A Crítica de Hume ao Argumento do
Desígnio
José Oscar de Almeida Marques
Dep. de Filosofia – UNICAMP
RESUMO: É comum considerar que o chamado “argumento
do desígnio” (o argumento a posteriori para provar a existência de Deus a
partir da ordem e funcionalidade do mundo) teria sido refutado ou seriamente
abalado por Hume. Mas a natureza e o alcance dessa alegada refutação são
problemáticos, pois Hume muitas vezes expressou suas críticas através de seus
personagens e evitou assumi-las diretamente enquanto autor. Em vez de supor
que Hume procedeu dessa forma apenas para disfarçar suas verdadeiras
convicções e evitar um conflito com as autoridades eclesiásticas, proponho
que sua posição nesse assunto não é tão categórica como às vezes se supõe, e
que os famosos argumentos de Filo nos Diálogos mostram apenas que é
possível que a ordem e funcionalidade do mundo tenham surgido sem a
intervenção de um desígnio consciente, mas não podem por si sós dar a essa
hipótese o mínimo grau de plausibilidade necessário para torná-la digna de
uma séria consideração. De fato, antes da revolução explicativa operada por
Darwin um século depois, ninguém estava realmente em condições de vislumbrar
uma alternativa plausível à atuação de algum tipo de inteligência na geração
da ordem e funcionalidade do mundo.
Palavras-chave: Hume – Argumento do desígnio
– Religião natural – Darwin – Evolucionismo.
Texto completo (PDF)