Jornal
da Unicamp – O que o levou o sr. a fazer essa comparação?
Claudio Dedecca – Há dois anos realizei pesquisa
na França, cujo objetivo era tratar do tema das desigualdades.
A preocupação era olhar como estava sendo tratada essa questão
no Exterior. Isto porque o problema da desigualdade é crescente
no mundo inteiro e, ademais, queria entender como a reflexão
existente nos países desenvolvidos poderia propiciar alguma
contribuição para a compreensão da situação brasileira.
Ao longo desse período
no Exterior, estabeleci contatos com alguns pesquisadores
conhecidos, nascendo assim a ideia de um projeto comparativo
entre os países do Norte e do Sul. Este projeto foi montado
e, atualmente, está sendo avaliado pela Comunidade Europeia.
O trabalho envolve pesquisadores brasileiros, americanos,
ingleses e franceses. Há, portanto, um fator institucional
que estimulou o estudo comparativo entre Brasil e Estados
Unidos desenvolvido em parceria com o professor Wilson Menezes,
da Universidade Federal da Bahia[UFBA] , além de o tema
integrar um projeto de pesquisa do CNPq, também centrado
no tema da desigualdade.
JU – E por que fazer a comparação
entre os mercados de trabalho do Brasil e dos Estados Unidos?
Dedecca – Em primeiro lugar, porque falamos dos
dois maiores mercados de trabalho das Américas. Eles jamais
foram estudados comparativamente. É a primeira vez que há
um estudo dessa natureza, seja para o Brasil seja para outros
países do Mercosul. É sabido que, nos Estados Unidos, na
década passada, os problemas das condições de mercado de
trabalho e de renda se ampliaram, mesmo com o país tendo
conhecido uma trajetória de crescimento. Os EUA cresceram
durante quase duas décadas, situação que nenhum país europeu
conseguiu. E, ao mesmo tempo, as informações davam conta
de que as condições sociais e de desigualdade tinham se
deteriorado, fato que inclusive foi objeto de acirradas
discussões que culminaram na eleição de Obama.
Trata-se de um país desenvolvido que vivenciou
um processo de deterioração; já o Brasil registrou, em uma
dimensão pequena, uma queda de desigualdade de renda. Meu
projeto, desenvolvido no Exterior, mostrou como a desigualdade
caiu em nosso país, mas não tanto, como foi apregoado.
JU – Essa constatação vai contra
o senso comum.
Dedecca – Sim, essa é uma das razões pela qual
decidimos fazer o estudo. Para o Brasil, os resultados que
tínhamos diziam que havia caído a desigualdade de renda,
mas, por outro lado, que não haviam ocorrido modificações
estruturais em termos do perfil da ocupação e quanto ao
acesso a bens públicos como saúde e habitação. Ademais,
a análise da situação do trabalho no Brasil é vista, muitas
vezes, como apresentando grandes desvantagens em relação
à encontrada para os Estados Unidos. Existe um ideário muito
forte sobre a sua pujança.
Obviamente que a situação brasileira é difícil,
mas hoje a condição norte-americana também não é das melhores
e talvez não seja interessante para nós tomarmos os Estados
Unidos como referência. É fundamental usarmos como exemplo
o Brasil, o próprio país. E aqui reside um aspecto importante
de ressaltar: realizado o estudo, os resultados surpreenderam,
ou melhor, nos assustaram.
JU – Em que medida?
Dedecca – Não esperávamos uma semelhança tão grande
em termos de precarização do mercado de trabalho. Sabíamos
que os Estados Unidos tinham conhecido um processo de deterioração
na década passada, mas não que ele tivesse hoje uma similitude,
uma situação tão próxima da realidade do mercado de trabalho
brasileiro. O ensaio mostra, por exemplo, que menos da metade
dos trabalhadores assalariados americanos tem um emprego
socialmente protegido, enquanto que, no Brasil, mais da
metade possui.
Não temos uma situação europeia, mas em
termos de cobertura da proteção social ao trabalho assalariado
estamos um pouco à frente dos Estados Unidos. Trata-se de
um fato inédito. Constatamos também, por exemplo, que a
distribuição de rendimentos no mercado de trabalho assalariado
brasileiro apresenta um menor grau de concentração que o
observado para os EUA. Nesse contexto, irrompe um aspecto
que merece destaque.
