Os debates em torno das questões relativas à educação não-formal, como sua importância, alcance e modelo, entre outras, acabam de ganhar uma importante contribuição com o lançamento do livro
Educação Não-formal Contextos, percursos e sujeitos, organizado por Margareth Brandini Park e Renata Sieiro Fernandes, pedagogas e pesquisadoras do Grupo de Estudos em Memória, Educação e Cultura (Gemec), vinculado à Faculdade de Educação (FE) e ao Centro de Memória da Unicamp (CMU). A obra, produzida pela editora Setembro, reúne 22 artigos de 46 autores, todos intimamente ligados ao tema, seja por meio de trabalhos práticos, seja por intermédio de reflexões. Uma das novidades da publicação é um capítulo composto unicamente por charges, todas de Dálcio Machado, chargista do
Jornal do Brasil e
Correio Popular.
Os textos que compõem o livro, conforme as organizadoras, abordam diversos aspectos relativos à educação não-formal. Elaborados por profissionais de variadas áreas, eles trazem como proposta o exercício de um novo olhar sobre as práticas educacionais do terceiro setor. Esta visão inovadora, defendem, deve ser mais ampla e menos comprometida com adjetivações. “A meta deve ser a busca por uma educação integral e integrada, que contemple espaços e experiências diversificadas e autônomas”, afirma Margareth Park. De acordo com ela, os capítulos tratam de experiências ocorridas em diferentes estados e países, mas a maioria refere-se a Campinas, cidade que só perde para as grandes capitais no que toca ao número de instituições que se dedicam à educação não-formal.
Dados da Prefeitura indicam que o município tem 174 entidades credenciadas que atuam na área assistencial. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta, entretanto, que Campinas conta com 1.640 organizações não-governamentais (ONGs), cujos projetos, programas e ações movimentam perto de R$ 50 milhões ao ano. A despeito desse aparente vigor, a educação não-formal enfrenta dificuldades na cidade, bem como no restante do país. Por ser uma prática nova no Brasil, ela tem sido construída aos poucos, muitas vezes à base da tentativa e erro. Uma das questões a serem superadas, destacam as pesquisadoras do Gemec, é a oposição simplista entre educação formal e não-formal. A segunda não tenta substituir ou mesmo complementar a primeira, embora muitas vezes compartilhe com esta as mesmas terminologias, como aula, professor, tarefa, aluno, recreio etc. “Isso é próprio de um campo educacional nascente”, explica Renata Fernandes.
Para Margareth Park, apesar de constituírem âmbitos distintos, a educação não-formal pode contribuir com a formal e vice-versa. “As entidades assistenciais têm uma boa experiência em relação à disciplina, por exemplo. De modo geral, elas têm mais sensibilidade para tratar de alguns problemas, notadamente o da violência. Na escola formal, a abordagem é muito punitiva em relação a esse assunto. Por outro lado, a escola foi e continua sendo um centro de referência dentro da comunidade e tem um repertório interessante a oferecer. Assim, ela pode disponibilizar espaços para que as pessoas circulem, convivam e partilhem vivências”.
Um ponto importante assinalado pelas organizadoras do livro é o risco de a educação não-formal ser encarada como uma alternativa barata para assistir os pobres, em decorrência da crise vivida pelo ensino público. Não se trata disso absolutamente, afirmam. Embora no Brasil a educação fora da escola esteja marcadamente voltada ao atendimento das comunidades periféricas, no restante do mundo o conceito é mais abrangente. “Na nossa visão, a educação formal deve ser mantida pelo Estado e precisa estar revestida de qualidade, gratuidade e laicidade. À educação não-formal cabe trabalhar com outros conteúdos, conhecimentos e habilidades, de modo a contribuir para a formação e emancipação das pessoas”, diz Renata Fernandes.
SERVIÇO:
“Educação Não-formal Contextos, percursos e sujeitos”
Editora: Setembro
Formato:15 x 21 cm
Páginas: 448
Preço de capa: R$ 52,00