvagem”, alimentando o conceito de sociedade como corruptora da natureza humana. Contudo, é necessário notar que não é possível concebê-lo como um irracionalista e tampouco como individualista. É dessa maneira que este estudo pretende demonstrar a importância do indivíduo dentro da origem do Estado contratualista de Rousseau bem como sua importância fundamental na manutenção da paz social, além de apontar a origem desse indivíduo na formação educacional proposta por ele. Para que este cidadão, origem do Estado, seja criado, é necessário um sistema educacional adequado proposto por Rousseau como aquele que torna o indivíduo uma unidade fracionária do corpo social. A educação, portanto, aparece como origem do cidadão e, conseqüentemente, como operadora na legitimação do Estado. As obras de Rousseau utilizadas como base neste trabalho são o Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens e Emílio ou Da Educação, além de comentadores como Ernst Cassirer e Luís Roberto Salinas Fortes.
ANTÔNIO CESAR F. DA SILVA (Universidade Estadual de Feira de Santana)
Rousseau: natureza e liberdade
A natureza e a liberdade são primordiais para o pensamento rousseauniano. Para o filósofo de Genebra, a destruição da primeira ocasiona a destruição da própria liberdade humana. A partir de então, o homem passa a viver em condições adversas, contrárias à dinâmica da natureza. A dinâmica da natureza e do homem é tratada por Rousseau na totalidade de sua obra. Em uma delas, no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, Rousseau discute acerca da idéia de natureza e do fim da liberdade originária, partindo do ponto de que, enquanto a humanidade preservou o que lhe pertencia naturalmente, pôde gozar dos privilégios da liberdade. Na medida em que o cotidiano rústico e natural compunha o dia-a-dia dos homens, a liberdade estava garantida. Este estado de natureza garantia o perfeito equilíbrio entre os homens, entre estes e os demais seres. O homem natural, gozando de sua plena faculdade de escolha, era livre e, portanto não estava sujeito às conseqüências da escravidão social.
APARECIDO GOMES LEAL (Doutorando, Unicamp/Professor do IESA)
A origem da sociedade: uma união que provoca
desigualdades e infelicidades?
Nosso objetivo é apresentar algumas questões acerca do pensamento de Rousseau e Platão (talvez arriscando no paralelismo entre ambos), no que se refere às virtudes e à busca da felicidade, bem como à educação do indivíduo. Tanto Rousseau quanto Platão trataram de expor com riqueza de detalhes a origem da sociedade humana e as implicações desta “união” dos indivíduos nos primórdios de nossa história. As comemorações pelos 250 anos da publicação do Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens nos fazem refletir sobre a questão que quase todos os filósofos trataram, que é a felicidade e, ainda que em Rousseau não encontremos muito bem definido o que seria a felicidade humana, podemos aferir que ele não duvida de que todo ser humano quer ser feliz. A origem da sociedade, porém, traz consigo uma série de conseqüências e responsabilidades que o indivíduo têm que assumir para poder fazer parte do grupo. Rousseau descreve a sociedade como um poder implacável que subjuga o indivíduo, pensando por ele; neste caso, qual a autonomia e liberdade do homem então? Como atingir a tão decantada felicidade? Contudo, para Rousseau, aqueles que são justos e virtuosos também desfrutarão da felicidade. Neste contraponto podemos fazer analogias com o diálogo A República, de Platão, onde encontramos extenso material sobre a felicidade e educação (vinculada às virtudes, quer dizer, à vida moral), assim como sobre por que os homens se juntam e fundam a sociedade, envidando todos os esforços para “pertencer” ao grupo que os abriga e protege. Rousseau, como bom leitor de Platão, já dissera que a República seria um excelente tratado sobre a educação do indivíduo. Claro que estes dois autores trataram diferentemente destes assuntos; contudo, acreditamos ser interessante uma abordagem acerca do pensamento dos dois filósofos sobre estes temas que ainda são atuais e relevantes.
ARLEI DE ESPÍNDOLA (Doutorando em Filosofia, IFCH-Unicamp, professor da Unioeste, Toledo)
Rousseau e Sêneca: da crítica das luzes à defesa da
virtude
Rousseau e Sêneca, embora distantes no tempo, são pensadores movidos por preocupações semelhantes. Ambos têm o núcleo de irradiação das idéias na atenção que concedem aos problemas morais. O primeiro saiu do anonimato com o reconhecimento do mérito de seu Discours sur les sciences et les arts. Neste texto, ele endereça uma crítica ferrenha às ciências e às artes por acreditar que elas auxiliaram no processo de derrocada dos costumes. O fundamental, em sua opinião, está em se preservar a virtude, trabalhando na estruturação do caráter dos homens, e não em fazê-los raciocinadores e inteligentes. Essa é a mesma posição de Sêneca manifestada, sobretudo, nas Epistulae morales ad Lucilium. Malgrado não pretenda, como Rousseau, desfazer-se das ciências e das artes, o pensador romano quer ressaltar o valor de se cultivar a virtude. Albert Schinz, em La pensée de Rousseau, argumenta que o primeiro Discours constitui-se num hino à virtude. Ele destaca a contribuição da cultura greco-romana na formação das idéias de Rousseau, apesar de não afirmar que o filósofo tenha se dedicado à leitura de algum autor em especial. Jean Chatêau, em Jean-Jacques Rousseau: sa philosophie de l’éducation, sustenta que o nexo, mantido por Rousseau, se reporta ao ideário cristão. Ele pensa assim porque acredita que a noção de providência constitui-se no sustentáculo de sua doutrina. Judith Shklar, em Men & Citizens: A Study of Rousseau’s Social Theory, mantém que Rousseau não leu Platão, Sêneca, e nem qualquer outro autor clássico. Shklar reconhece apenas Fénelon como fonte de leitura de Rousseau. Bárbara Freitag, em Os itinerários de Antígona: a questão da moralidade, para defender a originalidade de Rousseau, chega ao absurdo de dizer que ele não pressupõe nada. Pretendo, nesta comunicação, sustentar que Sêneca é uma fonte de leitura importante para Rousseau. Analisando os conceitos centrais do primeiro Discours, e comparando-os com os da Epistulae morales ad Lucilium, mostrarei que ambos os autores possuem opiniões em comum. Sem referendar que Rousseau é um plagiador de Sêneca, reunirei elementos que confirmarão que seu pensamento, do texto em questão, foi antecipado pelo filósofo estóico.
CARLO CURVELANO FREIRE (Mestrando em Filosofia, IFCH-Unicamp)
O legislador da sociedade familiar
O objetivo deste texto é mostrar por que Jean-Jacques Rousseau coloca em seu romance epistolar, a Nova Heloísa, um legislador. Para explicar como e por que isso acontece uma distinção indicada pelo autor precisa ser mencionada, que é a da necessidade de uma separação de domínios: um, o da família, e o outro, o do Estado. Esta distinção aparece claramente no Discurso sobre economia política, numa crítica ao papel do déspota e ao regime totalitário. Fruto de uma migração indevida das funções de uma figura paterna autoritária, figura que age bem em sua família quando exige de seus filhos o seu próprio enriquecimento, o déspota age mal quando busca comandar um povo para favorecer o seu próprio enriquecimento. O destino de uma família é desaparecer originando outras, e o martírio dos filhos em uma etapa da vida se transformará em qualidade de vida numa outra por conta da partilha dos bens, diz o autor. Já num Estado, o povo que tem como líder um pai autoritário, um tirano, não possui o mesmo destino da família, isto é, o da garantia da partilha dos bens do tirano em proveito de todos e estará fadado ao eterno martírio, pois um tirano sucederá o outro, apenas perpetuando a exploração. Apesar destas dificuldades é possível perceber, após comparação de dois pequenos trechos, um no Contrato e outro na Nova Heloísa, que realmente o legislador aparece no romance.
