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Chegam a quase 200 mil as seqüências
genéticas da laranja, da tangerina, do limão e da lima

Instituições concluem seqüenciamento dos citros


JEVERSON BARBIERI



O professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador da área de bioinformática do projeto: material bruto de qualidadeApós dois anos e meio de trabalho, com um orçamento de mais de R$ 4 milhões e o envolvimento de seis instituições de pesquisa nacionais, chega ao final o mapeamento genético funcional e comparativo dos citros. A Unicamp teve participação fundamental no desenvolvimento e na conclusão da pesquisa, que consolida a liderança científica brasileira no setor. Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) fez parte do projeto Integração de melhoramento genético, genoma funcional e comparativo de citros (CitEST), único na área agrícola entre os 15 projetos aprovados pelo CNPq no programa Instituto do Milênio.

Pesquisadores da Unicamp integram projeto

O professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Expressão do IB e, também, da área de bioinformática do projeto explica que a participação de sua equipe está relacionada ao funcionamento do Sistema de Gerenciamento e Análise de Genoma. Além de Gonçalo, compõem a equipe Marcelo Carazzolle, físico, Marcos Renato Araújo, engenheiro de computação e Eduardo Formighieri, biólogo, todos da Unicamp.

Esse sistema, de acordo com Gonçalo, já foi usado no seqüenciamento do DNA das principais culturas nacionais como o café, o eucalipto e o cacau. “Trata-se de um sistema que é dinâmico e contempla, principalmente, as necessidades do cliente”, resume.

Foram feitas aproximadamente 200 mil seqüências genéticas de frutas como laranja, tangerina, limão e lima e, dessa forma, organizou-se uma banco de dados quatro vezes maior que qualquer outro existente no mundo.

Pereira ressalta que a função do sistema é seqüenciar o DNA. Porém, isso não é o suficiente. O mapeamento é uma ferramenta de grande utilidade pois, a partir dela é que os pesquisadores poderão fazer estudos comparativos entre espécies na procura de genes que expressam o ponto exato na relação com determinadas pragas. Esse é o ponto fundamental da pesquisa, uma vez que doenças e pragas são as grandes responsáveis por uma parte bastante significativa do custo de produção.

Além disso, a partir desse mapeamento é possível, também, desenvolver novas variedades de frutas com qualidade superior, definindo características como sabor, cor, teor de vitaminas, teor de açúcar, personalizando o produto para o mercado consumidor.

“É necessário utilizar esse mapeamento para obter os resultados desejados. É como um manual. Se você não o utiliza, ele não serve para nada. Temos um material bruto de excelente qualidade. A palavra de ordem é minerar, até encontrar o ouro que realmente nos interessa”, compara.

Desde o início de 2004 já existe um registro de patente para esse sistema. Atualmente ele está disponível apenas para os pesquisadores envolvidos no projeto e, na opinião de Gonçalo, existe uma grande possibilidade que a iniciativa privada tenha interesse no sistema, uma vez que o agronegócio, no Brasil, é um setor em franca expansão, que gera empregos nas diversas camadas da população e tem um lucro bastante significativo.

Parte funcional – Além do Departamento de Genética e Evolução, o IB também participa do projeto com uma equipe de pesquisadores do Departamento de Imunologia, responsáveis pela atuação na parte funcional do projeto.

A professora Dagmar Ruth Stach Machado, pesquisadora responsável pelo projeto em seu departamento, explica que o trabalho desenvolvido pela equipe foi, principalmente, de estabelecer uma comparação do genoma de espécies diferentes, através de seus genes expressos, em condições variadas. Dessa forma, um grande número de informações será gerado e auxiliará no mapeamento genético, bem como em um imunodiagnóstico.

Outro ponto importante é a interação patógeno-planta que, além de gerar um maior conhecimento, será fundamental no estabelecimento de estratégias para um controle efetivo das doenças dos citros como Xylella fastidiosa (CVC), o cancro cítrico, o vírus da leprose, a gomose e o vírus da tristeza dos citros (CTV).

De acordo com Dagmar, é possível comparar o genoma de uma planta sadia com uma pré-disposição ao desenvolvimento de determinada doença e uma planta não-sadia e, encontrar nessa última, um gene resistente capaz de tornar a planta sadia ainda mais resistente e, conseqüentemente, mais produtiva.

“O objetivo do projeto é criar mecanismos que favoreçam o aumento e a qualidade da produção brasileira de citros, que já é líder de mercado no mundo, mas que tem uma produção inferior ao espaço de cultivo disponível”, afirma ela.

Um dos aspectos ressaltados pela pesquisadora está na integração entre as partes envolvidas no projeto, ponto fundamental na utilização do grande volume de informações gerado.

O projeto foi coordenado pelo Centro de Citricultura Sylvio Moreira, pertencente ao Instituto Agronômico de Campinas, e teve como agentes executores os Departamentos de Tecnologia e Biologia Aplicada à Agropecuária, ambos da Unesp, a Universidade Estadual de Maringá, o Departamento de Microbiologia e Imunologia da Unicamp, o Instituto Biológico de São Paulo e o Departamento de Bioquímica, da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais.

O coordenador geral do projeto é Marcos Machado, diretor do Centro de Citricultura Sylvio Moreira e professor do programa de pós-graduação do Instituto de Biologia, da Unicamp.

Os resultados finais desse projeto serão apresentados no próximo mês de outubro, em Brasília, durante uma reunião com todos os coordenadores dos 15 Institutos do Milênio.

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