O excesso de radiação ultravioleta faz mal aos humanos pode ocasionar câncer de pele e às flores. A exposição direta degrada a clorofila e a energia recebida não é aproveitada pelas plantas. No entanto, uma tecnologia testada pela primeira vez em espécies do Estado de São Paulo mostrou que essa luz pode ser benéfica no cultivo protegido de flores. Trata-se do uso de malhas de sombra coloridas, como seletoras de ondas do espectro solar, que diminuiu sensivelmente o tempo de floração de orquídeas, gérberas e mosquitinhos.
Uso de malhas coloridas traz bom resultado no cultivo de três espécies
Esta tecnologia foi desenvolvida com sucesso por uma empresa israelense, que tinha interesse em testá-la em condições tropicais. Para isso, recorreram a Cícero Leite, engenheiro agrônomo com experiência de mais de 10 anos em consultorias no ramo. Leite aceitou o desafio e apresentou os resultados em tese de doutorado “Controle do espectro solar através de malhas coloridas para a produção de flores de alta, média e baixa exigência em irradiância” na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. O trabalho, que teve a orientação da professor Maria Ângela Fagnani, também foi exposto no Congresso Internacional de Horticultura, realizado em agosto na Coréia do Sul, e vai ser publicado em uma das mais conceituadas revistas científicas da área, a Acta Horticulture.
Cícero Leite justifica a opção pelas orquídeas, gérberas e mosquitinhos porque essas espécies exigem diferentes características de radiação, e também por sua importância no mercado de flores. “Cada planta necessita de uma qualidade e uma quantidade de luz. Em geral, as plantas não gostam de todo tipo de luz, as principais são os flashes azuis e vermelhos”, explica. Os mosquitinhos, normalmente utilizados para composição de arranjos florais, pedem alta exigência de luz; a gérbera, média; e a orquídea, baixa radiação solar.
Para a pesquisa foram instaladas malhas coloridas nos tetos das estufas, durante o período de cultivo, diminuindo-se entre 20% e 40% a quantidade de ultravioleta, e sempre com a mesma porcentagem de sombreamento oferecida pelas malhas pretas tradicionais, a fim de se comparar parâmetros da planta e do microclima. Ao final, as três espécies, que receberam os mesmos cuidados com adubação e água, floresceram mais rapidamente com as malhas vermelhas em relação ao ciclo normal; as orquídeas desenvolveram melhor suas folhagens com a luz azul.
Segundo Cícero Leite, uma das vantagens das malhas coloridas é que os resultados obtidos são os mesmos dos hormônios vegetais aplicados para desenvolver ou encolher uma espécie. “Além de caros, os hormônios podem produzir resíduos maléficos para quem os manipula”, esclarece. A tecnologia oferece ao produtor mais uma opção para controlar o cultivo, já que são respeitados os ciclos de produção de cada planta. No entanto, o pesquisador ressalta que a técnica vem para melhorar o que já é bom, não sendo recomendável para produções que apresentem baixo nível tecnologia.