|
Vaivém intenso reflete aposta na mobilidade
Universidade recebeu
este ano 227 alunos estrangeiros
e enviou 390 graduandos para o exterior
TATIANA
FÁVARO Especial para o JU
O
estudante de Engenharia de Computação Roberto Caiazzo, de
23 anos, veio de Martina Franca, na Itália, para a Unicamp
em setembro deste ano. Fazia o mesmo curso no Politecnico
di Milano e decidiu passar seis meses no Brasil. Conhecia
brasileiros que estudaram na Universidade, em Campinas, e
por meio deles tomou o caminho que o traria ao país. Em setembro,
quando aterrissou, já “arranhava” o português porque havia
passado dez meses na Espanha, conhecido o idioma, e posteriormente
feito um curso rápido de português, mas era bem mais tímido
do que quando recebeu a equipe do Jornal da Unicamp no fim
de novembro. Desta vez até brincou e disse, rindo, que além
de ter encontrado no Brasil um sistema de ensino exigente
e que o faz estar sempre em contato com o conteúdo do curso,
descobriu que as mulheres brasileiras são as mais bonitas
do mundo.
“Agora, falando sério, a estrutura
escolar é bastante diferente e os exames parciais exigem que
a gente esteja sempre em contato com as matérias”, afirmou.
“E, embora os alunos de Engenharia de Computação sejam, por
natureza, mais fechados, eu encontrei muitos brasileiros querendo
me ajudar. Gostei muito do povo brasileiro e o pessoal da
Unicamp é muito legal, me auxilia muito”, disse Caiazzo no
posto da Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais
(Cori), onde circulava com desenvoltura, cumprimentando os
funcionários e alunos ali presentes.
Segundo informou a assistente
de mobilidade internacional para recepção a estrangeiros,
Thereza Barreto, o italiano Roberto Caiazzo foi um dos 117
estudantes estrangeiros, de 28 países, recebidos neste segundo
semestre pela Unicamp. No primeiro semestre deste ano, outros
110 alunos chegaram ao campus. São estudantes de universidades
da Alemanha, Angola, Argélia, Argentina, Canadá, Colômbia,
Congo, Coreia do Sul, Chile, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos,
França, Índia, Itália, Israel, Japão, México, Nigéria, Noruega,
Paraguai, Peru, Paquistão, Portugal, República Tcheca, Romênia,
Uruguai e Venezuela.
Gente como Pablo Ezequiel
Alustiza, de 25 anos, estudante de Administração na Universidad
de La Plata, na Argentina, e aluno de Economia da Unicamp
desde agosto. “O Brasil é um país muito importante na América
Latina e queria conhecer melhor sua influência política, econômica
e cultural”, disse Alustiza sobre os atrativos do país. O
argentino conta que na primeira semana conseguia entender
o português mas não falar o idioma. “No começo dá para entender,
mas só depois consegui ‘trocar ideia’ de verdade”, diz ele,
já familiarizado até com as gírias.
A
estrutura da Universidade é muito diferente da que Alustiza
conhece na Argentina. “Aqui as classes são pequenas e os professores
conhecem os estudantes”, apontou. “A infraestrutura é muito
mais completa”, afirmou outra argentina, a estudante de Arquitetura
Ines Gonzalez Alvo, de 27 anos, que veio da Universidad de
Tucumán. “Na minha faculdade tinha turma que começava com
200 alunos. E os conteúdos também; lá é tudo muito mais geral,
aqui eu vi coisas bem específicas”, disse. “A gente fica impressionada
com a possibilidade de uma vida universitária intensa aqui
na Unicamp e em Barão Geraldo, não precisa estar no Centro
de Campinas. E descobre que Barão Geraldo tornou-se o que
é por causa da Universidade. Essa vivência universitária é
muito rica”, afirmou o estudante de Antropologia Sergio de
Leo Sales, de 23 anos, aluno de Psicologia Social da Universidad
Nacional Autônoma de México.
Meta
As histórias de Roberto, Pablo,
Ines e Sergio são uma amostra do que deve se tornar a Universidade
nos próximos anos. A meta da reitoria é fazer saltar de mil
para 3 mil o número de estudantes estrangeiros na Unicamp.
O caminho inverso também já
é realidade e há planos para ampliá-lo. O objetivo é fazer
com que 30% dos estudantes da graduação e 10% dos estudantes
da pós-graduação tenham uma experiência no exterior, ainda
que haja uma dificuldade grande em mensurar e registrar esses
dados, pois muitos alunos saem da universidade com financiamento
externo, sem notificar o controle acadêmico. A Unicamp está
criando mecanismos para ter um registro mais adequado desses
estudantes.
“É fundamental para todo estudante
a possibilidade de viajar, conhecer outras culturas, outros
ambientes, outros conteúdos, outras formas de aprender. Essa
experiência certamente amplia as perspectivas de qualquer
pessoa e a experiência internacional é particularmente boa
porque se aprende outra cultura, outro idioma”, afirmou o
pró-reitor de Graduação da Unicamp, Marcelo Knobel. “Por outro
lado, termos estudantes estrangeiros na universidade já muda
o ambiente universitário, traz novas ideias, novas perspectivas,
enriquece o ambiente, permite aos estudantes terem contato
com outras realidades, com outras maneiras de pensar. A diversidade
é sempre muito positiva na universidade. Acreditamos que o
intercâmbio é muito positivo para os que vão e os que ficam.”