JU
– Qual seria?
Dedecca – Normalmente, a nossa experiência, quando
olhamos os países desenvolvidos, usamos análises já realizadas
e processadas. Neste estudo, trata-se de um aspecto novo,
especialmente no Brasil. Por quê? Pegamos a base de dados
americana e a processamos diretamente com a mesma metodologia
usada para a base brasileira. Os resultados, então, foram
produzidos especificamente para esse projeto. Eles são,
portanto, comparáveis.
JU – Que tipo de trabalho foi
analisado?
Dedecca – Basicamente, assalariados. Por quê? Trata-se
do grupo de trabalhadores cuja base comparativa apresenta
maior consistência. Jamais imaginamos que a situação de
ocupação e renda nos EUA estive tão desfavorável, ainda
durante o longo período de crescimento daquela economia.
A situação difícil do Brasil é amplamente reconhecida. Vende-se
muito a idéia de que o mercado americano é fantástico. No
entanto, o estudo revela que as grandes possibilidades nos
EUA são oportunidades pessimamente remuneradas. Numa alusão
à ideia do junk food, podemos dizer que a grande maioria
das oportunidades naquele país é de junk labor ou junk job...
JU – Onde estão empregados esses
trabalhadores?
Dedecca – São subempregos, com postos em supermercados,
em lanchonetes etc. Esse é o mercado de trabalho que mais
cresce nos Estados Unidos. O emprego lá vem sendo gerado
em ocupações de baixíssimas remuneração e qualificação.
Esse é o ponto.
JU – Ambos os países atravessaram
a década passada em meio a processos diferentes em determinadas
fases, como o crescimento brasileiro e a crise pela qual
passou a economia norte-americana em 2008. Em que medida
esses fenômenos pesaram, para efeito comparativo, no resultado
das conclusões?
Dedecca – Os efeitos da crise nos dois países foram
muito diferentes. Na verdade, tomamos, para fundamentar
o estudo, o período que precedeu a crise, quando ambas as
economias cresciam. O nosso crescimento foi mais modesto,
mesmo que em taxa maior do que a americana. Entretanto,
a grande questão que se coloca é que o crescimento americano
atravessou quase duas décadas e o brasileiro deu-se apenas
ao longo de cinco anos. Outra diferença: embora houvesse
geração de empregos nos dois países nesse processo de crescimento,
nos EUA isso ocorreu em boa parte sem proteção social. O
mercado de trabalho formal, nos EUA, com proteção social,
recuou. Já no Brasil, no trabalho formal, o país ampliou
seu peso e sua importância. Mais: enquanto no Brasil a recuperação
gerou emprego e repôs perdas salariais, nos EUA os salários
ficaram estagnados.
JU – O que o estudo constatou
nessa disparidade?
Dedecca – A recuperação salarial brasileira deveu-se,
em grande medida, ao salário mínimo. Já nos Estados Unidos,
o mínimo foi relegado ao esquecimento, foi abandonado. Trata-se
de um fator importante para explicar a performance de renda
ruim dos americanos. O que ocorreria se essas duas trajetórias
se mantivessem nessa década? Sob hipótese, diria que a tendência
seria de o Brasil melhorar nosso perfil em termos de remuneração,
redução da informalidade e queda de desemprego.
Na experiência americana, o desemprego também
cairia, mas provavelmente a proteção ao mercado de trabalho
e a renda continuariam mal. São, portanto, duas trajetórias
muito distintas. É importante olhar para esse fenômeno.
Nosso crescimento não revolucionou o país, mas oxigenou
a economia. O país se transformou socialmente? Eu diria
que não, mas comparando os dois países, se esse crescimento
no Brasil continuar nesta década, a possibilidade de transformação
passa a ser real e a ter efeitos em outras dimensões.
Olhando o mercado americano, isso não ocorre.
Sua trajetória é de deterioração. Como disse anteriormente,
uma das coisas interessantes do estudo é justamente quebrar
um pouco essa visão profundamente falsa das virtudes da
sociedade americana, que campeia na nossa.
