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Sistema de irrigação ‘capilar’ aumenta
produção e reduz impactos ambientais
Tecnologia pode ser usada
na produção de porta-enxertos de mudas cítricas
Uma linha de pesquisa coordenada pelo professor Roberto Testezlaf,
da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, avança
no desenvolvimento tecnológico de um sistema de irrigação
eficiente para utilização na produção de porta-enxertos de
mudas cítricas no Estado de São Paulo. Contemplada pelo Edital
Universal do CNPq em 2006 e novamente em 2009, a pesquisa,
que envolve projetos de iniciação científica, mestrado e doutorado,
está na fase de aprimoramento de um equipamento e automação
do sistema capaz de garantir a redução de impacto ambiental
causado pelos atuais sistemas de irrigação de porta-enxertos.
“A ideia é ter um sistema fechado que garanta a recirculação
da água na própria estufa em que os porta-enxertos de citros
são produzidos, para redução total do descarte de soluções
nutritivas ricas em nutrientes no solo”, explica Testezlaf.
Para a redução de impactos,
o Grupo de Pesquisa Tecnologia de Irrigação e Meio Ambiente
da Unicamp propõe uma tecnologia inédita, utilizando o princípio
de capilaridade. Os pesquisadores desenvolveram um equipamento
de irrigação, em que a água é aplicada diretamente no substrato,
evitando o umedecimento da parte aérea da planta, para ser
utilizado na primeira fase de produção das mudas cítricas,
conhecida como sementeira, quando as sementes são depositadas
em tubetes de plástico rígido preenchidos com substrato, que,
em seguida, são colocados em bancadas e irrigados. A técnica
favorece o uso eficiente de água, fertilizantes, defensivos
agrícolas e energia elétrica, além de evitar impactos ambientais
significativos.
A primeira parte da pesquisa,
desenvolvida na empresa Citrograf, sediada no município de
Rio Claro/SP, pelo aluno de iniciação científica João Paulo
Fernandes e pelo aluno de mestrado Conan Ayade Salvador, identificou
os principais componentes do processo de produção e caracterizou
o perfil do produtor de mudas cítricas do estado de São Paulo,
que no ano de 2007 tinha uma área de produção de até 3.000
m2 (representando 64% dos viveiristas) e produzia até 80.000
mudas anualmente (65% dos viveiristas). Os pesquisadores também
constataram que 78% dos viveiristas utilizavam casca de pinus
como substratos, 92% empregavam chuveiros ou tubos perfurados
como sistemas de irrigação por aspersão com aplicação manual
da água, 89% deles com fertirrigação, e 57% não utilizando
técnicas de manejo da irrigação. As avaliações de desempenho
da irrigação nesse setor da produção agrícola confirmaram
que esta atividade é realizada sem controle efetivo da lâmina
aplicada, gerando baixas eficiências de irrigação, com perdas
significativas de água e fertilizantes.
De acordo com Salvador, com
o descarte de sais obtido na produção de 16,8 milhões de mudas
em agosto de 2009, referentes aos seis primeiros meses do
ano, seria possível produzir, utilizando os sistemas atuais
de irrigação, mais 30 milhões de cavalinhos, como são chamados
popularmente os porta-enxertos, o que se configuraria em lucro
para o citricultor e evitaria o descarte de fertilizantes
para o lençol freático. “Atuamos ao lado do produtor para
mostrar que, além de contribuir para a preservação ambiental,
ele pode ter lucro em razão da redução de custos e aumento
da produtividade”. Imagens registradas por Salvador dão ideia
do desperdício de água e solução nutritiva e da salinização
provocada pela atual sistemática de fertirrigação.
As experiências com o primeiro
protótipo construído pelo grupo, durante os projetos de mestrado
de Salvador e doutorado de Carlos Vinícius Garcia Barreto,
comprovaram a capacidade de redução de impacto ambiental e
de aumento da produtividade do sistema. Testada por Barreto,
em sua tese de doutorado, a nova tecnologia de irrigação reduziu
de 90 para 66 dias o tempo médio de produção de cavalinhos
de Limão Cravo, o que garante ao citricultor uma produtividade
maior ao longo do tempo em razão do maior número de ciclos
de produção por ano.
