O engenheiro explica que há um risco “invisível” muito grande na concepção de projetos elétricos. As metodologias utilizadas para projeção da demanda de eletricidade necessária estão defasadas, enquanto as tecnologias que o mercado oferece crescem a passos largos. “Há 10 anos não se imaginava esse número de aparelhos domésticos que as lojas disponibilizam para os consumidores. As pessoas estão adquirindo os aparelhos sem atentar para a estrutura projetada”, observa o engenheiro. Paulo dos Santos ilustra a situação com o antigo Censo do IBGE hoje substituído pela Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD) na década de 70, que apontava como principais responsáveis pelo consumo de energia o chuveiro, a televisão e a lâmpada. Atualmente, o número de aparelhos eletrônicos aumentou absurdamente.
Para se ter uma idéia, na PNAD referente ao período de 1987 a 1996, ocorreu um aumento de 375% no número de lavadoras de pratos. Outros dois exemplos são o freezer, cuja comercialização cresceu 311%, e a secadora de roupas, com 273%. “São números significativos e que merecem uma atenção especial, pois esses aparelhos são considerados de alta potência do ponto de vista energético”, alerta Santos. A secadora de roupas possui 3.500 watts de potência, ou seja, se utilizada durante uma hora por 12 dias, vai representar um consumo mensal de 42 kw.
Ligar vários aparelhos em uma mesma tomada é um risco. Paulo dos Santos, que é trabalha no Centro de Operações da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), esclarece que em muitos casos a sobrecarga já pode estar ocorrendo. Em projetos para residências e comércio feitos há 10 anos, por exemplo, não se previa o consumo de energia para DVD, home theater, televisão de plasma e outros equipamentos de última geração. Os primeiros aparelhos de TV a cores eram de 100 watts e as tomadas foram criadas para esta potência. O problema é que aumenta cada vez mais o número de funções (controle remoto, relógio e outras) sem adequação da instalação elétrica: um televisor a plasma exige pelo menos 200 watts. “Muitos compram o equipamento sem se certificar de que existe capacidade de eletricidade para realizar a ligação”, diz o engenheiro.
Santos lembra que as normas vigentes, baseadas em códigos internacionais, datam dos anos de 1980. Nelas, as tomadas devem ser projetadas para a potência de 100 watts. Isto significa que as normas podem estar sendo cumpridas, mas o risco de um curto-circuito é iminente. O engenheiro revela que aproximadamente 95% das residências brasileiras não possuem projeto civil adequado e, por isso, é difícil que se tenha planejado as instalações elétricas prevendo a aquisição de eletrodomésticos. Nos condomínios fechados de casas e apartamentos, a situação é diferente, pois a regularização dos imóveis exige o projeto de consumo de energia.
Pesquisa O número de questões levantadas em relação à potência de aparelhos eletrodomésticos levou Paulo dos Santos, no trabalho de mestrado a estabelecer variáveis que devem ser priorizadas para um projeto de demanda de eletricidade. Para chegar aos parâmetros, o mestrando entrevistou as famílias de 631 apartamentos de diversas regiões de Campinas, com o objetivo de alcançar um estudo diversificado e conhecer os usos atuais de eletricidade.
Santos considerou informações como número de moradores, faixa etária, grau de instrução e renda familiar, variáveis que não são contempladas nos métodos clássicos de cálculo, onde o dado principal é o total da área construída. Sua pesquisa demonstrou que apenas a área não é um bom indicador para as projeções. Há ainda outros métodos que dividem os equipamentos por classe, mas não sofreram nenhuma atualização e, portanto, também não oferecem parâmetros eficientes aparelhos como cafeteira elétrica, home theater, DVD e mesmo o videocassete não constam da listagem oficial.
A pesquisa apontou ainda que 25% dos entrevistados não estavam satisfeitos com o número de tomadas existentes no apartamento. Eles afirmaram que as instalações não eram suficientes para acomodar as ligações dos equipamentos. O consumo médio mensal por apartamento foi de 163 kw/h. Os resultados da análise, segundo Santos, permitirão estabelecer bases para planejamentos futuros e atualizar os valores de consumo.