JU
– Incluindo, obviamente, o mercado de trabalho.
Dedecca – Exatamente. É extensivo, se aplica. Eles
têm lá os “tops” – o pessoal que está nos escritórios de
advocacia, nas grandes empresas, na bolsa de valores, nos
bancos, os “nerds” da Apple, da Microsoft. Mas isso não
reflete a realidade. O mercado norte-americano é hoje dominado,
na verdade, pelo trabalho de baixa qualificação. Nosso estudo
joga essa mística por terra.
JU – Qual o peso do Estado nesse
contexto?
Dedecca – Reside aqui um aspecto importante, que
está inclusive no início do trabalho. Entre os economistas
brasileiros, na década de 1990, predominou a tese de que,
se o Estado saísse da regulação do mercado trabalho, impondo
menos obrigações nos contratos, não só cairia o desemprego
como aumentariam a sua qualidade e a respectiva proteção.
O modelo americano era tido como virtuoso, a ser seguido.
Caberia ao Estado sair da regulação do mercado.
Nosso trabalho mostra que nos EUA a presença
do Estado é muito pequena. Ele intervém fundamentalmente
na obrigação de um salário mínimo básico, na jornada de
40 horas e na contribuição para a previdência social pública
básica. Não há descanso semanal remunerado, não existem
as férias, enfim, a regulação e a proteção são muito limitadas.
Tudo depende da capacidade que o trabalhador tem de organizar
e lutar por seus direitos. Você precisa ter sindicato. E
os sindicatos hoje em dia lá estão profundamente enfraquecidos.
Atualmente, a taxa de sindicalização nos Estados Unidos
corresponde a 8%, contra uma de 24% no Brasil.
Retomando: se vendia a ideia, como disse,
de que o mercado de trabalho americano era bom porque o
Estado não interfere. Não é o que demonstram os dados. O
Brasil tem um mercado precário, em que pese a interferência
do Estado; e os EUA também têm um mercado precário, apesar
da não interferência do Estado.
JU – É preciso, portanto, relativizar
essa importância.
Dedecca – Sim. No caso dos salários, a intervenção
do Estado foi decisiva para uma evolução mais favorável,
por meio da política de salário mínimo. Ela amparou a recuperação
dos salários e reduziu a desigualdade de renda no mercado
de trabalho. Já nos Estados Unidos, o abandono do salário
mínimo, em um contexto de enfraquecimento sindical, deu
lastro à estagnação dos salários em um ambiente de crescimento.
Se nós temos 50% de empregos protegidos e, nos EUA, um pouco
mais de 40%, essa discrepância não parece ser resultado
direto de uma maior presença do Estado na economia.
Se as empresas informalizaram o emprego
no Brasil durante a década de 1990, sob a justificativa
de que o Estado interferia demasiadamente, constata-se que
estas mesmas empresas formalizaram sua estrutura ocupacional
na década passada, apesar da reiteração da regulação pública
sobre o mercado de trabalho. Cabe fazer a seguinte pergunta:
quais são as razões das empresas não estabelecerem o emprego
protegido em uma trajetória de crescimento nos Estados Unidos,
se a baixa presença do Estado seria um fator decisivo para
a realização dessa expectativa?
Temos que evitar, portanto, essa visão rudimentar
e maniqueísta sobre o Estado e o mercado de trabalho. As
coisas são muito mais complexas. Nosso trabalho, inclusive,
argumenta nessa direção. Precisamos ser mais cautelosos.
É sempre bom lembrar que, na década de 1990, mesmo com o
enfraquecimento da presença do Estado, o Brasil teve aumentadas
as taxas de desemprego e de informalidade. Como mostra o
resultado da década passada, a piora do mercado de trabalho
nos anos de 1990 foi determinada pela ausência de crescimento,
nada tendo a ver com a regulação pública existente no país.
JU – Em que medida o Brasil
lançou mão de práticas adotadas pelo mercado americano,
cuja tônica, em alguns segmentos, é a precarização?
