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Falta de projetos de eficiência energética
gera gargalo na indústria, aponta estudo
Engenheiro vê baixa perfomance
do setor como
consequência da escassez de investimentos
O
setor industrial brasileiro não está crescendo por igual,
a taxa de juros praticada é alta e faltam investimentos em
projetos de eficiência energética pelas indústrias, sobretudo
as pequenas e médias empresas, o que vem gerando uma baixa
performance nos programas nacionais de incentivo à melhoria
dessa eficiência. A indústria passa por momentos críticos
e a importação de bens duráveis parece ser, para muitas empresas,
a melhor opção para um câmbio desfavorável. Ocorre que esta
é uma solução de curto prazo. Talvez a solução mais viável
seja diversificar lançando novos produtos. “Tal processo não
é simples, pela falta da cultura de inovação. Mas a sua convergência
pode estar em projetos de eficiência energética, pois a simples
substituição de um equipamento antigo por um mais eficiente
pode motivar a aquisição de outros, além de processos, contratação
de pessoal qualificado e aumento de empréstimos bancários”,
sustenta o engenheiro eletricista Jim Silva Naturesa. Essa
conclusão está na sua tese de doutorado, recentemente defendida
à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)
sob orientação do professor Carlos Alberto Mariotoni.
O uso
eficiente da energia, explica o pesquisador, consiste em usar
menos energia por unidade produzida, levando-se em consideração
restrições sociais, econômicas e ambientais. O procedimento
diminui a necessidade de expansão do setor elétrico, postergando
altíssimos investimentos em grandes obras de geração de energia,
como hidrelétricas, termoelétricas, etc.
Jim propôs
em seu trabalho a relação entre eficiência energética, política
industrial e inovação tecnológica. Este pode ser o ‘caminho
das pedras’, segundo o autor da tese. Em sua opinião, contudo,
as pequenas e médias empresas desconhecem como inovar, apesar
de sentirem necessidade de incluir este item nas suas ações,
principalmente para fazer frente à concorrência externa. Por
outro lado, entende que o mercado interno não é capaz de absorver
tudo o que é produzido. “Sobressairá a empresa que criar um
produto de fato novo.”
Uma forma
de entrar em contato com a inovação tecnológica é realizando
pequenos projetos de eficiência energética, comenta o engenheiro.
“Para mim, está claro ainda que eles dependem de incentivos,
que atualmente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
são os seus grandes financiadores e que é fundamental uma
política industrial.”
É como
se a empresário pegasse a planta de sua empresa para observá-la,
substituindo equipamentos obsoletos por novos. De certa forma,
elas são habilitadas a ir arriscando mais até chegar à tão
esperada inovação. No início, cria-se um processo novo para
a empresa e, em seguida, um produto novo para o mercado. A
sugestão do engenheiro é que isso seja feito par e passo via
eficiência energética.
Mas o
que afinal se faz para ter um programa nacional de eficiência
energética? Hoje se fala muito nisso e é possível verificar
múltiplas obras de geração de energia elétrica, invariavelmente
no Norte do país, em regiões próximas às usinas do rio Madeira.
Seria preciso produzir tanta energia para conseguir atender
a população? Jim garante que somente em parte – não com a
voracidade atual, que já dá mostras de esbarrar em gargalos
como a falta de mão de obra especializada e de infraestrutura.
De acordo
com os cenários para eficiência energética elaborados recentemente
pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), se apenas mantidos
os investimentos nesses programas, o país economizará entre
3,5% e 5,35% do total de energia elétrica destinada à indústria
em 2020 e entre 4,71% e 8,68% em 2030.
O pesquisador elenca que esse processo pode ocorrer ou por
meio de gestão ou por meio de mudança da cultura da empresa.
É possível ainda partir para projetos de eficiência, substituindo
iluminação, motores antigos, parte de aquecimento, de refrigeração
e de ar-condicionado.
O programa
de eficiência energética nacional, revela Jim, está alicerçado
em duas bases: uma encabeçada pela Eletrobras – mediante o
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel);
e outra envolvendo a Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel), denominado Programa Anual de Combate ao Desperdício
de Energia Elétrica (PEE), que obriga as distribuidoras de
energia a aplicarem 0,5% da sua receita operacional líquida
em ações de eficiência energética.
No caso
das distribuidoras de energia, suas ações são hoje mais voltadas
à classe popular para substituir lâmpadas incandescentes por
fluorescentes e geladeiras antigas por novas. Tais ações são
limitadas, conforme o pesquisador, porque atingem unicamente
uma parcela da população, enquanto a ação do Procel, via Eletrobras,
mais desenvolvida, relaciona-se a programas tanto de saneamento,
indústria, residencial, entre outros.
Recursos
O engenheiro direcionou seus estudos para as pequenas e médias
empresas. Facilmente detectou que as grandes empresas já trazem
em sua filosofia a cultura da inovação tecnológica, incentivando
projetos de eficiência, contrariamente às pequenas e médias
– o que chama atenção é que elas gastam proporcionalmente
mais com energia elétrica do que as grandes.
Todavia, projetos custeados
pelo PEE são encontrados mais pontualmente no Estado da Bahia.
Ali são substituídos vários eletrodomésticos, a priori geladeiras.
Ocorre que o volume desse recurso é sobremodo elevado. “Obtendo-se
5% da receita bruta, seria preciso trocar muita geladeira
para usar todo esse recurso. A ação teria inclusive que se
estender a outros segmentos”, aponta o pesquisador.
