Histórias, depoimentos e expectativa de estudantes
e professores que estarão na Unicamp de Portas Abertas
Eles vêm de longe. Para
ver a Unicamp de perto
A terra roxa
fica para trás
Waldomiro Carlos Almeida Júnior é um caso à parte. Único, talvez. Não vai integrar nenhuma das centenas de caravanas de estudantes. E, ao contrário de muitos dos jovens que visitarão a Unicamp, não estará tateando sua vocação. Ele já sabe o que pretende fazer. Waldomiro, 18 anos, deixará a terra roxa da cidade paranaense de Apucarana (370 quilômetros de Curitiba), a bordo de um ônibus interestadual. Como companhia, passageiros desconhecidos, anônimos. Quando viu que seus colegas do Objetivo Mater Dei, onde cursa a terceira série colegial, estariam impossibilitados de participar da UPA, não teve dúvida. Pegou ele mesmo a ficha de inscrição, procurou o diretor da escola e pediu autorização para ser o único representante do colégio. Não queria deixar escapar a oportunidade de conhecer o curso de Engenharia da Computação da Unicamp. Havia mais de ano sua opção já estava definida. É lá que pretende seguir carreira acadêmica: graduação, mestrado, doutorado e, se tudo der certo, docência. É na faculdade que pretende voltar a ter como colega Gustavo Reder Cazangi, amigo de longa data, companheiro da infância de Apucarana, e na casa de quem ficará hospedado durante uma semana, em Campinas. Gustavo, primeiranista do Instituto de Computação (IC), alimenta o sonho do amigo, abastecendo-o de informações sobre o curso. Mas não é só ele que ceva as aspirações do secundarista. Neto de engenheiro eletrônico, familiarizado com computadores desde criança, Waldomiro leu mais de uma vez que o curso da Unicamp é o melhor do país na sua modalidade. Dia 25, sozinho, Waldomiro deixará para trás seu tabuleiro de xadrez, o violino, os livros de Tolkien, Machado de Assis e García Márquez, os CDs de Belle & Sebastian, The Doors, The Smiths, Bach, Rachmaninoff, Chopin, Brahms, Vivaldi, Sarasate, Mozart, Paganini, Beethoven, Tchaikovsky, Dvorak e Schubert, entre outros. Em março do ano que vem, se seus planos vingarem, tudo estará em Campinas. Sua página no Orkut terá novidades.
Das termas ao olho do furacão
O professor Edilair José dos Santos, 31 anos, ensina Língua Portuguesa para os alunos da 2ª série do ensino médio do Colégio Vetor, na cidade goiana de Caldas Novas, famosa por suas termas. O professor, que já coordenou visitas a outras universidades, diz que, no caso da UPA, a intenção da escola é proporcionar, aos 50 alunos que virão, o contato com uma das maiores universidades da América Latina. A visita, acredita, vai amadurecer as expectativas dos jovens quanto aos cursos de graduação e, conseqüentemente, ajudar na escolha do curso. Ao medir a temperatura dos jovens quanto à viagem, diagnostica que a ansiedade é grande. Chega a comparar a Unicamp com a realidade local. Pelas contas de Edilair, o número de alunos da Unicamp (31,7 mil) é quase a metade da população de Caldas Novas (65 mil habitantes). Na cabeça dos jovens, supõe, vai ser grande o impacto desse contato com milhares de pessoas. Mesmo para jovens habituados ao vaivém de turistas numa cidade que recebe 1,5 milhão de visitantes por ano.
Ângelo Francisco da Silva Júnior, 17 anos, aluno da 3ª série do Vetor, gosta de ver a cidade, tida como o segundo maior destino de turistas do país, invadida por “gente diferente, de todo lugar”. Adepto de esportes radicais, não fica sem montar em sua “cinquentinha” para percorrer trilhas da região. A geomorfologia local – serra e planalto – abre caminho para a aventura. Mas o imprevisível morre aí. O jovem quer aproveitar a UPA para dar contornos ao seu futuro. O salto, a partir de então, será outro.
A comitiva do
cerrado goiano
O biólogo e professor Joiran Magalhães nasceu em Iporá, mas está há mais de 10 anos na vizinha Rio Verde, cidade de pouco mais de 140 mil habitantes localizada no cerrado goiano, a 220 quilômetros de Goiânia. A expansão da soja pôs abaixo a vegetação nativa, reduzida hoje a 10%, segundo cálculos do próprio professor. Magalhães, 31 anos, é o responsável pela disciplina de Biologia no Centro Educacional Quasar. Nessa condição, é obrigado a saber de tudo um pouco sobre a carreira que abraçou. Mas o professor tem lá suas afinidades, entre as quais a genética e a biologia vegetal. Na edição do ano passado da UPA, teve oportunidade de presenciar pesquisas de seqüenciamento de DNA. Não se limitou a observar os experimentos. Conversou com docentes, pesquisadores, alunos e funcionários do Instituto de Biologia (IB). De todas as universidades visitadas por ele até hoje, a Unicamp foi a que mais o impressionou. Alguns dos 30 alunos que o acompanharam em 2005 foram aprovados no vestibular da Unicamp deste ano. Instado a falar sobre o que significa a visita para os 50 jovens que no dia 2 chegarão sob sua coordenação, Magalhães diz que seus alunos vão vivenciar um sonho. Na opinião do biólogo, do ponto de vista pedagógico, o trabalho da Unicamp é “fantástico”. Mais ainda porque, diz, ao franquear o acesso a milhares de jovens, a Universidade vai nortear a escolha daqueles que ainda não sabem o que pretendem cursar, definindo escolhas ainda incertas.
