Concebidos e elaborados por mestrandos e doutorandos, os layouts dos projetos foram encaminhados à Áustria para fundição dos respectivos chips através do Programa Multi-Usuário da Fapesp (PMU/Fapesp), que atende às universidades publicas paulistas, e estão retornando aos projetistas para os testes. Esses circuitos, voltados para a telefonia celular e totalmente desenvolvidos na Unicamp, apresentam conteúdo inovador e mudanças tecnológicas. Constituem alternativas ao que existe no mercado porque possuem eficiência superior e atingem freqüências maiores, o que permite, por exemplo, melhora na recepção e aumento da multiplicidade de faixas. Face às inovações que introduzem, podem vir a ser patenteados.
“Nessa área nos encontramos no estado da arte, em nível comparável aos grandes centros. Conseguimos formar projetistas com bom domínio dessa tecnologia e em condições de trabalhar em qualquer corporação internacional. Nosso objetivo é formar gente com capacidade e conhecimento profundo na área de circuitos microeletrônicos”, afirma Luiz Carlos Kretly. O professor explica que existem circuitos integrados para computadores, sensores, veículos automotivos e para telecomunicações de alta freqüência, como os embutidos nos celulares, por exemplo. “Trabalhamos nesse nicho, formando projetistas capazes de desenvolver circuitos integrados RF e microondas. Nossa área de atuação envolve circuitos de telecomunicações Wireless, celulares, protocolos do tipo Wi-Fi e Wi-Max e circuitos integrados para TV digital”, acrescenta.
O professor ressalta que não é exigido do pós-graduando um produto final que deve ficar no âmbito das grandes empresas que contam com diversificadas equipes e sim projetar e executar o layout de subcircuitos que permitem acrescentar inovações. “O principal objetivo é que o nosso aluno domine o ciclo completo do projeto e, além disso, introduza inovações no que elabora. Dentro dessa perspectiva formamos projetistas capazes de inovar em qualquer indústria. Os nossos projetistas estariam entre os melhores em qualquer corporação”, assegura.
De acordo com Kretly, o Brasil se ressente da falta desses projetistas e a Unicamp, com o apoio do PMU/Fapesp e do Centro de Pesquisas Renato Archer (Cenpra), vem trabalhando muito intensamente na formação de pessoal. “Poucas universidades no mundo realizam esse tipo de pesquisa com alunos de mestrado e doutorado. Graças à Universidade e a convênios que estabelecemos conseguimos montar o equipado e moderno Laboratório de Circuitos Integrados de RF e Microondas”, informa. Nesse sentido, o professor destaca a importância do Programa Multi-Usuário da Fapesp, que financia os projetos de fabricação de chips, coordenado pelo professor da FEEC Carlos Alberto dos Reis Filho e também pesquisador da área de microeletrônica.
Caminho brasileiro No bojo da reserva de mercado para fabricação de computadores implantada nos governos militares, havia também uma reserva para microeletrônica, com o objetivo de desenvolver chips no Brasil. Foi nessa ocasião que várias universidades brasileiras se voltaram a projetos visando os semicondutores nacionais. “O término da reserva e o próprio tempo se encarregaram de mostrar que fabricar chips não é papel da universidade. A estratégia adotada hoje no país é a de formar projetistas que dominem a concepção e o desenvolvimento dos chips e os mandem para as fundidoras (foundries) que existem nos centros que detêm essa tecnologia”, diz o professor Luiz Carlos Kretly.
O importante, na opinião do professor da FEEC, é que se tenha conhecimento tanto do chip quanto do sistema que leva ao seu layout. “Precisamos formar o que chamo de world class designers projetistas de classe mundial para atuar num segmento que pede investimento relativamente pequeno, já que ele se faz essencialmente com cérebros, o que podemos formar em nossas universidades”, reitera. Kretly lembra ser esta a estratégia do Governo Federal, através do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que mantém o programa Design Houses para financiar centros de formação de projetistas de circuitos integrados.
Sobre o Brasil não dispor de plantas para fabricação de chips, o pesquisador argumenta que para fabricá-los em grande escala, de maneira a justificar a produção, a construção da fábrica não se faria por menos 1 bilhão de dólares, quando a construção de uma montadora automotiva de porte médio custa cerca de 500 milhões de dólares. Kretly considera que um investimento dessa ordem transcende à poupança nacional. “A concepção, o design, o layout é que agregam valor. Daí a importância capital de desenvolver cérebros capazes de elaborar projetos. São projetos o que se comercializa, a exemplo dos grandes fabricantes de tênis, que detêm a tecnologia e cedem o direito de fabricação para outras empresas”.