Dedecca – Os estudos acadêmicos e a literatura
dão boas pistas para compreender o processo de precarização
do mercado de trabalho americano. Nele, o empregado é, cada
vez mais, pressionado a dar tudo pela empresa. Esta cultura
é muitas vezes vendida no Brasil como positiva. Atualmente,
um emprego em uma grande rede de supermercado ou de fast
food nos EUA, onde se concentra boa parte das novas oportunidades
ocupacionais, inclusive para a parcela da população com
maior nível educacional, paga um salário muito baixo, é
caracterizado por uma jornada de trabalho superior a 44
horas por semana – em geral, realizada 7 dias sobre 7 –,
não tem férias, não tem 13º, não tem acesso ao atendimento
de saúde, não tem previdência, enfim, é carente de qualquer
proteção social.
Outro segmento emblemático dessa situação
é o das empresas de limpeza e manutenção, que ganha progressiva
importância no mercado de trabalho americano. Há um livro,
Nickel and Dimed: Undercover in Low-wage America, de Barbara
Ehrenreich, no qual é feita uma descrição dessas ocupações,
mostrando o tamanho da falta de proteção.
JU – E no Brasil?
Dedecca – Aqui, se pegarmos os grandes supermercados,
entre outros segmentos, os direitos básicos são cumpridos.
As empresas vêm cada vez mais sendo obrigadas a seguirem
isso em razão da chamada responsabilidade solidária. Para
esses empregos na linha junk job, a situação brasileira
é mais favorável que a americana.
JU – E no campo do trabalho
informal?
Dedecca – É a nossa grande dificuldade. Trata-se
de um trabalho cada vez mais de conta própria. Do ponto
de vista do assalariamento, mantida a trajetória atual,
caminhamos progressivamente para uma maior proteção social.
O que nós temos, e isso já foi bastante estudado, é um trabalho
fortemente concentrado na baixa remuneração e na baixa qualificação.
Nesse ponto, ele é muito semelhante ao americano.
JU – No ensaio, é apontado que
ambos os mercados, em que pese a disparidade de suas respectivas
estruturas institucionais, têm elevada flexibilidade dos
contratos de trabalho. Esse quadro não foi obstáculo para
aplicar a metodologia e sua consequente prospecção de dados?
Dedecca – Um dos motivos pelos quais fizemos essa
comparação foi uma preocupação maior com a experiência brasileira.
Por quê? Nos jornais, é comum matérias que exploram a comparação
entre mercado de trabalho rígido x mercado flexível, sendo
reafirmado, na maioria das vezes, que o mercado de trabalho
brasileiro é caracterizado pela primeira situação.
Qual o problema que o confronto carrega?
Ele é realizado sempre a partir do papel normativo das instituições
presentes nos mercados de trabalho. Não se considera, na
maioria das vezes, que elas podem ser pouco efetivas no
que diz respeito ao cumprimento das regras e normas que
regulam o contrato de trabalho. Uma coisa é o papel formal
da matriz institucional e outra é seu papel real. Na história
brasileira, temos essa dualidade desde que as instituições
de regulação do mercado de trabalho foram constituídas,
na década de 1940.
Podemos dizer que, se houve um estadista
inteligente no Brasil, este foi [Getúlio] Vargas. Ele cria
a CLT, que constitui todo um conjunto enorme de regras de
proteção, mas não colocou o Estado para fazer que a economia
a cumprisse e, por outro lado, segurou a representação sindical,
impedindo que os trabalhadores pressionassem as empresas
para sua devida efetividade. A carteira de trabalho é uma
expressão dessa dualidade. Afinal, por meio dela, o Estado
determina: “quem tem carteira de trabalho é formal, é protegido,
e quem não tem, está fora da proteção”... Não caberia ao
Estado dizer que todo mundo é protegido e quem não cumprir
a lei será punido?
A recorrência da dualidade foi garantida
pelos governos autoritários, que não tinham interesse em
rompê-la. Ademais, os períodos de crise pelos quais passamos
jogaram contra a maior efetividade da normal legal. Neste
início de século, pela primeira vez temos condições de fazer
valer.
A quebradeira dos alojamentos em Jirau,
em março, é um sinal de que novos tempos podem estar chegando.
