| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 336 - 11 a 17 de setembro de 2006
Leia nesta edição
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Concerto no dia 22, com Coral Zíper na Boca
e Sinfônica da Unicamp, é o 1º registro audiovisual da obra

Maestrina torna executável
peça de
Maneco Músico,
pai de Carlos Gomes

A maestrina Vivian Nogueira: meses dedicados à tarefa de transposição da escrita de Maneco Músico para a tese de doutorado. No destaque, a bela escrita do  compositor, em Missa e Credo em Sol (1853)  (Foto:Antoninho Perri)Os manuscritos de Maneco Músico, pai de Carlos Gomes, somavam-se às várias obras raras paradas em museus e bibliotecas. Mas Vivian Nogueira, maestrina do Coral Zíper na Boca da Unicamp, inspirada na Coleção Manoel José Gomes, do Museu Carlos Gomes de Campinas, decidiu tornar executável uma de suas peças: Missa em Mi bemol, escrita em 1852. O concerto do Zíper na Boca e Orquestra Sinfônica da Unicamp, com regência de Parcival Modolo, acontecerá no dia 22 de setembro, às 20h30, na Basílica do Carmo de Campinas – onde Maneco foi mestre de capela.

A Coleção Manoel
José
Gomes tem total de 369 manuscritos

O concerto faz parte do Programa Unicamp Ano 40 e será o primeiro registro audiovisual de uma obra de Maneco Músico. Peça número 80 do Catálogo de Manuscritos Musicais do Museu Carlos Gomes, a Missa em Mi bemol tem a estrutura de uma Missa Brevis, pois apresenta apenas o Kyrie e o Gloria. No entanto, em termos de tempo de execução e de número de compassos é a mais longa e apresenta um alto grau de complexidade, daí a escolha por parte de Vivian Nogueira. O Gloria, segundo ela, foi escrito em 593 compassos.

A maestrina decidiu entregar-se durante meses à tarefa de transposição da escrita do compositor para uma leitura adequada aos dias de hoje. O trabalho de musicografia faz parte de sua tese de doutorado, intitulada “Um resgate do patrimônio musical campineiro: transcrições musicológicas de obras de Manoel José Gomes, o mestre de capela de Campinas”. O projeto está sendo desenvolvido sob orientação da professora Lenita Waldige Mendes Nogueira, na área de Musicologia do Departamento de Música do Instituto de Artes da Unicamp. Do acervo de 369 peças da coleção, Vivian selecionou mais duas missas para analisar e fazer transcrição musicológica – Missa e Credo em Sol (1853) e Missa em Sol Maior (1854).

Foram necessárias muitas adaptações, segundo a maestrina. A Missa em Mi bemol, por exemplo, além de reunir mais de 600 compassos (Kyrie + Gloria), oferece uma parte cavada (individual) para cada instrumento e todos com tonalidade específica e instrumentos típicos da época. A necessidade de substituir instrumentos obsoletos, como o oficleide, obter uma sonoridade aceitável ao público atual e até mesmo corrigir pequenos equívocos ocasionados no processo de confecção das partes individuais, foi analisada cuidadosamente por Vivian. “A transcrição tem de ser feita com seriedade. As alterações devem ser realizadas sem interferir no estilo do compositor, indicando sempre como é a versão original”, argumenta.

Apesar de a musicologia, área em que desenvolve seu projeto de doutorado, não exigir atividades práticas, Vivian apresentou uma proposta ao Faepex para que o concerto fosse realizado dentro do Programa Unicamp Ano 40. “Queria que a comunidade tivesse acesso ao resultado auditivo do meu trabalho e decidi montar o concerto”, explica.

Breve – Manoel José Gomes é autor de 61 peças entre as 369 de seu acervo em Campinas. No seu repertório, predominam obras sacras, para coro misto a quatro vozes e pequena orquestra. “São músicas litúrgicas, destinadas a novenas, recomendações de almas, paixões, matinas e ladainhas”, explica a maestrina.

As primeiras lições de música de Manuel José Gomes foram passadas pelo padre José Pedroso de Morais Lara (1746-1808), mestre de capela da Vila de Parnayba, hoje Santana de Parnaíba, terra natal de Maneco Músico. Com a morte de Padre Lara, o jovem Maneco passa, aos 15 anos, a ser substituto do novo mestre da capela na vila.

Na antiga Vila de São Carlos, hoje Campinas, chegou em 1813, aos 17 anos, e passou imediatamente a atuar como mestre de capela na Matriz do Carmo, onde permaneceu até perto de sua morte, em 1868. Segundo Vivian, por apresentar alta qualidade na escrita, não perdeu o cargo de mestre de capela nem mesmo para o músico Manuel Gomes da Graça, vindo do reduto da música, Minas Gerais. Graça acabou dedicando-se a outra atividade, pois, em Campinas, Maneco Músico tinha cadeira cativa.

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