Fernando Gouveia da Silva, 15 anos, estudante da 2ª série do Quasar, é um dos alunos de Magalhães a aproveitar a breve passagem pela Unicamp para definir sua opção. A única certeza é que quer fazer “uma das engenharias”, sem saber exatamente qual. Aposta as fichas nas visitas que fará às faculdades com as quais tem mais afinidade. Fernando ouviu falar que são as melhores do país. Até por isso, sonha em ser aprovado na Unicamp. Enquanto isso, corintiano de carteirinha, bate uma bola no clube. Jaqueline Souza Franco, colega de classe de Fernando, vê a Unicamp como uma universidade de renome que pode “abrir várias portas” para sua vida escolar e profissional. Jaqueline, 16 anos, quer ser médica, joga handebol, ouve pop, rock e diz adorar os “sentidos mais amplos” da prosa machadiana. Dizendo-se decepcionada com os casos de corrupção que tomam o noticiário, decidiu tirar o título para “fazer a sua parte” em outubro.
Gabriela de Grande Guerreiro, 16 anos , é colega de classe e de time (é goleira) de Jaqueline. Saiu de Marília, sua cidade natal, em 1998. Desde então está em Rio Verde, acompanhando o pai, engenheiro agrônomo. Não conhece a Unicamp, mas está ansiosa para visitar a universidade de “tanto ouvir falar da qualidade dos cursos”. Espera também que a UPA sirva para confirmar suas expectativas quanto ao ensino de línguas, área de seu interesse. Já Jessika Almeida de Andrade fez, no ano passado, seu batizado na UPA. A visita, revela, foi importante porque ali descobriu que não poderia seguir a carreira de arquiteta por não ter aptidão para o desenho. Jessika, 16 anos, acha que a incursão desta semana vai ajudá-la a clarear seu futuro que, torce, será melhor do que o do país. Para ela, o Brasil está vivendo um “monte de crises”. Menciona os atentados recentes em São Paulo como exemplo. Para começar a mudar esse estado de coisas, prega, é preciso escolher um “bom candidato”. Paulistana do bairro de Santo Amaro, em três anos de Rio Verde diz ter aprendido que, enquanto em “São Paulo é cada um por si”, na cidade goiana “todo mundo é amigo de todo mundo”. Jéssica é cantora, já se apresentou inclusive em festivais. Seu repertório musical é eclético: gosta de MPB, sertanejo e musica clássica. A jovem, que também dedilha algo no violão, deve puxar o coro no ônibus.
Ampliando
horizontes |
EDILAIR JOSÉ DOS SANTOS
Vivemos em um mundo no qual a informação se renova a cada minuto. Desta forma, torna-se imprescindível que o educando tenha acesso aos diversos mecanismos de informação e pesquisa. Nesta sociedade de constantes mudanças as parcerias são fundamentais para o sucesso do trabalho, ao passo que a educação é o principal meio de aquisição dessas informações e, ao mesmo tempo, abre caminhos para um futuro promissor.
Pensando nisso, o Colégio Vetor preocupa-se em proporcionar uma educação calcada na formação integral do educando, preparando-o para ser solidário, saber lidar com as diversas situações do cotidiano, ser capaz de contribuir para a construção de uma sociedade justa, além de prepará-lo, técnica e psicologicamente, desde o Ensino Fundamental, para os vestibulares das diversas universidades do país. Acreditamos que conhecer uma das maiores universidades da América Latina – a Unicamp - alargará as expectativas dos educandos com relação ao ingresso à universidade, pois ampliará os horizontes dos mesmos, uma vez que conviverão num amplo espaço de pesquisa e estudo. Faz-se necessário construir uma nova visão sobre educação. Sair de uma cidade com aproximadamente 65 mil habitantes para conhecer um grande centro de pesquisa e educação, indubitavelmente, será extremamente significativo para a aquisição de novas perspectivas quanto ao “estudar”.
Edilair José dos Santos é professor de Língua Portuguesa e será o coordenador da visita do Colégio Vetor, de Caldas Novas, na UPA. |