Ao analisar na FEC projetos
ligados a saneamento básico, Jim notou que existem grandes
empresas nessa área e, não raro, desperdício – não somente
de água, mas também de energia elétrica. Gasta-se muita energia
fazendo o bombeamento de água para as estações elevatórias
e em horário inadequado, quando o preço é maior. Em geral,
os equipamentos – motobombas – estão sobredimensionados, não
exigindo toda essa potência.
O racionamento de energia
de 2001, retoma ele, colaborou para divulgar conceitos de
eficiência energética à população. Não obstante a imposição
da iniciativa, criaram-se ações para reduzir o consumo, fazendo-se
a substituição de lâmpadas e equipamentos. “A cultura de reduzir
não se manteve por muito tempo, e a cada ano o preço do quilowatt-hora
aumenta (e as pessoas pagam). Isso é mais comum do que se
pensa.”
O pesquisador comenta que,
ao comprar lâmpadas, há duas opções: adquirir a incandescente,
que custa em torno de R$ 2,00, ou a eletrônica, que custa
cerca de R$ 10,00. Acaba-se optando pela compra de R$ 2,00.
Acontece que 90% da energia dessa lâmpada incandescente, esclarece
o engenheiro, é dissipada na forma de calor, não na forma
de luz – que é o que se pretende. Já a lâmpada eletrônica
tem um custo elevado – convertendo de 70% a 80% da energia
em luz, embora dure mais.
Infelizmente no Brasil não
se desenvolveu a cultura de pagar um pouco mais pelo equipamento,
mesmo sabendo que ele vai gerar redução do consumo de energia,
qualidade e durar mais. No médio e longo prazo, a opção é
sempre por um produto com uma eficiência energética maior,
ao passo que, no curto prazo, as pequenas e médias empresas
escolhem o menor preço e eficiência inferior. Isso porque
o tempo de retorno, para o produto mais caro, pode demorar
de dois a três anos. Para eles, esse é um prazo muito dilatado.
Nas décadas de 1980 e 1990,
relembra o engenheiro, houve inflações impensáveis mês a mês
e diversos planos econômicos no Brasil, o que acabou trazendo
incertezas e contaminando o pequeno e o médio empresário.
Em países como os Estados Unidos, grandes projetos de eficiência
energética vogam desde a década de 1990, o mesmo ocorrendo
na Europa.
Os relatórios europeus são
muito claros em delinear que é preciso investir em projetos
de eficiência primeiramente, isso porque no longo prazo os
benefícios virão, e segundo porque de certa forma como a matriz
deles – como é o caso da França, que tem quase 80% da energia
gerada via usinas termonucleares – propaga o tempo de entrada
das usinas, caminhando a reboque da economia dos EUA, que
já está fazendo isso. O produto deles acaba saindo com um
custo de produção menor. Na América Latina, o modelo de eficiência
energética é o Brasil, ainda que aquém do esperado, avalia
Jim.
Uma de suas propostas é levar
às pequenas e médias empresas a importância de projetos como
esse pois, além da parte de eficiência energética, elas compreenderiam
como trilhar a inovação tecnológica. “Todo investimento que
fazem acaba sendo com recurso próprio, fato histórico no Brasil,
que demonstra aversão a riscos. Acham mais fácil alocar o
recurso delas do que pegar emprestado.”
De outra via, perdem de interiorizar
o conceito de inovação, que envolve correr riscos calculados
sem deixar de investir. Para o engenheiro, esse investimento
teria que ser vinculado à Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e à Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI). “Esses órgãos articulariam um grande projeto, desenvolvido
tanto pelas empresas especializadas quanto pelas universidades,
fazendo a ponte universidade-empresa”, sugere o pesquisador.
Ele conta que há iniciativas
nessa linha sem vínculo com a eficiência energética. “O ideal
seria captar recursos alocados em inovação tecnológica para
aplicar em projetos de eficiência energética. Deste modo,
para o pequeno empresário, qualquer projeto que tivesse como
foco o aumento dessa eficiência, para ele seria um projeto
de inovação tecnológica. É o jeito dele ter contato com novos
equipamentos e tecnologias, e poder criar uma equipe para
atuar”, constata.
A proposta de relacionar eficiência
energética, política industrial e inovação tecnológica não
é inédita, demarca Jim, porém inovadora. As pequenas empresas
estão muito distantes do conceito de inovação defendido por
ele, como qualquer processo novo ou ação que vá beneficiar
a empresa. Sua tese derruba por terra a ideia de projetos
monumentais de geração de energia, via Jirau, Belo Monte e
as usinas do rio Madeira – aquelas grandes obras como Itaipu.
Para ampliar a geração de
energia elétrica, normalmente de 5% ao ano, na verdade bastaria
que ela crescesse acompanhando os patamares do Produto Interno
Bruto (PIB). Inicialmente, é possível ter algo em torno de
1% decorrente de projeto de eficiência. Não é, todavia, coisa
para cinco anos. Talvez para dez anos. Este é um dado curioso.
Outro dado é que as políticas industriais brasileiras, avaliando-se
a nova política industrial (PDP – Política de Desenvolvimento
Produtivo), são mais focadas em setores específicos, como
ocorreu com a redução do IPI para os automóveis. Dificilmente
se pensa numa linha mestra para abraçar setores diversos,
expõe o engenheiro.
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Publicação
Tese de doutorado: “Eficiência Energética,
Política Industrial e Inovação Tecnológica”
Autor: Jim Silva Naturesa
Orientador: Carlos Alberto Mariotoni
Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura
e Urbanismo (FEC)
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