Após
a finalização da fase de validação da viabilidade técnica
para esse sistema de produção em condições experimentais,
o projeto terá continuidade na iniciação científica de Antonio
Carlos Ferreira Filho e no projeto de pesquisa de doutorado
de Rhuanito Soranz Ferrarezi, que irão buscar a otimização
da estrutura do modelo desenvolvido e a automatização do processo
de fornecimento de água e nutrientes. Nessa próxima fase,
o objetivo é estabelecer o manejo nutricional adequado e lançar
um equipamento para ser usado em condições comerciais de produção,
de acordo com Ferrarezi.
O protótipo terá o seu método
de automação desenvolvido no doutorado sanduíche de Ferrarezi
em Athens, na Universidade da Georgia, EUA, local de destaque
mundial nesse tipo de pesquisas, a fim de facilitar a operação
eficiente pelos seus usuários. A expectativa é que o doutorado
de Ferrarezi termine na escala industrial de fabricação,
já que o foco da pesquisa do co-orientador norte-americano,
Marc van Iersel, é automação em irrigação, a partir do monitoramento
do substrato com sensores específicos, da análise de parâmetros
fisiológicos das plantas e da realização da irrigação por
meio de controladores eletrônicos.
A escolha por trabalhar na
produção de porta-enxertos de citros decorre do fato de atualmente
a citricultura ser a terceira atividade de maior expressão
no cenário do agronegócio do estado de São Paulo, depois da
indústria sucroalcooleira e da bovinocultura de corte. Na
safra de 2007/2008, o estado produziu 18,7 milhões de toneladas
de laranja, representando 78,65% da produção nacional, de
acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em 2009. Com valor agregado, a atividade no estado
representou 97% das exportações brasileiras de suco de laranja
congelado concentrado, movimentando US$ 3,2 bilhões. Atualmente,
São Paulo conta com 15 mil citricultores e 540 viveiros.
Em São Paulo, a produção de
mudas cítricas, que são a base da citricultura por favorecer
a produtividade e qualidade das frutas no campo, é regulada
pela Portaria CDA-05 da Coordenadoria de Defesa Agropecuária
da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, à qual
os viveiros precisam estar credenciados para funcionar. Apesar
de garantir a produção de mudas certificadas com controle
fitossanitário em ambientes protegidos, a legislação não apresenta
normas ou especificações que demonstrem preocupação com o
impacto ambiental provocado pelas técnicas de manejo hídrico
e nutricional empregadas na fertirrigação, durante o processo
produtivo das mudas. A exigência de cobertura do solo com
brita ou ráfia negra favorece o escoamento de água e nutrientes
ao lençol freático, em razão da drenagem que esses materiais
proporcionam.
Testezlaf explica que a linha
de pesquisa está voltada para o desenvolvimento de tecnologia
apropriada para os viveiristas, com foco na redução total
do impacto, mostrando também ao produtor de mudas a viabilidade
econômica dessa mudança de paradigma com relação à prática
de irrigação de porta-enxertos cítricos. A tecnologia de irrigação
utilizada atualmente por viveiristas cítricos do Estado de
São Paulo têm como característica a baixa eficiência e alta
perda de água. Cultivados em tubetes, os porta-enxertos precisam
ser irrigados todos os dias, e como a irrigação por chuveiros
ou por tubos perfurados caracteriza-se pela utilização de
metodologia empírica de aplicação, pode-se obter lâminas inadequadas
para essa fase da produção, além da possibilidade de contaminação,
segundo Salvador.
Salvador salienta que, como
a disponibilidade hídrica tornou-se uma recente preocupação
nacional e mundial, tendo em vista que nos últimos 20 anos
o consumo de água dobrou, a agricultura irrigada passou a
ser o foco dos pesquisadores objetivando o uso racional deste
insumo. Testezlaf acrescenta que a pesquisa desenvolvida pelo
grupo começa e termina no produtor, desde a avaliação dos
processos utilizados até o desenvolvimento de uma tecnologia
que facilite e aprimore o trabalho dos produtores. Além da
aplicação na citricultura, o sistema desenvolvido pelos pesquisadores
tem potencial para ser usado em outros sistemas produtivos
de mudas, como por exemplo, palmeiras diversas, mudas florestais
(eucalipto, pinus e Teka), mudas de espécies nativas e exóticas
(frutíferas e ornamentais), café e maracujá, entre outras
espécies.
FICHA
TÉCNICA
Pesquisa: “Tecnologia
de Irrigação e Meio Ambiente”
Coordenador:
Roberto Testezlaf
Unidade: Faculdade
de Engenharia Agrícola (Feagri)
Modalidade:
Linha de pesquisa
Financiamento: CNPq
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