CÍCERO JOSINALDO S. OLIVEIRA (Graduando em Filosofia, Universidade Federal de Goiás)
A cidadania em Rousseau
Rousseau tem como propósito direcionador de seu projeto político-teórico salvaguardar a liberdade do homem. Tal propósito leva-o à procura de uma forma legítima para a instituição do estado civil que, visando superar as inconveniências que a desigualdade e a opressão oferecem à espécie humana, tem por objetivo instaurar os fundamentos legítimos da obrigação civil por meio da convenção, a qual, pressupondo a deliberação dos homens, equivale à liberdade. Assim, este trabalho tem por objetivo tornar patente a natureza do pacto de associação, a fim de mostrar como o exercício de cidadania – que por excelência é a vontade geral – é, por assim dizer, o fundamento central da liberdade moral que caracteriza e legitima o Estado civil.
CIRO LOURENÇO BORGES JÚNIOR (Graduando em Filosofia, Universidade Federal de Uberlândia)
Da unidade natural ao dualismo no indivíduo: as faces da
perfectibilidade no Segundo Discurso
O presente trabalho tem por objetivo analisar a noção de perfectibilidade estabelecida por Rousseau na primeira parte do Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Na busca pelo conhecimento do homem em si, o filósofo genebrino ressalta a importância deste dom natural atribuído ao homem, desta “faculdade distintiva e quase ilimitada”. Como o próprio Rousseau afirma, este dom é “a fonte de todas as infelicidades do homem”, sendo ela mesma que “o tira, por força do tempo, dessa condição originária em que ele passaria dias tranqüilos e inocentes”. Com base nestes dados, propõe-se estabelecer um contraste entre a unidade natural, em que habita este homem natural, e o desenvolvimento posterior impulsionado pela perfectibilidade humana, ou seja, no momento em que se desenvolve “suas luzes e seus erros, seus vícios e suas virtudes”. Este contraste faz emergir o dualismo presente no próprio indivíduo que será, portanto, a origem das diversas dualidades características da vida em sociedade, ou seja, o próprio embate já outrora observado por Jean-Jacques entre vício e virtude, entre ser e parecer. Este dualismo (originário) se caracteriza basicamente por uma diferenciação que floresce com as conseqüências da perfectibilidade: a diferenciação interna do sujeito pela qual o eu se apercebe diferente do outro; diferenciação esta que, por um momento, dá a visão clara do mal-estar, do obstáculo entre o indivíduo e os outros, entre indivíduo e sociedade, etc.
CRISTIANE APARECIDA BARBOSA (Centro de Ensino Superior de Catalão-GO)
Linguagem e corrupção dos costumes
Rousseau, no prefácio de sua comédia Narciso ou o amante de si mesmo, escrita em 1733 e levada à cena em 1752, rebate algumas acusações contra ele, contra suas idéias e suas obras, principalmente contra o Discurso sobre as ciências e as artes. Nesse prefácio, Rousseau, como fez em sua obra Diálogos: Rousseau juiz de Jean-Jacques, defende-se da acusação de contradizer-se, ou seja, de que suas idéias não coincidem com suas ações. Porém, defende-se ainda da acusação de que, embora combatesse as ciências, as artes e as letras, fez uso da arte literária: afinal ele escreveu o Discurso sobre as ciências e as artes e outras obras, bem como a referida comédia e outras peças teatrais. Meu objetivo é traçar um paralelo entre a discussão que Rousseau faz entre comunicação e corrupção de costumes e a fundação do Estado abordada no Segundo Discurso. Esse pensador afirma que aquele que primeiro cercou um lote e lembrou-se de dizer, isto é meu, fundou a sociedade civil. Todavia, o que levou o homem solitário a associar-se? E por que essa associação gerou um Estado alicerçado na desigualdade social? Essas são perguntas que procuro responder valendo-me do prefácio acima mencionado, ressaltando a relação estabelecida por Rousseau entre ciências-artes-letras e corrupção moral, bem como justificando sua atitude, aparentemente contraditória, uma vez que ele mesmo dedicou-se à composição literária.
CRISTIANE FERRARO (Unioeste, Foz do Iguaçu)
Emílio de Rousseau e as origens ideológicas do
discurso da Pastoral da Criança
O mundo moderno foi construído na contradição entre o coletivo e o individual; sob o Estado a unidade dos cidadãos é simbólica, o conceito de cidadania é uma abstração. Rousseau dirá que não é possível formar o cidadão, pois política e ética estão cindidas. Para “compensar a perda da inocência natural e da universalidade ético-política” institui uma função ao preceptor, de através de “artifícios”, conduzir o aluno a “uma realidade natural perdida”, através da arte pedagógica, educando-o para “respeitar e amar o outro enquanto seu outro”, sem corromper-se (CHAUI, M. “O que é ser educador hoje? Da arte à ciência: a morte do educador”. In: BRANDÃO, C.R. (org.) 1982, p. 54). “Fazer de Emílio um cidadão do mundo, já que não é possível fazê-lo um cidadão de seu Estado, implica em pô-lo em contato com o silêncio das origens, a fim de que sua fala restaure, no mundo da cultura, um pouco do que se aprende na calada natureza” (Idem, p. 54). O dialogismo em Rousseau funda-se na constatação da “morte das origens naturais” e na necessidade do outro para o nascimento do eu (Idem, p. 55). O dialogismo é o eixo condutor deste trabalho. O homem se faz na linguagem e pela linguagem, uma produção sócio-histórica e ideológica. A relação entre sujeitos no circuito da comunicação e deles com a sociedade surge no entrecruzamento de discursos; as várias vozes sociais produzem diálogos entre interlocutores e entre discursos. O presente estudo propõe um diálogo entre os enunciados da ação social católica realizada pela Pastoral da Criança e os enunciados do Emílio, tratado pedagógico de Jean-Jacques Rousseau. A análise semiótico-interpretativa de Mikhail Bakhtin, fundada no dialogismo, orientou as reflexões sobre a interação entre o discurso religioso e o discurso pedagógico de Rousseau, sugerindo a fundamentação ideológica da infância rousseauniana como sustentadora dos valores dessa ação pastoral.
CRISTINA MARIA TEIXEIRA MARTINHO (Universidade Severino Sombra)
Sonhos de um monstro solitário: Jean-Jacques Rousseau e Frankenstein
de Mary Shelley
Mary Shelley utiliza as idéias de Jean-Jacques Rousseau para articular uma epistemologia filosófica que demonstra o fracasso da simpatia, da conviviabilidade, da tolerância na obra Frankenstein, dramatizando questionamentos sobre identidade, semelhança, diferença e linguagem. Este trabalho investiga a grande influência exercida pelo filósofo genebrino, tanto na vida pessoal quanto na intelectual da autora inglesa. Os pensamentos e sentimentos do monstro, em Frankenstein, representam uma interpretação temática e encenam diálogos com e através de Rousseau. Mary Shelley reflete sobre as idéias desenvolvidas no século XVIII e encena uma atuação ambivalente dos sentimentos morais e estéticos em voga.
CRISTINA MARIA VASQUES (Mestranda em Estudos Literários, FCL-UNESP, Araraquara)
Descobrindo Rousseau em Reinações de Narizinho, de
Monteiro Lobato
CUSTÓDIA ALEXANDRA ALMEIDA MARTINS (Educação, Universidade do Minho)
Para uma genealogia do bem e do mal em Rousseau
A comunicação que apresentamos resulta de uma reflexão realizada em torno do Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Esta encontra-se organizada em duas partes. A primeira faz a descrição do homem natural e do homem social. A segunda pretende demonstrar como o homem social, em contraposição com o homem natural, é a fonte da sua própria perdição. Uma leitura atenta do Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens permite-nos perceber uma tensão entre o estado de natureza e o estado de raciocínio. A posição em que o homem se encontra, ora no estado de natureza, ora no estado de raciocínio, é determinante para se poder elaborar uma genealogia do bem e do mal relativamente à condição humana. Rousseau começa por descrever o estado natural associando-o ao homem selvagem. Quanto ao estado de raciocínio, ele o associa ao homem que vive em sociedade. Assim, afirma o autor que “os homens nunca teriam passado de monstros se a natureza não lhes houvesse concedido a piedade para o apoio da razão” (ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, 2002, p. 191). Compreende-se, deste modo, que a máxima que melhor expressa a bondade natural do ser humano é a que diz ao homem: “Alcança teu bem com o menor mal possível para o próximo” (Ibidem, p. 193).
