Música e Filosofia

Disciplina de Pós-Graduação na UNESP-Marília

Organização: Prof. Dr. Ubirajara Rancan de Azevedo Marques

 

Módulo: Harmonia e Filosofia de Pitágoras a Rameau

Prof. Dr. José Oscar de Almeida Marques - IFCH-UNICAMP

EMENTA

A noção musical de harmonia, entendida como a combinação  ou justaposição concordante de sons de diferentes alturas, constitui um permanente assunto de interesse para filósofos e cientistas, e o objetivo deste módulo é examinar  as bases e as implicações filosóficas dessa noção em três momentos do pensamento ocidental. A exposição dirige-se a um público com interesse filosófico e não pressupõe nenhum conhecimento musical.

1) Na Antigüidade, Pitágoras (c. 570-c. 495 BC) propôs a primeira teoria da consonância, baseada nas relações numéricas entre os comprimentos de cordas que produzem os diversos intervalos musicais. Para isso, Pitágoras dividiu a corda vibrante em 2, 3 e 4 partes, e chegou às proporções numéricas simples que definem a oitava (2:1), a quinta (3:2) e a quarta (4:3).

2) Ao final da Idade Média a prática musical havia já adotado as terças e sextas como intervalos consonantes, e Zarlino (1517-1590) para dar conta dessa modificação, estendeu o sistema de Pitágoras dividindo adicionalmente a corda em 5 e 6 partes, obtendo com isso relações numéricas simples para a terça maior (5:4), a terça menor (6:5), a sexta menor (5:3) e a sexta maior (8:5). Mas há sérias dificuldades teóricas para explicar porque a divisão da corda em 7 partes não produz consonâncias, e esse problema atraiu a atenção de pensadores como Descartes, Galileu, Kepler e Newton.

3) No início do século XVIII, já na era da ciência moderna, coube a Jean-Philippe Rameau (1683-1764)  propor uma nova teoria da consonância a partir das descobertas de Couvier (1701) sobre os sons harmônicos presentes nas vibrações dos corpos físicos. Afastando-se das especulações matemático-metafísicas dos séculos passados, Rameau funda sua teoria da harmonia solidamente em bases físicas, buscando derivar todos os seus princípios a partir de causas naturais. Sua posição na história da teoria musical corresponde, assim, exatamente à dos novos filósofos-cientistas que inauguram a era da filosofia moderna.