II Encontro Hume
– UFPR, Curitiba, 19 a 21 de maio de 2010 José Oscar de Almeida
Marques RESUMO: Ao iniciar, no Tratado sobre a Natureza Humana, seu
exame da relação de causa e efeito e, em especial, da idéia de conexão
necessária que tomamos como constituinte essencial dessa relação, Hume
identificou duas questões preliminares que deveriam nortear sua pesquisa: (1)
Por que razão consideramos necessário
que cada coisa que começa a existir tenha uma causa e (2) por que concluímos que tais e tais causas
particulares devam necessariamente ter tais e tais efeitos particulares?
(1.3.2, 14-15) Hume nota que nossa crença nessas proposições não pode
resultar de uma apreensão intuitiva de sua verdade, nem de um raciocínio que
as estabelecesse de forma demonstrativa. Em especial com relação à primeira
proposição, Hume examina e rejeita alguns argumentos de Locke, Hobbes e
Clarke que visavam demonstrá-la e propõe, por exclusão, que a crença que nela
depositamos só pode ter origem na experiência. De forma um pouco
surpreendente, porém, Hume não se põe em seguida a mostrar como essa
derivação da experiência poderia ser
feita, mas propõe passar diretamente ao exame da segunda proposição,
afirmando que “talvez, ao final, a mesma resposta servirá para as duas
questões” (1.3.3, 9). A resposta de Hume à segunda questão é bem
conhecida, mas a primeira questão jamais é respondida no restante do texto do
Tratado, e é mesmo duvidoso que
pudesse sê-lo, o que explicaria por que Hume optou simplesmente por suprimir
qualquer menção a ela quando recompilou suas teses sobre a causalidade na Investigação sobre o Entendimento Humano. Diante dessa situação, uma interessante
questão que se apresenta é investigar as relações de implicação lógica ou
conceitual entre essas duas proposições. Hume parece ter pensado que uma
resposta a (2) seria suficiente para prover uma resposta também a (1). Henry
Allison, por sua vez, argumenta (em Custom
and Reason in Hume, p. 94-97) que as duas questões são logicamente
independentes. Minha proposta, neste trabalho, é tentar mostrar que há, de
fato, uma dependência lógica entre elas, mas a implicação é, antes, de (1)
para (2). Se aceito, este resultado poderá ser particularmente interessante
para uma interpretação do alcance da chamada “resposta de Kant a
Hume” na Segunda Analogia da Experiência, que se articula como uma
prova do caráter a priori de (1), mas cujas implicações quanto a (2)
permanecem objeto de controvérsia. |