A estudante de Midialogia
Priscila Souza de Oliveira, de 22 anos, estudou fora do Brasil
e não apenas concorda com Knobel como também quer repetir
a experiência vivida quando era aluna de Ciências Sociais,
em 2008. Antes de concluir a primeira graduação, ela foi para
a Argentina e ficou lá um semestre. “É transformador: você
percebe várias formas de ver o mundo, de adquirir conhecimento,
vê modos de aprender diferentes. Não tem como comparar essa
vivência a nada. Só dá para saber o que é passando por isso,
todos deveriam experimentar”, afirmou.
Embora tenha ido com um grupo
de estudantes brasileiros, Priscila separou-se dele, morou
em uma casa com 15 argentinos e mergulhou sem medo na cultura
e no ensino locais. “Se você fica com os intercambistas, não
aproveita tanto a experiência. Eu, como fiquei sozinha, era
a única brasileira do meu grupo, fiz um vínculo forte com
o idioma e com as pessoas que estavam ao meu redor. Troco
e-mails com elas até hoje”, afirmou a estudante, agora também
estagiária na Unicamp na recepção de estrangeiros. “A diferença
do que fazemos aqui com o que eles fazem lá? Ah, lá a recepção
de alunos estrangeiros, pelo menos onde fiquei, é mais institucional.
Aqui a gente acaba ficando com vínculo pessoal, ajudando a
pessoa dentro e fora da universidade. Deve ser isso que deixa
o pessoal tão satisfeito.”
De
acordo com a assistente de mobilidade internacional para saídas,
Marta Rodrigues, estudantes da Unicamp já estiveram em ao
menos 40 universidades estrangeiras. No primeiro semestre
de 2010, a Universidade mandou 180 alunos de graduação para
fora. Neste semestre, foram 210.
Segundo informou o coordenador
da Cori, professor Leandro Tessler, atualmente o destino preferido
dos estudantes da graduação é a França. E não é por acaso.
A parceria da Unicamp com a França existe há anos e permite
o duplo diploma, por meio de parcerias com escolas importantes,
como as Écoles Centrales (que reúne escolas de Paris, Lyon,
Lille e Nantes) e o ParisTech (que reúne 12 instituições de
ensino superior da região de Paris). E a França é apenas um
dos países europeus com os quais a Unicamp tem contato para
intercambiar estudantes.
“Temos parceiros estabelecidos
também nos Estados Unidos e um raio de influência muito grande
na América Latina. Há interesse em países importantes como
os africanos, em particular os que falam português”, afirmou
o professor Marcelo Knobel. “Temos interesse amplo em estabelecer
mais e mais esse intercâmbio, fazendo isso de forma cuidadosa”,
disse. Além disso, a Universidade possui convênio com a Associação
de Universidades Grupo Montevidéu (AUGM), que reúne 28 universidades
da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai e Paraguai,
e com a qual a Unicamp tem 48 acordos de intercâmbio ao ano
(24 alunos vão para fora e 24 vêm ao Brasil). Outro caminho
na América Latina é a União de Universidades da América Latina
e do Caribe (Udual), com 151 universidades, e por meio da
qual a Universidade tem conseguido intercâmbios com o México
e a Colômbia, país com o qual a Unicamp também deve firmar
em breve acordo para o financiamento de 30 bolsas, por meio
do Ministério da Educação colombiano, para trazer estudantes
de pós-graduação ao Brasil.
“Na graduação, como envolve
as disciplinas, temos maior controle do trânsito. Na pós-graduação
há muito intercâmbio não-computado. Estamos preparando nosso
sistema para a internacionalização”, diz Tessler. “Estudamos
facilitadores para a transferência de créditos, para o ensino
em inglês, o aumento de estrutura para moradias e recepção
de estrangeiros”, afirmou o coordenador da Cori.
A Unicamp tem estudado os
calendários de aula – diferentes aqui e nas universidades
estrangeiras –, a burocracia na emissão de vistos, além de
também avaliar a flexibilização curricular e a inclusão de
um semestre de intercâmbio ou estágio no exterior para seus
alunos. “Queremos que a maioria dos nossos alunos tenha essa
possibilidade. Claro que isso esbarra em muitos problemas
culturais, familiares, de recursos, mas é um movimento global
nas universidades brasileiras”, disse o professor Marcelo
Knobel. “A formação de um indivíduo não passa apenas pelo
conteúdo específico, pela sala de aula, mas também por aspectos
éticos, de discussão, contemporâneos, e dentro dessa perspectiva,
a vivência em outro local é de importância fundamental. Quem
já viveu essa experiência sabe o quanto de mudança ela provoca
na maneira de enxergar a própria universidade, além de abrir
uma série de visões do mundo e da vida”, afirmou o pró-reitor.
|
|