Cláudia Rocha ressalta a reconhecida importância das línguas estrangeiras não apenas como instrumento de inserção e ascensão social, mas também como canal de acesso a diferentes culturas. Além disso, esclarece, o ensino tem sido incluído já nas séries iniciais das escolas da rede pública e, há algum tempo, faz parte do plano curricular das escolas particulares. Neste sentido, os professores precisam estar bem preparados. A professora explica que, ao contrário do que se pensa, o inglês nas séries iniciais é base para um aprendizado eficiente.
“O ensino de línguas estrangeiras deve exercer um papel formador, mas infelizmente, o que se percebe em muitos casos, é que o professor nem precisa falar a língua fluentemente. Basta que ele siga o roteiro preconizado pelo livro didático, com a fórmula da repetição e a abordagem de jogos, músicas e histórias como acessórios ou complementos no curso, ao invés de tomar a língua-cultura como base, ou seja, como foco central e propulsor para o processo de ensino-aprendizagem de línguas”, critica.
O estudo de proposições teórico-práticas que contemplassem o ensino de inglês diferenciado para crianças, orientado pelo professor José Carlos Paes de Almeida Filho, teve início há dois anos, quando a empresa da qual Cláudia Rocha faz parte venceu uma licitação para atuar na rede municipal de ensino em 18 escolas. O objetivo era oferecer cursos de inglês e espanhol para crianças de 1ª a 4ª séries como disciplinas integrantes da matriz curricular do ensino fundamental. “De repente me vi num universo de sete mil crianças e sem nenhuma diretriz oficial para o trabalho. Em geral, tanto as pesquisas como os referenciais teóricos disponíveis têm como foco o ensino a partir da 5ª série, e o ensino de línguas para crianças, principalmente das escolas públicas, é totalmente diferenciado”, explica a pesquisadora.
O método A proposta de Cláudia Rocha foi ensinar a língua a partir de práticas sociais como brincar, cantar e contar histórias, presentes no imaginário das crianças e constitutivas do mundo infantil, sem que elas precisassem decorar diálogos de um contexto totalmente diferente do que vivenciam. “O ensino tradicional privilegia situações muitas vezes artificiais, apesar de contextualizadas, cujo maior objetivo é ensinar formas gramaticais e palavras isoladas, sem se ater ao fato de que a criança deve estar inserida em práticas reais na língua-alvo, as quais permitem que ela consiga construir a ponte entre o que aprende e o que pode vivenciar no seu dia-a-dia”, esclarece.
A pesquisadora teve como amparo teórico os gêneros discursivos e recorreu a materiais presentes na realidade brasileira, como gibis da Turma da Mônica e textos curiosos para, então, fazer a re-contextualização para práticas de linguagem do inglês, permitindo que o idioma fluísse naturalmente. Claúdia Rocha também realizou 118 entrevistas com professores, alunos, diretores de escola, coordenadores pedagógicos e pais de alunos para fazer uma análise do panorama do ensino da língua em seu contexto. Seu trabalho possibilitou montar um curso de extensão de 35 horas, oferecido pelo IEL/Unicamp, voltado para professores de línguas de escolas regulares e de institutos de idiomas. No curso, ao lado do doutorando Kleber Aparecido da Silva, Cláudia apresenta princípios e práticas referentes ao ensino-aprendizagem de línguas para crianças e material de apoio para os professores em sala de aula. Ela já formou três turmas e a idéia é iniciar o módulo dois do programa. Seu objetivo é elaborar um livro didático para o ensino de inglês para crianças.