Obra revela os principais acontecimentos
da história
da unidade a partir de documentos e depoimentos
MANUEL
ALVES FILHO
Os alunos que chegam atualmente ao Instituto de Matemática,
Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp não
imaginam que nos primórdios da Unidade professores e estudantes
tiveram que recorrer a “puxadinhos” de madeira, daqueles
utilizados nas comunidades carentes da maioria das cidades
brasileiras, para poder cumprir parte de suas atividades.
De lá para cá, tudo mudou. Hoje, a estrutura do Imecc é
comparável à dos melhores centros similares do mundo. Ademais,
seu programa de pós-graduação em Matemática é detentor da
nota máxima (7) conferida pela Coordenação de Pessoal de
Nível Superior (Capes), órgão subordinado ao Ministério
da Educação. A história do Instituto, que completou 40 anos
em 2008, é contada em detalhes em livro que acaba de ser
lançado pelo jornalista Paulo Cesar Nascimento, intitulado
“Imecc 40 Anos – A trajetória do Instituto de Matemática,
Estatística e Computação Científica da Unicamp”. A obra
desvela os principais aspectos que marcaram as quatro décadas
do Imecc - alguns deles pitorescos, outros regidos por tensões
e crises.
A iniciativa de publicar um livro que contasse a história
do Imecc partiu do atual diretor da Unidade, professor Jayme
Vaz Jr. De acordo com ele, por ocasião da comemoração de
seus 35 anos, o Imecc já havia iniciado um trabalho de recuperação
de sua memória institucional, por meio de um site contendo
entrevistas, depoimentos e fotos. A ideia de aprofundar
esse trabalho surgiu após ler O Mandarim, obra escrita pelo
jornalista Eustáquio Gomes que conta a história da construção
da Unicamp. “Em seguida, li o livro que trazia a história
de 40 anos do Instituto de Química, de autoria do próprio
Paulo Cesar Nascimento. Como as boas experiências devem
ser copiadas e se possível aprimoradas, considerei que seria
interessante produzirmos algo do gênero para comemorar o
40º aniversário do Imecc, tendo em vista a riqueza da sua
trajetória”, explica.
Conforme
Nascimento, o texto foi elaborado em linguagem jornalística.
Os fatos narrados foram reconstituídos com base em documentos,
mas principalmente a partir de depoimentos daqueles que
ajudaram a fundar as bases do Instituto. Ao todo, foram
ouvidas mais de duas dezenas de personagens, o que gerou
perto de 50 horas de gravação. Duas figuras centrais no
trabalho de resgate da história da Unidade, considera o
autor, foram o estatístico Murillo Marques, encarregado
pelo fundador da Unicamp, Zeferino Vaz, de implantar o Instituto;
e o matemático Ubiratan D’Ambrosio, que sucedeu Marques
na direção do Imecc e cuja gestão representou um divisor
de águas na trajetória do Instituto. “Tanto os professores
Marques e D’Ambrosio quanto os demais entrevistados foram
muito generosos. Eles não mediram esforços para me ajudar
a esclarecer os fatos relatados no livro, o que acabou por
enriquecer o conteúdo”, afirma Nascimento.
Entre os acontecimentos pitorescos presentes na obra, um
chama a atenção. Enquanto o prédio que abrigaria o Imecc
seguia em execução, as atividades da Unidade eram desenvolvidas
em espaços provisórios. Como os ambientes eram muito acanhados,
professores e alunos improvisaram e construíram “puxadinhos”
de madeira, que foram anexados ao prédio antigo do Instituto.
“Pelos depoimentos que colhi, o lugar ficou parecido com
uma pequena favela. Além disso, o que chamaríamos de barracos
funcionavam como câmaras frigoríficas no inverno e estufas
no verão. Isso sem falar que, durante as chuvas, havia muita
infiltração de água”, descreve o autor do livro. A construção
do prédio atual, prossegue Nascimento, foi cercada de idas
e vindas e de tensões. O projeto arquitetônico foi concebido
já na gestão do professor D’Ambrosio. Como eram épocas de
vacas gordas, o então diretor optou por uma proposta grandiosa
e arrojada. O prédio, previa-se, teria linhas artísticas
e seria dotado de elevadores e salas de aula subterrâneas.
No
período imediatamente posterior, entretanto, o contexto
mudou. Era a fase do governo de Paulo Maluf, que não somente
reduziu o repasse de verbas para a Unicamp, como determinou
intervenção na Universidade. “Com isso, as obras tiverem
que ser paralisadas. Durante alguns anos, restou apenas
um esqueleto de concreto no local”, diz o jornalista. A
construção foi retomada um bom tempo depois, não sem antes
ser objeto de uma polêmica. É que o então reitor José Aristodemo
Pinotti propôs que o edifício fosse cedido ao Instituto
de Artes. Como compensação, o Imecc receberia outra sede.
“A proposta gerou uma divisão interna no Instituto. Houve
quem defendesse a oferta, por entender que seria a melhor
forma de finalmente conquistar um prédio próprio para o
Imecc. Outros, no entanto, se posicionaram contra a troca.
Prevaleceu a segunda posição”, explica Nascimento.
De acordo com o atual diretor do Imecc, o livro tem duas
dimensões importantes. A primeira, por se tratar de um documento
sobre a história do Instituto. “Algumas pessoas imaginam
que a Unidade nasceu acabada, da forma como é hoje, o que
não é verdade. Ela foi construída com muito sacrifício por
parte dos pioneiros e das gerações seguintes”. Segundo,
porque representa um agradecimento a todos aqueles que não
mediram esforços para que um projeto que parecia um tanto
excêntrico no início viesse a se tornar um exemplo de sucesso.
“Mas os desafios continuam. Ironicamente, estamos mais uma
vez com problema de espaço, em razão do crescimento do Instituto.
Dentro de nosso planejamento estratégico, prevemos a construção
de mais um prédio e a adoção de medidas que consolidem o
amadurecimento da área de Estatística, cujo programa de
doutorado foi criado há apenas três anos”, adianta o professor
Jayme Vaz Jr.