Segundo Vilarta, trata-se de uma boa oportunidade de atuar diretamente na melhoria do ensino fundamental e médio. Desta forma, o professor atua como agente multiplicador na qualidade do ensino. A riqueza observada na troca de informações que acontece a cada encontro é outro ponto destacado pelo docente.
“Não só levamos conhecimento, mas também vivenciamos os principais problemas e desafios enfrentados pelo professor da rede pública. Esta experiência tem sido extremamente gratificante”, evidencia Arantes. O contingente de professores da Universidade envolvidos no programa perto de cem , incluindo alunos de doutorado, tem possibilitado ainda a quebra de muitas barreiras. “Em todos os locais que aportamos, o público via a Unicamp como uma torre de marfim intransponível. Isso não ocorre mais”, lembra Vilarta. Por isso, a integração estimula a busca da atualização dos professores da rede pública e já se percebe um aumento da procura pelos programas de pós-graduação. “Há uma integração maior com o ambiente acadêmico e, aos poucos, as resistências vão sendo quebradas. Eles começam a freqüentar disciplinas como alunos especiais e isto constitui um grande avanço no sentido de aproveitarem as possibilidades que se pode oferecer”, salienta o coordenador.
Relatos de quem esteve lá
Saudades na mala
“Vou levar saudades na mala”. Foi essa a reação do professor Sílvio de Alencastro Pregnolato, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc), ao despedir-se de Apiaí. Desde 1981 lotado na Unicamp, o docente acredita ser “absolutamente necessário” participar de programas com o perfil do Teia do Saber. Em sua opinião, mesmo com todas as carências, os professores assistidos pelo programa têm “uma força interior muito grande para tentar superar as deficiências, aprender mais e, assim, transmitir mais”. Pregnolato sabe dos contrastes do país, e acredita ter dado sua parcela para atenuá-los. “A minha esperança é que esse sacrifício contribua para diminuir esses abismos”.
O DNA da cebola
As professoras Fernanda Ramos Gadelha e Carmen Veríssima Ferreira, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia da Unicamp, protagonizaram uma experiência no mínimo curiosa. No assunto escolhido previamente, biologia molecular e, atendendo a solicitação dos professores, redirecionaram o conteúdo procurando trabalhar o tema no contexto vivenciado por eles. Isolaram o DNA da cebola para uma incrédula platéia. “Os olhos de muitos deles brilharam”, atesta Fernanda. E foram além: demonstraram como se pode clonar um gene e obter uma planta transgênica, assunto importante numa região onde a economia é baseada na agricultura. Tudo na base da simplicidade. No caso do isolamento do DNA, lançaram mão de objetos prosaicos, entre os quais detergente, sal de cozinha, gelo e álcool.
“Minha sensação é de dever cumprido”, comemora Carmen, marinheira de primeira viagem nesse tipo de programa. Dizendo-se surpresa com o grande interesse dos alunos, a docente acredita que a Unicamp contribui muito quando participa de projetos em outros municípios. “Isto acaba possibilitando o ensino numa realidade próxima àquela vivenciada pelos alunos”.
A opinião é compartilhada por Fernanda, cuja experiência no projeto entra no terceiro ano. Seu raciocínio é simples. A docente sabe que, ao auxiliar os professores com conteúdo teórico e prático, atinge a outra ponta da teia, no caso, os alunos. “Trata-se de uma progressão geométrica”, dimensiona. Feitas as contas, Fernanda parte para o conceitual e evoca os métodos usados pelo educador Paulo Freire. “Você contextualiza o que vai ensinar na realidade vivenciada pelos alunos”.
Fernanda reconhece que a tarefa não é fácil, mas aponta saídas emergenciais para o impasse, sobretudo no que diz respeito à precariedade de material e, conseqüentemente, à falta de recursos. A solução? Criatividade, prescreve: “É preciso criar a partir de coisas simples. Bioquímica, por exemplo, é um terror para os alunos. Se arrumamos novos caminhos didáticos, correlacionando-os com a realidade deles, é possível uma aprendizagem sólida do assunto.”
Mão dupla
Há dez anos professor do Instituto de Estudos da Linguagem, Wilmar da Rocha D’Angelis é um especialista em línguas indígenas. Trabalho de campo, para ele, não é novidade. Desenvolveu trabalhos, por exemplo, com línguas Jê e Macro-Jê, além de assessorar programas de educação escolar indígena. Quando foi convidado a participar do projeto no Ribeira, D’Angelis logo demonstrou interesse. Primeiramente, por ter a convicção de que a região “estava esquecida pelo Estado”. Depois, por intuir que a diversidade lingüística era uma das características da região onde, na sua avaliação, havia uma rica tradição mantida viva nas comunidades indígenas e quilombolas. “Estamos encontrando essa riqueza. Há uma grande variedade lingüística, boa parte dela desconhecida”, revela o docente.
Mais que ter contato com o objeto de seus estudos, Wilmar D’Angelis vê a oportunidade um trabalho cujo alcance social tem mão dupla. Numa, a perspectiva de aplicar os conhecimentos e as experiências acumuladas na Universidade, colocando-os a serviço da comunidade de professores e, indiretamente, dos alunos. “Esse tipo de trabalho enriquece a universidade continuamente, já que espelha a sociedade brasileira. Mostra um mosaico que nunca se sabe como se desenha”. Na segunda perspectiva, diz Wilmar D’Angelis, o projeto é revelador na medida que comprova ser possível a universidade “ter os pés no chão”, mostrando uma realidade mantida desconhecida por vários fatores. “A nossa Universidade fala de um país que existe, porque está em contato com ele”.
Difusão do conhecimento
Para Marili Bassini, doutoranda da História, se não fosse o Teia do Saber dificilmente a Universidade conseguiria passar o conhecimento que ela produz para os professores da rede pública. “É importante essa aproximação da academia para também enriquecer o processo de construção do conhecimento”. Marili acredita que o contato dá sentido àquilo que se produz. “O conhecimento vai sendo renovado à medida que buscamos coisas novas com os professores”.
Célio Ricardo Tasinafo, também doutorando da História, concorda com a colegaMarili. “A extensão funciona porque atinge um público que serve como agente multiplicador”, diz. Para ele, divulgar as pesquisas em simpósio ou congressos é importante, porém, o público é restrito. “Esta é a melhor experiência para se difundir o conhecimento. Neste ponto, a Unicamp cumpre muito bem seu papel social”.