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>>ENERGIA
O
futuro energético
Especialistas brasileiros e estrangeiros,
reunidos por três dias na Unicamp,
discutem a produção de energia nos próximos
20 anos
Carlos Tidei
Ampliar
a oferta de energia, promovendo o desenvolvimento com impacto
ambiental reduzido e preservando as fontes energéticas,
é o maior desafio das comunidades científicas
na atualidade. O conceito de energia alternativa, intensamente
investigada no século passado, hoje é sinônimo
de energia renovável.
De
acordo com especialistas brasileiros e internacionais reunidos
de 18 a 20 de fevereiro na Unicamp, durante a conferência
Sustentabilidade na geração e uso de energia
no Brasil: os próximos 20 anos, não há
projeção de futuro energético para a humanidade
sem se considerar fontes como as do vento, da luz e do calor
solar, da biomassa e até do movimento das marés.
Fontes inesgotáveis ou renováveis, que garantam
a preservação ambiental, em contraponto com a
atual prioridade dada ao petróleo, carvão e gás.
As
dificuldades esbarram na viabilidade econômica desses
sistemas frente aos preços dos combustíveis fósseis.
Mas os avanços da tecnologia revelam que este caminho
é irreversível, embora não esteja sendo
trilhado com a velocidade que desejam muitos cientistas preocupados
com o aumento da poluição mundial. Uma maior eficiência
na produção e uso de fontes de energia tradicionais
têm ajudado a amenizar os impactos ambientais.
Segundo
José Goldemberg, secretário do Meio Ambiente de
São Paulo, sustentabilidade é o tipo de desenvolvimento
que permite atender às necessidades das gerações
presentes sem comprometer as oportunidades das gerações
futuras. Afirma que os sistemas de energia são complicados
justamente porque implicam impactos ambientais. Estudos revelam
que os combustíveis fósseis não sofrem
crise iminente de esgotamento, embora as fontes fiquem longe
dos locais de consumo.
As energias renováveis são atraentes, mas ainda
caras.
Somente
agora o preço do etanol está se equiparando ao
da gasolina. Entre as providências necessárias
estão o uso mais eficiente dos automóveis, com
redução de consumo e de emissão de gases,
a implantação de energias renováveis e
a pesquisa de novas tecnologias. Os problemas sociais
dos países desenvolvidos e em desenvolvimento são
diferentes. No mundo todo, 2 bilhões de pessoas não
têm acesso a energia elétrica e 1,5 bilhão
vivem com menos de um dólar por dia, informa Goldemberg.
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O
potencial hidráulico
O aproveitamento
do potencial hidráulico pode ser melhorado por meio da
gestão, que atualmente é feita por bacias hidrográficas,
levando em conta a administração conjunta da sociedade.
A opinião é do pesquisador Marco Aurélio
Vasconcelos Freitas, da Agência Nacional de Águas
(ANA).
Embora pareça
abundante no mundo, a distribuição de água
está na seguinte proporção: 97,5% de água
salgada e 2,5% de água doce. Da água doce, 76,7%
estão em geleiras, 22,1% em lençóis subterrâneos
e apenas 1,2% na superfície. Esta é a razão
da escassez de água em muitos grandes centros, como São
Paulo. A energia hidráulica no mundo representa apenas
2,3% do total.
O Brasil
possui quase 20% da água do planeta e 11,1% da produção
hidrelétrica do mundo, com tendência de ser o maior
produtor nos próximos 10 anos, caso mantenha o crescimento
anual de 4,41%, superior ao de Estados Unidos e Canadá,
maiores produtores atuais. O potencial hidráulico brasileiro
é de 260 GW, mas apenas 24% são aproveitados.
Dos 76% não aproveitados, 52% correspondem à região
amazônica.
A perspectiva
de sustentabilidade prevê uso múltiplo da água
e melhor aproveitamento das áreas de entorno das represas,
como por exemplo, a exploração do turismo em Furnas.
As maiores restrições são as grandes áreas
de inundações, mas os conflitos podem ser administrados
pelas vantagens da agricultura, irrigação, transporte
por hidrovias, abastecimento humano, lazer e fronteiras de enchentes
e cheias. No Brasil, 95% da energia é hidrelétrica
e, em dez anos, esta será de apenas 81% o restante
virá de termoelétricas e outras fontes.
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A
questão do gerenciamento
Sérgio
Valdir Bajay, professor da Unicamp e atuante no Ministério
das Minas e Energia, afirma que o governo procura fazer sua
parte, com um melhor gerenciamento do sistema. Explica que o
Plano Decenal de Gestão de Energia faz projeções
de crescimento do gás na matriz energética brasileira.
Existem dificuldades de coordenação entre as três
formas de gerenciamento política pública,
planejamento da expansão e regulação de
mercado -, até então administradas por diferentes
órgãos. Um novo modelo está em curso, estimulando
a competição e investimentos privados, com a valorização
da regulação entre as formas.
Os
planos decenais são elaborados em ciclos anuais, com
necessidades de estudos para segmentos do setor gás,
carvão, biomassa, energia eólica, etc.
e para dar subsídios ao MME e CNE, mas não estão
devidamente aparelhados para um bom planejamento de expansão.
Hoje se utiliza um instrumento singelo, o modelo computacional
New Wave,que simula 2.000 níveis sintéticos de
energia efluentes, e projeta cenários de crescimento
entre 5,5% e 6,3% ao ano, explica Bajay.
A
integração econômica entre os países
vizinhos, e os baixos preços dos campos brasileiros,
principalmente o de Campos, proporcionarão um crescimento
do uso de gás natural como fonte de energia, na proporção
de 38 milhões de metros cúbicos por dia em 2001
para 60 milhões em 2005. Apesar de expressivo, o aumento
não será capaz de suprir a demanda na década.
Pela oferta atual, o Brasil responde por 61% do fornecimento
e a Bolívia por 39%; em 2005, a Argentina entrará
com 10% e o Brasil com 51%, mantendo-se o percentual da Bolívia.
O uso predominante do gás dentro de três anos será
para produção de eletricidade.
Para
Gilberto Januzzi, da Unicamp e do MCT, a eficiência no
uso final da energia aumenta a confiabilidade, reduz a necessidade
de investimentos, reduz impactos ambientais, aumenta o acesso
dos consumidores e reduz os custos. O comportamento do consumidor
no período do racionamento despertou para o melhor uso
de equipamentos. Nos anos 70, o mercado investiu na construção
de energia farta e barata. Em 1990, um projeto de lei determinou
investimentos elevados em conservação de energia,
o que trouxe benefícios econômicos. Os investimentos
em curso foram acelerados por conta da crise.
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