Tricampeão de remo
avalia por que o Brasil
não avança na modalidade
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Os resultados alcançados em competições internacionais de maior expressão, como Jogos olímpicos, Campeonatos Mundial e, mais recentemente, a Copa do Mundo, demonstram o pouco êxito do sistema de preparação de desportistas de remadores brasileiros em comparação aos países de elite nesta modalidade. A constatação é do professor de educação física Gustavo Bastos Moreno Maia, que já foi campeão brasileiro de remo por três vezes. Apesar de o remo no Brasil ter uma vasta história de mais de cem anos, não se conseguiu atingir, até o momento, um desenvolvimento expressivo em nível competitivo. Foi esse aspecto que levou Gustavo Maia a procurar a universidade para aprofundar os estudos sobre o sistema de preparação física dos remadores brasileiros.
Os dados de sua pesquisa de mestrado, obtidos por meio de testes específicos, revelaram que os remadores da categoria adulta brasileira apresentam níveis de resistência especial inferiores aos observadas na categoria júnior da elite internacional de remo. Para Maia, um dos caminhos seria a aproximação entre as unidades esportivas e os centros de pesquisa. “Isto poderia suscitar a elaboração de estratégias de ação que possam ser capazes de promover a superação da condição em que se encontra o remo do país”, acredita.
O campeão brasileiro argumenta que os bons resultados alcançados pela seleção brasileira nas competições sul-americanas não representam, necessariamente, uma evolução no esporte. Segundo ele, há consenso de que os principais atletas dos países vizinhos não competem em sua melhor forma nos jogos do continente, já que priorizam outras competições. “Há um esvaziamento das provas e o nível técnico é muito baixo”, revela. Como exemplos, ele cita o desempenho da Argentina nas Olimpíadas de 2004, alcançando o quarto lugar, e o campeonato mundial conquistado pelo Chile recentemente. “Esses países dão pouca importância aos campeonatos sul-americanos e preferem as competições do circuito europeu e os Jogos Olímpicos, onde o nível de competitividade é bem superior”, esclarece.
Força e resistência Na dissertação intitulada “Remo: Cargas concentradas de força e sua relação com a alteração de diferentes indicadores funcionais”, o professor Gustavo Maia avaliou a preparação física de três atletas com idades de 18, 19 e 27 anos com base no modelo preconizado pelo cientista russo Iuri Verkhoshansky. O conjunto de exercícios, diferente do praticado pelos atletas brasileiros, se traduz em uma nova maneira de organizar as cargas de treinamento. “O sistema parte da hipótese de que existe uma tendência de estagnação nos resultados após muitos anos de preparação física, quando o esporte exige altos níveis de resistência e força”, explica. Segundo o autor, em uma regata de 2.000 metros, por exemplo, o atleta move os remos entre 210 e 240 vezes, considerando ainda que a força é continuamente aplicada durante todo o tempo, afim de que se mantenha o mesmo nível de velocidade ao barco.
O sistema de treinamento proposto por Verkhoshansky vem sendo estudado nos laboratórios da Unicamp, sob orientação do professor Paulo Roberto de Oliveira, em diversas modalidades esportivas como atletismo, basquete, vôlei, ciclismo, futebol e outras. No caso dos remadores avaliados, constatou-se que a capacidade de força máxima registra nos testes se assemelhava aos parâmetros dos atletas de nível internacional. Já em relação à capacidade de resistência da força geral e resistência especial, as avaliações revelaram que os atletas encontram-se muito abaixo dos valores observados nos atletas de elite no mundo.