Hilda Hilst é uma das vozes fundamentais da paisagem literária brasileira e de língua portuguesa do século XX. Com mais de 40 obras escritas em verso, dramaturgia e prosa, publicadas entre 1950 e 2000, Hilda Hilst (Jaú/1930-Campinas/2004) é uma poeta lúcida, culta, consciente de suas ações e palavras.
Em 1996, quando buscava manuscritos de escritores com o objetivo de realizar um mestrado em crítica genética – estudo de obras literárias modernas a partir dos manuscritos, ramo da teoria literária desenvolvido na França desde os anos 1960 – procurei o Centro de Documentação Cultural “Alexandre Eulalio” (Cedade), do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, que acabava de receber um novo acervo: manuscritos, fotos, desenhos, cartas e documentos de Hilda Hilst. Encontrei poucos trabalhos sobre sua obra: Marco Antonio Yonamine (1991/FFLCH-USP); Clara Silveira Machado (1993/PUC-SP); Inês da Silva Mafra (1993/UFSC); Maria Thereza Todeschini (1993/UFSC) e Cássia R. Borsero (1995/ECA-USP). Hoje são incontáveis as pesquisas desenvolvidas sobre Hilda Hilst – por acadêmicos, atores, diretores de teatro, cineastas e jornalistas.
Nos últimos anos de vida, Hilda Hilst viu suas obras reunidas publicadas pela Editora Globo, com organização de Alcir Pécora. A escritora teve de esperar 50 anos para que sua obra fosse distribuída por livrarias de todo o país, mas não precisará de muitos anos mais para que ela faça parte da vida escolar e universitária. Universidades de Goiás têm incluído, nos últimos anos, obras hilstianas em suas listas de leituras para o vestibular. Em 30 e 31 de março de 2006, o Instituto de Letras e Lingüística da Universidade Federal de Uberlândia (Ileel-UFU) realizou o II Seminário de Poesia: Homenagem a Hilda Hilst, organizado por Enivalda Nunes Freitas e Souza, Edirles M. Backes e Elaine C. Cintra. O Seminário contou com a presença dos professores Eduardo J. Tolendal (Ilee/UFU), Gilberto F. Martins (Unesp-Assis/UnB), Humberto A. de Oliveira Guido (Filosofia/UFU), João Marcos Alem (Sociologia/UFU), Karla Bessa (História/UFU), Maria Lúcia C. Romera (Psicologia/UFU), além de pesquisadores do Ileel/UFU – Aline P. de Morais, Kamilla K. S. França, Karyne P. de Moura, Lívia Carolina Alves da Silva, Maria das Graças Maciel, Mariana N. de Freitas – e de outras faculdades: Daniela M. Barbosa (UnB), Luciane N. do Amaral de Souza, (Unesp/S. José do Rio Preto) e Talita Trizoli (Artes Plásticas/UFU).
Neste início de milênio, acostumados a lidar com o discurso fragmentado da internet e com novos paradigmas, os jovens sentem-se preparados para ler a obra hilstiana. João Alberto de Souza Silva, estudante de Artes Plásticas do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, afirma que ampliou sua linguagem depois de ler obras de Hilda Hilst, com quem dialoga em seus desenhos: “Sua prosa, composta por frases entrecortadas e diálogos contornados por pensamentos cumulativos, dá o tom da embriaguez. Hilda expõe um espaço interno em convulsão, num jogo vertiginoso no qual não se sabe quem exatamente é o eu e o tu. É uma dialética que põe o leitor dentro do texto”.
Diálogo entre hilstianos – Hilstianos de várias partes do Brasil trocam informações sobre a poesia, a prosa, o teatro, as crônicas e as traduções de Hilda Hilst: os escritores José Luis Mora Fuentes, Eustáquio Gomes, Leo Lobos, Ana Lúcia Vasconcelos – Claudio Willer e Floriano Martins (ambos da Revista Agulha) – o arquiteto Jorge Bercht, a atriz Iara Jamra, os artistas plásticos Olga Bilenky e Geraldo Porto (IA/Unicamp), os pesquisadores Cristiano Diniz e Felipe H. de Araújo, que organizam o Fundo Hilda Hilst no Cedade, as jornalistas Patrícia Lauretti (TV Unicamp) e Juliana Maringoni (PUC-Campinas), os pesquisadores Geruza Zelnys de Almeida (PUC-SP) e Ana Paula O. Pereira (PUC-SP), Maria Aparecida de Macedo, Laura S. Folgueira, Luísa de Aguiar Destre, Renata Flaiban e Fabiano Assis (de São Paulo), Alan S. Ribeiro Carneiro e Leandro S. de Oliveira (ambos da Unicamp), Geruza S. Martins, Lúcio Paiva e Elizabeth Rocha Leite (do interior de São Paulo), Prof.a Dr.a Vera Queiroz da Universidade Federal Fluminense (UFF), Prof. Dr. Roberto Corrêa dos Santos (UFF), Prof. Dr. Paulo César S. de Oliveira e André L. B. da Silva (do Rio de Janeiro), pesquisadores da PUC-Minas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), entre eles Prof.a Dr.a Sueli Lobo, João Luiz P. Tavares, Juarez G. Dias, Maria Goreti N. Pereira, Renata Cabral, Rodrigo S. de Oliveira, Ronnie F. P. Cardoso e o grupo da UFU já citado (de Minas Gerais), Prof.a Dr.a Ermelinda Ferreira (UFPE), Cinara Leite, Eduardo Bione, João B. M. de Morais e Joelma R. da Silva (de Pernambuco), o diretor de teatro Afonso Neto (do Ceará), a estudante de filosofia Bárbara Roma (do Rio Grande do Norte), Cássia Pires (do Maranhão) e Luciana Borges (de Tocantins). Na França, Fernanda Massebeuf inicia um mestrado sobre a poesia de Hilda Hilst na Sorbonne – Paris IV.