DANIEL AFONSO DA SILVA (Doutorando em Filosofia, IFCH-Unicamp)
O Discurso sobre a desigualdade e o método abdutivo
DANIELA DE FÁTIMA GARCIA (Graduanda em Filosofia, IFCH-Unicamp)
Considerações estéticas na filosofia de Jean-Jacques
Rousseau
Diante da reestruturação de valores ocorrida durante o século XVIII na Europa, Jean-Jacques Rousseau, representante do período, tece uma concepção estética original que caminha na margem oposta aos ideais artísticos fundamentados no louvor ao progresso proferidos pela maioria dos representantes do Iluminismo. Em textos como o Discurso sobre as ciências e as artes, o Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, assim como no Emílio, já encontramos os indícios teóricos que na Carta a D’Alembert estão plenamente desenvolvidos. A coesão existente entre estes textos de Rousseau nos permite entender os conceitos estéticos e a relação entre arte e vida social na filosofia do autor. A característica de maior importância presente na crítica ao teatro expressa na Carta a D’Alembert – e, conseqüentemente, parte constituinte de sua teoria estética – é a impossibilidade de separação entre apreciação estética e pensamento político. A consistência que une os diversos textos de Rousseau é exatamente a pretensão de estudar o homem sob uma óptica integral, de modo a permitir o entrelaçamento dos diversos aspectos da vida do cidadão. Se, nesse processo, Rousseau busca a autenticidade estética, é porque pensa antes na autenticidade do homem enquanto membro participativo de uma comunidade política.
DANIELA MASOTTI MORAES (Graduanda em Filosofia, FCL-UNESP, Araraquara)
DAX MORAES (Filosofia, Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Locke, um dos grandes mentores do pensamento liberal moderno, em capítulo de seu Segundo Tratado sobre o Governo Civil, estabelecera a naturalidade e, por conseguinte, a racionalidade do direito de propriedade. Refletindo acerca de seus argumentos, pode-se observar alguns pressupostos e desenvolver conseqüências, a saber: é tomado como dado um sentido moral no estado natural segundo o qual o homem reconhece, por uma faculdade inata, limites territoriais mediante os resultados da obra humana, devendo ser tida como perversão antinatural o desrespeito a tais limites; “descreve-se” uma primeira geração de homens proprietários a instaurar de maneira “justa” a origem da desigualdade entre patrões e empregados, segundo a qual, estes últimos, são vítimas de sua própria indolência e “irracionalidade” ou mau uso da razão. Embora Locke condicione sua teoria à produtividade e ao não-desperdício, sua teoria legitima a acumulação de bens e, portanto, naturaliza a desigualdade socioeconômica. A acumulação de bens de produção, em Locke, passa a constituir um direito natural por implicação, atribuindo toda desigualdade socioeconômica à irracionalidade de grande parte dos homens, e não à própria natureza da convenção mediante a qual se estabelece o direito de propriedade, ou seja, à artificialidade, à intervenção humana na natureza. Ao primeiro pressuposto presente em Locke, Rousseau responde, no Discurso sobre a desigualdade, que não é de se pensar haver lugar para juízos morais no estado de natureza. O homem, anteriormente ao convívio social, ou estado civil, é autônomo, e não submetido a qualquer lei ou princípios morais. Caso contrário, não poderia ser considerado naturalmente livre, devendo antes obedecer a princípios dados a priori, que não podem ser considerados como tais a partir do momento que não são universais. Ao segundo pressuposto, Rousseau responderá justamente que a desigualdade entre detentores e não-detentores de bens supõe um acordo prévio, ainda que tácito, o que significa já a instauração de um estado civil, onde os homens se encontram em relações sociais. Com efeito, Locke não garante com sua doutrina meritocrática aquilo que é fundamental para Rousseau em uma sociedade: o patriotismo. Locke procura fundamentar, antes, uma democracia que favoreça a igualdade de oportunidades de progresso pessoal, deixando impensado que o aprofundamento dos processos de acumulação leva a gargalos incontornáveis. Afinal, o mérito de um indivíduo muito pouco vale após gerações e gerações de subordinação de uma classe assalariada a uma classe empreendedora sedimentada, pois os respectivos pontos de partida já são desiguais.
EDGAR ROGÉRIO DA COSTA (Mestrando em Filosofia, IFCH-Unicamp)
A virtude e a felicidade na Nova Heloísa de Rousseau
Apesar de não figurar entre as obras filosóficas Rousseau, A Nova Heloísa retrata elementos fundamentais do pensamento do autor. A trama deste livro apresenta a força do amor, que aos poucos cede aos clamores do dever e da virtude. De acordo com essa descrição, sozinho, o amor é impulsivo e descontrolado, causa de desvarios e tristezas; submetido à virtude, ele se aprimora, cresce e torna-se objeto da verdadeira felicidade, uma vez que esta não se encontra fora do indivíduo (nos seus bens, no luxo ou na aparência imposta pela sociedade), mas dentro dele: no esforço contínuo de, a exemplo da personagem Júlia, buscar a virtude e procurar “bastar-se a si mesmo”, tornando-se o que deve ser. A virtude desenhada no romance se traduz, na prática, em atitudes como o amor pelo próximo (um corolário do conceito de piedade, apresentado no Segundo Discurso), a busca da tranqüilidade e a própria harmonia entre prudência e riqueza. O exemplo de virtude de Júlia é acompanhado por uma bela descrição dos Alpes suíços, nas palavras de Rousseau, talvez o lugar mais propício para se viver em família, em comunhão com a natureza e em paz consigo mesmo. O propósito da comunicação é explicitar como se articulam os conceitos-chave do romance: felicidade e virtude, em síntese uma relação em que a primeira, tão estimada e desejada por todos, têm de se subordinar à última, como condição para alcançá-la. A atitude de colocar a virtude em primeiro lugar, a importância destinada à autonomia e ao autocontrole, e a própria obrigação de levar a cabo uma conduta impecavelmente coerente são alguns traços que revelam a forte afinidade de Rousseau pelo estoicismo, especialmente a ética ensinada por Epiteto (c.50-120 d.C) durante o período imperial. Como propósito secundário, então, tentamos ressaltar essa influência sofrida por Rousseau, que se manifesta nos usos e expressões utilizados por Epiteto em seu Enchiridion, e no chamado ascetismo pregado pelo escravo alforriado, cuja trajetória pode ter mesmo inspirado o destino do próprio Emílio, um dos personagens célebres da filosofia rousseauniana.
EGUIMAR SIMÕES VOGADO (Doutorando em Estudos Literários, FCL-UNESP, Araraquara)
Em busca do elo perdido: Rousseau e a crise da
modernidade
Mesmo considerando a antigüidade grega precursora da Europa moderna (a Grécia é sempre citada como o berço da civilização européia e ocidental) é preciso relativizarmos essa afirmação. Percebe-se unidade na cultura grega no fato de que pensamento, fala e escrita se estabeleciam na condição de que os gregos pensavam, falavam e escreviam em grego. O homem grego era horizontal e verticalmente inteiro, sendo a alma a sede do conhecimento e o corpo intermediador na prática e aquisição desse conhecimento. O sentido da honra colocava-o em uma unidade horizontal, diacrônica, com antepassados e descendentes. A Grécia soube abrir-se ao mundo, elegendo o que havia de valioso nas outras culturas e refletindo e condenando seus próprios traços de incivilidade ou intolerância. O que dá sentido à expressão “crise da modernidade” não é apenas a percepção e a consagração da subjetividade quase como uma religião, mas, ao lado disso, e como conseqüência imediata dela, estabelece-se a alteridade, a consciência de que o outro pode constituir-se em obstáculo entre o que somos e o que sonhamos. Rousseau, em Les rêveries du promeneur solitaire, propõe-se um exercício filosófico que consiste em isolar-se do mundo e buscar no mais profundo de sua alma o sentido de sua existência. Sem admitir nem mesmo a presença de um leitor ideal, escrevendo para si mesmo, ele expressa os signos essenciais da modernidade: o isolamento e a crise de identidade. Evidencia que seu sofrimento em razão do outro, ou outros, seus detratores, amenizou-se a partir do momento em que passou a tratá-los com indiferença, a manifestar alegria em substituição do pesar que experimentara. Temos, com Rousseau, mais algumas pistas sobre o que caracterizaria a crise da modernidade: afastamo-nos de nosso deus único devido à sua indiferença em relação ao sofrimento dos mortais e à sua tirania, mas refletimos essas qualidades. Analisando a pólis como espelho do mito e o mito como reflexo da concepção que os gregos tinham da natureza, concluiremos o quanto o mundo moderno perdeu em comunhão (transformada em objeto de desejo) e ganhou em diversidade e pluralidade de mitos e pensares. O homem moderno deixa de ser uno com seu grupo e com a natureza; sua condição na modernidade é a do isolamento e incompletude. Em Rousseau das Rêveries temos os traços mais significativos da modernidade e que parecem representar o sentido mesmo dos paradoxos e da crise que se vive desde sua origem até os dias atuais.
