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‘Marketing verde’ gera segregação em
2 distritos de Campinas, aponta estudo
Dissertação do IG aponta “privatização”
de espaços de lazer e de convivência
Marketing
verde” foi o termo cunhado na literatura pela turismóloga
Ana Maria Vieira Fernandes que melhor descreve o surgimento
de um novo cenário urbano e de lazer nos distritos campineiros
de Sousas e Joaquim Egídio. Segundo Ana Maria, as formas de
apropriação do espaço pelos usos e consumos têm se caracterizado
pela desigualdade e segregação de classes sociais. Ela analisa
a maneira como os empreendimentos imobiliários utilizam as
paisagens naturais, cuja relevância ambiental é inquestionável,
para atrair novos moradores, turistas e visitantes. “Atualmente
é possível perceber a crescente implantação de condomínios
horizontais, loteamentos fechados, além do lazer, só que tudo
isso ocorre de maneira privada e crescente”, argumenta.
Para chegar a essas considerações,
Ana Maria buscou na Geografia os subsídios para embasar sua
dissertação de mestrado, apresentada no Instituto de Geociências
(IG) e orientada pela professora Regina Célia Bega Santos.
Durante os anos de 2008 e 2009, a pesquisadora percorreu as
ruas dos dois distritos e colheu depoimentos de moradores,
empreendedores e visitantes. Em sua pesquisa, Ana Maria detectou
que 83% do turismo local refere-se à forma privada. As visitas
a fazendas e cachoeiras, por exemplo, são pagas ou estão localizadas
dentro das áreas de estabelecimentos comerciais. Apenas 17%
são praças públicas e áreas destinadas ao lazer para a população
em geral.
Ana Maria explica que o fenômeno
sempre chamou sua atenção, principalmente a partir dos anos
de 1990, quando a questão da natureza começou a ser explorada
mais intensamente. “Nasci em Campinas e lembro perfeitamente
quando os distritos eram áreas rurais com muitas fazendas
e terras. A partir da década de 70, a especulação imobiliária
teve início, acirrando-se no começo de 90 com os apelos ambientais
e a associação da natureza à qualidade de vida”, avalia.
Com
a transformação de boa parte da região em Área de Proteção
Ambiental (APA), em 2001, a necessidade criada pelo mercado
de aproximar o cidadão das áreas verdes continuou em processo
de crescimento, enquanto o esperado era que se mantivessem
e estabelecessem limites para a preservação do meio ambiente,
permitindo somente o uso sustentável da região. Ao contrário,
as áreas verdes passaram a ter status de mercadorias caras,
que, na opinião da pesquisadora, não mais permitem que os
cidadãos simplesmente as habitem e nelas se divirtam livremente.
“O reordenamento deste território pelo turismo e lazer e pela
especulação imobiliária nos faz pensar que o local onde os
distritos localizam-se está sendo encarado como Área de Proteção
do Capital”, ironiza.
Em 2009, segundo apontou a
pesquisa conduzida no IG, o número de habitantes passava dos
20 mil e o número de estabelecimentos comerciais chegava a
250. Além disso, até 2008, ainda existiam 16 loteamentos fechados
aprovados em Sousas e seis, em Joaquim Egídio. Em todos os
casos, as paisagens naturais se mostram moldadas para o consumo,
considerando que a APA possui 223 quilômetros quadrados, constituindo
27,39% da área total de Campinas. “Nos últimos 20 anos, os
distritos tornaram-se alvo de uma especulação imobiliária
que só tende a crescer”, acredita.
Na opinião da pesquisadora,
no caso do lazer a história não é diferente. Caracterizado
pelo turismo gastronômico, rural e ecoturismo, que tem como
público alvo classes mais abastadas, a privatização e segregação
social também ocorrem na região. “Há uma desigualdade social
e de acessos marcados por poucos espaços públicos e ainda
assim vazios e degradados, além de poucas opções de lazer
para a população remanescente que se ressente por não terem
acesso. Um almoço para o casal custa, em média, R$ 120. Um
lazer que só a classe média alta pode pagar”, analisa Ana
Maria. Na pesquisa consta ainda que 60% dos frequentadores
dos dois distritos são de Campinas e outros 30% são oriundos
da cidade de São Paulo.
A principal queixa da população
diz respeito ao trânsito intenso aos finais de semana, principalmente.
Mas há, também, o incômodo com o lixo deixado nas trilhas,
os carros estacionados nas portas das casas e a degradação
das áreas verdes. Em tudo isso, Ana Maria, observou falta
de investimento em políticas públicas na região. “A participação
nos distritos, geralmente, se dá através de denúncias e reclamações
feitas por alguns moradores. Outros se organizam e cobram
medidas do poder público. Por sua vez, os donos dos estabelecimentos
comerciais cobram maior envolvimento da Prefeitura com relação
às atividades do distrito. Mas muito ainda tem que ser feito”,
avalia.
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Publicação
Fernandes, A.M.V.; Santos, R. C. B. Revista Matogrossense
de
Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso. 2011
Dissertação: “A mercantilização da natureza
e as novas territorialidades nos distritos de Sousas e Joaquim
Egídio”
Autor: Ana Maria Vieira Fernandes
Orientadora: Regina Célia Bega Santos
Unidade: Instituto de Geociências (IG)
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