O
fascínio das Máscaras
ANTÔNIO
ROBERTO FAVA
s
primeiras máscaras surgiram entre os séculos
V a.C e V d.C, como artigo bastante utilizado nas primitivas
manifestações dramáticas encenadas
nos teatros greco-romanos e oriental. Os atores cobriam
o rosto ou parte dele, na caracterização
de suas personagens. Ao longo dos tempos, passaram a servir
também como peça de adorno e até
hoje despertam fascínio.
Em
Veneza, por volta do século 15, acontecia a primeira
manifestação popular tendo a máscara
como recurso para disfarce ou dissimulação.
Chamaram-na Bell Masquê. Num período de divergências
políticas e constantes conflitos sociais, a população
passou a recorrer às máscaras para tentar
esconder-se. Dos grandes bailes de gala, tea-tros e o
carnaval de rua, esseS apetrechos tornaram-se também
peças decorativas, fazendo surgir uma das principais
atividades econômicas da região de Veneza.
O
ritual alastrou-se, ganhou continentes e chegou ao Brasil.
Reproduções estilizadas da face humana ou
animal esculpida em barro, madeira, cortiça,
papelão, guarnecida de pêlos, cores e outros
enfeites , aS máscaraS despertavaM nos usuários
a crença de efeitos mágicos. Místicas,
enriqueciam rituais, identificavam raças.
Faces
- Não com esses propósitos, evidentemente,
sete estudantes de artes plásticas da Unicamp juntaram-se
para participar da exposição Faces, na qual
mostraram 35 máscaras de diversos tamanhos, tendências
e estilos. Juliana Kataguini, Caroline Barbosa de Oliveira
(Cal), Cristiane Motta, Fernanda Dodi, Fraya Boteman,
Carina Thadeu e Deyze Argento formam o grupo que expõe
as peças na escola de idiomas In Touch, na Cidade
Universitária São máscaras indígenas,
rituais ou para simples decoração.
A
idéia de participar da mostra surgiu quase que
por acaso, mais pela intimidade, semelhanças e
propósitos de trabalho das estudantes, quase todas
na mesma série no Instituto de Artes. A maior parte
dos trabalhos é fruto de pesquisa, dentro e fora
da Universidade. Prática também adquirida
com o passar do tempo e que a gente foi aplicando num
constante processo de evolução, com o objetivo
de buscar novas técnicas e estilos de trabalho,
diz Juliana Kataguini.
Quase
todas as máscaras têm como modelo as próprias
artistas. Como as de Caroline, feitas de papel colado,
machê e tinta acrílica. Primeiro passa-se
uma mão de vaselina no rosto, para não grudar.
Em seguida, junta-se uma camada de gesso e espera-se uns
três ou quatro minutos para secar. Retira-se o molde
negativo, obtendo o positivo. Depois preenche-se com gesso
a matriz da peça, explica.
Em todas as máscaras rostos de diversos
tamanhos, formatos e cores existe a possibilidade
de salientar alguns elementos, como bochechas, nariz,
queixo e orelhas, segundo acrescenta Cristiane Motta.
Inclusive em chapéus ou outros enfeites, como nas
peças de Fernanda Dote. Cada uma delas seguiu pelo
caminho que melhor lhe aprouvesse. Como Caroline e Fraya
Bateman, que optaram pelas máscaras primitivas.
Outras escolheram as rituais ou mistas.
Místicas
As máscaras têm o poder místico
de dar vazão a alegria, tristeza, revelar ou ocultar
sentimentos. No Egito antigo eram colocadas nos rostos
dos mortos para ajudá-los na arriscada passagem
à vida eterna. Gregos e romanos exibiam-nas em
cerimônias religiosas. Na China, afastavam maus
espíritos.
Para as artistas da Unicamp, é puro processo de
criação. Quando começo uma
peça, não penso no que vai dar. Principalmente
quando o trabalho é em argila, que aos poucos vai
lhe sugerindo formas e mostrando plasticidade. Quando
você vê, a peça está pronta,
conta Caroline.
O
tempo que se demora para concluir uma peça depende
de cada técnica e da figura. Uma máscara
confeccionada de papel colado pode ficar pronta em dois
ou três dias e até em semanas, como a Felicidade
no mundo-chamas, de papel colado, ou Felicidade no mundo-negro,
de Cristiane Motta, de papel machê.
Caroline costuma dizer que em artes plásticas não
se perde nada, nada se joga fora. Juliana e Cristiane
endossam a afirmação, pois nesta profissão
aprende-se a correr atrás de todo tipo de lixo:
metal, papel, isopor e outros materiais encontrados na
rua. Uma máscara chamada Dayse Argento, por exemplo,
é confeccionada com conchas do mar e fitas magnéticas
de cassete. Até pauzinho de churrasco pode
servir para alguma coisa, finaliza Cristiane.
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