ELZA MARIA RODRIGUES (Mestre em Educação, FE-Unicamp)
O homem e sua bondade em Rousseau
Por que, para Rousseau, o homem é bom? Com essa questão tentaremos contextualizar a importância que o homem tem enquanto ser social. No texto A Origem da Desigualdade entre os Homens, podemos constatar que, para Rousseau, existem duas espécies de desigualdade: uma natural ou física que é estabelecida pela natureza, e outra, moral ou política, porque depende de uma convenção estabelecida e autorizada pelos homens. Procuraremos nos deter no segundo tipo (ou classificação) de desigualdade que Rousseau estabeleceu, para que possamos melhor identificar as razões pelas quais o homem, sendo bom por natureza, tornou-se escravo de convenções, por ele mesmo elaboradas. Neste sentido, tentaremos estabelecer relações entre o comportamento do indivíduo na vida individual e na sociedade, uma vez que, para Rousseau, o bom selvagem continua sendo o homem primitivo e que, de certo modo, apesar de vivermos em sociedade, poderíamos refletir sobre a importância que esse ser primitivo poderia representar para nós, homens modernos.
ÉRICA MILANEZE (Doutoranda em Estudos Literários, FCL-UNESP, Araraquara)
Do homem natural às civilizações indígenas americanas: um percurso de Jean-Jacques Rousseau a Jean-Marie Gustave Le Clézio
No Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens (1754), Jean-Jacques Rousseau questiona as bases de sua sociedade contemporânea. Para tanto, traça a evolução do homem primitivo ao homem civilizado, demonstrando que a origem da desigualdade está na vida social. Segundo Rousseau, o homem em estado natural, despojado de todos os artifícios da vida social, era livre, bom e feliz, porque não estava submetido às convenções e aos mecanismos sociais. Herdeiro de Rousseau, Jean-Marie Gustave Le Clézio – considerado o maior escritor vivo da literatura francesa contemporânea –, reflete em suas obras uma profunda crítica da sociedade pós-industrial, que considera excessivamente racionalista e monolítica, o que impede a expressão do homem em sua totalidade. Desta forma, o autor volta-se, em algumas de suas obras como Haï (1971), para as civilizações indígenas, as quais descobre por volta da década de setenta, quando convive com comunidades indígenas do México e do Panamá, experiência que transforma sua forma de viver e de escrever. Na verdade, Le Clézio impressiona-se positivamente com a coesão social indígena, em que os homens estão mais integrados em seu meio ambiente, a floresta, do que o homem moderno na sociedade que criou. Pretendemos, então, abordar a relação entre as idéias de Rousseau no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens acerca da dicotomia homem natural / homem social e a valorização da cultura e do pensamento indígena por Jean-Marie Gustave Le Clézio em suas obras, notadamente em Haï, opostos ao racionalismo da sociedade ocidental.
ESTHER MAXINE TREW (Doutoranda em Estudos Literários, FCL-UNESP, Araraquara)
A caracterização do espaço em Júlia ou A nova Heloisa
Ao situar personagens e ao narrar os acontecimentos nas suas obras, os autores românticos buscaram colocá-los em espaços com os quais os leitores se identificariam. Bakhtin (2003) afirma que o artista, ao transferir a existência do homem para o plano estético, transfere para lá também a imagem externa dela. O espaço em A Nova Heloísa será considerado neste trabalho principalmente a partir do roteiro de análise proposto por Ozires Borges Filho (2004) que, por sua vez, está embasado nos principais trabalhos sobre o tema. É inegável que a caracterização do espaço apresentada através dos olhos e sentimentos das personagens do romance de Rousseau é, como afirma Bakhtin (2003), assimilada e correlacionada a elas. Previde (2005) afirma que, em um texto literário, o espaço é muito mais do que um mero adorno descritivo capaz de situar o leitor na cena da qual faz parte. Em Júlia ou A nova Heloísa, Rousseau apresenta a sua conhecida defesa da boa influência da natureza e da vida no campo sobre o homem e, em oposição, a negatividade da vida no espaço urbano. Além disso, ele discorre detalhadamente sobre as belezas dos lugares por onde se movimentam as personagens. Mas é no estudo das relações entre as personagens e os espaços específicos que iremos perceber a relevância desse aspecto na obra em questão.
EVALDO BECKER (Doutorando em Filosofia, FFLCH-USP)
Linguagens, corrupção e liberdade em Rousseau
O presente artigo visa tratar, de forma sucinta, algumas questões acerca do lugar que ocupa a linguagem na teoria rousseauniana. Pretende-se examinar principalmente o seu papel no que concerne à política e à moral das sociedades historicamente constituídas. Rousseau, ao longo de sua obra, menciona e examina a existência e o papel da linguagem original, musical e teatral; bem como das línguas particulares no que tangem à corrupção e ao mal-estar percebido nas sociedades existentes, bem como a possibilidade de as mesmas interferirem na redução ou manutenção da liberdade. Pretende-se, em primeiro lugar, fazer a distinção entre a noção de linguagem e de línguas particulares, observando nesse sentido o que Rousseau entende por linguagem original e quais as modificações e o sentido destas no momento em que se instituem as línguas particulares. Por fim, examinaremos em que sentido é possível através do discurso mesmo ou da eloqüência, propor formas de remediar ou atenuar a corrupção percebida nos homens e nas sociedades tal como se nos apresentam. Tais questões serão examinadas tendo-se em vista principalmente os textos Ensaio sobre a Origem das Línguas, Carta a D’Alembert e A Nova Heloísa de Rousseau.
O contratualismo de
Rousseau e a filosofia imoralista de Nietzsche:
uma releitura da igualdade entre os homens
O objetivo deste estudo é apresentar de que maneira, seguindo a leitura política nietzschiana, a democracia se apresenta como uma instituição social e política decadente. As características impostas e defendidas por esta forma de governo, em toda sua constituição jurídica e legisladora têm, como princípio de formação e sustentação, a igualdade entre os homens. Contrapondo a teoria contratualista de Rousseau com a filosofia imoralista de Nietzsche, podemos dizer que a filosofia política nietzschiana apresenta uma inversão de valores na constituição e criação do Estado. Em outras palavras, diferente do que pretendia Rousseau, Nietzsche não entende como princípio absoluto e necessário, ou como um direito natural, a igualdade entre os homens. A igualdade é, para o autor da Genealogia da Moral, um ideal a ser alcançado pelos contratualistas, pois o que é natural (instintivo) ao homem não é a igualdade, mas a diferença. Assim, caminhando contrariamente à corrente contratualista, Nietzsche sustenta a igualdade dos homens como um ideal instituído por uma moral decadente, fraca, niilista. A partir do momento em que a igualdade entre os homens se institui como referência de uma ordem do mundo moral natural (rousseauniana) para legalizar a ordem jurídica e as relações sociais, para Nietzsche o que ocorre é o advento em termos morais de uma particular moralidade, que ele define como a revolta da moral escrava. Da mesma forma que Rousseau concebe em sua teoria contratualista a vida governada pelo sentimento de piedade, a moral da revolta escrava estabelece o mesmo sentimento cristão como regra e norma para a vida do homem. Degeneração dos instintos e desagregação da vontade são, para Nietzsche, conseqüências do advento deste ideal de igualdade. Isto é, a utopia da igualdade de direitos alcança apenas um objetivo: indivíduos frustrados em suas relações pessoais e com as práticas jurídicas e legislativas da democracia.
