O isolamento das agliconas de soja foi possível graças às pesquisas desenvolvidas pelo professor Yong Kun Park no Laboratório de Bioquímica de Alimentos, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, e que deram origem a duas patentes. A primeira descreve o processo de extração das isoflavonas glicosiladas da soja e suas transformações em agliconas de soja, muito mais facilmente absorvidas pelo organismo. A segunda descreve o processo de produção da enzima ß-glicosidase, fundamental na transformação das espécies glicosiladas em agliconas.
“A constatação da baixa incidência do câncer da próstata, da mama e de problemas resultantes da elevação do índice de colesterol entre os orientais, tradicionais consumidores de soja em suas várias formas, levaram primeiro os ingleses e europeus e depois os norte-americanos a desenvolverem estudos sobre as ações dos seus componentes no organismo”, afirma Yong Park. Segundo o professor, hoje se sabe que os compostos fenólicos são muito importantes para as atividades fisiológicas, entre eles os flavonóides, bastante estudados e que, dependendo da estrutura, exercem atividades antiinflamatórias, antimicrobianas, anticancerígenas, combatem o colesterol, evitam a osteoporose e substituem a ação do estrogênio.
“Embora a soja venha sendo utilizada já há muito tempo como alimento devido ao seu elevado teor protéico, ela contém um tipo de flavonóides genericamente chamados de isoflavonas de soja, que têm sido relacionados a importantes propriedades biológicas como atividades anti-oxidantes, antifúngicas e anticancerígenas (câncer da mama e da próstata) e propriedades estrogênicas”, acrescenta o pesquisador.
Yong Park explica que a soja crua contém doze grupos de isoflavonas isoméricas: três deles, de malonil isoflavonas, correspondem a cerca de 70% da composição, enquanto que outros três, de acetil isoflavonas, contribuem com aproximadamente mais 10%. As glicosil isoflavonas, formadas por outros três grupos estão próximas aos 9% e os três grupos constituídos pelas agliconas aparecem em quantidades muito pequenas.
Durante o cozimento da soja a 121 graus, as malonil e acetil isoflavonas se transformam em glicosil isoflavonas que, com a posterior eliminação do glicosil, dão origem às agliconas e são elas que agem no organismo humano. “No estômago a absorção das glicosil isoflavonas é muito pequena. As bactérias intestinais, por sua vez, produzem uma enzima que remove a glicose e transformam as glicosil isoflavonas em agliconas, que então são absorvidas pelo intestino, mas ainda assim a absorção é pequena. As agliconas (daidzeina, gliciteina e genisteina) são facilmente absorvidas e possuem grande atividade fisiológica, principalmente a genisteina, reconhecida substância anticancerígena”.
De onde vem Em 2000, durante participação em congresso no exterior, Yong Park comprou cerca de vinte amostras de comprimidos de isoflavonas produzidos em outros países e vendidos em supermercados como alimentos funcionais. Ao analisá-los constatou que a maioria era constituída de compostos glicosilados, de absorção muito limitada. Já em 2002, tomou conhecimento de dois laboratórios, um no Japão e outro nos Estados Unidos, que ofereciam produtos não glicosilados, produzidos com a utilização da enzima ß-glicosidase, resultante da fermentação de derivados da soja. Nesse mesmo ano apresentou trabalho nos EUA em que mostrava como produzir ß-glicosidase, fundamental no processo de obtenção das agliconas, sem utilizar os processos de fermentação. O processo foi patenteado.
Tirada a gordura da soja, do que resulta o óleo, o sólido resultante é cozido e submetido ao tratamento com água. Nela se dissolvem as proteínas e as isoflavonas. A nova fração sólida é destinada à fabricação de ração e da fase líquida, através do controle do pH, depositam-se as proteínas muito usadas na alimentação. No líquido sobrenadante, antes utilizado como adubo, estão dissolvidas as isoflavonas. Park patenteou o processo de separá-las e chegar às agliconas. Este processo também foi patenteado.
Yong Park formou-se em medicina em Seul, na Coréia, especializou-se em bioquímica orientada para a área médica e foi pesquisador na Universidade de Minesotta, nos EUA. Em 1968, chegou à Unicamp pelas mãos dos professores André Tosello, fundador da FEA e seu primeiro diretor, e Zeferino Vaz, responsável pela implantação da Universidade. Tornou-se um dos seus pesquisadores mais ilustres e daqui não mais saiu. De uma gentileza tipicamente oriental, continua em franca atividade, embora aposentado.