O governo se espantou injustificadamente em um primeiro
momento. Afinal, mais cedo ou mais tarde isso iria ocorrer,
quando se considera a história do mercado de trabalho brasileiro
e sua relação com as grandes obras. Trata-se de uma cidade
recebendo 30 mil trabalhadores, homens, podendo representar
de 10% a 15% da população do município, num local inóspito,
sem nada. Houve uma reação, o governo foi obrigado a reconhecer
o erro e se comprometeu a acompanhar as empresas no cumprimento
das determinações legais. Em épocas passadas, a situação
teria sido resolvida por meio da violência exercida pelo
aparato militar.
JU – O sr. acha que a precariedade
predomina no Brasil?
Dedecca – Sim. Mas eu diria que ela passa por um
estágio que não pode ser dissociado de um desenvolvimento
democrático limitado. Ainda não temos maturidade o bastante
para sermos uma sociedade minimamente organizada, na qual
inclusive o trabalho seja devidamente protegido. Isso não
se constrói apenas com a lei. É necessário que a sociedade
legitime, reconheça, participe.
JU – Quais seriam as principais
conclusões do estudo?
Dedecca – A primeira delas foi que a baixa proteção
no mercado de trabalho assalariado americano era inferior
à registrada no Brasil. Nós não imaginávamos isso, como
já disse. O segundo aspecto importante é que o perfil de
geração de empregos nos EUA seja pior do que o brasileiro
ao longo da década passada, antes da crise de 2008. Ou seja,
o junk job passou a ser muito mais uma característica do
mercado de trabalho americano do que o brasileiro, a despeito
de o nosso mercado não ser dos melhores. Outra coisa é o
comportamento da renda e o seu grau de concentração da distribuição
no mercado assalariado americano. A desigualdade da distribuição
no Brasil é menor que a encontrada atualmente no país do
Norte.
JU – O que explica esse comportamento?
Dedecca – Na década passada, quando crescemos,
nós reduzimos a desigualdade do trabalho assalariado, enquanto
eles a mantiveram. Os resultados do estudo apontam que a
política ativa do salário mínimo em um contexto de geração
de emprego formal foi decisiva para diferenciar a situação
brasileira. No exercício econométrico presente no estudo,
mostra-se que o salário mínimo foi importante mesmo para
aqueles que estão em ocupação sem proteção social. No Brasil,
o piso salarial legal constitui um fator de proteção social
amplo para o mercado de trabalho. Isso não ocorre nos Estados
Unidos. Aqui ele funciona como indexador e lá, não.
JU – Quando começou essa deterioração?
Dedecca – No âmbito dos países desenvolvidos, os
EUA sempre apresentaram um mercado de trabalho mais desfavorável.
Da década de 1940 até os anos de 1970, o desenvolvimento
americano vai constituindo um núcleo intermediário na estrutura
ocupacional muito fundado no setor industrial e nos segmentos
de serviços mais organizados, com proteção sindical e negociação
coletiva. As condições de trabalho e salariais eram boas.
Tratava-se de um núcleo importante, cujas condições se irradiavam
para os empregados de baixa qualificação. A proteção derivava
fundamentalmente da negociação coletiva. A situação era
diferente da Europa Ocidental, onde a proteção era estabelecida
pelo Estado.
De 1980 para cá, porém, os EUA começaram
a destruir esse segmento intermediário, que era o núcleo
de sustentação da economia, inclusive nas grandes empresas.
E isso vai reforçar o crescimento exacerbado do emprego
sem qualificação vinculado ao setor de serviços, onde a
negociação coletiva sempre teve baixa incidência. É este
segmento que predomina. Um exemplo que assusta são as grandes
redes de supermercados. Você vê pessoas muito idosas trabalhando,
muitas vezes com dificuldade de andar e que necessitam do
emprego porque não possuem aposentadoria, em razão de terem
trilhado uma trajetória ocupacional precária. Não à toa,
o estudo mostra que, no Brasil, o número de pessoas com
mais de 65 anos na ativa é menor que nos Estados Unidos.
Isso se deve ao nosso sistema de aposentadoria e de proteção
social