GLÁUCIA LIMA DE SOUZA (Mestranda em Filosofia, Universidade Estadual do Ceará)
Falar de educação, no contexto proposto por Rousseau, é buscar se apoderar de toda a dimensão ética e moral que permeia as obras do autor. É fundamental perceber que Rousseau contextualiza, no decorrer de seus escritos, as peculiaridades que validam a real educação, que só pode ser pautada na honradez do conceito ético e moral que viabiliza o aprimoramento e lapidação do indivíduo e subjaz a sua dimensão magistral. Rousseau, então, nos convida a iniciar uma criteriosa reflexão acerca das singularidades que justificam essa educação que, ao assumir uma perspectiva ética-moral, lança mão de uma possibilidade bem mais eficaz do que a que reduz a educação a reproduzir adestramentos inválidos. Ao contrário, Rousseau eleva a educação ao patamar irrevogável de tornar o indivíduo sujeito de sua própria vida, ou seja, a educação, na ótica rousseauniana, é uma chamada à aclamação da autonomia do ser, observando que seu papel não se restringe a um repasse mecanicista de conteúdos, mas consiste no encontro dos conteúdos necessários com o exercício crítico da ética moralizante imprescindível para conduzir o ser humano ao que ele pode ser de melhor. Para tanto, Rousseau dinamiza, em cada etapa da formação do sujeito, os inevitáveis aspectos que dão margem a esta educação, que deve ser respeitada como uma herança de identificação do sujeito, permitindo fazê-lo tutor de si mesmo e parte integrante do meio de forma eficaz. Cada momento deve ser explorado e respeitado como degrau necessário para o aprimoramento do indivíduo. Contudo, deve-se observar que só o que é útil pode contribuir para a educação do sujeito, a fim de propiciar a germinação da semente do bem que nele reside, respaldando-o enquanto ser humano. A educação rousseauniana é a que viabiliza a autonomia do sujeito, quando este se encontra no ápice de sua integridade, pois busca fundamentar-se e elevar-se no que for bom e útil, através do exercício de sua própria natureza que o conduzirá a uma formação concisa e plena de valores. Assim, Rousseau traz à educação seu valor ético, e faz dela o mecanismo mais eficaz de engrandecimento do indivíduo.
GUSTAVO ARAÚJO BATISTA (Doutorando em Educação, FE-Unicamp)
Emílio ou Da Educação:
as categorias axiológicas do pensamento educacional e pedagógico de
Jean-Jacques Rousseau
Pretende-se, neste trabalho, fazer uma abordagem sobre as categorias axiológicas do pensamento educacional e pedagógico de Jean-Jacques Rousseau, cujas reflexões filosóficas muito influíram na história do pensamento político, educacional e pedagógico da civilização ocidental. Categoria axiológica é uma expressão aqui utilizada para designar o termo que expressa o valor do qual se serve determinado autor tanto para a construção quanto para a aplicação da sua reflexão filosófica destinada a determinado tipo de questão. Sempre que se mencionar tal expressão, remeter-se-á a um elemento qualquer do conjunto terminológico do qual Rousseau se serve para engendrar a sua teoria dos valores que, por sua vez, é operacionalizada no âmbito educacional e pedagógico. A razão pela qual também são diferenciados os termos ‘educacional’ e ‘pedagógico’ repousa no fato de que, embora estejam intimamente relacionados a ponto de serem praticamente inseparáveis, isso não significa que possam ser tratados exatamente como sinônimos, uma vez que o primeiro diz respeito especificamente àquilo que se deve fazer em relação à formação do ser humano em geral (o que significa afirmar que a dimensão educacional contempla aquilo para o qual o ser humano deve ser preparado, treinado, instruído e disciplinado), ao passo que o segundo diz respeito especificamente ao modo como se fará aquilo que se almeja com a tarefa educativa (o que significa afirmar que a dimensão pedagógica concerne à elaboração e à seleção metodológica que melhor atenda às concepções oriundas da dimensão educacional). Assim, a pedagogia é aquilo que operacionaliza a educação, tornando-a, dessa forma, reflexiva e funcional, a fim de que a mesma não se torne uma mera repetição mecânica e sem qualquer tipo de autocrítica e de finalidade. Para que se possa levar a cabo o intento máximo deste estudo – a apresentação das categorias axiológicas da educação e da pedagogia rousseauniana –, é preciso que se apresente o horizonte axiológico vislumbrado por Rousseau, a partir do qual seleciona o conjunto de valores pertinentes à construção da sua teoria axiológica que culminará em sua teoria educacional e pedagógica, teoria tal consignada na sua obra magna sobre o tema educacional e pedagógico, qual seja, Emílio ou Da Educação, publicada em 1762. Assim, seguir-se-á o esquema presente na referida obra como forma de se explicitar qual o horizonte axiológico que Rousseau enfoca para dele extrair os elementos (isto é, as categorias axiológicas) necessários à sua reflexão filosófica que toma por objeto a educação e a pedagogia.
GUSTAVO CUNHA BEZERRA (Mestrando em Filosofia, IFCH-Unicamp)
O bem e o mal na sociedade recém-iniciada do Segundo
Discurso
Na presente comunicação procuraremos expor a forma como, no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, a sociedade pode ser compreendida como fonte, ao mesmo tempo, do bem e do mal, na medida em que permite o despertar, tanto da fraternidade, quanto da competitividade destrutiva. Nesta obra, Rousseau narra, através da história da sociabilidade humana, como os homens tornaram-se escravos uns dos outros. A gênese da sociedade conduz ao abandono da amoralidade e passividade intelectual do estado de natureza. O homem-em-relação adquire novas características originadas no reconhecimento do outro: o amor-próprio, princípio da vaidade e causa dos conflitos entre os homens, surge como conseqüência do olhar do outro. É por meio da identificação do outro, enquanto juiz das qualidades e defeitos do eu, que os homens contraem o desejo de serem admirados perante os demais, isto é, a estima pública. Na busca pela estima, a aparência é o artifício que permite ao homem mostrar-se enganosamente ao outro; surge a cisão entre ser e parecer. Assim, as relações humanas efetivam-se no domínio da representação teatral, no qual a sinceridade e a confiança recíproca se esvaem, visto que os interesses particulares e o desejo de ser estimado são os imperativos do homem social. Não é apenas o mal, conforme já afirmamos, que nasce com o advento da sociedade; os mais doces sentimentos, em especial, o amor paterno e o amor conjugal, florescem no coração humano quando este descobre uma forma de existência em que o outro é fundamental para a sua felicidade. Os laços sociais constituídos através destes sentimentos configuram, na sociedade iniciada, a época mais feliz do gênero humano.
ISRAEL ALEXANDRIA COSTA (Universidade Católica do Salvador)
Rousseau e a origem do mal
O mal é assunto privilegiado das investigações de Jean-Jacques Rousseau e o exame desse tema é crucial para a compreensão do caráter revolucionário de suas idéias sobre religião. Como atestam Cassirer e Starobinski, no bojo das considerações sobre a questão da origem do mal, Rousseau entra em conflito com os defensores dos dogmas da tradição religiosa do século XVIII e, ao mesmo tempo, propõe uma experiência religiosa fundada no princípio da consciência moral. A leitura das cartas endereçadas a Philopolis, a Voltaire e ao Arcebispo de Beaumont revela que as convicções pessoais do genebrino se chocam com uma importante noção conexa ao tema do mal: o dogma da perversidade intrínseca da natureza humana e o conseqüente apelo à intervenção divina para a redenção do sofrimento nascido do pecado original. Em lugar dessa noção, Rousseau oferece o postulado da bondade da natureza originária do homem e uma justificação da Providência enquanto instância garantidora da mera existência de agentes livres e responsáveis pela importunidade de seus próprios sofrimentos. O sentido revolucionário dessas idéias parece estar dirigido para a fundação de um direito em nome do qual o homem pode reivindicar uma subjetividade livre e capaz de reger, com absoluta autonomia, o curso de sua própria história.
