Entomologia forense é a ciência que permite identificar causas de morte de seres humanos através dos insetos que colonizam o cadáver. Para pesquisas nesta área, geralmente são utilizados animais de grande porte, como o porco sob a incômoda justificativa de que se trata de um dos mamíferos mais parecidos com o homem. “O tamanho da cavidade toráxica, a porcentagem de pêlos no corpo e outras características internas são muito semelhantes às nossas”, explica o biólogo Thiago de Carvalho Moretti. Em sua pesquisa de mestrado, no entanto, Moretti decidiu por experimentos com ratos e camundongos, partindo do princípio de que os pequenos roedores são encontrados em abundância e em qualquer ambiente.
Na pesquisa orientada pelo professor Odair Benedito Ribeiro, Thiago Moretti não só obteve resultados para estudos em investigações legais, como trouxe novas perspectivas para a compreensão de alguns processos ecológicos que incluem artrópodes grupo composto por insetos, aranhas e escorpiões, entre outras espécies. Descobriu, por exemplo, espécies incomuns de moscas com potencial função forense, e viu com surpresa o aparecimento do opilião, bicho semelhante à aranha e difícil de ser observado na decomposição de carcaças. Outras observações interessantes foram de que a chegada de várias famílias de moscas e besouros não obedeceu às etapas clássicas de colonização, e de que mesmo na carcaça de um animal de pequeno porte foram identificadas, em média, 50 espécies diferentes de artrópodes.
Levar a cabo esse tipo de pesquisa não é tarefa fácil e exige a paixão que Thiago Moretti confessa pelo tema. Depois de depositar as 32 carcaças de ratos e camundongos em uma área próxima ao Instituto de Biologia, durante um ano, religiosamente, ele compareceu todos os dias ao local, no mesmo horário, fizesse chuva ou sol, para retirar as amostras de moscas e larvas. As carcaças estavam em pontos estratégicos, protegidas com uma armadilha para evitar o assédio de cachorros ou animais de grande porte.
Foi assim que o biólogo conseguiu um número expressivo tanto de moscas em fase madura quanto de larvas para serem desenvolvidas em laboratório. A etapa seguinte foi de identificação das espécies, talvez a mais demorada. “Era preciso analisá-las com cuidado para evitar erros. No caso de uma família de moscas, precisei ir até o Rio de Janeiro atrás de uma especialista para obter a identificação correta”, lembra.
São várias as perguntas que precisam ser respondidas a partir desse estudo, como por exemplo: por que o aparecimento de um opilião no processo de decomposição? “Uma resposta possível seria de que quisesse se alimentar das larvas na carcaça”, opina Moretti. O estudo também trouxe contribuições para o entendimento da competição entre as espécies, do equilíbrio ecológico e da sucessão de insetos de outras colônias. Uma certeza é quanto à importância da ação dos insetos no processo de decomposição de cadáveres, embora o assunto pareça mórbido. “Imagine o tempo que duraria a decomposição dos cadáveres se não existissem os insetos. É necessário equilíbrio ecológico”.