RAQUEL DO CARMO SANTOS
A desinformação e, por incrível que pareça, o constrangimento, ainda são os principais motivos para a não realização de exames de prevenção do câncer de mama e de colo do útero em Campinas. A informação consta do Inquérito Multicêntrico de Saúde (ISA-SP) realizado em quatro áreas do estado de São Paulo e organizado por pesquisadores das três universidades estaduais paulistas Unicamp, USP e Unesp. Em Campinas, entre as enquanto que nunca haviam feito o Papanicolaou, 43,5% disseram não acreditar na necessidade do exame e 28%, justificaram a falta da prevenção por conta da vergonha.
“É difícil acreditar que em pleno século 21 as pesquisas apontem mulheres que nunca fizeram o exame”, afirma a enfermeira Vivian Mae Schmidt Lima Amorim. Profissional envolvida com a saúde da mulher há mais de 20 anos, Vivian dedicou dois anos para aprofundar seus estudos sobre as práticas da prevenção na cidade, em relação aos dois tipos de câncer mais comuns na população feminina, que são da mama e do colo do útero. Este último representa 10% dos tumores malignos que atingem as mulheres brasileiras e tem sua maior incidência na faixa entre 30 e 60 anos, tornando-se pouco freqüente entre as mais jovens.
A dissertação de mestrado foi orientada pela professora Marilisa Berti de Azevedo Barros. Vivian Amorim realizou um estudo do tipo transversal com 290 mulheres de 40 anos ou mais. Em dois artigos científicos, a autora trata da vulnerabilidade de quem não realiza os exames preventivos e acredita que os dados podem orientar principalmente os postos de saúde na identificação dessas mulheres. “É papel do serviço de saúde identificar essas pacientes e esclarecê-las sobre a prevenção. Muitas freqüentam os postos de saúde e poderiam aproveitar as idas também para realizar os exames”, argumenta. Segundo Vivian, há mulheres que imaginam, por exemplo, que a prevenção não é mais necessária depois de passado o período de fertilidade.
No caso do Papanicolaou, explica a enfermeira, não deveria haver desculpas, pois é um método eficiente para detecção da doença oferecido gratuitamente pelo SUS. O Ministério da Saúde recomenda que, após dois controles anuais negativos, o exame seja realizado a cada três anos. O auto-exame da mama deve ser feito regularmente, mas a prática é difícil de ser incorporada à rotina das mulheres. Além de outros aspectos polêmicos que constam da literatura em relação a essa prática. Na verdade, o auto-exame não deveria ser considerado como preventivo, pois quando se descobre o nódulo geralmente o câncer está em fase adiantada. No entanto, Vivian lembra que esta ainda é a única forma barata e acessível de se detectar alguma anormalidade.
Outra opção seria o exame clínico realizado pelo médico da área, mas as dificuldades já começam na necessidade de se marcar a consulta e fazer visitas freqüentes ao ginecologista. A mamografia é a opção de mais difícil acesso ao grosso da população, pois consiste em exame de alto custo que ainda não é regularmente oferecido pelo SUS. Segundo os dados, apenas 28,8% das mamografias foram financiados pelo sistema, contra 38,1% dos exames clínicos, problema que merece maior atenção dos responsáveis por políticas públicas, na opinião de Vivian Amorim. Ela lembra que a incidência do câncer de mama aumenta após os 40 anos, com o pico na faixa etária de 65 a 70 anos.