JORGE LUIZ VIESENTEINER (Doutorando em Filosofia, Universidade Federal do Rio de Janeiro; professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná)
A crítica de Nietzsche a Rousseau
O objetivo deste texto é indicar o estatuto que Rousseau ocupa nos escritos de Nietzsche no que se refere à esfera política da cultura ocidental. Neste sentido, indicamos, por um lado, Nietzsche e Rousseau como filósofos que pensaram a décadence moderna e, por outro lado, em que sentido o próprio Rousseau é, para Nietzsche, o filósofo da décadence política por excelência. A fim de analisarmos este segundo aspecto, propomos delinear a investigação a partir de algumas temáticas, tais como: a) o fato de que Rousseau é o filósofo que opera com a lógica do ressentimento transposto para o plano político; b) a noção de “retorno à natureza” de Rousseau é, no fundo, a operacionalização política dos programas de melhoramento do tipo homem, bem como expressão daquilo que Nietzsche denominou de “absurdo do ‘maior número’”, isto é, exigência decadencial por igualdade estigmatizada pelo movimento democrático, parte integrante do que Nietzsche denominou de “pequena política”; c) Rousseau é a instrumentalização teórica ou a lógica da Revolução Francesa; e, finalmente, d) a figura do legislador de Rousseau é, para Nietzsche, a imagem do melhorador por excelência da humanidade. Enfim, Rousseau é o principal interlocutor de Nietzsche para compreender a crítica à modernidade política visto ser a expressão mais direta do diagnóstico da modernidade entendida como décadence.
JULIANA DE BARROS CEREZUELA (Mestranda em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Londrina)
O Discurso sobre a Desigualdade e o Contrato
Social: continuidade e contexto
A questão da continuidade no pensamento de Rousseau e a conexão entre suas obras e o contexto histórico são dois dos vários pontos polêmicos que envolvem as interpretações de seus trabalhos, pois Rousseau viveu quase todo o período do século XVIII. Em seus escritos políticos, Rousseau tinha como objetivo principal emancipar o indivíduo da corrupção nele gerada pela vida civilizada e dos conflitos e incertezas de uma sociedade que ele enxergava como opressora. Quando abordamos as questões da continuidade e do contexto nos escritos de Rousseau, podemos observar que ambas se encontram articuladas em seu pensamento. Um exemplo do movimento entre continuidade e contexto pode ser observada na leitura de duas obras: o Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens (1755) e o Contrato Social (1762). No Discurso, Rousseau demonstrará que o estado de desigualdade e de opressão, que advinha do estabelecimento de um pacto enganoso, garantia a usurpação dos ricos e, ao longo do seu desenvolvimento, terminava por submeter a todos ao estado de “senhor e escravo”. Esta situação de senhor e escravo ele identifica aos absolutismos e aos “despotismos esclarecidos”, ou seja, à desigualdade que ele vê nas sociedades européias de seu tempo. Para ele, contudo, não bastava ter declarado a desigualdade: ele irá propor, mais tarde, a solução para resolver este problema: o Contrato Social. O Contrato Social surge como uma resposta para os sintomas declarados no Discurso. No Contrato Social, Rousseau propõe um modelo de formação social e política no qual a liberdade e a igualdade se articulam sob a garantia de um pacto legítimo, porque estava fundado no interesse comum que emana da vontade geral ou “da vontade de todos reunida”. A partir desta leitura, parece-nos possível afirmar que a teoria política de Rousseau, além de possuir uma continuidade temática, abarca os principais problemas éticos e políticos de sua época.
KAREN KAZUE KAWANA (Doutoranda em Filosofia, IFCH-Unicamp)
Sobre como somos, fomos e voltaremos a ser virtuosos
Esta comunicação trata da importância dada à virtude, à necessidade do homem ser virtuoso, quando a idéia de que a ordem do universo seria garantida por uma divindade começa a entrar em colapso. Neste cenário, discute-se se a virtude seria inata, adquirida e se poderia ser ensinada; afinal, se Deus não a garante, cabe ao ser humano zelar por ela. Locke acredita que é possível educar uma criança de modo a torná-la virtuosa e escreve seu tratado pedagógico baseado na crença de que nasceríamos como folhas em branco ou massas esperando serem moldadas; idéia que nos permite discorrer sobre como a criança e os povos selvagens são vistos como seres inocentes que podem ser corrompidos e sobre o mito de uma idade de ouro ou estado de natureza ideal aos quais muitos pensadores recorrem para denunciar a corrupção do europeu. Rousseau é um bom exemplo disso; ele acredita que a natureza predisporia o ser humano à bondade, pois, ao contrário da folha em branco de Locke, ele já possuiria os sentimentos inatos necessários para distinguir o bem do mal. O estado de corrupção da sociedade mostra que houve um desvio e a natureza original do ser humano foi deturpada, mas poderia ser corrigida por meio de uma educação correta. Enfim, Locke e Rousseau, cada um à sua maneira, acreditam na educação como um instrumento para tornar as pessoas melhores.
KARIN VOLOBUEF (Letras Modernas, FCL-UNESP, Araraquara)
Rousseau e os contos de fadas franceses
A partir de 1690 (com A Ilha da Felicidade, de Mme. d’Aulnoy), durante o reinado de Louis XIV, teve início um momento grande produção de contos de fadas na França, que se estende até a época da Revolução Francesa. Em uma primeira etapa, representada pelas publicações de Mme. d’Aulnoy, Mlle. Lhéritier de Villandon e Charles Perrault, a produção caracteriza-se pela proximidade (nos enredos, personagens, etc.) dos contos populares, predominância da autoria feminina e a veiculação nos salões literários. Em um segundo momento, em que se inserem as narrativas de Mme. de Villeneuve e Mme. LePrince de Beaumont, mas também de Rousseau e Voltaire, os contos revelam maior variedade temática e estilística, acentuando-se o caráter irônico e satírico. Esses traços marcam o conto de fadas La Reine Fantasque (1754), em que Rousseau elabora uma zombeteira crítica à monarquia e à Corte francesas, agora já sob a batuta de Louis XV. Analisar os elementos críticos desse conto de fadas é o objetivo da presente comunicação.
LUIZ FELIPE NETTO A. S. SAHD (Filosofia, Universidade Federal de Uberlândia)
Rousseau: a transformação da espécie, o argumento
histórico e a contradição do sistema social
Jean-Jacques Rousseau foi um dos primeiros autores a tomar consciência do caráter marcantemente “histórico” do ser humano, da extrema maleabilidade de sua natureza no curso do tempo. Os pensadores clássicos tendiam a considerar a natureza fundamental do homem como dada e imutável – mesmo se a forma e o grau de seu desenvolvimento pudessem variar com as circunstâncias. Foi John Locke quem dirigiu o ataque mais célebre a esta concepção, defendendo que só o desejo elementar de prazer e a aversão elementar à dor são inatas, e que todo o resto da “natureza” humana foi adquirido pela associação ou hábito. O individualismo teórico de Locke – em virtude do qual ele concebe o espírito como um feixe de idéias discretas e a sociedade como uma reunião de indivíduos independentes – leva-o a compreender a maleabilidade humana como a simples capacidade de adquirir diversas idéias ou inclinações particulares, resultantes das experiências que o homem pode fazer em determinada ocasião. Para Rousseau, entretanto, o espírito e o caráter do homem são constituídos sob certas formas dominantes, a partir de estruturas de ordem conceitual e pessoal que tendem a ser trabalhadas pela forma dominante do meio social. Nesta perspectiva, Rousseau interpreta a maleabilidade humana de modo bem mais radical que Locke, pois ele pensa que as diversas estruturas econômicas, sociais e políticas produzem seres humanos com estilos de vida e modos de consciência fundamentalmente diversos. Eis aí, diferentemente de Locke, a conclusão revolucionária do genebrino: o gênero humano dos primórdios da civilização não é o gênero humano da atualidade. Em suma, Rousseau é um dos primeiros a descobrir a “história”. E, por isso, ele vem a ser igualmente o primeiro a tornar possível e aproveitável a hipótese segundo a qual a espécie humana tal como nós a conhecemos no presente, com sua maldade manifesta e universal, conheceu uma transformação total em relação à sua forma de origem.