A Instituição Hilda Hilst. Casa do Sol Viva, presidida por Mora Fuentes, realiza homenagens no mês de aniversário da escritora: eventos culturais no Espaço Cultural CPFL-Campinas em 2004 e 2005; exposição “O Vermelho da Vida” (curadoria de Olga Bilenky) e lançamento do CD “Ode descontínua e remota para flauta e oboé. De Ariana para Dionísio”, poemas de Hilda Hilst musicados por Zeca Baleiro, no Sesc Campinas e Pompéia respectivamente, em 2006. A Instituição Hilda Hilst apoiou em 2005 vários eventos: Palavra Viva: Hilda Hilst no Sesc Pinheiros (org. de Beatriz Azevedo e Sabrina Greve), com depoimentos de Antonio Fernando De Franceschi, Lygia Fagundes Telles, Carlos Vogt, Claudio Willer e Nelly Novaes Coelho, entre outros; o curta-metragem O Caderno Rosa de Lori Lamby, com Iara Jamra dirigida por Sung Sfai; e a exposição O Caderno Rosa de Hilda Hilst no Cedade.
De 22 a 24 de novembro de 2006, a obra hilstiana será debatida no Grupo de Trabalho Poesia, Teatro, Prosa e Tradução de Hilda Hilst, que acontecerá no Ileel-UFU inserido no XI Simpósio Nacional de Letras e Lingüística e I Simpósio Internacional de Letras e Lingüística. Inscrições de trabalhos (incluindo título, autor, instituição de origem, resumo, endereço, e-mail e telefone) serão recebidas por e-mail (crisgrando@yahoo.com.br) até 21 de julho de 2006 ou até que as vagas sejam preenchidas.
Ano do Brasil na França – Hilda Hilst tem sido cada dia mais traduzida e publicada. Graças ao Ano do Brasil na França, em 2005, novas traduções ao francês – propostas por Celso Libânio, Catherine Dumas, Espérance Aniesa, Ilda M. dos Santos e Michel Riaudel – juntam-se a textos traduzidos por Maryvonne Lapouge-Petorelli (Contes Sarcastiques/Fragments Poétiques e L’obscène madame D suivi de Le Chien, Gallimard) e Michel Riaudel (Sur ta grande face, revista Pleine Marge, 1997). Traduções do poeta chileno Leo Lobos são divulgadas em países como Chile (texto de Francisco Véjar publicado em El Mercurio; textos e poemas traduzidos publicados em jornais e revistas tais como Rocinante editada por Iván Quezada; Carajo editado por Sergio Ojeda, Proyecto Patrimonio editado por Luis Martínez Solorza), Argentina (El Camarote editada por Raúl Artola; Museo Salvaje editada por Sergio de Matteo), Espanha (La Siega editada por Luis Miguel Hermoza M.), Peru (Ginebra Magnolia editada por Reinhard Mori), Honduras (Mundo Cultural Hispano) e Canadá (La Cita Trunca editada por Jorge Etcheverry).
No documentário Eu lambo, tu lambes, Lori Lamby - Escritos Obscenos de Hilda Hilst, produzido por Caroline Almeida, Celso Barbin e Márcio Razuk, o crítico da arte Jorge Coli assegura: “Hilda Hilst é essencial porque é o melhor autor de seu tempo. É o único autor digno dos tempos dela, único digno de uma verdadeira grandeza”. Vivendo intensamente o presente, mas direcionado ao futuro, o olhar de Hilda Hilst capta o mundo e o transfigura em palavras: “Aquele fino traço da colina / Quero trancar na cancela / Da alma. Alimento e medida / Para as muitas vidas do depois. // Curva de um devaneio inatingido / Um todo estendido adolescente / Aquele fino traço da colina / Há de viver na paisagem da mente // Como a distância habita em certos pássaros / Como o poeta habita nas ardências”.