Inventar coisas. Como nas histórias em quadrinhos do Professor Pardal, o professor Jorge Sergio Perez Gallardo, da Faculdade de Educação Física, vive preocupado em desenvolver algo útil e inovador para o dia-a-dia da população. “As idéias borbulham conforme enxergo uma necessidade. Não se ganha muito dinheiro, mas se pode melhorar a qualidade de vida das pessoas”, acredita. Em dois anos, Gallardo já depositou três patentes e se prepara para registrar um manômetro de pequena escala para medir o tônus muscular de recém-nascidos e que permite realizar exames objetivos em apenas cinco minutos. O dispositivo funcionaria como alternativa ao tradicional exame de Apgar, que registra indicadores de cor de pele, resposta a estímulo, respiração, intensidade de choro e freqüência de batimentos cardíacos.
Segundo o professor da FEF, o Apgar aponta resultados subjetivos, enquanto que o manômetro mede a variação do tônus muscular, a partir da pressão palmar do bebê. “É um bom indicativo do estado de saúde da criança. Seria como medir a febre através do termômetro. Com a medida de tônus muscular é possível saber inclusive o estado emocional. Nesse sentido, o invento ofereceria informações fundamentais para um diagnóstico do bom desenvolvimento”, explica. Outra aplicação do manômetro seria para avaliar, de forma objetiva, o estado de dor de um bebê irritado. Os principais beneficiados com o dispositivo seriam os médicos obstetras e profissionais da saúde que trabalham com partos e recém-nascidos.
Segurança A observação do risco a que se submetem os jardineiros, que diariamente precisam podar a grama em áreas íngremes, inspirou outra patente. Trata-se de uma plataforma antiderrapante ajustável em calçados, com travas, apropriada para uso em áreas inclinadas ou escorregadias. “Percebia o perigo iminente na atividade e criamos uma solução para os jardineiros”, explica Jorge Gallardo. A plataforma é composta por pequenos grampos posicionados na vertical, podendo ser de metal ou plástico, fazendo com que o jardineiro finque os pés na grama e eliminando o risco de acidente de trabalho.
O professor observa que existem sapatos para se andar no gelo e mesmo aqueles utilizados por jogadores de golfe. O diferencial da patente que propõe está no baixo custo, facilidade de transporte e na segurança no trabalho, podendo ser uma boa opção para prefeituras e empresas que empregam mão-de-obra neste setor. O pesquisador assina a patente com Ângelo José Zampolli, dono de uma serralheria em Campinas, e ambos já estão desenvolvendo o protótipo da plataforma que será oferecida à indústria interessada em produzi-la em larga escala.
Outra idéia Gallardo teve quando se deparou com a necessidade de dirigir o carro por 15 mil quilômetros até sua terra natal, o Chile. Para minimizar o desconforto na viagem, a solução foi instalar um descanso para os braços, removível. Um tubo metálico é encaixado entre o assento e o encosto do banco do veículo, fixando-se ali dois braços articulados que permitem ao motorista apoiar seus braços enquanto dirige. O dispositivo é de fácil instalação. Diante da própria experiência até o Chile, Gallardo afirma que sentiu diminuir o trabalho da musculatura cervical, evitando dores e desconforto que poderiam prejudicar o reflexo do condutor.
Acrobacias A primeira invenção de Jorge Gallardo é de 2004, quando desenvolveu um sistema de argolas móveis e reguláveis para facilitar as acrobacias aéreas. A idéia surgiu da necessidade de otimizar os treinos do Grupo Ginástico da Unicamp. O aparelho oficial de ginástica ganhou uma estrutura de ferro fundido, eixos e dobradiças. Com isso, o atleta consegue impulso para frente e para trás e aumenta a possibilidade de prática de outros exercícios. Segundo Gallardo, o professor de educação física convive com a exigência de inovar na substituição de objetos e materiais, a fim de tornar as aulas mais atrativas. O problema é que não há tradição de patentear as invenções entre os profissionais da área, o que não acontece com ele, que tomou gosto pela prática.
Neste momento, Gallardo comemora a entrega de outros três projetos para patenteamento: um urinol com mangueira para pessoas acamadas; uma bolsa coletora de urina, descartável, para viagem ou utilização em clínicas, hospitais, asilos, camping, colônia de férias; e um dinamômetro medidor de pressão de botijões de gás de uso doméstico. Em fase de criação, uma arquibancada retrátil própria para espaços menores, com capacidade para 25 pessoas.