MANOEL DIONIZIO NETO (Educação, Universidade Federal de Campina Grande)
A ética no Primeiro
Discurso de Rousseau
Rousseau foi enfático ao responder à questão proposta pela Academia de Dijon, ao afirmar que as ciências e as artes não contribuíram para o melhoramento dos costumes. Por trás desta resposta estava a sua preocupação com a moralidade humana, quando via os homens cada vez mais se desviando da virtude, que ele se propunha a defender perante os homens virtuosos. Não se tratava, pois, de condenar a ciência, mas de reconhecer a maravilha que ela representava, porém sem esquecer a necessidade dos homens conhecerem a si mesmos, atentando para a necessidade de se afastarem dos vícios, substituindo-os pelas virtudes como garantia para a moralidade dos homens. Melhorar-se-ia, assim, os costumes; mas isto não havia sido feito por quem se encantou com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, estando ofuscado pelas luzes da razão. Rousseau imprimiu, assim, em seu Discurso, sua visão ética a respeito do que significava o encantamento humano diante das realizações das ciências e das artes. Com essa visão ética, procurou responder como seria possível conciliar o desprezo pelos estudos e o respeito pelos sábios. Tratava-se de reconhecer a grandeza da ciência sem esquecer a ignorância dos homens sobre eles mesmos, no momento em que as ciências e as artes floresciam cada vez mais, ao passo que a corrupção humana avançava em grandes proporções, tornando-se o ser humano escravo de si mesmo. Deste modo, a pretexto de falar das ciências e das artes, Rousseau propõe uma outra discussão: a questão ética deveria vir à tona no momento em que tanto se divinizava a razão. Não seria possível falar desta sem refletir sobre as ciências e as artes. Mas, ao trazer para a discussão a necessidade de reflexão sobre as virtudes esquecidas pelos homens das ciências e das letras, estava também colocando em questão o Iluminismo, tornando-se assim Rousseau o primeiro crítico da Modernidade, sendo ele um iluminista e, portanto, um filósofo moderno preocupado com a moralidade humana.
MARIA VALDEREZ DE C. NEGREIROS (Filosofia, FCL-UNESP, Araraquara)
O tema da paz no pensamento de Rousseau
Rousseau escreve a respeito do tema da paz de maneira paradoxal, diretamente no Jugements sur le Projet de Paix Perpétuelle de l'Abbé de Saint-Pierre e indiretamente na Primeira Parte do Discours sur l'Origine et les Fondemens de l'Inegalité parmi les Hommes. Nos Jugements, elabora uma análise política, crítica e irônica da idéia de paz mostrando a impossibilidade de propor uma paz perpétua numa Confederação entre os Estados europeus, tendo em vista uma forma peculiar de soberania política e de natureza do governo. No Discours, a idéia da paz característica do estado de natureza é um método hipotético de interpretação, não sendo nem paradigma nem explicação para a origem da sociedade civil e a constituição do Estado. Nossa análise compreenderá os desdobramentos críticos que a temática da paz representa no pensamento político e filosófico de Rousseau.
MARISA ALVES VENTO (Mestranda em Filosofia, Universidade Federal de Goiás)
Platão, Rousseau e a comunidade política ideal
A partir dos objetivos da República e do Contrato Social, levantaremos a proposição de um modelo de sociedade cuja pretensão de reconstrução política é uma tentativa de salvar o homem do caos e da anarquia. Indagaremos se, em seu ideal de reformar a sociedade, Rousseau não tende a recorrer às Leis e à República de Platão, obras que concentram as idéias referentes ao Estado ideal. A nossa fala terá como objetivo levantar os pontos comuns entre J.-J. Rousseau e Platão, na tentativa de demonstrar que existe um núcleo de valores comuns às duas sociedades: a idéia de uma estrutura unitária, centralizada, coletivizada, baseada em indivíduos que reconhecem e se submetem a uma “ordem harmoniosa” que concentra valores eternos e imutáveis. Serão analisadas, no Contrato Social, as características próprias do gênero utópico, cujo estilo romanesco e retórico apresenta como construção social um estado ideal imaginário, onde os seres, produtos de uma “pedagogia determinista”, perdem sua individualidade e se tornam partes constituintes de um Todo homogêneo. Se a vontade geral é o princípio que dita a ordem harmoniosa da sociedade do contrato, até que ponto podemos afirmar que esta teoria de Rousseau assemelha-se a uma idéia platônica? Questões desse tipo serão levantadas com o objetivo de apontar elementos coincidentes entre o genebrino e Platão. Para tanto, será necessário uma avaliação da extensão das possíveis influências, que vão desde a questão do retorno à natureza à estreita relação entre os vínculos da ética e da política.
NEIVA AFONSO OLIVEIRA (Universidade Católica de Pelotas)
GOMERCINDO GHIGGI (Universidade Federal de Pelotas)
AVELINO DA ROSA OLIVEIRA (Universidade Federal de Pelotas)
A formação pela experiência e a autoridade da vontade
geral, conceitos que dialogam na pedagogia política de Rousseau
O trabalho tem dois eixos principais, articulados entre si: em primeiro lugar, apresenta Emílio e Do Contrato Social como obras pedagógicas de Rousseau; em seguida, mostra a utilização que o autor faz de conceitos como experiência, liberdade e vontade geral, enquanto categorias que dão sustentação a esta pedagogia política. No desenvolvimento da primeira linha de reflexão, afirma-se que o próprio fato do Contrato Social estar contido no Emílio indica a vontade instrutora do autor de ensinar as regras básicas para que o cidadão insira-se na sociedade. O Contrato Social visa instruir: Rousseau instrui-se através dele, instrui também Emílio e, ainda, todo cidadão. A que objetiva, portanto, a pedagogia do Contrato Social, ou conforme esclarece seu subtítulo “Princípios do direito político”? A expressão “direito político” significa, em Rousseau, o estudo das leis que regulam, no corpo político, as relações entre o poder e os cidadãos. O que se pode esperar, então, de uma obra“pedagógica” intitulada Do Contrato Social e que tem por subtítulo “Princípios do direito político”? Pode-se esperar que ela nos instrua a respeito do princípio da sociedade (o contrato) e, do ponto de vista regulativo, das relações entre o poder e os cidadãos. A questão pedagógica por excelência é a explicitação da natureza do poder político: que princípios conferem estatuto de legitimidade ao poder político? A resposta encontra-se no Contrato, onde se encontram princípios que fundamentam a legitimidade do poder. De que modo, pois, desenvolve-se a pedagogia do Contrato? Tomando os homens como são e as leis como podem ser. No segundo eixo temático, afirma-se que há em Rousseau uma intencionalidade educativa onde a relação entre liberdade e autoridade é uma das tensões que ocorre para recuperar o homem primitivo e natural e pensá-lo em sua relação social. Da concepção de natureza humana exposta em sua exterioridade, Rousseau extrai o critério de construção do essencial no humano, o que tem valor permanente e substantivo, que é necessário. É essencial pensar o humanismo para compreender a natureza humana. Os homens têm a comum vocação à humanidade. Nesta perspectiva de formação e educação há um elemento que se destaca sem o que o homem perde a dimensão que o distingue: a liberdade, não ilimitada, mas regulada pela necessidade, por condições naturais e por obediências sociais, estabelecidas por contrato.
Rousseau e as razões especiosas como legitimadoras da
desigualdade política
PATRÍCIA DA SILVA FERREIRA (Graduanda em Filosofia, Universidade Federal de Pelotas)
(comunicação inscrita mas não apresentada)
PEDRO PAULO DA COSTA CORÔA (Filosofia, Universidade Federal do Pará)
Natureza e cultura humana: um problema comum a Rousseau e
a Nietzsche
Nosso objetivo é expor algumas idéias acerca da compreensão do fenômeno moral e sua relação com questões de ordem teórica e estética em Rousseau e em Nietzsche. Apesar das diferenças observadas nos rumos que tomaram suas obras, o fato da questão relativa à moralização ou corrupção do homem ocupar o centro de suas reflexões nos permite buscar nexos comuns – e talvez até argumentos comuns – entre esses personagens aparentemente inconciliáveis da Filosofia Moderna.
RENATO MOSCATELI (Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá)
A querela entre Rousseau e Voltaire sobre o significado
da civilização
O objetivo desta comunicação é abordar alguns aspectos do debate entre Rousseau e Voltaire a respeito de temas tais como a civilização e o progresso. Para tanto, ter-se-á como guia principal a discussão de dois textos em que os autores expuseram suas concepções sobre esses assuntos: o Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, obra rousseauniana publicada em 1755, e a carta escrita por Voltaire a Rousseau nesse mesmo ano, em resposta ao exemplar do Discurso que lhe fora enviado. Nessa carta, que sintetiza os princípios por meio dos quais Voltaire julgava a história humana, toda a ironia do autor volta-se contra a análise que o filósofo genebrino fizera dos males advindos dos avanços da civilização, ou melhor dizendo, ela se incumbe da tarefa de ridicularizar as idéias de Rousseau a partir de uma interpretação deliberadamente distorcida – uma verdadeira caricatura – que Voltaire fez do Discurso. Entretanto, levando as reflexões de Rousseau mais a sério do que a caricatura desenhada por Voltaire poderia permitir, é possível ver que as conseqüências de sua apologia à natureza nada têm a ver com um suposto retorno do homem civilizado à animalidade. Antecipando críticas à sua obra, como as que foram feitas por Voltaire, Rousseau havia inserido no Segundo Discurso elementos que deveriam refutar previamente todas elas, o que permite realizar um confronto bastante interessante entre os posicionamentos intelectuais desses dois expoentes do Iluminismo.
RODRIGO BRANDÃO (Doutorando em Filosofia, FFLCH-USP, professor da Universidade Federal do Paraná)
Unde malum? Rousseau e a origem do mal
Há duzentos e cinqüenta anos um terremoto assolou Lisboa e matou milhares de pessoas, tornando-se um dos marcos do debate sobre a questão do mal e das querelas acerca do otimismo filosófico em voga na primeira metade do século XVIII – resultado tanto da divulgação do pensamento de Leibniz quanto daquela perspectiva apresentada pelo poema de Alexander Pope. O evento por si próprio não seria um abalo às filosofias de Leibniz e Pope, caso Voltaire não tivesse encontrado nele a oportunidade de iniciar sua condenação do otimismo filosófico, com a publicação de seu Poema sobre o Desastre de Lisboa. Alguns meses depois, Rousseau envia a Voltaire uma carta, que posteriormente seria publicada como Carta sobre a Providência, em que defende o otimismo e propõe uma nova apreciação do problema. A presente comunicação tem por objetivo analisar a Carta sobre a Providência de Rousseau, considerando principalmente sua defesa da providência e sua proposta de novo tratamento da questão do mal. Seguindo a carta seminal do genebrino, será possível observar como ele, após defender os principais artigos do otimismo, desvia o foco da questão conferindo-lhe novo significado e amplitude. É a partir da constatação da existência do mal no mundo, a despeito da irrealidade do mal metafísico (geral), e da antropologização da perspectivas sobre ele, que Rousseau será encaminhado à história e à política em sua crítica a Voltaire.
SIDNEY BARBOSA (Letras Modernas, FCL-UNESP, Araraquara)
Autobiografia e literaturaem Les Rêveries du Promeneur
Solitaire
THIAGO MOTA FONTENELE E SILVA (Mestrando em Filosofia, Universidade Federal do Ceará)
O problema da legitimidade nos pensamentos políticos de
Rousseau e de Nietzsche
No presente trabalho realiza-se uma abordagem preliminar do problema da legitimidade em Rousseau e Nietzsche. Para tanto, efetuaremos uma leitura comparativa de Do Contrato Social e da Genealogia da Moral, com aporte nos comentários de Ansell-Pearson em Nietzsche contra Rousseau. De modo geral, pode-se dizer que ambos os filósofos articulam suas reflexões políticas com base em concepções antropológicas. Rousseau parte da idéia de que a sociedade corrompe o homem, para concebê-lo na bondade originária do estado de natureza. Propõe, portanto, um retorno às origens, onde o homem seria vislumbrado independentemente de sua deturpação pela sociedade. Rousseau desenvolve, então, uma crítica ao Estado que gira em torno da exigência de legitimidade da constituição e do exercício do poder político. Introduz-se a exigência de o poder se legitimar de acordo com certos critérios. O cerne da filosofia política seria estabelecer os critérios de legitimidade do poder. Em Rousseau, o poder se legitima na medida em que se vincula a um contrato social válido, isto é, um pacto livremente firmado entre homens autônomos e que seja expressão da vontade geral. Ora, o paradoxo em se incorre dessa maneira – do qual o próprio Rousseau tinha consciência – é o da exigência, no momento da instauração do pacto, de homens tais como somente seriam possíveis depois que o pacto se houvesse estabelecido. Crítico de Rousseau, Nietzsche elabora, com base na genealogia, uma perspectiva antropológica que mantém o elogio ao selvagem, concebendo-o, porém, de maneira distinta. Em Nietzsche, o homem dos primórdios é o animal de rapina marcado pela violência e pelo exercício da força como força. Esse homem, que estaria nas raízes do Estado, merece, devido à sua potência criadora, a despeito de sua crueldade, o elogio de Nietzsche. Assim, a antropologia rousseauniana é desqualificada como uma espécie de utopia nostálgica, na qual o além redentor da humanidade é um passado edênico. Dessa crítica a Rousseau decorre a destituição nietzschiana do problema da legitimidade como questão par excellence do pensamento político. A genealogia revela impossibilidade de legitimação racional do poder, na medida em que identifica, nos critérios de legitimidade, artifícios de dissimulação do exercício do poder. Em lugar do Estado racionalmente legitimado, Nietzsche propõe uma tirania aristocrática como regime apto à auto-superação do homem. Demolida a pretensão rousseauniana de um poder legítimo, resta saber se é aceitável no presente – que se baseia em grande parte nos ideais de liberdade e igualdade – o aristocratismo nietzschiano.
THOMAZ MASSADI TEIXEIRA KAWAUCHE (Mestrando em Filosofia, FFLCH-USP)
Meu objetivo neste trabalho é discutir a presença do tema da religião na leitura que Jean Starobinski faz do Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, de Jean-Jacques Rousseau. Pretendo mostrar que a análise de Starobinski consiste não apenas em identificar analogias entre elementos filosóficos do texto de Rousseau e elementos teológicos da narrativa bíblica, mas antes, em mostrar que o texto de Rousseau aponta para um problema clássico da retórica, a saber, o da comunicação entre Rousseau e os destinatários de seu discurso. Em minha análise, desejo explicitar que o tema da religião aparece no Discurso, para Starobinski, não tanto pelo pressuposto da unidade entre vida (devota) e obra (filosófica) do Cidadão de Genebra, mas muito mais por uma questão de retórica, uma vez que a vastidão do auditório de Rousseau, composto em última instância por toda a humanidade, exige do orador uma persuasão universal, ou seja, divina.
WASHINGTON L. MARTINS DA SILVA (Filosofia, Universidade Federal de Pernambuco)
Rousseau e os conflitos pós-modernos
(comunicação inscrita mas não apresentada)
Se para Rousseau é na razão do homem natural que se encontra a gênese da razão social, o governante (legislador), antes de instituir as leis, deve examinar o povo para ver se ele está apto para elas; método que, numa sociedade de massas, basicamente de consumidores, pode ser chamado de “pesquisa de opinião”. Deve observar também que toda lei deve responder à verdadeira natureza do povo a que governa, buscando a paz e a abundância entre todos. Rousseau pensa um estado natural onde impera a abundância, visto que os selvagens não lutam entre si para sobreviverem. Esse conceito é transportado por Rousseau ao estado social e tem, sem dúvida, sua utilidade na eliminação dos conflitos da escassez, que, a nosso ver, na sociedade contemporânea, têm suas controvérsias em questões como as dos movimentos de reforma agrária (propriedade comunal), da crise do trabalho (inclusão social) e livre oferta do mercado globalizado (abundância). Nosso enfoque será refletir os limites do pensamento rousseauniano nessas questões.
WILFRIDO EDESMIN PALACIOS PAREDES (Mestrando em Filosofia, FFLCH-USP)
El dilema de
la libertad e igualdad del hombre según J. J. Rousseau
< Página do II Colóquio Rousseau